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A CARTA DE TOLOSA:
Notícias de uma jornada evangelizadora
Márcio Conceição de Santana
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Márcio Conceição de Santana
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A CARTA DE TOLOSA:
Notícias de uma missão evangelizadora
Aracaju, 2020.
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DEDICATÓRIA
Dedico essa obra ao meu pai, Moisés Bomfim de Santana, que soube criar com
determinação os seus filhos.
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AGRADECIMENTOS
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EPÍGRAFE
“Um povo que elege corruptos, impostores, ladrões e traidores, não é vitima. É cumplice!”.
George Orwell
“ A água que não corre forma um pântano; a mente que não pensa forma um tolo” . Vitor
Hugo.
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INTRODUÇÃO
As cartas eram o principal meio de comunicação utilizado pelos jesuitas para
transmitir informações de ordem diversa, sobre as regiões do mundo que foram objeto da
doutrinação católica. A Companhia de Jesus foi cuidadosa no seu próprio registro, reunindo
em 80 volumes a Monumenta História Societatis Jesu, da qual faz parte a Monumenta
Brasílica, editada pelo padre Serafim Leite. As cartas eram de dois tipos: de negócios e de
edificação, sendo apenas as últimas copiadas e distribuídas, pois continham notícias dos
índios e interessavam a um publico maior (Moreau, 2003, p. 52).
Nessa vertente, se insere a carta do provincial Inácio de Tolosa, remetida ao padre
geral da Companhia de Jesus, Everard Mercurian, no ano de 1575, que descreve em detalhes a
jornada evangelizadora de mais de “mil léguas terra adentro” enfrentando toda a sorte de
perigos, mas tendo um olhar minucioso sobre os hábitos dos gentios (alimentação, crenças,
rituais, etc.), sobre os aspectos ligados a paisagem (hidrografia, relevo, recursos minerais,
fauna e flora), como também os resultados do processo de conversão ao cristianismo dos
mesmos.
Por ser rica em informações e conter o primeiro registro oficial da tentativa de
conquista das terras localizadas entre os rios Real e São Francsco, despertou o interesse de
muitos intelectuais para servir de subsídio as suas pesquisas. No entanto, só o cearense
Capistrano de Abreu, no ano de 1891 teve a iniciciativa de trancreve-la, mesmo que
parcialmente, e presentea-la a Felisbelo Freire para fazer parte de sua obra, A História de
Sergipe (Freire, 1891, p. 82).
Segundo Barreto, “foi Lino de Assunção, Diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa,
Portugal, quem localizou o documento jesuítico, mandando cópia para Capistrano de Abreu e
outros amigos brasileiros. No entanto, a Carta continua inédita, mesmo que seja um exemplar
raríssimo, documentando o encontro histórico dos catequistas, a serviço das Coroas de
Portugal e de Espanha, com os indígenas que habitavam as praias e matas de Sergipe, entre os
rios Real e São Francisco” (Barreto, 2011).
“A Carta de Inácio de Tolosa, portanto, é documento único, primacial, sobre as
relações catequéticas e conquistadoras, precisando ser traduzida e editada, para servir de fonte
múltipla de estudos. Os quatro séculos da morte de seu autor deveria servir de estímulo a que
fosse feita a edição, em português, devidamente anotada” (Barreto, 2011).
A partir dessa lacuna quanto a tradução e transcrição anotada da Carta de Tolosa,
aceitamos o desafio proposto pelo nosso orientador, Prof. dr. Francisco José Alves (UFS),
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para fazermos um trabalho completo, incluindo aí a parte inicial da carta que se refere ao
território do atual estado da Bahia.
Iniciamos os trabalhos no ano de 2004 e enfrentamos muitas dificuldades,
principalmente quanto à compreensão do texto, que era uma fotocópia em preto e branco com
uma fonte minúscula. Além do que, e conforme a nossa observação, a carta foi copiada por
pelo menos quatro jesuítas, dificultando muito a leitura, pois cada escriba tem suas
peculiaridades em se tratando dos aspectos gráficos.
Outra dificuldade que enfrentamos, foi o de utilizar a a rede mundial de computadores
sem trazer a reboque os vírus que estão escondidos em determinados programas e sites, o que
infelizmente ocorreu, sendo estes responsáveis pela destruição de três versões de atualização
do trabalho.
Superadas as dificuldades, iniciamos a transcrição da carta utilizando o método linha a
linha (BERWANGER & LEAL, 2008), e percebemos ao confrontar com a tradução de
Capistrano de Abreu, que faltavam partes do texto (Linhas 478-601. Fólios 12 e 13), o que
veio só a enriquecer o nosso trabalho no tocante a superação desse desafio, ou seja,
transcrever o que nunca foi transcrito.
Com relação à tradução, também enfrentamos algumas dificuldades relacionadas a
determinadas palavras que não são mais encontradas nos dicionários de Espanhol. Porém,
com determinação e perseverança conseguimos traduzi-las a partir do entendimento dos
fragmentos nos quais elas estavam inseridas.
Foram muitas idas e vindas, mas ao terminar o trabalho sentimos que cumprimos uma
grande missão em prol da historiografia sergipana, ao revelar aspectos minunciosos dessa que
foi a primeira e mais importante missão evangelizadora no território sergipano.
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Começam as cartas (1) do Ano de 1576
Cópia de uma do padre Ignátio de Tollosa (2) para o padre geral (3)
Mui Reverendíssimo em Cristo por padre
Paz em Cristo:
Nesta darei conta a V.ª Paternidade do que nosso senhor foi servido de obrar na missão
que fez o padre Juan Perera com a gente que foi buscar ouro, e do sucesso da missão do
padre Gaspar Lorencio(4) ao Rio Real (5). E assim tratara algumas coisas das muitas que nosso
senhor obra nestas aldeias de índios, que a Companhia(6) tem a seu cargo.
No ano de 74 nomeou o governador Luís de Brito
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um capitão com obra de 400
soldados a terra adentro, a descobrir se se achava algum ouro pela fama que havia deste, e
pediu com muita amizade que lhe concedesse um padre e um irmão que fossem em sua
companhia, tendo por certo que sem padres da companhia não podia isto chegar a efeito, e
assim lhe concedeu. Parte por ajudar a gente que ia com tanto perigo entre inimigos sem
nenhum meio espiritual para seu encorajamento, mas é que por meio dos padres se podiam ir.
Parte também para ver se achava algum ouro do que a companhia busca nestas partes, que é
gente a quem manifestar a palavra de Deus, e dar-lhes notícias do evangelho, e para ver se
havia algum meio espiritual para sua conversão. Gastaram nesta viagem 14 meses, nos quais
passaram muitas dificuldades, como de fome quanto de guerras e perigos notáveis que
tiveram de perder a vida muitas vezes, mas de tudo os livrou Deus nosso senhor. Andariam
em todo este tempo até mil léguas
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, sempre a pés descalços comumente por serem os
caminhos de muitas águas, passando muitos rios, e muitas vezes o caminho era por dentro
deles.
A ocupação que tinha o padre com o irmão era conservar aquela gente em paz e temor
de Deus, e afastá-los dos pecados. Sofreram muitos por esta causa, porque como os soldados
são pouco escrupulosos quando entravam por alguma aldeia de gentios, como por bontos
aiales [sic] se entregavam aos vícios, e para impedir isto não bastavam palavras, muitas vezes
era necessário ao padre ir pessoalmente afastá-los vendo com seus olhos as ofensas que a
Deus se faziam, e outras vezes não havia outro remédio, se não chorar e suspirar. Usarão
sempre dos ministérios da companhia como era pregar, ensinar-lhes a doutrina, celebrar missa
quando o tempo dava lugar para isto, confessa-los em suas necessidades curá-los em suas
enfermidades, isto fizeram particularmente em uma aldeia que chamam Mar Verde (9), aonde
residiram por três meses em uma grande igreja que construíram. Aí o demônio teve muita
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inveja disto, e buscou invenções para que o fruto que se esperava com a grande bondade que
ali avia se estragado, e foi desta maneira. Alguns principais daquelas aldeias trataram entre si
de fazer traição ao capitão dos portugueses, e de acordo [sic] depois se entendeu que
buscavam tempo seguro para fazer a sua salvação [sic], e tinham entre si combinados os que
haviam de matar, um estava assinalando para matar o capitão e outro para o padre, e outro
para o irmão, dizendo matemo-los seus Inbiia vas ( que quer dizer principais) porque logo os
demais serão rendidos. Um dizia ao bando se quer guerrear com os brancos, Tapuias (10) e das
demais nações que somente contra padres não tinham guerreado, e queria quebrar-lhes a
cabeça para que não lhe faltasse nada. Sabendo disso o capitão deu aviso a seus soldados, e
tendo juntado todos os principais das aldeias, determinou em dar-lhes guerra, pela traição que
lhes queriam fazer, assim o fizeram, matando alguns e capturando os demais, e com o grande
medo que cobraram todas as aldeias comarcanas
(11)
se renderem, que seriam quase três mil
almas mas caminhando mais pela a terra adentro com toda essa gente em busca do ouro, a
maior parte se voltou para suas aldeias, outros morreram pelos caminhos, de fome e cansaço,
entraram nesta cidade obra de quatrocentos divididos pelo capitão e soldados, e embora
fizessem toda sua diligência em busca do ouro, eles não acharam, mas os padres não perderam
no ouro que buscavam, porque fora do proveito que se fez com os brancos que foi muito
grande (porque todos afirmarão que se não fosse por meio dos padres se perderia toda aquela
gente). Batizaria o padre nesta viagem obra de quinhentas almas, quase todos crianças, que
logo iam gozar do seu criador, e este parece que era o ouro que Deus buscava em terra tão
remota, e de gente tão bárbara, dar remédio àquelas almas que ele tinha predestinadas para a
boa aventurança.
Quando chegaram ao Rio de São Francisco
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(que é um rio muito famoso e tão
grande que parece um braço de mar), tiveram grande trabalho e muito perigo, vendo-se
cercados de três partes, e outras maneiras de rasiales [sic], que lhes faziam grandes ameaças,
invadindo [sic] todos por suas cabeças que os haviam de matar, e que nenhum havia de voltar
vivo a sua terra, pois haviam tido o atrevimento de entrar pelas suas, e ainda que os nossos
procurassem com eles a paz, nunca quiseram conceder, e uma vez nos abordaram com vinte e
cinco canoas, mas em breve tempo mediante a graça de nosso senhor foram de parte dos
nossos desbaratados. Usam estes índios de flechas envenenadas [sic] e são tão afiadas que o
buraco que fazem não é maior que de uma picada de agulha, mas pela ponçonha [sic] que
carrega é grande porque logo faz enterizar [sic] um homem dos pés até a cabeça, e os faz
espumar, e torna o corpo negro, e tem os feridos tanta sede, que não há água que os sacie.
Faze-lhes também suar muito tanto que sempre tem o corpo banhado em água como se
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estivessem em um rio faz-se o corpo frio como um gelo e estão continuadamente com grandes
gritos e gemidos, e assim morrem. Isto viram em um soldado que foi ferido, que já estando
quase saudável, com algumas bolas de fogo com o que só se cura esta ponçonha, acertou a
comer de um peixe com o qual os índios sovam a ponçonha das flechas, e dai a poucos dias
morreu fazendo grandes extremos.
Foi necessário para passar seguros pelas terras destes índios enviar a pedir socorro a
outros índios Topiguezes (13), nossos amigos, e vieram logo alguns e com a sua ajuda passarão
fazendo muito estrago nos contrários. Estes índios Topiguezes são naturalmente cruéis e
aficionados a comer carne humana
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, tanto que matando um índio contrário logo se
postravão[sic] emtrivna[sic] a beber seu sangue, e quanto escorria tanto bebia e depois o
despedaçavam, assavam e comiam todo.
Passando o rio de São Francisco em um campo de muitos gentios entraram. Estavam
todos apelidados [sic] para dar neles, tinham lhes tomado os caminhos e os seus os cercaram
por todas as partes para dentro deles [sic] brigar, aqui foi o maior perigo que tiveram por que
vinham cansados, e alguns enfermos e falhos de toda munição de guerra, mas Deus nosso
senhor deu tanto esforço aos soldados e índios que iam de muitas aldeias que como leões
saltavam pelas cercas, e um perseguia a cinquenta e assim fizeram muito estrago neles. Dos
nossos, alguns foram feridos e também o padre e o irmão que estavam esforçando e animando
os soldados na peleja, mas de todos só um morreu. Todos entenderam que quase
milagrosamente os havia livrado nosso senhor deste perigo, por que suas forcas não eram
bastante para tão grande numero de gentios, aqui quiseram os soldados deixar a gente fraca
que depois [sic] como mulheres e crianças em poder dos contrários, parecendo-lhes que
haviam feito isso para se salvar assim mesmo dos soldados que iam armados, mas o padre
nunca deu consentimento e foram senhor servido que todos se salvassem , e assim entrarão
nesta cidade com boa disposição no mês de abril de 75 havendo partido no mês de
fevereiro de 74.
Algumas coisas notáveis viram nesta viagem que contarei agora a Vossa Paternidade.
Chegaram a uma Serra de meia légua de altura, aonde acharam pedras (quero dizer que de
valor) de diversas cores conforme a posição que tem respeito do céu as que estavam para o
oriente eram verdes, para o ocidente roxo, para o norte azul e para o sul negras, e achavamnas cavando dois ou três palmos e dizem que naquela serra há grande riqueza destas pedras, e
há também cristal e dentro dela se viam algumas destas.
Em outra viram um lugar de areia muito branca cheia de grande multitud [sic] de
flechas hincadas [sic] que deixam os índios de oferta quando por ali passam por que dizem
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que está ali a morte, e assim quando passam deixam ali arcos, flechas, plumas e até huzos de
girar, por que não lhes faz algum mal a morte, iam de passar separados porque temem que
assim que passassem por cima morreriam logo.
Viram neste caminho pinhos de grande altura e de uma légua de roda e meia de altura,
e uma delas era a maneira de Pão de Açúcar, percebi que esta tinha uma légua de altura e
quase outro tanto de redondo e em algumas achavam umas cavernas que vão pela terra
adentro muito espaço, e diziam os índios que se viam ali muitas vezes homens negros e
mulheres e crianças, e por isso passam por ali com grande medo e assim passando por ali acha
ao redor pisadas frescas de homens, mulheres e crianças que parecia que acabaram de passar
naquelas horas, e sabendo disso de certo se iam alguns adiante que deixassem aquele rastro,
achavam que nenhuma gente havia passado, e assim se afirmaram que era verdade o que os
índios diziam: que andavam ali alguns fantasmas e depois passaram por ali alguns índios e
foram tantas as pedradas que lhes atiravam sem saber quem, e foi necessário passar correndo.
Em uma terra se viram muito apertados de fome, e uma gente tão magra e debilitada
que ia caindo pelo caminho, os campos eram tão estéreis que neles não se achava fruta nem
caça nem outra coisa, nos rios tão pouco se achava peixes, e assim havia quem por um pouco
de farinha dava um escravo. Adoeceram muitos de pura fraqueza e muitos se confessavam
para morrer vendo que não tinha outro remédio, e saiam buscando folhas de árvores para
matar a fome, acertaram a dar com uma árvore alta cheia de espinhos por fora (15), tanto que
escassamente havia lugar para introduzir um dedo, por dentro é como nabo propriamente
doce, com este manjar mataram todos a fome e engordaram em poucos dias, tanto que uns não
se conheciam a outros. Mas, essa gordura não era verdadeira porque dentro de quinze dias
tornaram ao seu natural e alguns morriam dela. Outra árvore acharam de grande espessura
(algumas tinham cinco ou seis pipas de espessura), é por dentro branca como nabo tem a
casca [sic] de 4 ou cinco dedos de e algumas vezes de palmos segundo a grandiosidade da
árvore e desta fazem os índios embarcações para navegar pelos rios
(16)
. Da também uma
casca de sobreiro [sic] muito resia[sic] como a da Espanha, e em muita quantidade é muito
delgada no pé esta árvore, e logo vai para cima engrossando. Também viram umas árvores
que tinham grandes raízes e tanto altas que trinta homens cabiam debaixo, e estendiam-se na
mesma altura até 4 ou 5 braças. Acharão também algumas sojas pelos campos de grande
beleza e diversas cores, por uma parte eram verdes, brancas e azuis, por outro, vermelhas e
rosas, eram de palmo e meio de comprimento e um de largura.
Em uma parte acharam que a mesma terra era salgada, e a caça que por ai há não come
outra coisa senão a própria terra por não ter outro pasto. Passaram por outro lugar, chamado
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Andira Pornaza, que quer dizer aonde Morcegos comem gente, porque assim o fazem, e tão
delicadamente que não sente o próprio homem o Morcegos quando o está comendo. Acharão
um animal de tão fedorento e mal cheiroso
, que parece que a arma que lhe deu a natureza
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para se defender das onças e outros animais, e este mau cheiro por que não há quem possa
esperar onde ele estiver. Mas, a fome dos soldados era tão grande que o comeram, como
também comiam cachorros e moscas, coisas imundas e com a fome tudo lhes parecia um bom
manjar.
Passaram também cerca de uma Serra muito grande e alta a qual comumente está
coberta de neve embora haja grande sol, mas o comum é ali nunca aparecer se não chover e
era tão grande o frio que fazia que alguns morressem passando por ali. Diziam os índios que
em certo tempo se avia ali perdido um exército no frio em uma guerra que se deu naquela
serra, assim fingem estar ali algum espirito que causa estas mortes, e por isto os que por ali
passam deixam qualquer coisa de oferta como arcos e flechas ou qualquer outra coisa para
que a morte não os toque.
Tiveram novas de muitas e diversas nações de Tapuias que há por aquelas partes e
cada nação tem língua diversa
, os nomes são estes: Parain Narin, Guaengaiu, Paxa,
(18)
Bixacaia, Paxaia, Sacangon, Mapiá, Coruri, Ainixacori, Ainocoga, Mainuma, Periju, Menju,
Obagocu, Gaimurá, Xamacori, Comoroxó, Coxó, Getiró, Genori, Jenguarari, Atirari e outros.
Não se enterram no solo
, fazem umas sepulturas no alto cobertas de pau e leva embora
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todos os guessos e tem-los guardados em grande veneração e estima, dizendo que os guardam
para tornar abmar [sic] o animo do morto, e fazendo desta maneira toma um feiticeiro aqueles
vessos [sic] e nasce fora da aldeia pelos caminhos, esfregando aqueles vessos uns nos outros e
a que saindo daquele Beamiento [sic] dizem que acode a alma dos mortos, iam com alguns
jovens valentes para ajudá-la a tomar, e começando fazendo o som com os vessos o feiticeiro
echa [sic] mão da alma e derruba no solo e acodem logo os jovens, amarram-na e a levam
para casa parecendo-lhes que ia estar nos vessos, e tem para aquilo uma casa de porta com um
compartimento aonde o colocam e lhe dão de comer: mel, carne e outras coisas e serve-a e
ovecho[sic] mieses [sic] moços virgens e se algum perde a castidade logo o dispensam, e
toma outro em seu lugar. A mulher que foi do morto também esta ali naquela casa servindo-o,
e ali vão os feiticeiros a consultar com o morto coisas e dizem que advinha o que esta por vir.
Outros entre estas nações que tem os calcanhares adiante e os pés para trás os chamam
Timaroba, tem a carne das pernas muito amarga, e quando matam algum destes cortam-lhe
as pernas é que os chamam. O Bapipyra tem os rostos muito grandes, tanto que lhes chega o
rosto até a caveira. Os que chamam Garaçu andam vestidos de umas redes muito finas que
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fazem como redes de agulha, também são barbados e tem a barba muito grande. Os que
chamam Ronaparigui, comem carne humana depois de estar muito podre e tomam o unto
[sic] e coloca-o em um cataxo a apodrecer e depois de estar bem podre se junta com estes
também usam de lanças que são paus tortos. Os que chamam Ibirajara usam de flechas, mas
trazem umas alsabas aonde metem uns paus de três palmos de comprimento, a espessura é
como de uma lança; são tão certeiros com estas armas como outras nações com flechas. Com
esta guerreiam e assim matam a caça de onde quer que dão quebram a cabeça, o membro
aonde atiram. Os que chamam Comoruxaxa têm grandes tetas e os machos são os que criam
os filhos e lhes dão de mamar, e as mulheres por ele ente[sic] tem tetas pequenas como
homens, isto certificarão pessoas que o viram.
Em uma aldeia acharam um ídolo que diziam os índios ser irmão mais novo de um que
queimaram no principio desta jornada no rio das Caravelas
. E sabendo os índios que
(20)
haviam de passar por ali os brancos, burerõ[sic] todos e deixaram-no escondido em um
campo, num pote. Logo um dos soldados ordenou a um índio que fosse buscar, e foi de boa
vontade dizendo que o queriam trazer para que falasse com os padres, assim como falava com
seus feiticeiros, e assim o trouxeram. Estava muito emplumado com muitas contas ao pescoço
de dentes de Tapuias. Diziam que este era o deus dos Tapuias e que em recompensa do
beneficio que os fizeram de dá-lhes Tapuias para comer se faziam esta honra, mas então foi
ali despedaçado. Isto em suma, o que aconteceu na missão do padre Juan Perera (21).
Agora contarei a Vossa Paternidade, o que até aqui aconteceu na missão do padre
Gaspar Lourenço. Vieram do Rio Real muitos índios principais das aldeias comarcanas que
estão naquelas partes quarenta, 50 e 60 léguas desta cidade, todos em grandes desejos de levar
padres que os ensinassem as coisas de sua salvação, e como era gente que antes estava em
guerra sem ter conversa [sic] com os brancos, aguardaram-se alguns meses para ver se vinham
bem movidos e constando claramente que Deus os trazia, pareceu serviço de Deus aceitar esta
empresa, e assim no mês de janeiro de 75 partiu o padre Gaspar Lourenço (que é grande
língua entre eles muito famoso), com o irmão Juã Salonio
(22)
a ensinar-lhes as coisas de sua
salvação. Enviou também o governador Luis de Brito um capitão com alguns homens
brancos com desejo de fazer ali alguma população, disse para contar o sentimento que viu na
aldeia de Santo Antônio
(23)
quando se despediram dos padres porque todos da aldeia se
puseram em prantos, sentindo muito afastar-se dos padres de suas almas como eles dizem, e
grandes e pequenos saíram com ele em boa parte do caminho, e se não os pusera taça [sic] nas
pessoas que havia de levar, quase todos queriam ir com ele, mas não foram mais de 20. Pelo
caminho a ocupação do padre foi ensinar a doutrina aos índios e brancos que iam em sua
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companhia. Pela manhã antes de começar a jornada, dizendo todos juntos as ladainhas
pedindo a Deus que os dessem próspera viagem. E as noites ao fim de sua jornada faziam o
mesmo. E como todo aquele caminho é despovoado, recolhiam-se em algumas choças que os
índios faziam aonde com muita caridade repartiam com eles da pesca que tomavam, e o padre
provia também os necessitados. Sempre fora a pé e muitas vezes descalços, pelas muitas
águas que avia de passar, mas, todos foram com grande paz e alegria até o Rio Real. No meio
do caminho vinha novo a um principal, que ia com o padre que havia morto em sua aldeia um
filho, foi logo ao padre dizendo: já meu filho está morto, porventura vai ao inferno? O padre
respondeu que sim, porque não era batizado, e ele com grande tristeza disse chorando: pesame muito disso, desejo que me batizes para ser filho de Deus e não ir ao inferno.
Um principal contou ao padre uma história que eles têm por certa para explicar-lhe sua
origem (24), dizendo que em tempo passado aconteceu que os seus por não quererem ser bons
se levantou contra eles um principal, e os fez guerra e depois muito anoiado[sic] tomou um
dardo, e deu com ele na terra, e fez que se abrissem as fontes, e se afogassem todos e que ele
fez uma casa de folhas muito bem tapada, e ali se defendeu da água, e depois de todos mortos
e a água passada, saiu, e assim começaram as gerações, que é coisa muito longa de contar. O
que este disse, acrescentando que por isto estão nus e não têm nada, por que tudo se perdeu
com a água. Olhando o padre isto, e entendendo que tinham alguma noticia do dilúvio, mas
corrupta. Explicou-lhes a verdade declarando a história do Gênese até chegar com Noé fez sua
maldição a Chain, porque fez zombaria dele, dizendo que eles descendiam deste Chã, e por
isto andavam tão distantes de Deus. Imploraram [sic] todos muito ouvindo isto, e ficaram com
o desejo de aprender as coisas de Deus.
Chegaram todos com boa disposição ao rio Real a 28 de janeiro, e deixando o padre o
capitão aposentado em lugar apto, passou a visitar uma aldeia de índios (25) que estava 6 léguas
dali. Sabendo os da aldeia que vinham, saíram todos com grande alegria a recebê-los, com
grandes choros como é seu costume, trazendo cada um algum presente ao padre conforme a
sua pobreza como: farinha, batatas e coisas semelhantes, e foram hospedados de um principal
com muita caridade, assim ele como todos os índios que viam em sua companhia, repartindoos por todas as casas. Este principal pregava pela aldeia que ele havia sido causa que não se
perdesse a gente que em tempo passado fugiu das aldeias, e que por isso fazia esta festa ao
padre, e abraçando-lhe depois da pregação o levou para sua casa. Outro dia pela manhã
começou o padre a dar razão aos principais das aldeias de sua vinda, dizendo que vinha a
manifestar-lhes a lei de Deus, e ensiná-los o caminho de sua salvação, e livrá-los da cegueira
em que estavam, e começaram logo a fazer uma maneira de Igreja para celebrar missa, e
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ensinar-lhes a doutrina, mas era tanta gente que vinha a visitar o padre assim daquela aldeia
como de outras que quase todo o dia gastaram em trabalhos, e consolá-los, e assim no dia
seguinte se acabou a
Igreja,
aonde celebraram missa e ensinaram a doutrina, com grande
consolo de todos. Chama-se a igreja de São Thomas (São Tomé), o apóstolo, e fizeram junto
da casa em que morariam e pudessem ter concerto religioso, e dai há poucos dias levantaram
uma cruz de alguns 80 palmas muito linda, e ficou toda a gente espantada em ver a veneração
com que haviam levantado. O principal daquela aldeia quando se viu com Igreja levantou as
mãos ao céu, dizendo bendito seja Deus, que fez em minha terra [sic] Igreja, isto é o que
desejava pesame do tempo passado. Logo começou o padre a pomer[sic] o concerto com eles
que se tem em nossas aldeias que é ensinar-lhes a doutrina pela manhã e a tarde e a noite. Um
índio de nossa aldeia ia tangendo a campainha por toda a aldeia e assim acudiam muitos
diante da casa, aonde o padre os ensinava as coisas de nossa santa fé, e o irmão tomou cargo
da escola dos moços
(26)
que foram ao principio 10 e depois chegaram até 100, e em breve
tempo sabiam as orações, e embora padre principalmente residia com os índios, por que para
eles principalmente era enviado. Acudia também alguns brancos que estavam dali a algumas 6
léguas consolando-os com celebração de missa e confessando-os, e um dia voltando para esta
aldeia de São Tomas os consolou Deus, muito porque estando cerca dela, ouviram grandes
vozes diante da casa onde moravam e era um moço da escola de Santo Antônio que o padre
havia deixado para que olhasse pela casa, que estava ensinando a doutrina aos meninos da
aldeia e depois os fazia persinar, e santificar a cada um por si e isto fez todo o tempo que
estiveram ausentes, que foram nove dias.
Teve nestes dias muitas visitações de muitos principais do Rio de São Francisco e de
outras partes, todos vinham a pedir ao padre que os fosse a visitar e fazer Igrejas em suas
aldeias, e o principal de todos foi um índio afamado por estas partes chamado Curubi
, do
(27)
qual todos se temiam porque em tempos passados teria matado alguns brancos, e nunca havia
querido aceitar sua amizade, este sabendo que o padre havia chegado àquela aldeia logo o
enviou a visitar por um irmão seu pedindo-lhe com muita instância que fosse residir em sua
aldeia, e dando comentário ao irmão para que o levasse em uma rede ainda que ele não
quisesse ir, que não era bom estar com aquela ruim gente, este dizia porque de mil almas que
havia naquela aldeia de São Tomas, as quinhentas eram escravos (28) que em tempos passado
fugiram de seus senhores e estão ali acolhidos, dizendo que haviam sido soltos. Despediu o
padre a este índio dando-lhe esperança que o iria a visitar, mas o Curubi não pode descansar
até não ir a ver o padre com alguma gente de sua aldeia. Foi de todos muito bem recebidos e
diante de todos teve o padre uma grande conversa com ele por grande espaço com tanta
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eloquência, e fervor que deixou o índio espantado e não saber que responder, mas ele disse
para me atingir com a sua vinda, e assim se despediu sem falar mais palavra. Daqui tomarão
ocasião a gente da aldeia a dizer: entra-se que não havia entrado na aldeia com boa intenção,
mas com desejo de quebrar a cabeça ao padre diante de todos, e havia alguns que estavam
esperando agora, será mais agora, será? Mas as obras mostrarão que não foi esta sua intenção,
mas que ficou tão confuso com a prática do padre e tão atado de pés e mãos ouvindo o que
dizia que não pode mais falar, e assim retornou para sua aldeia. Outro principal enviou em
busca do padre um índio, o padre respondeu que então não podia ir, disse, pois envia o irmão
ou um de tua companhia. Deu-se o padre razão que não se podia fazer, respondeu o índio: já
que não vai nem envias no dia, dá-me uma carta tua para que leve comigo. E assim foi
forçado o padre dá-lhe pra contenta-lo. Este índio, pelas aldeias por onde passava ia pregando
que ia em busca do padre, porque onde estava nem conhecia quem era nem se sabia estimar, e
embora alguns tocava Deus o coração para receber de boa vontade. Outros também em
sabendo que ia o padre, desampararam suas aldeias e se foram a morar pela a terra adentro, e
ainda que o padre os enviasse muitos recados dizendo-lhes que não temessem que vinha para
dar remédio a suas almas, mas com isto mais se endureciam dizendo que não queriam Igreja.
Mas eles planejam matar os padre e os brancos, e não só não recebia aos padres, mas
enviavam recados às outras aldeias que em nenhuma maneira os recebessem, dizendo que as
igrejas não eram para filhos dos principais, mas para os fracos e baixos, e que não era outra
coisa, mas fome, que o padre era senhor da fome, e que ele havia sido causa de todo seu mal,
o qual fez dano a muitos, parece que ainda não é chegado o tempo estas. Todavia, alguns
fugiram de seus principais, e se vieram a meter com os nossos, que devem ser os que Deus
tem escolhidos para a boa aventurança.
Alguns batismos fizeram em pessoas que estavam em extrema necessidade (porque
aos demais levaram ordem que não batizassem até estar a terra pacifica, e aos bem instruídos
nas coisas de nossa santa fé). Eles estavam tão consolados que todo o trabalho que eles
fizeram todo o caminho parecia nada para eles, vendo e dando remédio para algumas almas
que custaram sangue do filho de Deus, que parece não aguardavam outra coisa se não a ida
dos padres, para ir a gozar do seu criador. O primeiro batismo foi de uma menina a qual
estava já para espirar, vendo-a um índio Tapuia que ia em companhia do padre que apenas
sabia falar a língua, veio correndo para aonde estava o padre, fazendo casa aonde haviam de
morar dizendo: vê padre que a filha de fulano está para morrer. Deixando tudo o que tinha
entre as mãos foi logo o padre e batizou-a com a solenidade de costume, e ficaram todos os
gentios atônitos vendo aquilo, puseram-lhe por nome Maria, e dai a pouco foi gozar de seu
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criador. O segundo batismo foi de uma velha que toda vida havia andado entre brancos, e
nunca havia sido batizada. Visitando o padre a aldeia a achou já a cabo, e depois de bem
instruída nas coisas de sua salvação a batizou com muito consolo seu, e dai a poucos dias foi a
gozar de seu criador. O terceiro foi doutra índia muito enferma e estando o padre falando nas
coisas de sua salvação, o marido tinha já preparado para seu batismo, e ela com o grande
desejo que tinha de batizar-se, se levantou da rede, embora estivesse muito enferma, batizou-a
o Padre, e dai a poucos dias se foi a gozar de seu criador. Estas foram as premissas do Rio
Real, e estes me parecem que hão de ser os patronos daquela cristandade. Depois batizou o
padre outros quatorze inocentes, por estar enfermos, e temor que morressem se os deixassem
sem batismo.
Estando as coisas desta maneira, vendo o demônio tão bons princípios e a conversão
daqueles gentios e que já começavam de retirar-lhes as almas da boca, nas quais tantos anos
ele governou , começou a levantar as tempestades costumeiras para impedir esta obra. Usou
de diversos meios: o primeiro foi logo ao princípio, antes que o padre partisse para o Rio
Real, foram seis índios com suas mulheres da aldeia de Santo Antônio, a frente dele sem sua
licença, e alguns índios do Rio Real, pouco aficionados à Igreja, mataram-nos, e comeramnos, e tomaram suas mulheres por concubinas. Isto urdia o demônio para que se travasse outra
vez guerra, e desta maneira se impedisse a cristandade. Mas o padre não supôs nada disto até
estar no Rio Real, onde vendo as mulheres que pouco antes a havia casado perguntou: que é
de vossos maridos? Responderam chorando: estes índios os mataram. Estavam ali alguns
principais e disse o Padre: Em fim porque matastes meus filhos, e os comestes, e sabendo que
eu vinha a ensinar-lhes coisas da nossa salvação? Os que não tinham culpa escusavam-se, mas
o Padre, dissimulou o melhor que pode, dizendo que nem aquilo havia de ser bastante para
deixá-los, e tomou as mulheres aos índios que as tinham e deu cuidado delas a um índio de
Santo Antônio, e desta maneira ficou o demônio frustrado e o que desejava. Outro meio foi
pelos próprios índios escravos daquela aldeia, por que um deles começou a pregar que os
nossos tinham por costume juntar os índios, e fazer-lhes Igrejas, e depois cativá-los, e entregálos aos brancos. Outro escravo que fugiu dos brancos foi dar as mesmas novas, dizendo que
bem os havia dito que não se confiassem nos brancos, que já havia chegado um barco com
artilharia para seu senhor, e mandou-lhe que o ajudasse a atirar, mas eu não quis, fugi dele, e
assim presto vereis como dão em nós, e sereis todos presos cativos. Acrescentou-se a isto, que
uma índia, estando os índios bebendo que é o tempo em que eles consultam de suas guerras,
ouviu dizer: se os brancos nos derem guerra, mataremos nós outros primeiro, e foi-se a um
índio principal que o Padre levava consigo, e disse-lhe: os índios estão em concerto de matar-
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nos esta noite, e o Curubi entrado para este efeito. Deu logo conta disto o Padre e embora os
índios contar males novos. Estavam com pouco medo dos brancos, quase todos prontos em
armar, e alguns moços descobriram depois que tinham este determinado entre si que se os
brancos viessem sobre eles, que se aviam de meter todos na igreja e disse-lhes: não nos
catives, por que já somos filhos de Deus e temos igreja; mas não era menor o medo que
tinham os nossos, especialmente dos outros brancos que estavam na companhia do Padre,
porque dizendo-lhes estando apareiados, porque nós sabemos o que nos há de acontecer. Um
deles fugiu aquela noite com medo e foi dar rebate ao capitão que estava seis léguas dali,
dizendo que os índios estavam levantados e queriam matar os Padres, e como nestas novas,
comumente, se acrescenta logo, nos vinha recado a esta Cidade que os Padres estavam já em
acordo para comê-los, e toda a cidade estava alvoroçada com isto, mas em breve tempo se
soube a verdade.
O Padre como viu os índios com aqueles medos e enganados com mentiras, chamou os
principais e disse-lhes que esta fama aí que nos quereis matar, se isto é assim, seja esta noite,
antes que manhã; isto é o que desejamos, para isto viemos, e eles então descobriram a verdade
que aqueles escravos os haviam dado aquelas más novas, mas que não tinham propósito de
fazer mal a ninguém, que bem sabiam que eram mentiras e com isto se despediram do Padre.
Mas aquela noite foi muito difícil assim para os índios como para os brancos pelo medo que
todos tinham da morte. Quando o branco fugiu, acrescentaram também que o padre era
fugido; alguns gentios, seus devotos, juntaram-se muito sentidos a consultar que faziam. Uns
diziam: vamos em sua busca, não o deixemos ir. O principal da aldeia chamado Typita disse
a sua mulher: Se o padre é fugido tomemos nossas redes e vamos com ele. Outros vieram de
noite a ver se estavam os padres nas redes e quando os viram ficaram muito alegres, outros
diziam: durmamos junto dos padres, se alguns os vierem a matar, morreremos também com
eles. Também desta vez ficou o demônio zombado, porque os índios ficaram mais
confirmados na paz, e entenderam que o que o padre lhes pregava era verdade, e o que os
escravos os diziam era mentira.
O posterior meio que tomou o demônio para impedir esta obra, foi não menos eficaz
que os passados e nasceu dos próprios brancos que o padre levou em sua companhia, e a
quem o tenha feito muito boas obras por que como estas, comumente desejam, mas os gentios
vê-los escravos que cristãos, e isto pretendem quando vem entre eles remediar sua pobreza,
ainda que percam suas almas, e como os padres onde quer que estejam sempre os vão a mão,
aos saltos que fazem, e ali resgates injustos, enganando os índios fazendo-os vender seus
filhos e parentes, e como também os impedem os pecados que entre eles fazem, como é
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tomar-lhes suas mulheres e filhas por concubinas, esta foi a ocasião para dizer, e escrevera ao
Governador muitas coisas contra os padres, que não cabiam neles, e eles mesmos lhes diziam:
nós outros sois causa, porque nós outros somos pobres. Deu-se a isto tanto crédito, que não
faltou quem deixasse que enviasse logo a chamar o padre Gaspar Lorenço, porque fazia
coisas porcas que lhes merecia ser cozido em uma caldeira, eu entendendo ser esta manhã do
demônio e que não desejava outra coisa senão ver os padres fora. Dissimulou o melhor que
pode, dizendo que acostumava sempre dar uma orelha aos padres, que eu havia de enviar
presto lá para o padre Luiz da Graã (29) para ajudar aquela cristandade, e assim me informaria
da verdade, e assim foi. Porque o padre depois que foi visitar aquelas partes, me escreveu
estas palavras: todos testemunham o contrário do que se escreveu do padre Gaspar Lorencio.
E assim pela bondade de nosso Senhor nada aproveitara o demônio as invenções que buscou
para impedir a cristandade, e embora nunca cessa de buscar ardidos, como aconteceu agora,
que escreveram os mesmos a câmara desta cidade muitas cartas, dizendo que os padres eram
impedimento que os escravos não voltassem a seu senhores
, e assim veio a câmara com
(30)
todos seus oficiais a dar-me queixas deles, dizendo que os padres impediam as coisas do
serviço de Deus, que pusesse remédio nisto. E deram a entender que dariam guerra aquela
terra, e que pouco ia por os padres em perigo de vida. Mas claramente os mostra que o que
haviam escrito era falso. Mas com todo isto como a obra é de Deus, confiança temos que nos
defenderá. No tempo que o padre residiu e nesta aldeia, se fizeram algumas procissões
solenes, enramando a Igreja as ruas, e algumas vezes tinham disciplina todos os cristãos por
bom espaço pela conversão dos gentios. Em uma procissão vendo um gentio que ia com as
velas junto da cruz, foi correndo a sua casa, e trouxe uma vela, e acendeu-a, e posicionou-se
também junto da cruz, em que mostrava sua simplicidade. Outros índios entrando na Igreja, e
vendo a imagem do crucifixo, estiveram muito tempo de joelhos vendo-o, e um índio desta
aldeia os ensinava o que sabia e entendia.
Depois de haver
deixado
o padre concentrada a aldeia de S. Thomas, e a gente pacifica,
passou a visitar as aldeias comarcanas, onde há tanto tempo havia o desejavam. Passaram
nestes caminhos grandes trabalhos, por ser por montanha e terra muito fragosa. Passariam por
algumas partes, que as ervas os cortavam as pernas, e não podiam andar calçados por haver
muitas águas e atoleiros. Aconteceu de ir mais de meia légua por um Arroio que os dava a
água, às vezes ao joelho, acrescentava-se a isto a falta de mantimentos, especialmente que a
quaresma, que ainda jejuavam, a comida não era mais que bananas e farinha misturada com
água, pimenta, e por festa tinham alguns caranguejos, que os Índios traziam seis léguas dali.
Foi esta partida muito contra vontade dos índios desta aldeia, e com grande sentimento soa
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todos a uma boca, diziam e pregavam pela aldeia: vá o Padre a morrer, preparemo-nos para
vingar-lhe a morte. Isto diziam pelo temor que tinham do Curubi, mas o padre, confiando na
graça de Deus começou seu caminho sem querer levar nenhum da aldeia, apenas só seu
companheiro que foi maior espanto. A primeira Aldeia onde entrou foi a do Curubi que está
dez ou doze léguas de San Thomas, por muito ruim caminho. Foram muito bem recebidos e
apresentados na casa do Curubi. E os padres permaneceram um grande tempo em pé diante
dele, e ele estava deitado em sua rede sem falar-lhes uma só palavra. Até que depois mandou
que lhes dessem alguma coisa para comer, e foram 4 espigas de milho; parece que aguardava
que o padre começasse a prática, e os ajuntasse a todos e lhes desse razão de sua vinda, o qual
fez o padre. Depois, começando pela manhã a pregar-lhes as cosas de sua salvação, e como
vinha a dar remédio as suas almas e acabo depois de meio dia. Ficaram contentes e todos a
uma disseram que estavam muito com sua vinda, e que queriam Igreja. E assim logo noutro
dia começaram logo a cortar madeira para ela, e os mais honrados deles eram os primeiros a
carregar, e traziam-na as costas até o mesmo Curubi, e assim em breve tempo a acabarão, por
que a cobertura é de Palmeira que há muita por aquelas partes, e é da invocação do glorioso
Padre Inácio. Teria aquela aldeia mias de mil almas, enquanto não tinham a Igreja, se
ensinavam a doutrina na rua, e acudiam a ela grandes e pequenos de muito grande vontade, e
como não tinham costume de ver brancos em suas aldeias. Estavam todos atônitos em vê-los,
como se fora coisa vinda do céu e quando saiam de casa todos saiam as ruas a vê-los, grandes
e pequenos e alguns perguntavam se os padres era gente com quem se podia conversar e falar.
Para confirmar-se mais o Curubi nas pazes, enviou um irmão seu com alguns índios a
ver o governador em nossas Igrejas foram bem recebidos, e o governador os mandou dar de
vestir e algumas ferramentas que foram todos muito contentes, especialmente vendo o
concerto que tinham os cristãos de nossas aldeias. Depois de deixar o padre quieto e animado
os desta aldeia de S. Ignácio
, passou a visitar as demais aldeias bem contra vontade do
(31)
Curubi, porque dizia ao padre: antes que nos faças nos dexas! Mais tempo estiveste na aldeia
de S. Thomas que na minha; mas o padre consolou-os dizendo que também era necessário
dar as boas novas do Evangelho as outras gentes. Ao 2º dia da jornada, encontraram com uns
principais, que os vinham esperar ao caminho, abrindo-lhes os caminhos para onde haviam de
passar, por que todos estão fechados com arvoredo. Foi grande a alegria que tiveram neste
encontro, assim os nossos, como os índios e logo repartiram com os padres o que traziam com
muita caridade e fizeram-lhe uma choça em que repousaram aquela noite e depois foram a sua
aldeia onde foram recebidos de toda a gente com tão grandes mostras de amor, como si tivera
muito tempo que os conversaram; e ali, esteve o padre alguns dias ensinando-os as coisas de
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sua salvação. Deus passou a outras aldeias; em algumas foi muito bem recebido, em outras
não lhe faziam bom rosto, temendo que os fossem ajuntar para seu mal, e assim diziam que
estavam muito escandalizados dos tempos passados, por que os brancos os tinham feito
grandes danos. Uns se queixavam que os haviam tomado suas mulheres, outros seus filhos. O
padre respondia que o passado não servia de remédio, que também eles tinham morto muitos
brancos, mas que se eles queriam ser cristãos e amigos dos brancos que tivessem por certo,
que não deviam tê-los agravados.
O primeiro que faziam entrando em uma aldeia, era visitar si havia alguns enfermos,
que estivessem em extrema necessidade, alguns achavam, ia pregando-lhes o padre a virtude
do santo batismo, e as penas do inferno, que estão aparelhadas [sic] para os não batizados,
enganados de seus feiticeiros; claramente respondiam que não queriam ser batizados, que não
temiam o fogo do inferno. Então tomou o padre um tição e pô-lo junto do enfermo, dizendo:
não temes arder com este fogo? Mas nem isto bastou! Assim morreram, parece que ia ao
demônio, estava entregado naquelas almas. Mas o padre ficou com muito sentimento de ver
sua perdição.
Em uma aldeia, um Principal estrangeiro começou a falar mal contra os Padres,
dizendo que os havia de quebrar as cabeças, que não tinham que ver com os brancos. Alguns
dos índios que iam com o Padre estavam atemorizados. O padre falou com ele, senhor da
aldeia e perguntou-lhe se estavam ali seguros? Respondeu-lhe: bem podeis dormir com sono
repousado, que não haverá em minha aldeia quem se atreva a fazer-te mal, e, pois entrastes
em minha casa, onde morreres tu morrerei eu com toda minha gente, rogo muito de ver-te,
porque há muito tempo que te conheço por fama e que não desejas, senão nosso bem. Outro
dia mandou Deus o coração a outro principal e foi a visitar os Padres e deu mostras que o
prezava do que tinha dito e pediu ao padre que fosse também à sua aldeia, mas os índios lhe
aconselharam que não se fiasse dele.
Desejando o Padre ir a visitar outra aldeia que é a posterior de todas, em busca de um
principal, que tinha prometido de vir à igreja de São Thomas, mas o demônio o tinha já outra
vez pervertido e estava com mais desejo de comer os padres, que não de se fazer cristãos. Mas
foi Nosso Senhor servido de dar aviso ao Padre disto, e foi desta maneira: um índio daquela
aldeia enviou um filho para dizer ao Padre muito depressa, já de noite, dizendo que em
nenhuma maneira entrasse na aldeia, porque o principal estava determinado de quebrar-lhe a
cabeça, e que por isso tinha ia entregue com ele, e o padre ainda que quisesse com tudo isto
passar, os índios não só consentiram, mas antes de algumas aldeias comarcanas vieram alguns
para defender o padre, e todo foi necessário por que haviam já enviado índios a tomar- lhe os
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caminhos, mas seguramente passaram livrando-os Deus de todos os perigos, e dando ia volta
para a aldeia de S. Ignácio trouxeram gente de duas o três aldeias, para juntá-las em uma
igreja junto do mar, e assim o fizeram com muita alegria dos índios, e logo levantaram uma
cruz e fizeram uma igreja da invocação de São Paulo (32), por que chegaram ali vigilia de São
Pedro e São Paulo, e de dia deram missa, e ensinaram a doutrina, e pregaram. Ficaram os
índios muito consolados, e fazendo já as casas para sua habitação; mas como era necessário
acudir o padre às outras aldeias, esteve pouco tempo com eles, o qual causou neles não pouca
tristeza: mas o padre consolava-los dizendo que procuraria de acudir a todas as partes, e assim
voltou a visitar as outras igrejas, e foi recebido de todos com grande caridade, e alguns lhe
pediram o santo batismo, mas dilatados até que estão bem instruídos nas cosas de nossa Santa
fé.
Na aldeia de San Thomas batizaram outra índia, estando já à morte, e ainda que
quando o padre lhe falava, mostrava pouca vontade disto, parecendo-lhe que se si batizava
que logo havia de morrer, o qual os persuade o demônio, por que como os padres agora não
batizam se não aos que estão à morte, parece-lhes que em se batizando logo hão de morrer,
mas outro dia visitando-a o padre e dizendo-lhe que se não queria ao inferno era necessário
batizar-se, ela disse que o desejava muito que o dia antes quando saiu algumas palavras foi
por que não estava com seu entendimento, e assim depois de bem instruída a batizou o padre e
dai a dois, ou três dias foi gozar de seu criador, e enterraram-na à porta da igreja com a
solenidade que se acostuma. Em nossas aldeias, ficaram todos admirados de vê-lo. Vieram
alguns índios de outras aldeias a falar com o padre e a pedir-lhe lhes fosse a fazer Igrejas a
suas terras, especialmente um, que antes havia ameaçado os padres veio tão manso como um
cordeiro, dizendo que só o padre era seu irmão, e o padre o perguntou qual era sua
determinação, e ele respondeu que em coisa tão importante não era bem determinar-se
debaixo de casa alheia, que fosse a sua aldeia que eu só diria. Prometeu-lhe o padre de ir lá, y
assim o fez dai a poucos dias, estava três léguas de San Thomas, foram de todos recebidos
com grande amor, e depois de haver-lhe o padre falado responderam, que haviam o que o
quisesse, e que passariam a aldeia onde lhes mandasse, e assim a passaram, ia junto do Mar
para poder ser melhor visitada. Dali foi o padre onde estava o capitão a confessar alguns
homens brancos, donde também se fez muito serviço a Deus apartando a muitos de pecados, e
fazendo-lhes pedir perdão do escândalo que lhe haviam dado.
Vendo como nosso senhor punha os olhos na gente do Morial, parecia necessário
prover [sic] de mais obreiros, e por o padre Luiz da Gran ter muita experiência na conversão
destes índios, e ser destes muito conhecido e amado, pareceu serviço de Deus colocar nas
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mãos esta empresa, a qual ele aceitou com grande caridade, e desejos de padecer muitos
trabalhos por amor de Deus, e assim foi este caminho obra de 40 ou o cinquenta léguas
levando por companheiro o irmão Francisco Pinto
, língua, e manteria o padre velho de
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mais de cinquenta anos, sempre foi a pé e muitas vezes descalço pelos caminhos no suffir
[sic] outra cosa, e ainda que um homem honrado, que ia em sua companhia lhe oferecia a sua
montaria de muito boa vontade nunca o quis aceitar, recusava dizendo que ia em peregrinação
a Santo Ignácio. Más dava-lhe Deus tanto esforço que no caminho, que parecia nos passar
dos trabalhos, mancebo de vinte anos.
Sabendo os índios da aldeia de Santo Thomas, que ia o padre visitá-los, saiu muita
gente ao caminho a recebê-lo, levando algum refresco, conforme a sua pobreza, para que os
que iam em sua companhia. Tinha a rua por onde haviam de passar enramada e com alguns
arcos, a alegria que teve o padre Gaspar Lourenço e seu companheiro foi muito grande,
porque viam já com seus olhos o que desejavam. Entraram todos com o padre na igreja e
animando-os a perseverar no bem. Começando logo lhe trouxeram ali todas suas Limosnas
[sic], e ainda que era coisa pouca, a caridade com que o traziam era muita. Vieram também
logo das outras aldeias comarcanas a visitar o padre dizendo que se queriam ajuntar e ter
igrejas. A todos consolou o padre, dando-lhe esperanças que os iria visitar, presto e assim me
escreveu, que a todos os daquela comarca se resolvem em fazer Igrejas. Deus por sua infinita
bondade e de perseverança no bem começado, e mande obreiros para tanta messe. Isto é o que
até aqui aconteceu no rio Real.
Até agora dei conta a Vossa Paternidade do que vi em pouco mais de um mês que fui
visitar as quatro aldeias em que os nossos residem e administra-lhes o Santíssimo Sacramento.
Gastei em cada aldeia uma semana, e neste tempo se examinavam e confessavam os que
aviam de comungar, e outros muitos que andavam com estes desejos, e para este efeito, levei
comigo dois padres e um irmão língua, e todos tínhamos bem que fazer juntamente com o
padre que reside na aldeia e tenho a meu cargo, examinam os que se avia de admitir do novo
ao santíssimo sacramento, e foi o exame com muito rigor, deixando à parte quem não se
admitem, senão os de boa vida, e que há muito tempo que continuam a doutrina manhã e
tarde, aprendendo as coisas de sua salvação comumente fora dos mesmos [sic] sabiam os
mandamentos e artigos da fé, e as respostas necessárias do sacramento da confissão e
comunhão. Vendo fervor em todos em aprender a doutrina que o ano passado se leo composto
[sic] que era para louvar o nosso senhor. Muitos meninos que apenas sabiam falar sabiam
muitos capítulos dela, é a maneira de dialogo composta. As noites entoando as Ave Marias, é
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grande alegria ver em todas as casas ensinar a doutrina aos meninos da escola e gastam nisto
as vezes mais de hora, e isto é comum em todas as aldeias.
Preparam-se muito de verdade para receber o Santíssimo Sacramento, todos aqueles
dias tinham acabado a doutrina pela manhã e por em prática sobre a grandeza do Senhor, que
haviam de receber. Jejuavam comumente sextas e sábados, antes de comungar tomavam
disciplina o dia antes acabada a procissão que faziam agora de noite, e derramavam muito
sangue. O dia da comunhão vinha muito de manhã a Igreja. Em todas as igrejas comungaram
em grande quietação e devoção e muitas lágrimas. Isto se viu particularmente na Igreja de
Santo Antônio, onde fazendo o irmão Diego Nunes antes de comungar, parece que a todos
tocou Deus o coração e corriam-lhe as lágrimas hilo [sic] ahillo [sic] quando estavam à mesa,
por muito que um fosse duro de coração não podia deixar de chorar vendo aquela maravilha
de Deus, especialmente vendo uns índios principais amigos, que nos tempos passados não se
fartavam de comer carne humana, e agora vemo-los com muitas lágrimas receber o corpo
santíssimo de Cristo nosso senhor. Um destes veio de sua aldeia à cidade que são doze léguas
a pedir-me licença para comungar, mas adiantou-se porque ainda não sabia bem as orações,
mas ele pôs tão boa diligência que de dia e de noite em casa e fora de casa, sempre andavam
aprendendo com um filho seu que o sabia bem, e quando se chegava já no tempo do exame,
disse dos dias há que não se me ainda [sic] de comer nem de dormir em desejo de aprender o
necessário. Perguntou-lhe porque tomavam tanto trabalho, respondeu-me se um homem que
tem fome, não descansa até alcançar um pouco de manjar para o corpo, quanto maior razão é
que eu não descanso até, até alcançar o manjar de minha alma especialmente que eu sou velho
e não queria morrer sem comungar. O dia que comungou com a grande alegria, que tinha
vindo a perguntar: Se entrarmos na sua casa, daria de comer a alguns brancos? Dissemos que
bem o podia fazer. São tão obedientes aos padres que até isto perguntam, e ainda outras coisas
menores, como foi um menino que foi pedir licença para tocar uma roupa sua, e outro menino
a pedir que lhe desse sobrenome a ele e a sua mulher, e ficou tão alegre com ele, como se lhe
trazia uma encomenda, outro a vigília da comunhão, sendo já mais de meio dia, veio a
perguntar se havíamos já comido? Perguntou-lhe para que ele queria saber? Disse por que há
um, e queria saber se seriam horas de comer. Nestas coisas se mostra bem a pureza desta
gente, em todas as Aldeias no dia sagrada comunhão se fazia procissão solene com o
santíssimo sacramento, com música de flautas e canto de órgão, que fazem os próprios índios.
E acabada a procissão, se dizia outra missa, e todos se achavam presentes com tanta devoção,
como se àquela hora entraram na igreja, passando já de meio dia e depois os despedíamos
com uma prática espiritual dizendo-lhes que se fossem a dar manutenção a seu corpo, pois o
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haviam já dado a sua alma. Aconteceu uma vez depois de despedi-los, sendo já mais de una
hora, vieram a dar rebate [sic] ao padre que fosse a dar a santa unção a um índio que estava
para morrer, e todos foram com grande devoção acompanhar ao padre e se acharam presentes
enquanto se ministrou este santo sacramento; parece-me que com esta simplicidade [ilegível]
igreja se recebia ao santíssimo sacramento, e como os muito entendidos em outras partes, com
sua soberba perderam o conhecimento de tanto bem, e se apartaram deste manjar divino, quis
Deus mostras seus tesouros de misericórdia a esta gente simples, rudes e nus ensuidada [sic]
que até os brancos que andam nestas partes não se acabam de persuadir que são capazes para
receber ao senhor, e muitos murmuram disto. Verdade é que quando o veem como foi na
Aldeia de Santiago, onde se juntaram muitos brancos em dia de sua festa que dão como
vencidos e acham-se muito outros como eles dizem, e dão-lhes venda, assim neste como na
doutrina cristã, e tem muitíssima razão, porque os muito grandes dos brancos não sabem tanto
como os meninos pequenos das aldeias, e assim se espantaram de vê-los disputar sobre os
capítulos do diálogo. Os que comungariam nas aldeias, seriam obra de quatrocentos,
confessar-se-iam neste tempo, obra de oitocentas pessoas contando alguns brancos com
grande proveito de suas almas, batizar-se-iam quarenta outras pessoas depois de bem
instruídas casar-se-iam quarenta nas graças, apartando muitos do mal estado em que estavam.
Algumas coisas particulares de muita edificação vimos na Aldeia de São Tiago, um
índio principal foi a sua roça, e tomando a cegueira na mão afirmou que logo a tornou a deixar
sem ter forças para mais, e voltou-se a igreja a dizer-me: padre date-me ao senhor, que não
posso fazer nada até que tenha certeza de lhe receber. A mulher deste, vendo que também lhe
dilatavam a licencia esteve toda una noite chorando sem poder dormir, e ambos foram
admitidos porque estavam bem preparados. Outro índio tratando como se defendiam das
tentações do demônio entre outras coisas apontava esta, este é ofensa de Deus, e tendo de
confessar, pois para que eu tenha de fazer. Perguntando a outro se deixava de confessar
alguma coisa por vergonha, respondeu: Deus velo [sic] que [ilegível] o padre está em seu
lugar, porque o tenho que encobrir. Outro explicando-lhe a limpeza que era preciso para
receber o senhor disse: se um principal para hospedar outro limpa sua casa qual a melhor
razão ha que haja limpeza em uma alma que há de receber ao senhor. Alguns de joelhos
pediam licença para comungar, e perguntando-lhes para que o desejavam? Uns respondiam
que para ser filhos de Deus, e para alcançar seu amor; outros para alcançar fortaleza contra
seus inimigos.
Na Aldeia do Espírito Santo sabendo uma índia que um enfermo não era bem curado,
e que se enraivavam com ele em sua casa, veio a pedir licença para leva-lo para a sua, e ter
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cuidado de cura-lo, dizendo o que mais sente é que pessoa que comunga não trata bem os
enfermos. Deus nosso senhor tão grande conceito ahu [sic] aos que não comungam da
Santidade que é necessário para receber ao senhor, que qualquer coisa por pequena que seja a
estranham muito, e lidam com ela em resto dizendo: quem comungar não há de fazer isto, e
nos próprios que comungam sente notável mudança, e experimentamos bem os efeitos do
Santíssimo Sacramento. Uma índia fazendo uma coisa muito leviana, parecendo-lhe que era
algum pecado, começou logo a tremer e não descansou até que sepa [sic] que não era nada.
Há outro índio, que morreu a mulher sem receber o santíssimo sacramento e ficou muito
triste, por isto e dizem consolar-me, que se estava já preparado por eles. Tratando com alguns
como totalmente haviam de deixa-los pecados se queriam receber ao senhor. Alguns
respondiam: se trocarmos muitas vezes coisas boas por coisas de pouco valor, quanto maior
razão será deixa-los pecadores, que é coisa tão má para alcançar as coisas verdadeiras. Outros
diziam: se antes tomávamos as confissões deles e disseram que causavam nossa perdição,
razão será que tomemo-los nosso, pois nos falou com tanta verdade. Um índio fez uma falta
nesta aldeia muito pequena, e sendo homem casado saiu a pedir de joelhos que lhe dessem
logo penitencia para ele, e recebeu-a de muito boa vontade.
Quando entramos nas aldeias o comum é em todas terem feitos antes, e limpar os
caminhos e sair toda a gente a receber-nos, com grande caridade particularmente na aldeia de
São João quando entravamos pelas ruas, ia um pregando e sai a fazer reverência a vossos
verdadeiros padres. Nesta aldeia disse um: quisera ser moço para gozar mais deste tempo tão
santo. Outro vem trabalhar dizendo coisas de confiança, disse: veja que me possui que iam
[sic] não estamos em tempo que se aja de mentir. Nesta aldeia foi um índio com grande
serupolo [sic] ao padre se podia comungar; por que descuidadamente havia mordido em uma
erva. Outro índio principal disse: quando antigamente se tomava um contrário, toda a aldeia
ficava feliz, embora eles não o comessem, assim mesmo se nós outros não somos dignos de
tomar ao senhor, por não saber o necessário. Rogamos muito em ver, que muitos feriram e
parentes o tomam. Um índio principal nesta aldeia de grande eloquência pregou dez horas
antes de ser de dia, no dia da comunhão, e ainda que ele não comungasse, todo seu sermão
hia[sic], tratar da limpeza que avia de haver nos que comungavam, como se haviam de apartar
dos vinhos, e acrescentou já me parece, que não ousou de atrever, a comer em um prato com
meu filho, por que o a de comungar ay y yuno [sic] a de ter meu filho nojo de comer comigo.
Na aldeia de Santo Antônio pedia um índio com grande instância o Santíssimo
sacramento, perguntando-lhe se confessar a grandeza do senhor que havia de receber?
Respondeu por que o conosco o quero receber, para alcançar vida verdadeira. Dizendo a um
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índio que não havia de comer nada, depois de meia noite, se queria comungar, respondeu ele:
bem podes estar seguro padre, que desde agora não tenho de comer nada até receber ao
Senhor. Pediram a una certa índia que fosse terceira, em una cosa de ofensa de Deus, e
respondeu: não temes à Deus, tomou-me pois isso. O outro estava tão cego que disse: não
temo a Deus, respondeu ele, pois não o temo, e não tenho de fazer isso, a esta mesma tentava
o demônio conhece-los [ilegível] dizendo- lhe que não viram os padres, ele sonhando
respondia: se não me vir os padres veja-me Deus, que sonhando se defendia desta maneira de
crer, é que o fazia melhor despertar. Outra dizia todas as manhãs: morro eu senhor antes que
os responda qualquer coisa que neles havia de sua salvação. Largou-a colocar por obra, como
foi uma vez que os disse que se tinham todas as cruzes em suas casas, por que tremia o
Demônio só de vê-las, e que se fazem oração diante delas, pelas manhãs e as noites. Logo ao
outro dia visitando as casas acha que a maior parte já tinha [ilegível], uns grandes e outros
pequenos, e uma me disse: eu tenho uma imagem, e as noites quando quero rezar, [ilegível]
dos
arcos,
e depois de acabada a oração, torno-a meter por que não sei me dar com a fumaça,
Apartaram-se tão de vez os que comungam, de beber vinho, que ainda o que lhes é licito não
fazem, e por que os mantimentos são fracos e o trabalho por que padecem muito. Damos-lhes
em conselho que São Paulo deu a Thimoteo: que usem de um pouco de vinho quando
comem, para que tenham forças em seus trabalhos. Outras muitas coisas sucederam do serviço
de nosso senhor, mas deixou-lhes de contar, por que são semelhantes aqueles que outras vezes
tenho sorito[sic] a Vossa Paternidade, e também para dar-lhe tempo para ver outra que vá com
estas que agora me serviram da Capitania do Espirito Santo, quando vi a carta veio-me o
desejo que o padre Manoel Francisco, de santa memoria, teve de escrever as universidades
de Espanha e França, e pô-los diante a tanta gente letrada que esta em altas sem ter que
fazer. As almas que para aquém se perdera por falta de ministros que se ocupem nas coisas de
sua salvação, e se extrema necessidade, como todos confessam é bastante para perder tudo
ainda que sua vida, por dar-se remédio às almas, as necessidades que ha nos gentios do
Brasil, sempre são extremas, por que removidos os padres que aqui andam da companhia, que
no há outros que se ocupem em sua conversão, e como somos poucos e a messe muita, não
podemos como dar-lhe amor e acudir a tantas necessidades extremas que temos diante dos
olhos, e assim se perdem muitos com grande dor de nosso coração e não nos dando mais do
que chorar e suspirar, et rogare dominu messis mittato penario in messem suam, e ainda que
se das entranhas que Vossa Paternidade tem para acudir a todos as partes dos gentios, tenho
para [ilegível] que ouvindo estas coisas só acrescentaram muito mais os desejar, e cada dia
nos mandara mais obreiros para dar remédio a estas almas, que custaram o sangue do filho de
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Deus. E isto é o que ao presente se oferece servir a Vossa Paternidade em cuja Santa Benção,
e Santos Sacrifícios e orações todos os desta princianas [sic], encomendamos.
Deste Colégio da Baia, sete de setembro de 1575
Indigno filho de Vossa Paternidade, em Christo. Ignatio Toloza
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NOTAS DA TRADUÇÃO
1 - A “carta” era o meio de comunicação utilizado pelos membros da Companhia de Jesus, para
informar aos seus superiores sobre peculiaridades ligadas aos diversos povos que foram catequizados em suas
missões pelo mundo (hábitos alimentares, a língua, as crenças, os mitos, rituais funerários, antropofagia, etc.) e
os aspectos físicos da paisagem ( relevo, hidrografia, recursos minerais, fauna, flora, etc.). Conforme Moreau:
“A companhia de jesus foi cuidadosa no seu próprio registro, reunindo em 80 volumes a Monumenta História
Societatis Jesu, da qual faz parte a Monumenta Brasílica, editada pelo padre Serafim Leite. As cartas eram de
dois tipos: de negócios e de edificação, sendo apenas as últimas copiadas e distribuídas, pois continham
notícias dos índios e interessavam a um publico maior”. MOREAU, Felipe Eduardo. Os índios nas cartas de
Nóbrega e Anchieta. São Paulo. Annablume, 2003. P. 52.
A título de informação, encontramos uma cópia
digitalizada dessa carta, na Biblioteca Nacional de Portugal, no sítio: http://bndigital.bnportugal.gov.pt/.
Sequência: Coleções/ Reservados manuscritos/ Autores/ Tolosa, Inácio de (1533-1611)/ COMPANHIA DE JESUS
[Cartas, cartas ânuas, informações, relatos, etc., produzidos nas províncias da Companhia de Jesus do Brasil,
India, Japão e vários reinos da Europa] / Manuscrito] [16--]. - [345] f. : papel ; 41 cm.
2 - Inácio de Tolosa (Padre). Natural de Medinaceli, bispado de Siguenza-Guadalajara, Espanha. Ao vir
para o Brasil, deixava em Lisboa mãe e duas irmãs, caridosamente amparada pela Companhia de Jesus. Para
esta entrara em 1560, já sacerdote, aos 27 anos de idade. Nascido pois em 1533. Doutorou-se, logo a seguir,
primeiro da Companhia, na nova Universidade de Évora. Ensinou filosofia e teologia em Coimbra, e moral no
Colégio de Braga (1568). Sob a influência do espírito missionário de Inácio de Azevedo, pediu a essa altura para
ir trabalhar nas missões do Oriente, nomeadamente no Japão. Com o falecimento de Nóbrega, indigitado
provincial pela segunda vez, foi nomeado, por São Francisco de Borja (1571), para suceder a Luís da Grã, que
concluía seu provincialado. Faz sua profissão em Lisboa (13 de janeiro de 1572), embarcando nesse mesmo
mês para o Brasil. A 23 de abril desse ano, assumia o governo da província, na Bahia, que lhe passava o viceprovincial Gregório Serrão. Governou pouco mais de cinco anos, entregando em 1577, no segundo semestre, o
cargo ao seu sucessor Padre José de Anchieta. Visitou desde logo a província, sofrendo perigoso naufrágio ao
voltar do sul, a 22 de abril de 1573, nas costas do Espírito Santo. Ainda como provincial iniciou na Bahia o
ensino de teologia dogmática. Decidiu que nas aldeias continuassem a viver os missionários, embora passasse
então o governo temporal a capitães seculares. Entregou ao clero secular o santuário de Nossa Senhora da
ajuda em Porto seguro (1574). Com Gaspar Lourenço como pioneiro, dá início à evangelização dos índios de
Sergipe (1575-1576), iniciativa infelizmente interrompida pela intempestiva intervenção militar do governador
Luís de Brito. Dela nos deixou relato em carta de 31 de agosto de 1576 (HCJB, IX, P. 164). Nessa mesma Ânua
nos narra os episódios da guerra do governador Salema, contra os tamoios do Cabo Frio (1575).Em sua última
visita ao sul, recebe em São Vicente (8 de abril de 1577), a profissão de José de Anchieta, que leva consigo para
reitor do Colégio da Bahia, mas que, desde o ano anterior, estava nomeado provincial do Brasil como seu
sucessor. É nomeado por este para mestre dos noviços da Bahia, cargo que deixa em 1583, para governar,
durante oito anos (1583-1591), o Colégio do Rio de Janeiro. Dá início aí ao ensino da filosofia. Tomando parte
na congregação provincial de 1592, assume o reitorado no Colégio da Bahia, onde permanece no cargo por seis
anos, até 1598. Em 1600 ai continuava como pregador, confessor e consultor do colégio da província, função
por ele exercida durante vinte anos. Entre o provincialado de Pero Rodrigues, terminado em 1603, e o de
Fernão Cardim (24 de abril 1604), governou interinamente a província mais uma vez, como vice-provincial.
Faleceu no colégio de Jesus, na Bahia, a 22 de setembro de 1611, aos 78 anos de idade, merecendo elogiosas
referências ao seu espirito de religioso observante, zeloso e prudente. Fomentou no Brasil os estudos e o culto
eucarístico, sobretudo nas aldeias. Deixou cartas e outros escritos, em boa parte inéditos (HCJB, IX, pp. 162165). IN: ANCHIETA, Padre José. Cartas: correspondências ativa e passiva. Obras completas. 6º volume. 2ª
edição. Pesquisa, introdução e notas do Pe. Hélio Abranches Viotti. Edições Loyola. São Paulo, 1984, pp. 36-17.
3 - Padre geral. O Superior Geral da Companhia de Jesus é um religioso eleito pela Congregação Geral
para governar toda a Ordem dos Jesuítas em caráter vitalício, conforme as Constituições da Companhia. O
Padre Geral, como é comumente conhecido, reside na Cúria Generalícia em Roma. O Prepósito Geral dos
jesuítas é por vezes alcunhado de Papa Negro, dado o seu poder e sua batina negra. Apesar de o cargo ser
vitalício, o Papa pode acolher a renúncia do Superior Geral, como foi o caso de Pedro Arrupe, afetado por um
derrame em 1981 e que foi substituído em 1983. Por essa ocasião da expedição dessa carta, o padre geral era
Everard Mercurian (1514 – 1º de agosto de 1580), que foi um padre jesuíta belga, quarto superior geral no
período de 1572 a 1581. Fonte: https://pt.wikipedia.org
4 - Gaspar Lourenço (Padre). Filho de Antônio Pires e Brites Lourenço, nasceu Gaspar Lourenço, por
volta de 1539, em Vila Real (Trás- os- Montes). Veio menino para o Brasil. Seu irmão, Baltasar Lourenço,
lavrador de cana na Bahia, deu testemunho sobre Anchieta, no processo informativo de 1619. Desde menino se
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criou Gaspar junto aos jesuítas. Vindo com Nóbrega para São Vicente, aí entrou para a Companhia, no ano de
1553. Discípulo de Anchieta e um dos fundadores de São Paulo. Com Fernão Luís Carapeto, acompanhando o
reforço militar de São Vicente, toma parte na expugnação do fortaleza de Coligny (1560), nesse mesmo ano
com Afonso Brás, assiste, em sua última enfermidade à índia Isabel Dias, e, a 25 de junho, com Luis da Grã,
segue para a Bahia, onde, pouco depois de chegar, é ordenado sacerdote juntamente com Gonçalo de Oliveira
e Leonardo do Vale. Funda, em 1561, a nova aldeia de São João (hoje São João da Mata). Intérprete do
Provincial Luis da Grã e de Antônio Pires. Missionário nas aldeias da Bahia mantém, em torno dos anos 15731574, escola de Tupi, para os estudantes da Companhia. “Cicero na língua brasílica” é como o apelidaram pela
sua eloquência, nessa língua. Encarregado da missão ao Rio Real (1575) torna-se o “primeiro apóstolo de
Sergipe”, mas a intervenção militar de Luís de Brito, arruína totalmente essa esplendida empresa missionária.
Exímio nadador salvara a nado, com índios, a jangada, em que viajava nas proximidades de Itaparica Luis da Grã
(1562). Anos depois, jogando-se ao Rio Joanes, por ordem de Anchieta, dali retira o cavalo do governador
Lourenço da Veiga (1578). Realizara pouco antes grande entrada até a Serra de Arari (1576), trazendo do Orobó
grande “golpe de gente”, para as aldeias cristãs. Consumido por tantos trabalhos, contraída a tuberculose,
morre, aos 42 anos, merecendo o elogio, aqui consignado por Anchieta, nesta carta. IN: ANCHIETA, Padre José.
Cartas: correspondências ativa e passiva. Obras completas. 6º volume. 2ª edição. Pesquisa, introdução e notas
do Pe. Hélio Abranches Viotti. Edições Loyola. São Paulo, 1984, pp. 323-324.
5 - Rio Real. É um rio brasileiro que banha os estados da Bahia e de Sergipe, dava nome à Vila de
Campos do Rio Real (atual município de Tobias Barreto) e ao município baiano de Rio Real. Nasce no município
de Poço Verde no semiárido sergipano. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Real_(Brasil). Acessado em
02/06/2020.
6 - Companhia de Jesus. Foi na capela de Montmartre, em Paris (França), em 15 de agosto de 1534,
que Inácio e seis companheiros – Francisco Xavier, Pedro Fabro, Afonso Bobadilha, Diogo Laínez, Afonso
Salmeirão e Simão Rodrigues – fizeram votos de dedicarem-se ao bem dos homens, imitando Cristo, peregrinar
a Jerusalém e, caso não fosse possível, apresentar-se ao Papa, com o objetivo de colocarem-se à disposição do
Pontífice. Um ano depois, os votos foram renovados por eles e mais três outros companheiros – Cláudio Jaio,
João Codure, Pascásio Broet. Passados seis anos, por meio da bula Regimini militantis Ecclesiae, a Companhia
de Jesus foi aprovada oficialmente pelo Papa Paulo III, em 27 de setembro de 1540. No ano seguinte, 1541,
Inácio foi eleito o primeiro Superior Geral da Ordem, passando a viver em Roma (Itália). Desde o início de sua
existência, a Companhia de Jesus sempre se caracterizou pela intensa atividade missionária e apostólica, como
se pode observar nas palavras deixadas por Santo Inácio: “Para a Maior Glória de Deus”, tradução de “Ad
Majorem Dei Gloriam”. Assim, em pouco tempo, os jesuítas espalharam-se por todo o mundo, dedicando-se às
mais diferentes missões. Temos dois bons exemplos do fervor apostólico e missionário da Companhia de Jesus:
São Francisco Xavier, com seu intenso trabalho no Oriente, e São José de Anchieta, no Brasil Colônia. Pouco
mais de 200 anos depois de seu nascimento, a Companhia de Jesus enfrentaria seu pior momento: sua
supressão, de 1773 a 1814, na Europa e seus domínios, permanecendo apenas na Rússia e na Prússia. A
supressão, que durou 41 anos, interrompeu mais de dois séculos de muita criatividade, vigor e entusiasmo
apostólicos da ordem religiosa. No entanto, esse fato não conseguiu sufocar o Espírito que está na origem da
sua existência. Na manhã de 7 de agosto de 1814, Pio VII celebrou a missa no Altar de Santo Inácio. Após a
cerimônia, com a presença de todos os cardeais da cidade e de cerca de 100 jesuítas sobreviventes da
supressão, o Papa solicitou ao Monsenhor Cristaldi a leitura da Bula Sollicitudo Omnium Ecclesiarum. Diante de
todos, o Papa fez ler a Bula que restaurava a Companhia de Jesus em todo o mundo. Hoje, assim como ontem,
a Companhia de Jesus é reconhecida no mundo inteiro por seu trabalho missionário e por sua atuação nas
áreas educacional, espiritual, intelectual e social. Fonte: https://www.jesuitasbrasil.org.br/institucional/nossahistoria/. Acessado em 02/06/2020.
7 - Luís de Brito e Almeida (Portugal, século XVI — ?) foi governador das capitanias do norte
do Brasil (ao norte de Porto Seguro, com sede na Bahia) de 1572 a 1576 e de todo o Brasil em 1577.
Empreendeu diversas bandeiras pelo interior do Brasil, para descoberta e mineração de pedras preciosas.
Fundou a cidade de Santa Luzia na Bahia, dando início à Capitania de Sergipe, se envolvendo em diversas
contendas com os nativos da região. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C. Acessado em 01/06/2020.
8 – Légua. Como não está expresso na carta, o tipo de légua utilizado para o cálculo da distância
percorrida pelos jesuítas na conversão dos gentios, tomamos a liberdade de apontar três tipos que podem se
encaixar nesse raciocínio. A primeira é a légua de sesmaria, antiga medida de distância equivalente a três
mil braças ou 6.600 m. A segunda é a légua métrica, antiga medida de distância equivalente a 4.000 m, e a
última é a légua terrestre, que corresponde a vigésima quinta parte do grau, o que equivale a 4.445 m. Fonte:
https://pt.wiktionary.org/wiki/l%C3%A9gua. Acessado em 02/06/2020. BARREIROS, Fortunato José. Memória
sobre os pesos e medidas de Portugal, Espanha, Inglaterra e França, que se empregam nos trabalhos do Corpo
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de Engenheiros e da Arma de Artilheria; e noticia das principaes medidas da mesma espécie, usadas para fins
militares em outra nações. Lisboa, 1838.p 64. Na Espanha, 1 légua comun media 3039 braças ou 6.685, 8
metros e a légua legal media 1899,78 braças ou 4.179,51 metros. Já em Portugal, uma légua terrestre de 18 ao
grau media 2.805,83 braças que corresponde a 6.172,82 metros, já a légua do Riba-Tejo media2.853 braças o
equvalente a 6.276,60 metros.
9 – Aldeia de Mar Verde. Segundo descrito em nota à carta do Padre José de Anchieta ao Padre geral,
Claudio Acquaviva (Atri, 14 de Setembro de 1543 — Roma, 31 de Janeiro de 1615), a aldeia de Mar Verde
localizava-se no interior de Minas Gerais, que a época pertencia a Capitania de Porto Seguro, na qual foi
erguida uma igreja pelo padre Juan Pereira, em 1574. IN: ANCHIETA, Padre José. Cartas: Correspondência ativa
e passiva. Obras completas. 6º volume. 2ª edição. Pesquisa, introdução e notas do Pe. Hélio Abranches Viotti.
Edições Loyola. São Paulo, 1984, p. 419.
10 – Tapuias. A palavra “tapuia” não designa uma etnia indígena, mas várias delas. Na época
da colonização do Brasil, foram agrupados sob essa denominação os índios que não eram tupis. Assim, estão
classificados como tapuias os indígenas dos grupos linguísticos macro-jê, caribe e aruaque, entre outros.
Diferentemente dos tupis-guaranis, que viviam no litoral, os tapuias habitavam o sertão. Historicamente, os
índios tapuias são considerados inimigos dos colonizadores, pois resistiam a abandonar suas terras e a se
converter à fé religiosa pregada pelos jesuítas. Durante algum tempo, aliaram-se aos holandeses nas lutas para
enfrentar o avanço português sobre suas terras. Mas logo perceberam que, se por um lado podiam com isso
dificultar o domínio português, por outro acabariam sendo dominados por outros europeus, que eram os
holandeses. Atualmente, nos estados do Pará e do Amazonas, qualquer indígena é chamado de tapuia, embora
não exista nenhuma razão específica para isso. Fonte: https://escola.britannica.com.br/artigo/tapuia/483582.
Sítio acessado em 02/06/2020. Outro autor que se debruça sobre o tema, é o baiano Antonio Risério que faz a
seguinte referência sobre os tapuias: “Tapuia” era uma designação geral para diversos grupos indígenas que
não falavam o tupi. Ou, ainda, era como os tupis chamavam os seus “bárbaros”. Os europeus simplesmente
adotaram a designação indígena. E é assim que, não muitos anos depois da construção da cidade da Bahia, o
jesuíta Aspilcueta Navarro, vai encontrar tapuias pelas bandas do sertão, andando pelos matos como “manadas
de veados, nus, com os cabelos cumpridos como mulheres” e sempre levando consigo as suas flechas
envenenadas. Seu reinado baiano, cuja origem se desconhece, foi destruído pelos Tupinaés. Estes, por sua vez,
foram expulsos de Kirymuré/Paraguaçu pelas implacáveis clavas dos Tupinambás. Tapuias, Tupinaés e
Tupinambas, em suas novas posições, guerreavam sem trégua entre si. Eram três exércitos indígenas em
confronto armado, com os seus guerreiros coloridos, as suas flechas de fogo, as suas canoas velozes, os seus
cantos de guerra e os seus inúmeros banquetes canibais. RISERIO, Antônio. Uma história da cidade da Bahia.
Versal Editoras Ltda. Rio de Janeiro, 2004. P.p: 16-17.
11 – Aldeias comarcanas. Aldeias mais importantes (grifo meu).
12 – Rio São Francisco. O Rio São Francisco é um dos mais importantes cursos d'água do Brasil e
considerado o rio de integração nacional. Sua importância ultrapassa o abastecimento de água
(principalmente) do Nordeste do Brasil, pois possui valor econômico, social e cultural para o país, pois muitas
famílias dependem dele para sobreviver. Possibilita a fruticultura, irrigando as produções, bem como é
utilizado na produção de energia em usinas hidrelétricas. É um rio perene, ou seja, é um rio que possui fluxo
normalmente constante e estável ao longo de todo o ano. Sendo assim, ele não seca independentemente do
período de estiagem. O Rio São Francisco desloca-se em boa parte do semiárido nordestino, estendendo-se por
regiões de clima semiárido, árido e úmido. Tem, aproximadamente, 2.700 quilômetros, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ocupando cerca de 8% do território nacional. O curso do Rio
percorre os estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas (onde se
localiza seu desaguadouro). O rio perpassa cerca de 507 municípios, de acordo com o IBGE. São exemplos os
municípios de Pirapora e Três Marias, em Minas Gerais; Paulo Afonso e Bom Jesus da Lapa, na Bahia; Penedo e
Piranhas, em Alagoas; e Petrolina, em Pernambuco. O Rio São Francisco drena uma área de,
aproximadamente, 641.000 km2. A vazão média é de 2.846 metros cúbicos por segundo, cerca de 1,58% da
vazão média nacional, segundo a Agência Nacional das Águas. Essa é uma das principais características do Rio
São Francisco. Este apresenta duas regiões de maior navegabilidade. São elas: o estirão médio, que apresenta
cerca de 1.371 km de extensão (entre Minas Gerais, Bahia e Pernambuco), e o baixo estirão, com,
aproximadamente, 208 km de extensão (entre Alagoas e a foz — local onde o rio deságua: o Oceano Atlântico).
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rio-sao-francisco.htm. Sítio acessado no dia 03/06/2020.
13 – Topiguezes ou tupigaés. Era uma etnia indígena que habitava o Brasil nos primórdios
da colonização portuguesa. Sua área de distribuição ia do sertão de São Vicente até Pernambuco.
Etimologia:"Tupiguaé" procede do tupi antigo tupigûaé, que significa "tupis diferentes" (tupi, tupi e aé,
diferente). Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupigua%C3%A9s. Sítio acessado em 03/06/2020.
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14 – Antropofagia. O jesuíta Fernão Cardim fez uma descrição minuciosa sobre essa prática, que era
comum a várias etnias brasileiras: “ De todas as honras e gostos da vida, nenhum é tamanho para este gentio
como matar e tomar nomes nas cabeças de seus contrários, nem entre eles há festas que cheguem ás que
fazem na morte dos que matão com grandes cerimônias. As quais fazem desta maneira. Os que tomados na
guerra vivos são destinados a matar, vêm logo de lá com um sinal, que é uma cordinha delgada ao pescoço, e
se é homem que pode fugir traz uma mão atada ao pescoço debaixo da barba, e antes de entrar nas povoações
que ha pelo caminho os enfeitam, despenando-lhes as pestanas e sobrancelhas e barbas, tosquiando-os ao seu
modo, e empenando-os com penas amarelas tão bem assentadas que lhes não aparece cabelo: as quais os
fazem tão lustrosos como aos Espanhóis os seus vestidos ricos, e assim vão mostrando sua vitória por onde
quer que passão. ...... e comumente a guarda é uma que lhe dão por mulher, e também para lhe fazer de
comer, o qual se seus senhores lhe não dão de comer, como é costume, toma um arco e frecha e atira á
primeira galinha ou pato que vê, de quem quer que seja, e ninguém lhe vai á mão, e assim vai engordando, sem
por isso perder o sono, nem o rir e folgar como os outros, e alguns andam tão contentes com haverem de ser
comidos, que por nenhuma via consentiriam ser resgatados para servir, porque dizem que é triste cousa
morrer, e ser fedorento e comido de bichos. ......assim os principais como os outros mandam seus mensageiros
a convidar outros de diversas partes para tal lua, até dez, doze léguas e mais, para o qual ninguém se escusa.
...... O segundo dia trazem muitos feixes de canas bravas de comprimento de lanças e mais, e á noite põem-nos
em roda em pé, com as pontas parar cima, encostados uns nos outros, e pondo-Ihes ao fogo ao pé se faz uma
formosa e alta fogueira, ao redor da qual andam bailando homens e mulheres com maços de frechas ao
ombro, mas andam muito depressa, porque o morto que ha de ser, que os vê melhor do que é visto por causa
do fogo, atira com quanto acha, e quem leva, leva, e como são muitos, poucas vezes erra. Ao terceiro dia fazem
uma dança de homens e mulheres, todos com gaitas de canas e batem todos á uma no chão ora com um pé,
ora com outro, sem discreparem, juntamente e ao mesmo compasso assopram os canudos, e não ha outro
cantar nem falar, e como são muitos e as canas umas mais grossas, outras menos, além de atroarem os matos,
fazem uma harmonia que parece musica do inferno, mas eles aturam nelas como se fossem as mais suaves do
mundo; e estas são suas festas, afora outras que entremetem com muitas graças e adivinhações. Ao quarto dia,
em rompendo a alva, levam o contrario a lavar a um rio, e vão-se detendo para que quando tornarem seja já
dia claro, e entrando pela aldeia, o preso vai já com olho sobre o ombro, porque não sabe de que casa ou porta
lhe ha de sair um valente que o ha de aferrar por detrás, porque, como toda sua bem aventurança consiste cm
morrer como valente, e a cerimonia que se segue é já das mais propinquas á morte, assim como o que ha de
aferrar mostra suas forças em só ele o subjugar sem ajuda de outrem, assim ele quer mostrar animo e forças
em lhe resistir...... e da mesma maneira que eles têm pintado o rosto, o está também a espada, a qual é de pau
aomodo de uma palmatória, senão que a cabeça não tão redonda, mas quase triangular, e as bordas acabam
quase em guine, e a haste, que será de 7 ou 8 palmos, não é toda roliça, terá junto da cabeça 4 dedos de
largura e vem cada vez estreitando até o cabo, onde tem uns pendentes ou campainhas de pena de diversas
cores, é cousa galante e de preço entre eles, eles lhe chamam Uujapenambin, orelhas da espada. O derradeiro
dia dos vinhos fazem no meio do terreiro uma choça de palmas ou tantas quantos são os que hão de morrer, e
naquela se agasalha, e sem nunca mais entrar em casa, e todo o dia e noite é bem servido de festas mais que
de comer, porque lhe não dão outro conducío senão uma fruta que tem sabor de nozes, para que ao outro dia
não tenha muito sangue. Ao quinto dia pela manhã, ali ás sete horas pouco mais ou menos, a companheira o
deixa, e se vai para casa muito saudosa e dizendo por despedida algumas lastimas pelo menos fingidas; então
lhe tirão a peia e lhe passão as cordas do pescoço á cinta, e posto em pé á porta do que ha de matar... Morto o
triste, levam-no a uma fogueira que para isto está prestes, e chegando a ela, em lhe tocando com a mão dá
uma pelinha pouco mais grossa que véu de cebola, até que todo fica mais limpo e alvo que um leitão pelado, e
então se entrega ao carniceiro ou magarefe, o qual lhe faz um buraco abaixo do estômago, segundo seu estilo,
por onde os meninos primeiro metem a mão e tiram pelas tripas, até que o magarefe corta por onde quer, e o
que lhe fica na mão é o quinhão de cada um, e o mais se reparte pela comunidade salvo algumas partes
principais que por grande honra, se dão aos hospedes mais honrados, as quais eles levam muito assadas, de
maneira que não se corrompam, e sobre elas depois em suas terras fazem festas e vinhos de novo. CARDIM,
Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Introduções o notas de Batista Caetano, Capistrano de Abreu e
Rodolpho Garcia. Livraria J. Leite. Editores: J. Leite e Cia. Rio de Janeiro, 1925. Pp. 181-184. O aventureiro
inglês, Anthony Knivet, também fez um registro desse ritual em seus escritos: “Ao se aproximarem, amarraram
nossas mãos e nossas cinturas e desse jeito nos levaram até suas casas. Logo vieram dois ou três anciãos e nos
perguntaram quem éramos ao que os portugueses responderam que eram portugueses e eu, que era francês.
Duas horas depois levaram um dos portugueses, amarraram-lhe outra corda à cintura e conduziram-no a um
terreiro, enquanto três índios seguravam a corda de um lado e três do outro, mantendo o português no meio.
Veio então um ancião e pediu a ele que pensasse em todas as coisas que prezava e que se despedisse delas,
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pois não as veria mais. Em seguida veio um jovem vigoroso, com os braços e o rosto pintados de vermelho, e
disse ao português: Estás me vendo? Sou aquele que matou muitos do teu povo e que vai te matar.” Depois de
ter dito isso, ficou atrás do português e bateu-lhe na nuca de tal forma que o derrubou no chão e, quando ele
estava caído, deu-lhe mais um golpe que o matou. Pegaram então um dente de coelho, começaram a retirarlhe a pele e carregaram-no pela cabeça e pelos pés até as chamas da fogueira. Depois disso, esfregaram-no
todo com as mãos de modo que o que restava de pele saiu e só restou a carne branca. Então cortaram-lhe a
cabeça, deram-na ao jovem que o tinha matado e retiraram as vísceras e deram-nas às mulheres. Em seguida, o
desmembraram pelas juntas: primeiro as mãos, depois os cotovelos e assim o corpo todo. Mandaram a cada
casa um pedaço e começaram a dançar enquanto todas as mulheres preparavam uma enorme quantidade de
vinho. No dia seguinte ferveram cada junta num caldeirão de água para que as mulheres e as crianças
tomassem do caldo. Durante três dias nada fizeram a não ser dançar e beber dia e noite. Depois disso mataram
outro da mesma maneira que lhes contei, e assim foram devorando todos, menos eu. KNIVET, Anthony. As
incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet: memórias de um aventureiro inglês que em
1591 saiu de seu país com o pirata Thomas Cavendish e foi abandonado no Brasil, entre índios canibais e
colonos selvagens. Organização, introdução e notas: Sheila Moura Hue ; tradução Vivien Kogut Lessa de Sá. –
Rio de Janeiro : Jorge Zahar Editor, 2007. Pp 119-120
15 – Barriguda ou Paineira Branca. Pelas características florísticas apresentadas na carta, concluímos
ser uma árvore pertencente à família Malvaceae e ao gênero Ceiba (antes se chamava Chorisia). Essas grandes
árvores também são conhecidas como sumaúma, barriguda, paina-de-seda, paineira-branca, paineira-rosa,
árvore-de-paina, árvore-de-lã, paineira-fêmea. As paineiras são primas dos baobás africanos e tão especiais
quantos estes. As espécies mais conhecidas são: Ceiba glaziovii, paineira branca, cuja paina é usada para fazer
colchões e travesseiros e a casca, para remédio; Ceiba speciosa, a paineira rosa, Ceiba pentandra, mais
conhecida como sumaúma, a rainha das florestas, das quais se pode comer as folhas jovens, as sementes
(torradas ou germinadas), os frutos ainda não maduros, os botões florais e até a madeira de seu tronco,
quando queimado, que tem uma cinza muito rica em sais minerais. O tronco das paineiras tem espinhos
grandes que impedem a subida de mamíferos e répteis protegendo desta forma, os pássaros que se alimentam
dos frutos e sementes da árvore. Algumas paineiras, da região da caatinga e mata atlântica, acumulam água no
tronco, fazendo aquela barriga da qual origina o nome de Barriguda. Deste reservatório de água é que se
alimenta a árvore durante a época de seca. Fonte: https://www.greenme.com.br/usos-beneficios/4885-painae-paineira-utilidades/. Sítio acessado em 03/06/2020.
16 – Canoa monóxila. Esse tipo de embarcação era construída a partir do tronco de grandes árvores
de casca espessa. Como exemplo, temos a árvore denominada guapuruvu (Schizolobium parahyba),
abundante na Zona da Mata e Agreste nordestino. Fonte:. https://pt.wikipedia.org/wiki/Guapuruvu. Sítio
acessado em 03/06/2020. Na obra Guató: argonautas do pantanal há uma menção a esse tipo de embarcação,
que está descrita da seguinte forma: “A canoa monóxila ou manum é o principal meio de transporte para os
Guató, principalmente na cheia, a tal ponto que as pernas dos homens são pouco desenvolvidas e arqueadas
para dentro, enquanto o tronco permanece notadamente mais desenvolvido por causa da atividade de remar.
A derrubada da árvore deve ter sido feita no passado com auxilio de machado com lâmina lítica”. IN: OLIVEIRA,
Jorge Eremites de. Guató: argonautas do pantanal. Porto Alegre: EDIPUCRIS, 1996, p. 130.
17 – Sarué. Pelas evidências deixadas na carta, trata-se do O gambá-de-orelha-preta, saruê ou saruê
(Didelphis aurita) é uma espécie de gambá que habita o Brasil, Argentina e Paraguai. Podendo atingir 60 a 90
centímetros de comprimento e pesar até 1,6 kg, alimenta-se praticamente de tudo o que encontra: insetos,
larvas, frutas, pequenos roedores, ovos, cobras, escorpiões, etc. Apresenta duas camadas de pêlos, uma
interna como uma espécie de lanugem de coloração ferrugínea e outra externa de pêlos longos de cor cinza ou
preta. Barriga e cabeça cor de ferrugem e com marcas distintas de cor preta e ferrugíneas sobre a fronte, com
orelha de cor preta e desnuda, inspirando seu nome popular. Possui uma glândula que exala odor desagradável
na região do ânus. A fêmea possui no ventre o marsúpio, bolsa formada pela pele do abdômen onde
encontram-se 13 mamas. Na gestação de cerca de 13 dias a fêmea tem oito filhotes, que ficam presos nas tetas
da mãe por três meses, podendo dar duas crias por ano. Abriga-se em ocos de árvores, entre folhas, ninhos de
aves e forro de residências. Excelente escalador de árvores. É considerado ótimo controlador de populações de
roedores e dispersores de sementes. Habita florestas, regiões cultivadas e áreas urbanas em toda a Mata
Atlântica e restinga brasileira, ocorrendo também no norte do Rio Grande do Sul. Fonte: https: //
pt.wikipedia.org/wiki/Gamb%C3%A1-de-orelha-preta. Sítio acessado em 03/06/2020.
18 – Sobre as línguas diversas, Fernão Cardim descreve em detalhes sobre essa realidade na obra
Tratados da Terra de Gente do Brasil, conforme relato a seguir: “Em toda esta província há muitas e várias
nações de diferentes línguas, porém uma é a principal que compreende algumas dez nações de índios: estes
vivem na costa do mar, e em uma grande corda do sertão, porém são todos estes de uma só língua ainda que
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em algumas palavras discrepem e esta é a que entendem os Portugueses; É fácil, elegante, suave, e copiosa, a
dificuldade dela está em ter muitas composições, porém dos Portugueses, quase todos os que vêm do Reino e
estão cá de assento e comunicação com os índios a sabem em breve tempo, e os filhos dos Portugueses cá
nascidos a sabem melhor que os Portugueses, assim homens como mulheres, principalmente na Capitania de
São Vicente, e com estas dez nações de índios têm os Padres comunicação por lhes saberem a língua, e serem
mais domésticos e bem inclinados: estes foram e são os amigos antigos dos Portugueses, com cuja ajuda e
armas, conquistarão esta terra, pelejando contra seus próprios parentes, e outras diversas nações bárbaras e
eram tantos os desta casta que parecia impossível poderem-se extinguir, porem os Portugueses lhes têm dado
tal pressa que quase todos são mortos e lhes têm tal medo, que despovoam a costa e fogem pelo sertão a
dentro até trezentas a quatrocentas léguas”. CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Introduções
o notas de Batista Caetano, Capistrano de Abreu e Rodolpho Garcia. Livraria J. Leite. Editores: J. Leite e Cia. Rio
de Janeiro, 1925. P. 194.
19 - Ritual do sepultamento. ”Quando muere alguno de los suyos ponenle sobre la sepultura platos
llenos de viandas, y una red en que ellos duermen muy bien lavada. Esto porque creen segun dizen, que
despues que mueren tornan a comer y descasar sobre su sepultura. Hechanlos em cuevas redondas y si son
principales, hazeles una choça de palma. No tienen conocimiento de gloria, ni infierno, solamente dizen, que
despues de morir van descansar a um buen lugar, y em muchas cosas guardanla la ley natural”. NÓBREGA,
Manoel da. Copias de unas cartas embiadas del Brazil, por o padre Nobrega dela Companhia de Jesus, y otros
padres que estan debaxo de su obediecia al padre maestre Simon Preposito dela dicha compania em Portugal,
y alos padres y Hermanos de Jesus de Coimbra. Tresladadas de Português em Castellano. Recebidas el ano de
1551.p. 4.
20 – Rio das Caravelas. Faz parte da bacia Hidrográfica do Rio Peruípe, no extremo sul da Bahia, e
banha a cidade de mesmo nome. FONTE: http://lsie.unb.br/ugb/sinageo/5/2/Michele%20Silva%20Santos.pdf.
Sítio acessado em 07/06/2020. Caravelas Bahia - BA Histórico O atual Município de Caravelas foi um dos
primeiros pontos visitados pelos navegadores, pois em 1503 ali aportou o navegador Américo Vespucci. Este,
retornando a Portugal, primeiro fundou uma feitoria, deixando nela 24 homens, e fortificada por 12 peças de
artilharia. Esta feitoria perdeu-se com o tempo, supondo-se que tenha sido destruída pelos índios daquela
região. Na época em que o Brasil esteve dividido em capitanias hereditárias, as terras de Caravelas pertenciam
à capitania de Porto Seguro, doada a Pero Campos Tourinho, em Carta-Régia de 27 de maio de 1534. O
desbravamento e colonização de Caravelas tiveram início em 1549 quando o 1.° governador-geral do Brasil,
Tomé de Sousa, cumprindo ordens de Portugal, iniciou e incentivou a colonização do litoral e a penetração pelo
interior. A bandeira de Espinoza foi, sem dúvida, a primeira a tocar o porto de Caravelas, pois percorreu o
litoral desde Jequitinhonha até São Mateus. Contudo, não se tem notícia da fundação de algum povoado.
Somente em 1581 um missionário, cujo nome é ignorado, fundou uma aldeia, erigindo ali uma igreja que
chamou de Santo Antônio do Campo dos Coqueiros. Essa aldeia, mais tarde, foi abandonada por seus
habitantes, voltando a ser agrupada e a apresentar progresso a partir de 1694. Pois já em 1700 foi elevada à
categoria de vila, com o nome de Santo Antônio do Rio das Caravelas e confirmado em alvará real no ano
seguinte. A Lei provincial n. 521, de 23 de abril de 1855, deu foros de cidade a sede do Município,
denominando-a Cidade de Caravelas com um único distrito-sede já criado em 1755 (18 de janeiro). Até 1938
assim permanecia quando começou a sofrer reformulações administrativas, chegando a 1960, com 6 distritos.
Depois desta data, sofreu desmembramentos ficando, em 1963 reduzido aos distritos de Caravelas (sede),
Juerana. Ponta da Areia e Santo Antônio de Barcelona. Gentílico: caravelense. Formação Administrativa
Elevada à categoria de vila com a denominação de Caravelas, em 1701. Distrito criado com a denominação de
Caravelas, por alvará de 18-01-1755. Elevado a condição de cidade e sede municipal, com a denominação de
Caravelas, pela lei provincial nº 521, de 23-04-1855. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o
município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e
31-XII-1937. Por força do decreto estadual n.º 11089, de 30-11-938, é criado o distrito de Juerana e anexado ao
município de Caravelas. No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 2
distritos: Caravelas e Juerana. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1950. Pela lei
estadual nº 628, de 30-12-1953, foram criados os distritos de Ibirapuã, Lajedão, Ponta da Areia e Santo Antônio
de Barcelona e anexados ao município de Caravelas. Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o município é
constituído de 6 distritos: Caravelas, Ibirapuã, Juerana, Lajedão, Ponto da Areia e Santo Antônio de Barcelona.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1960. Pela lei estadual nº 1723, de 16-07-1962,
desmembra de município de Caravelas, o distrito de Lagedão. Elevado a categoria de município. Pela lei
estadual nº 1738, de 20-07-1962, desmembra de município de Caravelas, o distrito de Ibirapuã. Elevado a
categoria de município. Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o município é constituído de 4 distritos:
Caravelas, Juerana, Ponto da Areia e Santo Antônio de Barcelona. Assim permanecendo em divisão territorial
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datada de 2007. FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/bahia/caravelas.pdf. Sítio acessado
em 07/06/2020.
21 – Juan Perera (Padre). Nascera em Elvas, por 1541. Foi dos órfãos chegados de Lisboa em 1555.
Entrou na Companhia em 1557, na Bahia. Estudou dois anos de Latim, dois de filosofia e um de teologia,
ordenando-se antes de terminar os estudos. Crê S. Leite, que sua ordenação teria sido em 1560 (HCJB, II, 178),
o que nos parece totalmente improvável, pois teria apenas 19 anos. Conhecia bem a língua brasílica.
Encarregado em 1564, da pregação na Vila Velha, já no ano seguinte se encontrava na Aldeia de São João (BA).
Tomou parte, como Capelão, na entrada de Antônio Dias Adorno (1574), erguendo igreja na Aldeia de Mar
Verde, interior de Minas Gerais. De 1575 a 1576 auxiliou a malograda missão do rio Real (Sergipe). Com
passagem pelo rio (1584), foi superior cinco anos e meio, de 1588 a 1593, na residência de Santos. Nesse
ultimo ano fez sua profissão de quatro votos. Novamente no Rio, em 1594, como se vê da presente carta. Por
três anos, superior em Porto Seguro. Em 1600, superior da Aldeia de Santo Antônio (BA). Faleceu em Janeiro de
1616, no Colégio da Bahia. Pregador e, sobretudo bom missionário de índios. IN: ANCHIETA, Padre José. Cartas:
Correspondência ativa e passiva. Obras completas. 6º volume. 2ª edição. Pesquisa, introdução e notas do Pe.
Hélio Abranches Viotti. Edições Loyola. São Paulo, 1984, p. 419.
22 – Juã Salonio (Irmão). Na revista trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de 1866, há um
breve comentário sobre a vida do padre Juã Salonio, conforme descrevemos a seguir: “O jesuíta ainda noviço
João Saloni, natural do bispado de Lerida em Catalunha, em companhia dos missionários: padre Luiz Mesquita
e o irmão Manoel Dias, se embarcaram em Lisboa a 19 de fevereiro de 1574, e chegaram a Bahia de Todos os
Santos a 2 de Maio do dito anno. Em Agosto de 1576, Saloni foi ordenado sacerdote em Pernambuco pelo
bispo D. Antonio Barreiras, e foi empregado em várias missões. Com o seu mestre o padre Gaspar Lorenzo
Tullio Brasiliense, seguiu a conversão dos infiéis sobre o rio Real, e fundaram com índios Tabayaras, apesar dos
ardis de vários índios, e das perseguições cruéis dos mamelucos, a redução de São Thomé, e pregaram aos
gentios pelo espaço de vinte léguas que há entre o rio Real e o grande rio de São Francisco. Nas terras dos
Surubis os incansáveis missionários fundaram a igreja de Santo Inácio bispo martyr, e tendo atravessado o rio
Sergipe fundaram na beira do mar a redução ou aldeia de São Paulo (pela descrição apresentada, concluímos
se tratar do atual município de Barra dos Coqueiros, outrora Ilha de Santa Luzia. Grifo meu). In: GAY, cônego
João Pedro. História da República Jesuítica do Paraguay. Revista trimensal do Instituto Histórico e Geográphico
Brasileiro. Tomo XXVI. Tipographia de Dom Luiz dos Santos. Rio de Janeiro. 1863 pp. 242-243 (Nota de nº 15).
23 - Aldeia de Santo Antônio. Segundo Gabriel Soares de Souza, essa aldeia estava localizada nas
terras do grande latifundiário Garcia D´Ávila, e que os padres desta Companhia “tem neste direito huma aldeia
de índios forros Tupinambás, a qual se chama de Santo Antônio, onde haverá mais de trezentos homens de
peleja, e perto desta aldeia tem os padres três curraes de vacas, que grangeão, os quaes tem na aldeia um
formosa igreja de Santo Antonio, e hum recolhimento, onde está sempre um padre de missa, e hum irmão, que
doutrinão estes índios na nossa santa fé Catholica, no que os padres trabalhão todo o possível, mas por
demais, porque he este gentio tão bárbaro, que até hoje não há nenhum, que viva como christão, tanto que se
aparta da conversação dos padres oito dias”. Atualmente nesta localidade, outrora denominada Tatuapara,
localiza-se o município baiano de Mata de São João. SOUZA, Gabriel Soares de. Coleção de noticias para a
História e Geografia das nações ultramarinas que vivem nos domínios portugueses ou lhes são vizinhas.
Academia real das Ciências. Tomo III. Parte I. Lisboa, 1825. pp. 38-39.
24- Notícia da origem e do dilúvio. Na obra Os indios nas cartas de Nóbrega e Anchieta, o autor faz
uma menção em relação a esses mitos: “Cardim (1980: 87), de modo parecido, diz que os indios desconhecem
a Bíblia e Gêneses, mas do diluvio parece que tem alguma notícia, que por falta de escrita é escura e confusa,
segundo eles, as águas afogaram e mataram todos os homenes, [...] somente um escapou em riba em um
Jenipapa, com sua irmã que estava prenhe, [...] dali começou sua multilicação. Não sendo a história igual à da
Bibliba, o autor a considera falsa”.. Percebe-se que há uma clara semelhança com a narrativa do gentio ao
explicar ao padre Gaspar Lourenço, da origem do seu povo. MOREAU, Felipe Eduardo. Os indios nas cartas de
Nóbrega e Anchieta. São Paulo: Annablume, 2003. Pp 127-128.
25 – Provavelmente se trata da atual cidade de Santa Luzia do Intahin, que segundo o padre Anchieta,
“nessa aldeia, foi o padre (Gaspar Lourenço) recebido de todos os índios com mostras de muito amor,
mostrando o desejo que tinham de ver e ouvir a palavra de Deus. Fez logo uma igreja de São Tomé.” VIOTTI,
Hélio Abranches. Textos históricos do Padre José de Anchieta. Pesquisa, introdução e notas. Edições Loyola.
São Paulo, 1989. P. 173.
26- Escola dos moços. Essas escolas funcionavam ao lado das igrejas, ou até mesmo na residência dos
padres, e para facilitar o aprendizado, eram trazidos órfãos de Portugal que ajudavam os jesuítas nesse
processo. Segundo Serafim Leite: “Os jesuítas ensinavam os filhos dos índios a ler e escrever, cantar e ler
português, que tomam bem e o falam com graça, e ajudar nas missas”. Fragmento citado pelo padre Laercio
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Dias Moura, na obra A educação católica no Brasil. Edições Loyla. São Paulo, 2000. P. 34. Que fora extraído da
obra de Serafim Leite, que recebe o título de: Novas cartas jesuíticas (de Nóbrega a Vieira). São Paulo.
Nacional, 1940. P. 126.
27 – Curibi. IN: MOREAU, Felipe Eduardo. Os índios nas cartas de Nóbrega e Anchieta. São Paulo.
Annablume, 2003. Pp. 329-332. Conforme o autor, o que causou a fuga de Curubi e sua gente para o sertão,
tendo como desfecho trágico a sua morte, foi o fato do sequestro realizado por um mameluco a uma índia em
sua aldeia: “um mameluco foi à aldeia do Curubi (Santo Inácio) e tomou uma mulher de chefe, que diziam ser
escrava dum português, e levou-a escondidamente. Acreditando que o que um mameluco fez, o governador
(Luis de Brito) faria ainda pior, se levantou toda aquela aldeia.o chefe foi com sua gente para o sertão, talvez
pelo tempo de ver o que aconteceria na chegada do governador, por que tinha este Curubi morto alguns
portugueses. Mas em sua defensão, em tempo que os iam saltear, e, desde aldeado, o contato com os
portugueses era feito através do padre. O governador ao chegar , sabendo da fuga de Curubi, mandou logo
após ele gente de guerra, o qual acharam com sua gente em um mato assentado [...], uma cerca de ramos, que
eles costumavam fazer, quando andam por terras de contrários: houve uma escaramuça de flechas, e ali foi
morto por desastre o Curubi com pelouro de uma espingarda”. P. 332.
28- Índios Escravos. Há uma grande discussão em torno desse tema, pois envolvia o antagonismo de
interesses entre a Igreja Católica e os colonos portugueses. Citamos aqui algumas fontes que podem ajudar
nessa compreensão. Inicialmente temos a bulla Sublimis Deus, emitida em 29 de maio de 1537 pelo Papa Paulo
III, em que afirmam que os índios são homens, capazes de compreender a fé cristã e que pela qual condena
explicitamente a escravidão. DALCIN, Ignácio. Em busca de uma terra sem males. Edições Est. São Paulo. 1993.
P. 27. Em uma obra editada em 1879, o autor descreve uma lei que foi outorgada em 1560: “Em 20 de março
de 1560. El rei D. Sebastião fez publicar uma leia proibindo o cativeiro dos índios, e determina que o
governador geral do estado do Brasil mande fazer bem publica esta sua lei”. IN: MORAES, Mello. Chronica geral
e minuciosa do império do Brazil: desde a descoberta do Novo ou América até 1879. Rio de Janeiro. Tipografia
Dias da silva Junior. 1879. P. 79. Outro autor escreve o seguinte fragmento sobre a lei que amparava os
indígenas contra a escravidão: “Em 20 de março de 1570, D. Sebastião, por carta régia, decreta normas que
proibiam a escravização dos índios convertidos e só permitiam a captura de escravos através de guerra justa
contra os índios que combatessem ou devorassem os portugueses, ou os índios aliados, ou os escravos. Esta
guerra justa deveria ser decretada pelo soberano ou pelo Governador-Geral. A carta régia determinava a
libertação dos cativos irregulares e proibia a aquisição de índios de corda. Uma guerra justa foi logo decretada
contra os Aimorés, que eram muito agressivos contra os portugueses. Essas exigências foram abrandadas a
pedido dos colonos, em 06 de janeiro de 1574. Uma nova junta delegada por D. Sebastião promulga uma
resolução com as três possibilidades para a aquisição de escravos: guerra justa ou compra de prisioneiros ou da
auto alienação, que o indivíduo fosse maior de 21 anos”. IN: PEIXOTO, Antônio Carlos. Porto Belo – Santa
Catarina (1500-1600). Descobrimento. MCE gráfica e editora. Rio de Janeiro, p. 70.
29 – Luís da Grã (Padre). Nasceu em Lisboa de pais nobres, que o mandaram estudar Direito Civil em
Coimbra. Entrou na Companhia aos vinte de junho de mil quinhentos e quarenta e três. No ano de mil
quinhentos e quarenta e oito, sucedeu ao padre Luís Gonçalves da Câmara no governo do Colégio de Coimbra,
e foi o seu quarto reitor, fazendo esta ocupação, como de sua prudência e virtude se esperava. No ano de 1533
foi mandado àquele novo mundo com outros fieis da Companhia, dos quais era um o incomparável varão
Joseph. Partiu de Lisboa a 8 de maio de 1553, chegou a Bahia em 13 de julho do mesmo ano em companhia de
dom Duarte da Costa, que ia por governador do Estado. Trazia o padre Grã patente de Santo Ignácio, pera que
o padre Manoel de Nóbrega fosse provincial do Brasil, e mandava o santo fosse seu colateral com iguais
poderes o padre Luís da Grã, porque assim pedia a distância dos lugares. No ano de 1555 partiu pera a
capitania de São Vicente, pera se avistar com o padre Manoel da Nóbrega, coisa que muito desejava. Depois de
se consolarem estes dois grandes servos de Deus, fez o padre Grã suas entradas pelo sertão levando por língua
o irmão Manoel de Chaves. Vendo o padre Nóbrega o grande espirito do padre Grã, o deixou ficar naquelas
partes de São Vicente, e ele se passou ás da Bahia sobre diversas importâncias condizentes ao bem da
cristandade. Quando lhe foi lida a patente de provincial, se ouve com muita humildade o era muito grande. De
são Vicente se partiu o padre Grã na armada, com que Mem de Sá tinha destruído a fortaleza dos franceses no
Rio de Janeiro, chegou a Bahia no princípio de Agosto. No ano de 1562 em janeiro começando o padre a correr
as aldeias e fazer nelas numerosos batismos depois de ter batizado em diversas aldeias até mil e duzentos e
noventa índios. Nesta continuação de trabalhos foi lidando o padre Luís da Grã, até que por mote do santo
padre Ignácio de Azevedo, São Francisco de Borja mandou patente ao padre Manoel da Nóbrega, que fosse
provincial em lugar do padre grã, de quem era sucessor o padre Azevedo. Biografia extraída da obra: Imagem
da virtude em o noviciado da Companhia de Jesus no real Colégio de Jesus de Coimbra, na qual se contem as
vidas, e virtudes de muitos religiosos, que nesta Santa Casa farão noviços. Oferecida à senhora da Victoria,
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padroeira do mesmo noviciado, pelo padre Antônio Franco da Companhia de Jesus. Segundo tomo. Coimbra,
1719.
30 – O tema que envolve os conflitos entre os colonos portugueses e os membros da Companhia de
Jesus foi amplamente estudado por vários autores que se preocuparam em escrever a história do Brasil do
período colonial. E por ser um assunto polêmico por envolver interesses conflitantes entre colonos
portugueses (mercantilista) e os padres da Companhia de Jesus (espiritual) pela posse do indígena,
desencadeou uma série de querelas entre as partes. Dentre os autores que se debruçaram sobre essa
problemática, destacamos um que fez uma analise interessante desse período: “ Em 1537 o papa Paulo III
proíbe que se escravizem os indígenas, sob pena de excomunhão. Monta-se então um artifício jurídico,
fazendo-se diferença entre “indígenas amigos” aldeados e aliados, e “gentios bravos”. Aos indígenas aldeados e
aliados é garantida a liberdade ao longo de toda a colonização. Livres, eles são senhores de suas terras nas
aldeias; são passiveis de serem registrados para trabalharem para os moradores mediante salário e devem ser
bem tratados. Os “aldeados” são aqueles trazidos por “descimento” de suas aldeias no interior para perto das
povoações portuguesas. É obrigatória a presença de um missionário jesuíta por ocasião do descimento, e os
indígenas devem ser catequizados e civilizados de modo a tornaram-se “vassalos úteis” da Coroa portuguesa.
As animosidades entre colonos e jesuítas vão provocar um distanciamento gradativo dos aldeamentos em
direção ao interior, o que também tinha propósitos estratégicos de defesa contra inimigos externos, como é
notório no Maranhão e no Pará. Os “aliados” são indígenas não aldeados, mas com os quais faz-se alianças nas
lutas contra tribos hostis. O tratamento bondoso e pacífico é recomendado para todos os indígenas aliados e
aldeados. A guerra e a escravidão é o destino dos indígenas considerados inimigos. Os indígenas pacíficos eram
colocados sob a proteção da Coroa, os indígenas contrários a dominação portuguesa eram combatidos sem
qualquer impedimento. A maior fundamentação para a aprovação da guerra contra os indígenas pelos jesuítas
estava na convicção de que somente os indígenas pacíficos poderiam ser objetos de missão. (...) Diante desta
realidade, a aproximação entre a igreja e as sociedades indígenas acarretava uma dupla contradição: de um
lado, o caráter demoníaco que se atribuía as religiões indígenas e, de outro, a estreita vinculação da Igreja com
a empresa colonial, o que significava domínio político, transformação cultural e exploração econômica’. IN:
SILVA, Gilberto da. Encontro de mundos: O imaginário colonial brasileiro refletido nos sermões do padre
Antonio Vieira. Editora Concórdia. Rio Grande do Sul, 2006. Pp 55 e 60.
31 - Aldeia de Santo Ignácio – Nas cartas do padre Anchieta, existe a descrição sobre essa aldeia que
tinha como líder o principal chamado de Curubi (Surubi). Nestas, ficam evidentes os conflitos de interesses
entre os colonos portugueses e os membros da Companhia de Jesus: “Índios do Rio Real, até então em luta
contra os portugueses, vêm pedir missionários. Envia o provincial Tolosa em janeiro de 1575 o padre Gaspar
Lourenço com o irmão joão Saloni, a Sergipe. Vai com eles um grupo de portugueses, causa do fracasso da
missão e da guerra, que se seguiu. Bem recebidos os missionários, fundam a proncipio as igrejas de São Tomé e
de Nossa Senhora da Esperança, e a de Santo Inácio na aldeia do chefe Sorubi. Pacificados os índios do Cirigi e a
fundação da aldeia de São Paulo. Vai ter gaspar lourenço com os portugueses na barra do rio Real. Informa
sobre a esterilidade das terras. Informam os brancos tudo ao contrário. A existência de escravos fugidos nessas
terras excita ainda mais a cobiça dos colonos da Bahia. IN: ANCHIETA, Padre José. Cartas: Correspondência
ativa e passiva. Obras completas. 6º volume. 2ª edição. Pesquisa, introdução e notas do Pe. Hélio Abranches
Viotti. Edições Loyola. São Paulo, 1984, p. 155.
32- Igreja de São Paulo (Aldeia)- “Daqui (da Barra do Rio Real) passou o padre ao Cirigi, e pôs em paz
todas aquelas aldeias, que por ali estavam, que eram 28, pregando a todos sua salvação: uns folgavam de o
ouvir, outros também se escondiam pelo não ver. Fez então o padre entre este gentio uma igreja de São Paulo
para os ir visitar algumas vezes, e os que quisessem ouvir as coisas de sua salvação o pudessem fazer”. VIOTTI,
Hélio Abranches. Textos históricos do Padre José de Anchieta. Pesquisa, introdução e notas. Edições Loyola.
São Paulo, 1989. P. 173
33- Padre Francisco Pinto. Existe uma crônica elaborada por um padre jesuíta em viagem ao
maranhão, que exalta a santidade do padre: “Nesse ano de 1618, um jesuíta passou pelo Ceará a caminho do
Maranhão. Aos índios que encontrou e que lhe faziam grandes festas, pediu que lhe entregasse um osso do
Padre Francisco Pinto, para leva-lo como relíquia ao colégio da Bahia. Os índios não consentiram e ameaçaram
pegar em armas para defender os ossos do padre Francisco Pinto, que lhes traziam a chuva e o sol, cada um ao
seu tempo, virtude particularmente preciosa no Ceara, que é sujeito a prolongadas secas”. CUNHA, Manuela
Carneiro da. Cultura com aspas.
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FAC-SÍMILE
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Começã as cartas do Anno de 1576
[fl. 161.r]
Copia de huã do Padre Ignasio de Tollosa para o padre geral
Muy Reverendo em Christo Padre
Pax Christi.
5- En esta carta cueta a V. P. delo que nuestro Senhor fue servido de obrar en la mission que hizo el Padre Juan
Perera cõ la gete que fue a buscar oro, y del sucesso de la mission del Padre Gaspar Lorencio a el Rio
real, y al fin tratara algunas cosas de las muchas que nuestro Senhor obra en estas aldeas de Indios, que la
Companhia tiene a su cargo.
En el ano de 74 enbio el guovernador Luis de Brito un Capitan con obra de 400 soldados la tier
10- ra a dientro, a descobrir se se allava algun oro por la fama que avia de esto, pedio con mucha
mistadia le cõcediese un Padre e u hermano que fuessen en su companhia, teniendo por cierto que
sin padres de la Companhia no podria esto venir de flechas[sic], y ansi se le cõcedio, parte por ayudar
la gete que yua cõ tãto pelygro entre enemiguos sin ningun médio spiritual para sus ânimos,
sino al que por médio de los Padres la podia venir: parte tambien para ver se se allava algun oro del
15 que la Companhia busca en estos partes que es gete aquien manifestan la palavra de Dios, y dalles
nuexas del Evãgelio, y para ver se avia algu médio para su conversion. Gastaron en esta viagem 14 meses, los quales padeseiron grãdíssimo trabajo, assin de hãbre como de guerra y peligros notables, que tuvieran de perder la vida muchas veses, mas de todos los libro Dios nuestro
Senhor. Andaron en todo esto tiempo hasta mil leguas siempre a pie descalços comumete por ser
20 los caminos de muchas auguas, passãdo muchos rios, y muchas veses el camino era por dientro
de ellos.
La ocupacion que tenia el Padre con el hermano, era cõservar aquella gete en paz e temor de Dios, y apartallos de pecados, padecieron muchos por esta causa, porque como soldados son pocos a escrúpulolos quãdo etravan por alguna aldea de getiles, como por bontos aiales[sic]se entregavon a los vicios
25 y para, impedir esto no bastavan palavras, muchas veses era necessário al padre ir e persona
Apartallos viedo con sus oios los ofessar para Dios se hazian, y otras veses no avia otro
remédio, sino llorar, y suspirar. Usaron siepre de los ministérios de la companhia como era predicallos, ensenellar la doctrina, dessiles missa quãdo el tienpo dava lugar para esto, confessallos en sus necessidades, curallos en sus enfermidades, esto hizieron particularmente en una aldea
30 que llaman Mar Verde, dõde no si dieron três meses y en una iglesia que alli edificaron
Alos el demonio tuvo mucha embidia a esto, y busco inveciones para que el frucho que se esperava por la mucha getilidad que alli avia se estragado, y fue de esta manera. Algunos pricipales
de aquellas aldeas, trataron entre si de hazer traycion al Capitan de los Portugueses, y segun[sic]
despues se etendio buscavan tiepo seguro para hazer la suya a su salva[sic], y tenian ya entre si repar35 tidos los que avian de matar, uno ya senalado para matar a el Capitan y otro para el Padre
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y otro para el Hermano, diziedo matemos los sus Inbiia nos (que quiere dezir pricipales) porque luego los demas foram redidos. Uno dezia a la bãdo se que guerreara ya con blãcos Tapuya,
y las demas naciones que solamente cõtra Padres no tenia guerreado, y queria quebralles las cabeças
para que no le faltasse nada. Sabiendo esto al Captan dio aviso a sus soldados, y teniedo
40 iutos todos los pricipales de las Aldeas, detrirminaron de dalles guerra, por la traycion que los
querian hazer, y ansi lo hizieron, matãdo a algunos y captinãdo alos demas, y con el grãde
miedo que cobraron todas las aldeas comarcanas se rindieron, que serian casi três mil almas
mas caminãdo mas por la tierra a detro cõ toda esta gete en busca del oro, la mayor parte
se bolvio para sus aldeas, otros morrieron e los caminos de hãbre, y cansario entrarian en esta
45 ciudad obra de 4º cietos repartidos por el Capitan y soldados , y auque pus hizieron toda
su diligecia en buscar oro nollo hallaron, mas los Padres no perdieron en oro que buscavan, porque
fuera del provecho que se hizo con sus blãcos que fue muy grãde ( porque todos affirmaron que
se no fuera por médio delos Padres que se perdiera toda aquella gete ), baptizaria el Padre en esta
viagen obra de quinietas almas, casi todos niucetes que luego yuan a gozar de su criador, y
50 esto parece que era el oro que Dios buscava por tierra tan remota e tie gete tan barbara dar
remédio a aquellas almas que el tenia predestinadas para la bien aveturãça.
Quãdo llegaron a el Rio de San frãcisquo ( que es un rio muy afamado y tan grãde que parece
un braço de mar) tuvieron grãde trabaio y mucho pelygro, viendose cerquados de três partes, e otras
maneras de rasialas que los hazian grãdes amenozas, invãdo a todos por sus cabeças que los
55 avian de matar, y que ninguno avia de bolver vindo [sic] a su tierra, pues avian tenido atrevimieto de
entrar por las suyas, y auque los nuestros procuravan con ellos paz, nuca lo quisieron cõceder
y una vez los acometieron com veynte y cinco canoas, mas en breve tienpo mediãte la gracia de nuestro senhor fueron da parte dellos nuestros dasbaratados. Usan estos índios de flechas envenadas
y san tan agudas que el aguiero que hazen no es mayor que de una picadura de aguia, mas por la
60 ponçonha que lleva es grãde, porque luego haze enterizar un hõbre, de los pies, hasta la cabeça, y los
haze spumar, y tornarse el cuerpo negro, y tienen las heridas dela tanta secura, que no ay augua
que los baste, hazelles tãbien sudar mucho, tãto que siepre tienen el cuerpo banhado en augua
como se stuviessen en un rio, hazesse el cuerpo frio como un yelo, y estan cõtinuamente con grãdes gritos, e gemidos, y assi mueren. Esto vieron en un soldado que fue herido, el qual estãdo ya
65 quasi sano, cõ unos balones de fuego, con que salo se cura esta ponçonha, acerte a comer de un pece conque los índios sovan la põçonha de las flechas, y day apocos dias morio haziedo grãdes
estremos.
Foi necessário para passar seguros pollas tierras destos Indios embiar a pedir socorro a otros Indios
Topiguezes nuestros amigos, y vinieron luego algunos y con su aiuda passarão haziedo muyto estrago
70 en los contrários. Estes Indios Potiguezes son naturalmente crueles e aficionados a comer carne
humana, tanto que em matando hun Indio contrario luego se pastravão emtrinva a baver su sangre e quanta corria tanta bevia y despues le despedassavão y asavan y comian todo.
En passando el rio de São Francisco en un campo de índios gentiles entravão,
e estavão todos apelidados[sic] pera dar nelhos tenian les tomados os caminos y huhas cerquas
75 por todas partes para dentro delhos pelean aqui fue el mayor peligro que tuvieron
por que venian ya cansados y algunos enfermos y falhos de toda munição de guerra, mas Dios
nuestro Senhor dio tanto esfforço a los soldados y ndios que yuan de nuestras aldeas que como leonês
saltavão pollas cerquas y uno pesegnia a sincoenta y assi hizieron mucho estrago nelhos
dellos nuestros algunos fueron hiridos y tambien el Padre y el hermano que estavão
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80 esforçando y animando a los Soldados en la pelea mas de todos solo Uno murio. Todos en
tendieron que quasi milagrozamete los avia librado nuestro senhor deste peligro, por que sus fuercas
no eran bastantes pera tan grande numero de gentiles, aqui quizieron los soldados dexar
la gente flaca que trayen como mugeres e ninos em poder dos Contrários pareciendoles que havian
harlo en se salvar asi mismos los soldados que yuan armados mas el padre nunca selo con85 sintio e fuerão senhor servido que todos se salvasin y ansi entrarão en esta cyudad com buena
disposicion en el mês de abril de 75 aviendo partido en el mês de hebrero de 74.
Algunas cosas notables Viron en esta en esta Viagem que contare agura a Vossa Paternidad.
llegaron a una Cyerra de media légua de altura donde allaron peidras (qui eran de
senhor que valia) de diversas Colores Conforme ala pastura que tienen respeito del Cielo
90 las que estavan para el oriente eran verdes para el ocidente roxas para el leje sentrion [sic]
azules y para el anstio negras y allavanlas cavando dos o três palmos, dizen que naquella
Cyerra há grande riqueza destas piedras, ay tanbien cristal y dentro del Cierra se vian algunas
destas.
En otra parte viron hun lugar de arena muy blanca lleno de gran multitud de fre95 chas hincadas que dexan los Indios de offerta quando por ali pasan por que dizen que estan
ali la muerte, y ansi quantos pasan dexan ali arcos, flechas, plumas y hasta huzos de
hilar porque no les aqui mal la muerte yan de passar apartados porque tiemen por assi que
passando por em sima moriron luego.
Vieron en este Camino pinhos de grande altura y de una légua de rueda y media de al100 tura y una de lhas vai a manera de pan de asucar ligurada esta tendria una légua de al
tura y quase otro tanto de redondo y en algunas alhavan Unas Cuevas que van por la tierra
adentro mucho espaso, y dezian los índios que se avian ali muchas vezes hombres negros y
mugeres e y ninos y por esto passan por ali con grande médio y ansi passando por ali alha
ron al rededor pisadas frescas de hombres, mugeres y ninos que paresia que acabaran de passar
105 en aquelha hora y sabendo de cierto se yuan algunos adelante que dexasen aquelle rastro
alharon que ninguna ginte avia passado, y ansi se affirmarão que hera verdad lo que los
Indios dezian que andavão ali algunos fantasmas y despues passaron por ali algunos
Indios y fueron tantas las pedradas que les tiravão sin saber quien que les fue necessário
quien passar corriendo.
110 En uma tierra se Vieron mui apertados de hambre, yua la gente tan flaqua, que he debilitada
que yua caindo po el camino, los campos eran tan esteriles, que en ollos no se allava fruita ny a caça ny outra
cosa, en los Rios tan poco no se allavan pexes, y ansi avia quien por hu poco de harina dava hu esclavo.
Enfermaron muchos de pura flaqueza, y muchos se confessavan para morir viendo que no tenian outro Remedio, y buscando ya ojas de arboles pera matar la hambre acertaram a dar cõ um arbol alto lleno de spinos
115 por de fuera, tanto que escasamente avia lugar, pera meter hu dedo, por el lo dentro es como nabo propriamente
y dulce, com este manjar mataron todos la hambre,y engordaron, em pocos dias tanto, que unos no se conocian a outros, mas esta gordura nõ era verdadeira, porque dentro de quinze dias tornavan a su natural
y algunos moriam dela. Outra arbol allarão de grande grossura(algunas tendra sincuo ou seis pipas de
grossura) es por de dentro blanca como nabo tene la cortesa de 4 e sinquo dedos, y algunas vezes de palmos se120 gundo la grandura del arbol, y desta haze los índios embarcaciones para navegar pollos rios. Dá tambien huã
corteza de alcornovue muy rasia como la de Hespanã, y mucha cantidade es muy delgado en el pé este
arbol,y logo vã para riba engroçando. Tambien vieron hunas arboles, que tenian grandes raízes, y tanto altas, que trienta hombre caberian de baixo, y estendiansse en la misma altura, asta 4 o sinquo braças, allarão
também algunas sojas porlos campos de gran hermusura, y diversas colores, por huna parte era verdes, blã125 cas, y azules, por otra coloradas, y rosas una de palmo, y médio de largura, y uno de ancho
En una parte allaron,que la misma zierra era salada, y la caça que por aly ay no come otra cosa sino la própria
tierra por no tener outro pasto. Passaron por outro lugar, Llamado Andira Pornaza[sic], que quiere dizir donde
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Muiciegalos Comen gente porque assim lo azen, y tan delicadamente, que no sente el próprio hombre el Muiciegalo quãdo lo esta comendo. Allarão um Animal de tam fedorento y malo odor, que parece que las armas que
130 le dio la naturaeiza para defender dellas onças y outros Animales. Es Este mal odor porque no ay quie
queda esperar donde el Esta. Mas la ambre dellos Soldados Era tam grande que lo comeron,como tam
bien Comian Perros, y oscas cosas imudas, y cõ la hambre tudo les parecia buen Manjar.
Passaran tambien cerca de uma cierra muy grande y alta la qual comumente Esta cubierta de neve aunque saga haja grande Sol mas lo comu es ally nuca apareles Sino llueve y era tã grande El frio que hazia que algunos morierõ passando por ally dizia
135 los Indios que em cietro tiempo Se aviã ally perdido un Exercito en frio En una guerra que se dio en aquella cierra ha foy fige
Estar ally algu Espirito que causa Estos muertes y por esto los que por ally passão dexa qualquiera cosa de offerta como arcos
e flechas o qualquer outra essa por que la muerte no los toque.
Tuvierõ nuevas de muchos y tien las naciones de Tapuias que ay por aquelas partes,y cada nacion tiene lengoa diversa lo nom-
bres son estos Parain Narin, Guaengaiu, Paxa, Bixacaia, Paxaia, Sacanon, Mapiá, Coruri, Ainixacari, Ainoroga,
140 Mainuma, Periju, Menju, Obagoin, Gaimuré, Xamacori, Comoroxó, Coxó, Geriró, Genari, Jenguarari, Atirani. Estos
no se enterrã En el suelo faze unas sepulturas En el altocubertos de palo y quitanle[sic] todos los guessos[sic] y tiene los guardados
En grande veneracion y estima dizendo que los guardã para tornar al mar El anima del muerto y fazendo destamente
toma un huhizero[sic] aquellos vossos y nasse fuera dela aldea por los caminos esfregando aquelos vossos unto cõ avos y aque saindo
de aquele livramiento dize que acude El alma del muerto yuã com El algunos manciebos vallentes para ayudarsse la ato
145 mar y començando hazerse El sonido dos vossos El huhizero seha mano del alma y derribalo Enel suelo y acuede luego
Los mancebos y amarranla y lleva la para casa pareciendolos que yua esta En los vossos y tiene para aquello una casa da puerta
cõ un repartimiento donde lo mete y le dan de comer mel, carne y otras cosas y sirverla siovoso[sic] mieses moços virgines y se
alguno pierde la castidad luego lo despidia y tomã otro en su lugar la muger que fue del muerto tambie esta aly en aquella
casa serviendolo y ally vã los heohizeros aconsultar cõ El muchas cosas y dize que los admira lo que esta por venir.
150 Otros ay entre Estas naciones que tiene los calcanales distante y los pies para tras los que llaman Tymaroba[sic] tiene la carne
delas piernas muy amargosa y quando matã algunos destos cortante las piernas por esto los que llamã lo bapipyra tienen
los rostros muy grandes tanto que lhes llega El rostro hastala cavera los que lamã Garasu andã vestidos de unas redes muy
finas que haze como rede de aguja tabie son barbados y tiene la barba muy grande, los que llamã renaparigui come carne
humana despues de estar muy podrida y tomã El unto y ponelo En un cataxo apodrecir y despues de estar bie podrido
155 se untã con el Estos tambien usan de lanças que son palos testados, los que llamã Ibirajara usan de flechas sino trahe unos
aljabas donde mete unos palos de três palmos de largo. La grosura sera como de uma lança san tan certeros com estos armas
como otras naciones cõ flechas con esto guerreã y assy matã la caça donde quera que dan quiebrã cabeça o membro adonde
tirã, los que llamã Comruxaxa tiene grandes tetos y los machos son los que crian los hijos y los dan de mamar y las mugeres por El conte[sic] tiene tetos pequenos como hombres Esto certificarõ personas que lo vierõ.
160 En una aldea halarõ um Idolo que deziã Los Indios Ser Hermano mas moço de uno que quemarõ al principio desta
jornada En el rio delos Caravelas y sabiendo Los Indios que aviã de passar por ally Los blancos bovierõ[sic] todos y dixanronlo es
condido En el campo En una olla[sic], luego uno delos Soldados aren[sic] indio que lo fuesse abuscar y fue de buena voluntad dizen
do que lo queriã trazer para que hablasse con los padres assy como hablava cõ sus huhizeros[sic] yan sy lo troxerõ estava muy em –
plumado cõ muchas cuentas al pescoso de dientes de Tapuias y deziã que este era el Dios delos tapuias y que En
165 recompensa del beneficio que los haziã de dalles Tapuias para comer se haziã mucho hasta harina mas el luego
fue ally despedaçado estos e en suma lo que acontecio en la mission del padre Juã perera.
Agora contare a Vossa P. lo que hasta aqui há sucedido En la mision del padre Gaspar Lourenço.Vinierõ del rio Real muchos
índios principales delas aldeas comarcanas que estan En aquellas partes: quarenta, 50 e 60 lengoas desta cidade todos
con grandes deseos de llevar padres que los Ensinassen las cosas de su salvacion y como Erã gente que antes estava de guerra,
170 sin tener converça con los blancos, agardosse algunos meses para ver se veniã bie movidos y constando claramente que Dios
los trazia parecio servicio de Dios aceptar esta impresa e assy en El mês de henero de 75 partio El padre Gaspar
Lourenço (que he grande lengoa Entre ellos muy afamado) con el Hermano Juã Solonio, a ensinarlos las cosas de su sal
vacion. Enbio tambie El governador Luis de brito un capitã, con algunos hombres blancos, con deseio de hazer alla algu
na poblacion dixo de contar El sentimento que viu En la aldea de S. Antonio, quando se despedio dello El padre, porque todos
175 los dela aldea se pusierõ En un planto, sentiendo mucho apartar-se dellos al padre, de sus almas, como Ellos dizen; y grandes
y pequenos sabierõ con El buena parte del camino y se no les pusera taça En la gente que avia de llevar, quasi todos
querian hir con el, mas no fuerõ mas de 20 por el camino la ocupacion del padre fue Ensenar la doctrina a los Indios
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y blancos que iuan en su companhia por la manãna antes de começar la jornada, diziendo
todos iuntos las ladainhas, pediendo a Dios que los diesse próspera viage, i a làs noches al fin de
180 su jornada haziam lo mesmo. Y como todo aquel camino es despoblado, recogiamse en al
gunas choças que los índios haziam donde cõ mucha charidad repartian cõ ellos de la pescha
que tomavan, y el padre proveya tambien los necessitados. Siempre fueron a pie y muchas
vezes descalços por las muchas agoas que aviã que passar, mas todos fueron cõ grande pas
y alegria, hasta el rio Real. Em medio del caminho vino nueva a un principal que
185 iua con el padre que lo avian muerto em sua aldea un hiyo fuesse luego al padre, deziendo ya
mi hiyo és muerto, por ventura iua al infierno? El padre respondio que si, porque no era
baptizado. Y el cõ grande tristeza dixo llorando, pesame mutcho desso, desse cõ que me baptizes para ser hiyo de dios y no ir al infierno.
Un principal conto a el padre una historia que elles tiene por cierta para explicarle su ori190 gen, deziendo que en tiempo passado acontecio, que los suyos, por no querer ser buenos
se levanto contra ellos un principal, y los hizo guerra, y despues muy anziado
tomo un dardo, y dio con el en tierra, y hizo que se abrisse las fuentes, y se afogasse todos y que el hizo una casa de hojas muy buena tapada, y allí se defendio del
agua, y despues de todos muertos, y el agua passada sahio, y ansi começaran las
195 generaciones, que es cosa muy larga de contar. Lo que cuesto dize acrescentando que por
esto estan desnudos, e no tiene nada, porque todo se perdio con el água. Oyendo el padre esto, y entendiendo que tenian alguna noticia del Dilúvio, mas corrupta,
les explico la verdad, declarandoles la historia del Gênese, haste llegar como
Noé hecho su maldicion a Chain porque hizo burla del, diziendo que ellos descen200 diam deste Chã, y por esto andavan tan apartados de dios. Folgaram todos
mucho oyendo esto y quederon cõ desseos de aprender las cosas de dios.
Llegaram todos cõ buena disposicion al rio Real a 28 de Henero y dexando el padre
el capitan aposentado en lugar apto passo a visitar una aldea de Indios que estava
6 léguas de alli. En sabiendo los del aldea que vinian sahíran todos con grande ale205 gria a recebirlos, con grandes lloros como es su custumbre, trayendo cada uno algun presente como es costumbre al padre conforme a su pobresa, como harina,
batatas, y cosas semiantes, y fueron hospedados de un principal, con mucha charidad, assi el como todos los índios que viam en su compania, repartiendoles
por todas las casas. Esto principal predicava por el aldea que el avia
210 sido causa que no se perdiese la gente que en tiempo passado huyo de las aldeas, y
que por esto hazia esta fiesta al padre e abraçandolo despues dela predicacion lo lle
vo para su casa. Notro dia por la manãna començo el padre a dar razon a los principales
del aldea de su venida, diziendo que vênia a manifestarles la ley de dios e a ensenarlos
el camino de su salvacion, y librarlos dela cegera en que estavan y começaron
215 luego a hazer uma manera de Iglesia para dezir missa, y ensinarles la doctrina.
mas era tanta la gente que venia a visitar el padre assi daquella aldea como de las otras
que quasi todo el dia gastava en habarles, y consolarlos, y assi el dia seguiente se
acabo la Iglesia, donde dixeran missa y ensenãron la doctrina, con grande consuelo de todos. Llama-se la Iglesia de São Thomas el Apostolo y hizierom yunto della
220 casa en que morassen y pudiessen tener concierto religioso y de ay apocos dias llevantaran una cruz de algunos 80 palmos, muy hermosa, y quãdo toda la gente
espantada cõ ver la veneracion, con que la avian llevantado. El principal de
aquella aldea quando se viu con Iglesia llevanto las manos al cielo, deziendo, bendito Sea dios, que vejo yu en mi tierra Iglesia, esto es cõ que desseava pesame
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225 pesame del tempo passado. Luego começo o padre a poner el concerto cõ ellos que se
tiene e nuestras aldeas que es esenarlhes la dotrina por la mahana y ala tarde y
a la noche, un índio da nuestras aldeas iua taniendo la campanalha por toda la aldeã
y asi acodião muchos delante de la casa, donde el padre los esenava las cosas de nuestra
Sancta fee, y el hermano tomou cargo de la escuela de los moços que fuerõ al princípio 50
230 e despues lhegaron asta 100 y en breve tiempo supierõ las oraciones, y aunque por prin
cipalmente residia cõ los índios, por que para ellos principalmente era enbiado, acodiã tãbién
a algunos brancos que estavã de ali a algunas 6 légoas, consolandolos cõ dezirles missa
y confessando-los y un dia bolviendo para esta aldea de S. Tomás los consolo Dios
mucho, por que estando cerca della, oyran grandes bozes delante de la casa donde moravã
235 y era um moço de la escuela de S. Antonio que el padre avia dexado para que mirasse por la casa,
que estava ensenãdo la dotrina a los ninos de la aldea y despues los hazia persinar
y santiguar a cada uno por si y esto hizo todo el tiempo que estiverõ ausentes, que fuerõ
nueve dias.
Invio en estos dias muchas visitaciones de muchos principales del Rio de São francisco
240 y de otras partes, todos veniã apedir al padre que los fuesse a visitar y hazer iglesias
en sus aldeas y el principal de todos fue um índio afamado por estas partes lhama
de Curubi, del qual todos se temiã, por que e los tiempos passados tenia muertos algunos blancos, y nuqua avia querido acepttar su amistad, este e sabiendo que el padre avia
lhegado a aquela aldea luego lo enbio a visitar por un hermano suio pedindole cõ
245 mutcha instância que fuesse a resedir e su aldea e dando comecion al hermano para que
lo lhevasse e una red aunque el no quisiesse ir que no era bien estar cõ aquela ruim gete, esto dezia por que de mil almas que havia e aquelha aldea de S. Tomas las quinetas
serã esclavos que e tiempos passados huieron a sus sengnores, y estã ali acugidos, diziendo
que avian sido solteados. Despedio el padre a este índio dandole esperança que lo iriã a
250 visitar, mas el Curubi no pude descãçar asta no ir aver al padre cõ alguna gente de su al
dea fue de todos mui bien recebido y delante de todos vino al padre una grande plática
cõ el por grande espacio cõ tanta eloquência y fervor que quedo el índio espantado y no
suportou que responder, sino dixo huelgome cõ tu venida, e assi se despedio sin hablar mas
palabras. De aqui tomarõ ocasion la gente del aldea a dizer entre si que no avia
255 entrado e la aldea con buena etenciõ, sino cõ deseo de quebrar la cabeça al padre delãte
te de todos, y avia algunos que estavã esperando agora será, mas agora será; mas las
obras mostrarõ que no fue esta su entecion, sino que quedo tã confundido de la plá
tica del padre e tan atado de piés e manos, oyendole que dizia que no puedo mas hablar
y assi se torno para su aldea. Otro principal enbio e busca del padre un índio, el
260 padre respondio que entõces no podia ir; dixo, pues enbia el hermano o aunde tu companhia.
diole el padre razon que no se podia hazer. respondio el índio ia que no vás ni ebias no dia
dame una carta tua para que lleve comigo y assi fue forçado al padre darle carta para cõ
tentálho, esto índio por las aldeas por donde passava iua predicãdo que iua e busca del
padre por que donde estava ni conociã quien era, ni si sabião estimar, y aunque algu
265 nos tocava Dios el coraçon para recibelo de buena voluntad. Outros tãbién e sabiendo que
iua el padre desamparara sus aldeas y se fueron a morar por la tierra a dietro, e aunq el padre les embio muchos
recados diziedoles que no temessen, por que venia para dar remédio a sus almas; mas con esto mas se endurecian, diziedo que no querian Yglesia, sino que avian de matar a los padres y a los blancos y no solo no resebia a los padres, mas
embiavan recados a las otras aldeas que en niguna manera los resebiessen, diziedo que las Iglesias no eran para
270 hijos de principales, sino para apocados y baxos, y que no eran otra cosa sino hombre que al padre era, Senor
de la hambre, y que el avia sido causa de todo su mal, lo qual hizo desta a muchas, parece que aun
no es llegado el tiempo para estar todo via algunos se huyeron de su principal, e se morieron a meter
co los nuestros, que deven de ser los que Dios tiene escogidos para la bie aventurança.
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Algunos batismos hizeron en psonas, que estavan en extrema necessidad (por que a los demas lle275 varon orden que no baptisassen, hasta esta la tierra pacifica, y ellos bien instruídos en las cosas de
nuestra santa fé) quedaron disto tan consolados que todo el trabajo que llevaron todo el camino les parecia nada viendo ya dar remédio a algunas almas que custarom sangre del hyo de
Dios que parece no aguardavan otra cosa sino la yda de los padres, para ir a guozar de su criador.
El primero batismo fue de una nina la qual estava yá para espirar, viedola um índio Ta280 puya que yua en compania del padre que apenas sabia hablar la lengua, vino corriedo para dõde
estava el padre, haziedolo casa donde avian de morar diziedo, ve padre que la hya de hulano esta
para morir, Dyxãdo todo lo que tenia entre las manos fue luego alla al padre y baptizola cõ la solenidad acostubrada, e quedaron todos los gentiles altônitos, viedo aquello puzenrole por nõbre
Maria, e de ay a poco fue guozar de su criador. El segudo baptismo fue de uma veya que toda vi285 da avia andado entre blãcos, y nuca avia sido baptizada, visitando el padre la aldea la hallo ya
al cabo, y despues de bien instruída en las cosas de su salvacion la baptizaron cõ mucho consue
lo suyo, y de ay a pocos dias fue aguozar de su criador. El tercero fue dotra India muy enferma
y estandolo el padre hablando en las cosas de su salvacion, el marido tenia yá aunque apireiada para
su baptismo, y ella cõ el grãde deser que tenia de baptisarse, se levanto de la red aunque estava muy
290 enferma, baptizola el Padre, y de ay a pocos dias se fue a guozar de su criador. Estas fueron las premissias del Rio Real, y estos me parece que ande ser los patronos de aquella christandad.
Despues baptizo el padre otros quatorze inocetes, por estar enfermos, y temer que muriessen Si los da
xavan sin baptismo.,
Estando las cosas desta manera viedo el demônio tã buenos principios e la conversion de aquelles gentiles
295 y que yá començavan de quitalles, las almas de la boca, en las quales tãtos anos a sesenõreava,començo a levãtar las tempestades acostubradas para empedir esta obra; uzo de diversos médios, el primero fue luego al pricípio, ãtes que el padre partiesse para el Rio Real, fueron sex Indios com sus mugeres de la
aldea de Sãto Antonio, delante del sin su licecia, y algunos Indios del Rio Real poco afficionados a la Iglesias, mataranlos, y comieramlos, y tomaran sus mugeres por mãcebas, esto urdia el demônio para
300 que se travasse otra vez guerra, y desta manera se impidiesse la christandad, mas el padre no suppo nada
disto hasta estar em el Rio Real, donde viedo las mugeres que poco antes el avia casado preguto que
é de vuestros maridos? respondieron llorando estos índios los mataron, estavan alli algunos pricipa
les y dixo el Padre, en fim que matastes my hyos, y los comestes, y sabiendo que yo vênia a ensenãrlos
cosas da nuestra salvacion, los que no tenian culpa escusavanse, mas el Padre dissimulo los mejor que
305 pude, deziedo que ni aquello avia de ser bastante para dexállos, y tomo las mugeres a los Indios que
los tenian y dio cuidado dellas a un Indio de Santo Antonio, e desta manera quedo el demônio frustrado e lo que deseava. Otro medio fue por los próprios Indios esclavos de aquella aldea, por que uno dellos
començo a predicar que los nuestros tenian por costubre ayuntar los Indios, y hazelles Iglesias, e despues captivállos, y entregállos a los blancos. Otro esclavo que huyo de los blancos, fuellos adar las mismas nuevas,
310 diziedo que bien los avia dicto el que no se fiassen de los blancos que ya avia llegado un barco con ar
tilharia para su senhor, y mãdole que lo aiudasse atirar, mas yo no quize, huy del, y ansin presto vereis
como dan e nós, y sereis todos presos y captivos. Acrescetosse a esto, que una India, estando los Indios
boviedo que es el tiempo e que ellos consultan de sus guerras, oyolos dezir si los blãcos nos dieren guerra, mataremos los nos otros primeiro, y fue se a un Indio pricipal que el Padre llevava consiguo, y dixele
315 los índios estan en cõcierto de matanos esta noche, y el Curubi es etrado para este effecho, Dyo lue
guo conta desto al Padre y auque los Indios cotar males nuevas estavan no y apoco miedo delos blancos, quasi
todos prontos e armar, y algunos moços descubrieron despues que tinia esto determinado etre si que se los blãcos
viniessen sobre ellos, que se avian de meter todos e la yglesia y diseles: non nos captives, por que iá somos hios
de Dios e tenemos yglesia; mas no era menor el medo que tenian los nuestros especialmente dos otros blancos
320 que estavan en la compania del Padre, porque diziendolles estãd apareiados, porque nos sabemos lo que nos
há de acõtesser; uno delles huyio aquella noche con miedo y fue dar rebate a el capitã que estava
seis légoas de alhi, diziendo que los índios estavan alevantados y querian matar a los Padres y como en
estas nuevas comumete se acrescienta, luego nos vine recado a esta Cidade que los Padres estavan ya em
cordas para comellos y toda la cidad estava alboroçada con esto, mas e breve tiepo se sube la verdad.
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325 El Padre como viu los índios con aquelles myedos y enganados cõ metiras lhamo los principales e dixelles que
esta fama ay, que nos quereis matar si esto é asi, seja esta noche, antes que mahana; esto cõ lo que
deseamos, para esto venemos y elles entonses descobriron la verdade que aquelos escravos les
avian dado aquelas má las novas, mas que no tinham propósito de azer mal anadie que bien sabian que eran metiras y con esto se despedieron del Padre. Mas aquella noche fuy mui trabarosa asi para
330 los índios como para los blancos por el miedo que todos tenian dela muerte. Quando el blanco
huyio, acrescentaron tanbién que el padre era huido; algunos gentiles sus devotos auntaranse muy
sentidos a consultar que havian. Unos dezian: vamos em sua busca, no lo deixemos yr. El principal
de la aldea llamado Typita dixo a su muger: Si el padre es huydo tomemos nuestras redes
y vamonos com el. Otros vinieram de noche aver si estavan los padres en las redes y quando
335 los viron quedaron muy alegres, otros dezian: durmamos iunto de los padres, si algunos
los vinier a matar, moriremos tambié con ellos. Tambien desta vez quedo el demônio burlado, porque los índios quedaron mas confirmados em la paz, y entendieron que lo que el padre les predicava era verdade, y lo que los esclavos los dezian era mentira.
El posterio medio que tomo el demônio para empedri esta obra, fue no menos eficaz que los passados
340 y nasceu de los próprios blancos que el padre llevo en a sua companhia e aqui em el tenia hechoo muy buenas obras
por que como estas comumente dessean, mas los gentiles ver los esclavos que X.nas y esto pretende quando
ven entre ellos remediar su pobreza aunque pierden sus almas, e como los padres donde quier
que estan siempre los van ala mano a los saltos que hazem.y ali resgates iniustos, enganando los índios
haziendolos vender sus hijos y parientes, y como también los estorvan los pecados que entre ellos
345 hazen, como es tomalles sus mugeres y hijas por mancebas, esta fue la ocasion para daqui
y escrevira al Governador muchas cosas contra los padres, que no cabian em elles, e elos mesmos
los dezian: nós otros sois causa, porque nós otros somos pobres. Dio-se a esto tanto crédito, que no falto
quien dixasse que enbiasse luego a lhamar al padre Gaspar Lorenço, porque havia cosas porcas
que les merecia ser cozido em una caldeira, yo entendiendo ser esta manã del o demônio y
350 que no deseava otra cosa sino ver los padres fuera. Dissimulo lo meior que pude, deziendo que
acostumbrava siempre dar una oreja a los padres, que yo avia de enbiar presto alla al padre
Luiz da Grã para ayudar a aquela christandad, e ansi me informaria dela verdad
y assi fue, porque el padre despues que fue a visitar aquellas partes me escrevio estas palabras: todos testificam lo contrário do que se escrevio del padre Gaspar Lourencio, e ansi por la bondad de
355 nuestro Senhor nada aprovecharam al demônios as invenciones que busco para impidri la christandad
y un que nunqua cessa de buscar ardidos, como acontecio agora, que escrevieron los mesmos a la câmara desta cidad muchas cartas, deziendo que los padres eran impedimiento que los esclavos no bolvessem a su senores, y assi vino la câmara con todos sus oficialis a darme quexas dellos, diziendo
que los padres impidiam las cosas de servicio de dios, que pusiesse remédio en esto. Y deron a en360 tendir que darian guerra aquela tierra, y que poco sua poner los padres en peligro dela
vida; mas claramente los mostra, que lo que los havian escrito era falso. Mas con todo esto como la obra es de dios, confiança tenemos que nos defendera. Em el tiempo que el padre residio e nesta aldea, se hizieran algunas procissiones solenes, enramando la Iglesia y las
calles, y algunas vezes tenian disciplina todos los christianos por bien espacio por
365 la conversion dos gentiles. En una procission viendo um gentil que iam os círios
iunto de la cruz, fue corriendo a su casa, y troxe una candela, e acendiola, e posese
tambien iunto de la cruz, en que mostrava su simplicidad; otros Indios estrando en la Iglesia y
viendo la imagem del crucifixo, estivieron muicho tiempo de rodillos viendo lo, y un Indio
dela aldea los ensenava lo que sabia y entendia.
370 Despues de aver dexado el padre convertido la aldea de S. Thomas, y la gente pacifica,
passo a visitar las aldeas comarcanas, donde há tanto tiempo avia lo deseavan, passaran en estos
caminos grandes trabajos, por ser por montana y tierra muy fragosa. Passarian por
algunas partes, que las yervas los cortavam las piernas, y no podian andar calçados
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por aver muchas ágoas y atolleros. Acontenciolos ir mas de media légoa por um un Arroyo
375 que los dava el ágoa, a las vezes ala rodilla, acrescentavase a esto la falta de mantenimientos, especialmente que la quaresma, que aun ayunavan la comida no era mas que bananas y harinha mesclada con ágoa, pimienta, y por fiesta tenian algunos cangrejos, que los Indios trayian seis léguas de alli. Fue esta partida muy contra voluntad delos Indios desta aldea, y con grande
sentimento suyo todos a una boca dizian, y predicavan por aldea: va el Padre a morir,aparejemonos para
380 vengarle la muerte; esto dizian por el temor que tenian del Curubi, mas el padre cõfiãdo em la graça de
Dios começo su camino sin querer llevar ninguno del aldea, sino solo su companheiro que fue mayor espanto.
La primeira Aldea donde entrou fue la del Curubi que está dies o doze légoas de San Thomas, por muy ruim
caminho fuerom muy bien recebidos y apresentados en la casa del Curubi y los padres estivieron um gran
espacio em pié delante del, y el estava echado en sua red sin hablarles una sola palabra. Hasta que des
385 pues mando les dexen alguna cosa para comer, y fueran 4 espigas de milho, parece que aguardava que el padre
começasse la platica, y los ayuntasse a todos y les diesse razon dela venida, lo qual hizo el padre; des
pues, começando por la manana a predicarles las cosas de su salvacion, e como venia a dar remédio as sus almas
y acabo depues de medio dia. quedaron contentos y todos a una dixerõ que estavan mucho cõ su venida y
que queriam Iglesia, y asi logo ostro dia começaron luego a cortar madera para ella, y los mas honrados
390 dellos eran los primeros em la acarretar, y trahianla à cuestas hasta el mismo Curubi e ansi e breve
tiempo la acabarõ, por que la cobertura es de Palma que ay mucha por aquellas partes, y es dela invocaciõ
del glorioso Padre Inácio. Tendria aquella aldea mas de mil almas; enquanto no tenian la Iglesia, seha en
senavan la doctrina en la calla, y acudian a ella grandes y pequenos de muy grande voluntad, y como no
tenian costumbre de ver blancos en sus aldeas, estavan todos attônitos en vêrlos,como si fuera cosa venida
395 del cielo e quando salien de casa todos salian alas calles a verlos, grandes y pequenos y algunos pre
guntavam si los padres era gete con quien se podia cõversar e hablar.
Para confirmar-se mas el Curubi en las pazes, enbio u hermano suyo com algunos índios a ver governador
e nossas Iglesias fueram bien recebidos, y el governador les mando dar de vestir, y algunas herramientas
que fueron todos muy contentos, especialmente viendo el concerto que tenian los christanos de nuestras aldeas.
400 Despues de dexar el padre quietos y animados los de esta aldea de S. Ignácio, passou a visitar las demas aldeas
bien contra voluntade del Curubi, porque dezia a el padre: antes que nos hartes nos dexas! mas tiempo estiveste
em la aldea de S. Thomas de que em la mia; mas el padre consolou alos diziendo que tambien era necessário dar las
buenas novas del Evangelio a las otras gentes. ao 2º dia de la jornada encontraron com unos principales, que
los veniam esperar a el camino, abrindoles los caminhos para donde avian de passar, por que todos estan cer405 rados com arboleda. Fue grande la alegria que tuvieron en este encuentro, assi los nuestros, como los índios y
luego repartierom con los padres lo que traziam com mucha caridad y hizierõle ua choça en que
reposaran aquella noche y despues fueron a su aldea donde fueron recebidos de toda la gente con tan grandes muestras de amor,
como si tuviera mucho tiempo que los conversaran; e alí esteve el padre algunos dias ensenandolos las cosas de su salvacion. De ai
passou a otras aldeas; en algunas fue muy bien recebido, en outrs no la hizieran bom rosto, temendo que los iam aiuntar para su mal
410 y assi dezian que estavan mui escandalizados de los tiempos passados, por que los blancos los teniam hecho grandes danos.Unos se
queixavan que los havian tomado sus mugeres, otros sus hyos; o padre respondia que el passado no servia de remédio, que tambien allos
tenian muerto muchos blancos, mas que si ellos querian ser christianos y amigos de los blancos que tiviesen por certo,que no devian
dellos agravados.
Lo primeiro que hazian en entrando en una aldea, era visitar si havia algunos enfermos, que estuviese en extrema necessidad al
415 gunos allavan predicandoles el padre la virtude del santo batismo, y las penas del inferno, que estan apareiadas para los no baptizados, egendolos de sus feiticeiros ; claramente respondian,que no querian ser baptizados,que no temian el fuego del inferno.Entonce tomo
el padre un tizon y pus o lo iunto del enfermo, diziendo: no temas arder con este fuego? mas ni esto basto! Asi murieron, par ece que
ia el demônio estava entregado em aquellas almas, mas el padre quedo con mucho sentimiento de ver su perdicion.
En una aldea un principal estrãgero começo a hablar mal contra los Padres, deziendo q los havia de quebrar las cabeças, que no teniã que ver
420 com los blancos. Algunos de los índios q iam con el Padres estavan atemorizados. El padre hablo com el senhor dela aldea y perguntole se estavan
ali seguros, respondole: bien podeis dormir com sueno no pousado, que no averá en mi aldea quien se atreva a hazer-te mal y pois entrastes
en mi casa; donde morreres tu, muere yo com toda mi gente; huelgo mucho de verte, porq há mucho tempo q te conosço por fama y q no deseas sino nuestro bien. Otro dia mãdo dios el coraçõ a el otro principal y fue a visitar los Padres y dio muestras q lo prezava de lo q tenia dicho
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y pedia ao padre que fuesse también à su aldea, mas los índios le aconsearon que no se fiasse del.
425 Deseando el Padre ir visitar otra aldea que es la postera de todas, en busca de um principal, que tenia prometido de vir àla yglesia
de S. Thomas, mas el demônio lo tenia iá otra vez pervertido e estava com mais deseo de comer al padres, que no de se hazer christiano;
mas fue N. S. servido de dar aviso a el Padre disto, y fue desta manera: un índio de aquella aldea enbio un hyo dire al Padre
mui depressa, iá de noche, diziendo que en ninguma manera entrasse em la aldea, porque el principal estava determinado de quebrarlhe
la cabeça, y que por isso tenia ya tenido con el, y padre aunque quisiera con todo esto passar los índios no solo cõ
430 sentirion, mas antes de algunas aldeas comarcanas venieron algunos para defender al padre y todo fue necessário
por que avian ya enbiado índios a tomar le los caminhos, mas seguramente passaron librando los dios de todos los
perigos, y dando ya buelta para la aldea de S. Ignácio truxeram gente de duas o três aldeas, para aiuntárlas en una iglesa iunto del mar, e ansi lo hizieron com mucha alegria de los índios, e luego
llevantaron una cruz y hizieron una iglesia de la invocacion de S. Pablo, por que lhegaron alli
435 vigilia de S. Pedro, y S. Pablo, y al dia dijeron missa, y ensenaron la doctrina, y predicaron
quedaron los índios muy consolados, y haziendo yá las casas para su abitacion; mas como era necessário
acudir el padre a las otras aldeas, estuvo poco tiempo con ellos, los quale causo em ellos no poca tristeza
mas el padre consolou alos diziendo que procurana de acodir a todas las partes, y ansi que olvio a visitar las
otras iglesias, y fue recebido de todos cõ gran charidad, y algunos le pedieron el santo baptismo
440 mas dilatados hasta que estã bien instruídos en las cosas de nuestra Sancta fe.
En el aldea de S. Thomas baptizaron otra índia, estando yá a la muerte, y aun que quãdo
al padre le hablava, mostrava poca voluntad desto, pareciendole que sy se baptizava que luego avia de
morir, lo qual los persuade al demônio, por que como los padres agora no baptizar sino a los que
estan ala muerte, parecelos que em se baptizando luego han de mori, mas otro dia visitando la al padre
445 y diziendole que si no queria al infierno era necessário baptizarse, ella dixo que lo desejava
mucho que el dia antes quando salio algunas palabras fue por que no estava cõ su entendimiento
y ansi despues de bien instruída la baptizo el padre y de ahi a dos, o três dias fue gozar
de su criador, y enterrarõla ala puerta de la iglesia con la solenidad que se acostubra
en nuestras aldeas, y quedaron todos admirados de vêrlos. Venieron algunos índios
450 de otras aldeas a ablar con el padre y apedirle les fuesse a hazer iglesias a sus tierras
especialmete uno, que antes avia ameaçado los padres, vino tan Manço como su cordero, dizendo
que solo el padre era su Hermano, y el padre lo pergunto qual era su determinaçon, y elle responde que
era cosa tan importante, no era bien determinarlos debajo de casa agena, que fuesse a su aldea que el selo
diria. Prometelle el padre de ir alla, y assim lo hizo de hay a poucos dias, estava três légoas de S.
455 Thomas, fueran de todos recebidos cõ grande amor, e despuess de aver el padre ablado, responderon que haviã
lo que ele quisesse, y que passarian la aldea donde o senhor mandasse, y assim la passaram ya iunto
del mar para poder ser meyor visitadas. De allí fue el padre donde estava el capitan a confessar algunos hombres brancos donde tambien se hizo mucho servicio a Dios apartando a muchos de pecados, y azendo less pedir perdõ del escândalo que le avian dado.
460 Viendo como nuestro senhor punia los ojos em la gente de Marial pareceu necessário prover de mais obreros y por lo el padre Luiz da Grã tener mucha experiência en la conversion destos índios, y ser des
dos muy conocido y amado, pareceo servicio de Dios ponerle nas manos esta empreza, la qual
el acepto com gran charidade y deseos de padecer muchos trabajos por amor de Dios, y assim fue esto
este camino obra de 40 ou a sincoenta légoas, levando por companero al hermano Francisco Pinto, len465 goa, y con ser yá el padre vejo de mas de sincoenta anos, siempre fue a pé e muchas vezes descalço
por los caminos no suffeir otra cosa, y aun que un hombre honrado, que yua en su compania le offerecia a su cavalgadura de mucha buena voluntad nunqua lo quizo aceptar, escusava deziendo que
yua en peregrinaçon a S. Ignácio. Mas davale Dios tanto esforço que en el no camino, que pare
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recia en el passar dellos trabajos, mancebo de vinte anos.
470 Sabiendo los índios de la aldea de Santo Thomas, que via el padre visitálos, sallyu mucha gente a el camino a recebelo, levado algu refresco, conforme a su pobreza, para que los que tian en su companhia, tina la calle por donde avian de passar henramada
y con algunos arcos, el alegria que tuvo el padre Gaspar Lourenço y su companero fue muy grande, porque veyan yá co sus ojos lo que desse-
avan. Entrarã todos con el padre el la iglesia y animandolos a perseverar em el bie començado luego le trouxerõ ally todas sus
limosnas y aun que era cosa poca, la charidad con que lo trayan era mucha. Vinierõ tambie luego de las otras aldeas comarcanas
475 a visitar a el padre diziendo que se queriã ayuntar e tenerr iglesias, a todos consolo el padre, dandole esperanças que los iria a visitar
presto y assi me escrevio, que a todos os daquela comarca se resolve en hazer iglesias. Dios por su infinita bondad los de perse
verancia em el bien començado y mande obreros para tanta messe. Esto es lo que hasta aqui acontecio em el rio Real.
Hasta agora dar conta a Vossa Paternidade delo que vi en poco mas de un mês que fui avistar las quatro aldeas Em que los nuestros reside y ad-
ministra-llas El Sanctissimo Sacramento, gastei en cada aldea una semana E neste tiempo se examinarã yan separã los que aviã
480 de comulgar y otros muchos que andava con Estos de ter y para esta el Suelo lleva consigo despos. E un Hermano lengoas y todos te
nianos bien e que hazer iuntamente con el padre que reside em el aldea y tene ami cargo examinão los que se aviã de admitir lo nuevo
al sanctissimo sacramento y fue el exame cõ mucho rigor dexado aquele que no se admitã sino los da buena vida y que há mucho tiempo
que continuã la dotrina manana y tarde dependendo las cosas de su salvacion comomente fuera delos menos [sic]se hã los mã damentos y artrelos[sic] dela ser y los no prustar[sic] nela partes del sacramiento dela confession y ermaniõ [sic]. Ve unto ferrv or em todos en
485 dependier la doctrina que el ano passado seles compeso[sic] que era para boas nuestro senhor.Muchos ninos que apenas sabiã hablar sabe
ya mucho capitulos dela es amanera de dialogo conpuesta. A la noche entreando alos Ave Marias, segundo alegrias nos
en todas las cosas ensenar la doctrina alos ninos dela escuela y estan enesto alas vezes mas de sua y esto he comu en todas
las aldeas.
Aparenhase muy de verdade para recebir el Sanctissimo Sacramento todos aquello dias teniã acabada la doctrina por la manana y pue490 de platica sabie la grandeza del Senhor que aviã de recibir ay unava comumente viernis y salvador antes de comulgar tomavan diciplina el dia antes acabada la procission que haziã ahora de noshe y derramavã mucho sangre el dia dela convercion viniã
Muy de manana a la Iglesia em todas la iglesias comulgan em grande quietacion y le devocion y muchs espionas esto
se vio phiurlamente en la Iglesia de Santo Antonio donde sohindoles el hermano dejo nunas[sic] antes de comulgar parece que a todos
toco Dios el coraçon y corrianle las lagrimas silo assilo qundo estavã a la mesa por mucho que uno fuesse duro de coraçõ no
495 podia dexar de llorar viendo aquella maravilha de Dios Especialmente viendo unos principales la mejor que em los tiempos
passado no se hartavã de comer carne humana y agora veyamoslos cõ muchas lagrimas recibir el cuerpo sanctissimo de Christo
nuestro senhor . Uno destos vino de su aldea ala ciudad que son doze legoas apedirme licencia para comulgar mas delo topela[sic] porque anno sabia bie las oraciones mas el puse tã buena diligencia que de dia e de noche en casa y fuera de casa siempre andava
deprendiendo cõ un hijo suyo que lo sahia bien y qunso si llegava ya el tiempo del sacramiento dixo dos dias há que no se me ata
500 en da de comer my dormir em desses de aprender lo necessário [ilegível] porque tomavã tanto trabajo, respondi-me si uno
hombre que tiene hambre no descansa hasta que alcance um poco de manjar para el cuerpo , quanto major razon es que yo
no descanso hasta deanser [sic] el manjar de mi alma especialmente que soy ia niajo [sic] y no quererá morir sin comulgar el
Dia que comulga com la grande alegria que temiã sino apreguntar se entramos ia su casa y devia de a algunos
blancos dixemos que bien lo podia hazie. Sentao obedientes alos padres que hasta esto por que estan y aun otros
505 cosas menores como fue um ninho que fue a pedir licecia para tocar uno [ilegível] so ya y outro nino
a pedir que lo desse sobre nõbre [sic] a elle e a su muger, y quedon tab alegre cõ el como sile trazia um el
Encomienda, outro la vigília de la comuion siendo la mas de médio dia [ilegível] apregutar se aviamos
ya comido pregutole para que lo querian saber dixo porque [ilegível], y querian saber la que ian horas de
comer. En estas cosas se muestra bien la pureza desta gete, em todas las Aldeas al dia de la
510 sagrada comunion la hazia procision solene de sanctissimo sacranmeto cõ musica de flautas
y cãto de organo que fazem[sic] los próprios Indios, y acabada la procision s dezia outra missa, y todos se bastava presentes cõ tanta devocion, como se aquella hora entraron em la yglesia, passado
ya de médio dia y despues los despedíamos con una platica espiritual dizie do los que se fuesse
a dar matenimieto a su cuerpo por lo avian my dado a su alma. Acontecio uma vez despues de
515 desperdilos siendo ya mas de una hora, vinieron a dar [ilegível] al padre que fuesse ser la sãcta
uncion a um Indio que estava para morir, y todos fueron com grande devocion [ilegível] apanha el Padre
y se hallaron por tantas mietiras se ministro esto sãcto sacrameto, parece me que com es simplicidade
la primitiva [sic] yglesia se reserbia al sanctissimo sacramento, y como los muy entedidos en
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otras partes con su sabedoria por bie son al coraçon este de fatobien y se apartaron de este mãjar
520 divino que lo Dios mostran sus tesoros de misericórdia a esta gete simples, rude y de tudos e suidada [sic] que aun los blancos que otras partes no se acaban de pessuadir que sion capazes para
reserbir al senhor, y muchos murmuram desto verdades que quãdo la vem con los ojos como fue em
el Aldea de Santiago, donde se iutaran muchos blancos en dia de su fiesta que dan como vecidos
e hallon se muy otros como o los dizen y danles ventaia assi en esto com e la doctrina christiana
525 e tienen muy mucha razon porque nolos muy grãdes de los blancos no saben tãto como los ninos
pequeninhos de las aldeas, y assi se espataren de nellos disputar sobre los capítulos del dialogo ter
los que comulgarian em las aldeas, serian obra da quatrocentos, confessar se yan en este tenpo, obra de oito
cientos psonas cõtãdo algunos blancos cõ grade provecho de sus almas, baptizar se yan quarieta otras
psonas despues de bien instruídas casar se yan quarieta en les degracia, apartado muchos del mal
530 estado en que estavan.
Algunas cosas particulares de mucha edificacion vimos em el Aldea de Sã Tiago, um indio principal
fue a su roça, y tomado la seguera en la mano affirmo que luego la vino a dexar sin tener fuerças para mas, y bolviose a la iglesia a dezirme: padre dadme al senhor que no puedo hazer na
da hasta que tega certeza dolo recebir. La muger deste viendo que tanbien le dilatavan la licen535- cia estuvo toda una noche llorando sin poder dormir. E tiãbos fueron admitidos porque estavan
bien apareiadaos. Otro Indio tratãdo como se defediam de las tentaciones del demônio entre
otras cosas apõtava esta, estos os ofessa de Dios, y tengolo de confessar pues para que lo tengo de hazer.
Pregutãdo ã outro se deixava de confessar alguna cosa por verguãça, respondio: Dios velo que [ilegível]
al Padre esta en su lugar, porque lo tengo de encobrir. Otro explicãdole la limpeza que era menester
540 para receber el Senhor dixo: si un principal para hospedar outro limpia su casa quãla meyor razon ay que aya limpeza em una alma que há de rescebir al senhor. Algunos de rodillas pedion licencia
para comulgar, y pregutandoles para que lo deseavan,? Unos respõdian que para ser hijos de Dios, y para
alcãçar su amor, otros que para alcançar fortaleza cõtra sus enemigos.
En el Aldea del Spirito Sancto sabiendo una India que un enfermo no era bien curado, y que
545 se enfudavan cõ el en su casa, vino a pedir licecia para levallo para la suya, y tener cuidado
de curallo, diziedo lo que mas siente os que persona que comulga no trata bien los enfermos, Dios
nuestro senhor tam grande concepto ahu alo que no comulgam, dela Santidade que es menester para recibir al senhor que qual
quera cosa por pequena que ser ala estranhar mucho y laden com ella em resto dizendo, quien comulgar no há de hazer
esto, y en los próprios que comulgan sente notable mudanças, y experimentamos bien los efectos del Sanctissimo Sacramento.
550 una India hazendo una cosa muy leviana parecendolle que era algun pecado començo logo a tembler y no descanso hasta que
cepa[sic] que no era nada.se otro índio morule la muger, sin recibir el sanctissimo sacramento y quedo muy triste por esto y dizen
consorlome que se estava y en apareiando por ellos, sou fundo com alguno õ como totalmente avian de dexarllos pecados
se queria recibir al senhor, algunos respondian: sinos otros trocamos muchas vezes cosas buenas por cosas de poco valor
quanto mayor razon sera dexarlos pecadores que es cosa tan malas para alcançar las cosas verdadeiras. Otros dizian
555 antes tomávamos los conseios delos, he ehizieron que cansavan nuestra sdicron predicion, razon sera que tomemoslos vestros, pois
nos aiuday[sic] con tanta verdad. Um índio hizo una falta en esta aldea muy pequena, y siendo hombre casado
fue a pedir de rodillas que le diessem lorgo penitencia para ello,y recibida de muy buena voluntad.
Quando entramos en las aldeas le comunes en todas tenen hechos antes, y limpar los caminos y salir tudo legante a recibirnos, con grande charidad particularmente em la aldea de San Joan, quando entravamos por las challes, yua
560 uno predicando hali a hazer reverencia a vuestras verdades des padres e nesta aldeã dixo uno: quisera
ser moço para gozar mas, deste tempo tan santo. Otro vendendo conta cosas fiada, dixo: mitã que me paguay [sic] que yan
no estamos en tiempo que se aia de mentir. En esta aldeã foe um índio com grande serupolo al padre, si podria comulgar, por que descuidadosamente avia mordida en una hierva.Otro índio principal dixo: quando antigamente se tomava um
contrario toda la aldeã holgava aunq ellos no lo comessen, asi aunque nos otros no somos dignos de tomar al senhor, por no
565 saber lo necessário holgamos mucho em ver, que nuestros hyerõ y parentes lo toman. Um principal en
esta aldea de grande eloquentia, predico des horas antes de ser de dia, em el dia de la comunion y aunque
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que el no comulgava todo su sermon sia, tratan dela limpieza y avia de aver em los que comulgavan como
se avian de apartar delos vinos, y acresento ya me parece que no me tengo de atrever, a comer em um plato com
mi hyo por que el a de comulgar oy y yuino, a de tener my hyo asco de comer comigo.
570 En el aldea de Santo Antonio pedia um Indio con grande instancia el Santissimo sacramento preguntandole se confessar
la grandeza de lor senhor que avia de receber Respondio por que lo conosco lo quiero receber, para alcançar vida tida [sic]
dera. Diziendo a um Indio que no avia de comer nada, despois de un dia nos se queria comulgar, então
dio el bien todos estan seguro padre que desde agora no tengo de comer nada hasta recibir al Senhor pediaron a una cierta India que fuese tercera en una cosa de offensa de Dios, y Respondio no temes a Dios. Tomo
575 me pudes [sic], el outro estava tan ciego que dixe: no temo a Dios, respondio ella pois yno lo temo, y tengo de hazer
esso, a esta mesma tentara el demônio consoenlos desonestos dizendo le que no la vian los padres, ela
sonhando respondia: sino me veen los padres veame Dios, quien sonhando, se defendia desta manera de crer
es que lo hazia mejor despertar. Otro dezia todas las mahanas, muero yo senhor antes que os offenda.
Qualquera cosa que seles avya, de su salvacion largola pomer para obra, como fue una vez que les dixe que teme assim
580 todas cousas em sus casos , por que temblava el Demonio solo de verlas, y que hyzessem oracion delante dellas, por la
manhanas y alas noches, lougo ao otro dia visitando las casas alla que la mayor parte yo tenian hechas cruzes
unos grandes y otras pequenas, y uma me dixo; yo tengo una imagem, y alas noches quando quiere rezar
sacela [sic] del arcos y despois de acabada a la oracion tornola ameter por que no se me danle com el humo, Apartarão
se tan deveras los que comulgal, de beber vino que aun los les es licito nahazen, y por que los mantinimientos fora
585 flacos y el trabajo por que padecen mucho, damos les el conseio que hespaldo dio a Thimoteo que usen de um poco de
vino
quando comen por que tengan fuerças em sy trabajar . otras muchas cosas sucederion du servicio de nuestro
senhor, mas dexalos de contar por que son semiantes alas que otros vezes tengo sorito[sic] a Vossa Paternidad, y tanbien para
darle tempo para ver otra y va con estas, que agora me servieron dela Capitania del Spirito Sancto, quando vi la
carta vinome el deseo que el padre Manoel |Francisco de Santa memoria tuvo de serivir a las universidades lo que
D´espanha
590 y Francia y ponolles delante a tanta gente letrada que esta em altas sin tener que hazer las almas que para aquém
si pierden por falta de ministros que se ocupan en los casos de su salvacion, y si extrema nessecidad como todos confessan, es bastantes para perder tudo aunque sea vidas para dar remedio alas almas, las necessidades que ai en los gentiles de Brasil siempre son extremas,por que quitados los padres que agora andan de la compainha no ai otros que se o
cupen em su conversion, y como somos pocos y la miesse mucha ni podemos como dasse amor [sic] acudir a tantas
595 necessidades extremas que tenemos delante delos ojos, y assi se perden muchos com grande dolor de nuestro coraçon y no nos queda mas que llorar suspirar, et rogarie domysmo messy vet mittato pesariõ in messem suan, y
aunque se las entranhas que Vossa Paternidad tiene para acudir a todos ley pontes[sic] delos gentiles, tengo para mim, y
oyendo estas cosas so la acrescentaran mucho mas los desear, y cada dia nos manda mas obreros para dar remedio a estas almas, que custaron lo sangre del hyho de Dios. Estos es lo que al presenta se offerece seri600 vir a Vossa Paternidad en cuja Santa Bendicion y Santos Sacrificios y oraciones todos los desta princianas [sic]
Encomendamos.
Deste Collegio dela baia, Siete de Setembro de 1575
Hindigno hyio de Vossa Paternidade em Christo. Ignatio Tollosa
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BIBLIOGRAFIA:
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INFORMAÇÕES EXTRAÍDAS DE SITES:
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Cópia digitalizada da carta: http://bndigital.bnportugal.gov.pt/. Sequência: Coleções
/
Reservados manuscritos/ Autores/ Tolosa, Inácio de (1533-1611)/ COMPANHIA DE JESUS
[Cartas, cartas ânuas, informações, relatos, etc., produzidos nas províncias da Companhia de
Jesus do Brasil, India, Japão e vários reinos da Europa] / Manuscrito] [16--]. - [345] f. : papel
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Padre geral da Companhia de Jesus: https://pt.wikipedia.org. Acesso em 04/02/2020.
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acessado em 07/06/2020.
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A CARTA DE TOLOSA