REFLETINDO SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA EM AMBIENTES VIRTUAIS Christiane Elany Britto de Araújo PG-USP III Simpósio Nacional e I Simpósio Internacional Discurso, Identidade e Sociedade IEL - Unicamp de 14 a 16 de fevereiro de 2012 1 Temática • Com o surgimento de plataformas de aprendizagem educacionais, o inglês passou a ser um dos conteúdos oferecidos através da mediação do computador. • Essas práticas influenciam os papéis dos sujeitos das tecnologias: professor e do aluno. • Numa realidade permeada pelas relações multimídicas, faz-se necessário refletir acerca dos discursos produzidos pelos participantes desse processo. 2 Contexto Geral • Parte de uma pesquisa de doutorado que visa analisar os discursos produzidos dentro de uma instituição de ensino livre de língua inglesa e pelos participantes da interação on-line da instituição. • A hipótese que norteia este trabalho é que os ambientes virtuais implicam em novas formas de construção de conhecimento. 3 Percurso • 1° elaboração de um panorama dos fatos importantes da revolução da tecnologia da informação a partir de autores como Castells (1999), Litto e Formiga (2009) e Passarelli (2007; 2011). • 2° criação de um blog (http://eadceba.wordpress.com) para que alunos e professores/ tutores tivessem acesso não somente às perguntas sobre suas visões sobre a EAD, mas a textos relacionados com esse tema. • 3º análise dos excertos produzidos que foram categorizados a partir dos diversos discursos que atravessam a constituição do sujeito, como o discurso publicitário, o empresarial e o pedagógico. • 4º análise dos registros de conversas via e-mail/ chat entre tutor/ alunos. 4 Objetivo • Discutir a interação professor-aluno dentro de um curso on-line de língua inglesa de um instituto de ensino livre de inglês de São Paulo. 5 Corpus • Foram observados os e-mails trocados por tutora-alunos de 2008 a 2010, durante o período dos cursos. • Para esta análise, foram escolhidas as mensagens de e-mail trocadas com uma aluna de 41 anos, residente no interior de São Paulo. 6 Referencial teórico • Estudos discursivos (BRANDÃO, 1991; CORACINI, 2010; LANKSHEAR & KNOBEL,2003; ORLANDI, 1999; PÊCHEUX, 1997) • Sujeito e identidade (FINK, 1998; BAUMAN, 2004; FOUCAULT, 1971/1999; 1987/2000; Revuz, 1998) • Novas tecnologias (ECKERT-HOFF & CORACINI,2010; LITTO, 2009 E 2010; TELES, 2009; TORI, 2010) 7 Interação • As conversas entre tutora-aluna, apesar de seguirem uma ordem natural (apresentação pessoal, perguntas sobre o curso, correções e feedback para o aluno), apresentam também outras construções que dão significado e produzem sentidos diversos a cada conversa, como acontece nesse caso analisado. • Construção de um vínculo entre tutora-aluna através de narrativas aparentemente despretensiosas sobre língua, ritmo e cores. 8 A personificação da LI (1)“If I need your help, I will ask for you a help... You can be shure of that (lol) I probally, will be on all Day long trying do my Best about the course. I love English, even knowing that it dosent like me (lol)” • A aluna expressa o interesse e assume a posição de um aprendiz mal-sucedido: ela “ama” o inglês enquanto o inglês “não gosta dela”. • Se a língua é uma pessoa, aí sim minha identificação com ela nunca poderá ser completa. Revuz (1998) sustenta que “o eu da língua estrangeira não é, jamais, completamente o da língua materna”. 9 A personificação da LI (2)“ T: I am sure English loves you too, but it´s kind of moody...hehehe...the same happened to me when I started learning...” • O inglês como algo que tem características humanas (it´s kind of moody). • O inglês da tutora é diferente, porque de uma maneira ou outra ele já faz parte da tutora, em contraposição ao inglês da aluna. • A tutora se coloca na posição de aluna quando remete à sua experiência como aprendiz, tentando estabelecer uma relação de confiança com a aluna. • Tanto aluna como tutora encontram um ponto comum (a dificuldade de aprender inglês) ao mesmo tempo que são atraídas pela língua e a querem fazer dela parte de si. 10 A dança e as cores • O contato com a LE leva a uma maneira diferente de ver o mundo e se relacionar com ele. Mas é através de outros tópicos que a tutora consegue se fazer entender: o ritmo da dança e o jogo de cores. • Desde o começo de sua “conversa”, as participantes usam as cores como um outro fio de narrativa que as conecta. Ao usar cores diferentes para fazer as correções no texto original da aluna, a tutora acaba iniciando um diálogo. A cada mensagem trocada, uma nova cor é escolhida. 11 A dança e as cores (3)“T: Oh my, that´s interesting: a contemporary and belly dance teacher! See , if only you saw how badly I dance, you wouldn´t be worried about your English...LOL... I have no rhythym whatsoever! I have improved a little, but I have no 'ears' nor movement! “ (4)“T: Hi XXXXXX! I decided to go pink today...hehe... I am so glad someone still believes in my dancing...LOL... just remember, everytime you had a somebody/ nobody/ everyone/ everybody, you should use the third person (3rd).” (5)“A1: I Prefer my students when they have no movements or rhythym, they are my best students because I can teach the pure dance... Dont you prefer teach (teaching or to teach) students that have had no classes before? I think you can start from zero! Its much better isnt it?” 12 A dança e as cores • As participantes usam as cores como um outro fio de narrativa que as conecta. Ao usar cores diferentes para fazer as correções no texto original da aluna, a tutora acaba iniciando um diálogo. • Ao falar da importância da música , A1 parece trocar de posição com tutora. Agora, a forma de linguagem não é mais parte da tutora como era o inglês, mas sim algo que não é estrangeiro a ela e já faz parte de si. • A dança, para a aluna, representa sua língua materna (mesmo a língua materna tendo vindo de um Outro), seu ambiente no mundo. A LE faz com que ela se desloque desse lugar mais confortável onde ela se reconhece, causando também seu distanciamento da LE. 13 A dança e as cores (6) “A1: Nice Collor!I found purple a Collor that can to combine with Pink... hehe too (lol)” (7)“A1: As you can see, I did my test but I failed I was honest so, a lot of dowts. I miss more exercise like the test, because the test made me confuse…. If the blue are not a good Collor for to be read, I am sure that the Green one is worst one... Lol” • A dificuldade de leitura com as diferentes cores mesclam-se às dificuldades encontradas pela aluna com os exercícios propostos. 14 A dança e as cores • A troca de cores dá um efeito adicional a cada mensagem, expressando uma forma a mais de interação. • Uma cor de difícil leitura que coincide com a reprovação no teste • Outra cor que combine com as correções se relaciona a satisfação de entender algo 15 Enredo da conversa • Aluna: dificuldades na aprendizagem da LE • Tutora: dificuldades com a música um ambiente de confiança mútua e troca • Ter sido reprovada no teste ou mesmo no curso fica em segundo plano quando o tópico é interação. 16 A sensação de fracasso • A reprovação afeta negativamente a aluna, que novamente se vê como incapaz de aprender a LE o que a leva de volta aos sentimentos de incapacidade das primeiras conversas • A aluna se desculpa por não ser uma aluna “ideal” (aquela que aprende o que lhe é ensinado), o que a faz desistir desse Outro (o inglês), ao menos temporariamente. Isso nos remete a Coracini (2010), ao falar do aprendizado da escrita: (...) embora a formação discursiva oriente a interpretação e, evidentemente, a escrita, haverá sempre fragmentos da história pessoal, atravessada por outros discursos, que farão a diferença, singularizando cada interpretação, cada produção de sentido (...) 17 A sensação de fracasso • A história de “fracasso” da aluna volta a incomodá-la, interferindo na sua compreensão da dificuldade que teve com um ponto gramatical da língua inglesa. • Não ter conseguido entender o curso “Present Perfect 1 não entenderá o “Present Perfect 2” a língua fosse um todo fragmentado e que possuísse uma ordem lógica e imprescindível, como aquela vista em livros didáticos e baseadas nas mais diferentes metodologias de ensino. • Isso reforça a noção de LE como um obstáculo a ser vencido ao invés de algo que possa fazer parte de si, uma vez que não conseguimos esse ideal nem mesmo com a língua materna. 18 Considerações finais • Esta análise baseou-se na interação construída por uma tutora e uma aluna de um curso on-line de uma instituição de ensino livre de língua inglesa. • Verificou-se que a interação das participantes revela como a LE é vista por elas, e como isso influi na construção da subjetividade de cada uma. • As experiências dos sujeitos da pesquisa com o aprendizado da LE e da dança formam um paralelo. 19 Considerações finais • A autonomia das aprendizagens corporais em relação ao controle intelectual e a aceitação da distância (desta vez em relação à LE) provocam um misto de ansiedade e prazer com a língua do Outro (Revuz, 1998). • No contexto analisado, a música e a língua passam— ou não— pelo corpo das participantes, produzindo significações. 20 [email protected] http://eadceba.wordpress.com 21