O Brasil dos Viajantes
Descrição da fauna brasileira nos
primeiros anos de colonização
Viagem à Terra do Brasil
Na narrativa de Jean de Léry em “Viagem à Terra do Brasil”
publicado em França em 1578, pode ler-se uma descrição da
existência de monstros que amedrontavam as pessoas (Léry,
1980: 164):
Disse-me ele que, estando certa vez com outros em uma de
suas canoas de pau, por tempo calmo em alto mar, surgiu um
grande peixe que segurou a embarcação com as garras,
procurando virá-la ou meter-se dentro dela. Vendo isso,
continuou o selvagem, decepei-lhe a mão com uma foice e a
mão caiu dentro do barco; e vimos que ela tinha cinco dedos
como a de um homem. E o monstro, excitado pela dor pôs a
cabeça fora d’água e a cabeça, que era de forma humana,
soltou um pequeno gemido.
Monstra marina e terrestria na Cosmographia de Sebastian Münster de 1550.
Manatí
Fuente: Francisco Hernández, Rerum medicarum Novae Hispanae thesaurus,
edición de 1651.
Anta
O tapirussú, de pêlo avermelhado e assaz comprido, do
tamanho mais ou menos de uma vaca, mas sem chifres,
com pescoço mais curto, orelhas mais longas e pendentes,
pernas mais finas e pé inteiriço com a forma de casco de
asno.
Pode-se dizer que, participando de
um e outro animal, é semivaca e semi-asno. Difere
entretanto de ambos pela cauda, que é muito curta (há
aqui na América inúmeras alimárias sem
cauda), pelos dentes que são cortantes e aguçados; não é
entretanto animal perigoso, pois só se defende fugindo.
Tamanduá
Incorporado à nossa cultura como sinônimo de atitude traiçoeira, o famoso “abraço de
tamanduá” é uma de suas facetas mais conhecidas, como relatava, em 1806, o alferes
poeta Joaquim José Lisboa, em sua Descrição Curiosa da Capitania de Minas Gerais:
tem grandes forças, e não é animal muito bravo; se sucede ser acometido de
onça ou lobo, não lhes foge; antes, os espera constantemente, sustentando-se
logo e abrindo os braços; mal que a onça se chega a ele para o matar, ele se
abraça com ela fortissimamente, e vai apertando logo; urram ambos; e
raivosa a onça crava-lhes os dentes, as unhas, e o sacode forte, porém o
tamanduá apertando-a inda mais, lhe vai também cravando as fortes unhas
que tem até as entranhas; e, introduzindo-lhes a comprida e áspera língua
que tem pelo nariz, lhe chega aos miolos; e sem se poder safar um do outro,
morrem ambos.
É certo que esta contenda ninguém a observa ao princípio, porém tem-se
achado muitos pelos campos mortos nesta figura, abraçados com as onças,
elas com eles; mas afirmam alguns campinos terem observado esta briga
andando pelo campo, e acudindo aos urros que ambos dão.
Imaginário francês sobre o Brasil (séculos XVI a XVIII)
PRANCHAS CIENTIFICAS
Louis Agassiz
Peixes do Brasil 1829
Johann Baptist von Spix
Em 1821, o barão Georg Heinrich von Langsdorff ganhou financiamento do
czar da Rússia para empreender uma expedição do Rio de Janeiro ao Pará,
percorrendo 17 mil quilômetros de terras do interior do País.
Diário do barão Langsdorff, rio Tietê, 23 de junho de 1826.
“Quando a gente se banha em lugar de poucas piranhas o
perigo é diminuto, mas mesmo assim é preciso cobrir com as
mãos as partes pudendas, porque por ali é que elas atacam.
O senhor barão foi mordido, sem contudo sofrer grande mal,
porque pulou fora da água. O peixe não se despegou senão
alguns instantes depois; correu sangue e cinco dentes
ficaram bem marcados.”
Carta do biólogo Luiz Riedel, Vila Bela, Mato Grosso, 8 de março de 1827,
noticiando a morte do pintor Adrien Taunay a um seu parente
“Acabrunham-nos as enfermidades. Os mosquitos causam duros sofrimentos, não nos
dando a menor trégua. Chove torrencialmente há dois dias, e até o que temos dentro
das barracas está molhado. A caça e a pesca nada produzem, tornando a parada
intolerável. Vimo-nos reduzidos a comer carne de macacos. Nesse lugar se manifestou
a doença do senhor Langsdorff, com a perda de memória das coisas recentes e o
completo transtorno das ideias, devido às febres intermitentes. Essa perturbação
obrigou-nos a por termo à viagem, cujo plano era vastíssimo.”
Diário de Hércules Florence, 7 de maio de 1828, no Salto Augusto, rio
Juruena.
“Com pesar, devo informar a Vossa Excelência que encontrei o senhor Langsdorff numa
situação completamente miserável. Privado de todas suas capacidades mentais, ele
age como uma criança, não pode ocupar-se de absolutamente nada e tampouco
consegue conversar.”
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