CRISE DA PRIMEIRA REPÚBLICA SEMANA DE ARTE MODERNA 1. Introdução A arte brasileira, refletindo o caráter de dependência econômica de uma sociedade agroexportadora e rural, buscava imitar os padrões estéticos da arte europeia, presos às normas das academias de letras e artes. O modernismo europeu, fruto de todo desenvolvimento das ciências, da tecnologia e da industrialização rompe com estas normas das academias e passa a desenvolver a liberdade de expressão e criação com o surrealismo, impressionismo, expressionismo, dadaísmo, etc. REALISMO SURREALISMO 2. Características A Semana de Arte Moderna de 1922 refletia o processo de urbanização e industrialização pelo qual o Brasil passava, com o surgimento de novos atores sociais como o proletariado urbano e a burguesia industrial. O modernismo buscava romper com as normas impostas pela academia, defendendo a liberdade de criação e uma arte genuinamente brasileira. Uma das características do movimento modernista foi o antropofagismo cultural, ou seja, se abrir à cultura estrangeira, contudo digerí-la e devorála, produzindo uma arte nacional. Canção do Exílio Gonçalves Dias Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Cântico negro José Régio "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátria, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha Loucura ! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, É uma onda que se alevantou, É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí! ABAPORU Tarsila do Amaral MOVIMENTO TENENTISTA 1. Introdução A partir da década de 1920 diversos setores da sociedade brasileira começam a intensificar sua oposição à República Oligárquica. Dentre estes vários setores se destaca os tenentes do exército brasileiro, que manifestam preocupações com as questões nacionais Os novos oficiais sentiam a necessidade de uma maior modernização e profissionalização do exército em função das novas armas advindas com a Primeira Guerra Mundial. 2. Características: * A maioria dos tenentes são oriundos da camada média, que viam no exército a possibilidade de ascensão social. Apesar de algumas reivindicações coincidirem, o movimento tenentista foi de cunho exclusivamente militar, não podendo ser confundido com um movimento da classe média. 2. Características: * Elitista: apesar da sincera preocupação com a situação de miséria e pobreza da população brasileira, o movimento tenentista defendia que a população não tinha capacidade de lutar pelos seus interesses. Desta forma os tenentes se colocavam como verdadeiros salvadores da pátria, ou seja, de acordo com eles, a única instituição capaz de levar o país à ordem e ao progresso seria os militares. * Industrialização: a defesa da indústria ocorria muito mais pela ótica militar do que econômica. Um exército bem equipado precisa produzir armas e munição, sem estar dependente do exterior. 2. Características: * Nacionalismo: defendiam um nacionalismo vago. Afirmavam a necessidade de defender o país, mas não deixavam claro como isso seria feito, não se posicionando sobre a dívida externa, a exploração das riquezas minerais, a presença de empresas estrangeiras no país, etc. * Reforma Política: defendiam a necessidade de se fazer uma reforma política, com o estabelecimento do voto secreto. Esta reivindicação talvez fosse a única mais concreta no programa do movimento tenentista. 3. Os “ 18 do Forte” No governo de Epitácio Pessoa, São Paulo e Minas Gerais haviam decidido que o próximo presidente seria Arthur Bernardes e que depois este seria sucedido por Washington Luís. Nesta disputa eleitoral Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro, através do movimento conhecido como Reação Republicana, lançam a candidatura de Nilo Peçanha, candidato derrotado no pleito eleitoral. Na campanha de Arthur Bernardes circula uma falsa carta, atribuída a Bernardes, na qual ele haveria dito que o exército era formado por um bando de proxenetas (agenciador de mulheres). Esta carta insufla os ânimos no meio militar, o que leva a dezesseis militares saírem do Forte de Copacabana, no qual se juntaram dois civis para derrubar o governo. Apesar de fracassado, simbolicamente foi o primeiro movimento armado de contestação à ordem oligárquica. 4. A Revolta Tenentista de 1924 Em comemoração ao aniversário dos “ 18 do Forte”, os tenentes de São Paulo e Rio Grande do Sul novamente se rebelam, formando a Coluna Miguel Costa – Prestes, mas conhecida como Coluna Prestes. A Coluna Prestes percorre milhares de quilômetros no Brasil lutando contra o governo, mas evitando um confronto direto. A falta de apoio popular, seja pela visão elitista dos tenentes, seja pela propaganda negativa do governo sobre a Coluna Prestes isolou o movimento. Esta acabou sendo direcionado à figura do presidente Arthur Bernardes. Quando o mandato presidencial findou, a Coluna Prestes se autodissolveu na Bolívia. Contudo muitos destes tenentes irão participar da Revolução de 30. A “REVOLUÇÃO” DE 1930 1. A Crise de Superprodução do Café O café vivenciava uma crise de superprodução. Com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e a generalização da Crise de 1929, a crise do café se agravava. Os Estados Unidos eram os maiores compradores de café brasileiro e, além da redução drástica do consumo, não concedem novos empréstimos para a continuidade da política de valorização do café e pressionam para o pagamento das dívidas anteriores. 2. A Questão Sucessória Washington Luís, sendo paulista, rompeu com a Política do Café com Leite, lançando como candidato o paulista Júlio Prestes. Minas Gerais, então, forma a Aliança Liberal, apoiando Getúlio Vargas, da oligarquia gaúcha, tendo como candidato a vice-presidente João Pessoa, da oligarquia paraibana. A campanha da Aliança Liberal buscava satisfazer os mais diversos setores da sociedade (tenentes, classe média, burguesia industrial, oligarquia dissidente, operariado urbano). Como as eleições eram sempre fraudulentas e sempre vencia o candidato oficial, Júlio Prestes venceu. Contudo, por questões internas da Paraíba, João Pessoa foi assassinado e isto se tornou um pretexto para o movimento armado que depois Washington Luís e pois fim à Primeira República.