2140, um ano sombrio para a Amazônia Cristiano Roberto Madalena Instituto Nação Flora – Pesquisas & Soluções Ambientais, São Paulo, SP. e-mail para contato: [email protected] Até agora apenas um número no calendário do futuro, 2140 pode-se transformar num marco sombrio para a história da humanidade: o ano de extermínio da Amazônia. A maior floresta tropical do mundo, que reúne mais de 1 milhão de espécies da fauna e da flora, está condenada a desaparecer nos próximos, 122 anos, nas previsões mais conservadoras, se continuar o processo de desmatamento e ocupação desordenada. Caso esta morte anunciada se confirmar, o Brasil pode ganhar a autoria da mais terrível tragédia ecológica da história, com consequências sobre todos os outros ecossistemas do planeta. Uma tragédia que pode acontecer, ainda antes de 2140, segundo os mais pessimistas. Afinal, o ano, embora estimado através de projeções científicas cada vez mais precisas, é uma data calculada a partir das aferições sobre o atual ritmo de desmatamento da Amazônia. E quanto a isso há muita controvérsia. Os que sustentam a tese de um desmatamento menos agressivo, de aproximadamente 25 mil km² por ano (uma área equivalente a quase todo o estado de Alagoas) não dão mais do que 100 anos para a floresta. Já os que acreditam num desmatamento mais agressivo, de aproximadamente 50 mil km² anuais (área maior que a do Rio de Janeiro) afirmam que a contagem regressiva para a derrubada da última árvore pode durar pouco mais de 50 anos. Tal destruição, coloca o Brasil num nada lisonjeiro primeiro lugar no “ranking” mundial de desmatamento de florestas tropicais. Não surpreende, portanto, que a morte anunciada de uma reserva de recursos naturais pouco explorada, do tamanho da Amazônia, tenha se tornado uma das principais preocupações das últimas décadas. O Rio Amazonas, com mais de mil afluentes, mede cerca de 4 mil milhas, só perdendo em tamanho para o Nilo, no Egito, mas nenhum outro se compara em volume, a cada hora o Rio Amazonas injeta um volume de água, equivalente a 170 bilhões de galões para o Atlântico (60 vezes o fluxo do Nilo). A floresta é tão densa e rica que ainda não foi possível para os biólogos catalogarem todas as suas formas de vida. Estima-se que em apenas 10 km² de floresta, existam 750 espécies de árvores, 125 de mamíferos, 400 de pássaros, 100 de répteis e 60 de anfíbios. Cada espécie de árvore, pode suportar mais de 400 espécies de insetos. Uma exuberância que explica porque o Brasil, que abriga em seu território a maior parte da Amazônia, vem sofrendo tantas pressões internacionais nos últimos anos. Organizações de crédito internacional, condicionam novos empréstimos ao Brasil a uma reformulação política de desenvolvimento e ocupação da Amazônia. Lideranças políticas e ecológicas, principalmente de países desenvolvidos, criticam o imobilismo do governo brasileiro diante da destruição da floresta. A luta pela preservação da Amazônia se transformou numa causa mundial. São pressões internacionais que nossos governantes terão que enfrentar, até porque a destruição da Amazônia, além de significar a perda de um incalculável patrimônio genético, pode levar ao agravamento do efeito estufa, um problema considerado, hoje, por muitos cientistas, como um inimigo tão desafiador quanto a perspectiva de uma guerra nuclear: entre os gases que a queima da floresta libera está o dióxido de carbono. Entretanto, a questão do efeito estufa, que pela complexidade se mantinha restrito a ambientes científicos, passa a fazer parte da vida de cada brasileiro desde o nascimento. Mesmo sem conhecer a dimensão da culpa, cada cidadão já contribui para as mudanças climáticas que ameaçam a vida no planeta. Uma responsabilidade que o mundo não parece perdoar. A verdadeira riqueza da Amazônia é sua diversidade biológica e genética, que está ameaçada pela ignorância de nossa sociedade e pelas imensas demandas sociais e econômicas de um país pobre, cujo povo se vê constantemente tangido em busca de melhores oportunidades ou do mito do Eldorado. A miséria do país e a falta de um planejamento ordenado de ocupação territorial são os grandes perigos que rondam a Amazônia. Defender mitos que não subsistem às teorias científicas, como o de que a Amazônia é o pulmão do mundo, ou entrar na discussão de temas ainda controversos como o efeito estufa, têm sido caminhos muito usados nos meios científicos e que usualmente, não levam a lugar nenhum. Isso porque a humanidade mal conhece ainda o que existe em seu habitat. De cerca de 1 milhão e 700 mil espécies classificadas pela Ciência até hoje, estima-se que deve existir outras 30 milhões de espécies no planeta, ainda não catalogadas e estudadas. A maioria dessas 30 milhões de espécies desconhecidas, encontram-se seguramente na Amazônia e queimá-las, juntamente com a floresta, pode representar mais do que a queima de bibliotecas como a de Alexandria, com um empobrecimento geral para a própria espécie humana. O grande desafio que se coloca o Brasil é não só em vencer sua própria miséria, mas saber explorar a Amazônia com inteligência e perícia, para não destruir a riqueza que é da humanidade toda, segundo os cientistas. A exploração dos recursos da floresta deve ser de forma autossustentável, sem comprometer a sobrevivência das espécies desses ecossistemas. Diante das maiores dificuldades de manejar os recursos naturais, existe a certeza de que através do comprometimento e competência, é possível o consumo sustentável dos nossos biomas, propiciando a recuperação desejada dos solos, rios e sem dúvida a água dos mananciais. Sabemos que estamos perdendo muitas espécies, à medida que os biomas são sistematicamente destruídos. Os seres humanos estão desmatando hectares de florestas todos os dias e tendo em vista a amplitude de espécies conhecidas, podemos dizer que a cada hora, em torno de três espécies desaparecem e ainda, a maioria delas antes que tenhamos a oportunidade de lhes dar um nome. Em verdade, estamos em meio de uma crise de extinção de proporções, que não são relatadas desde a última das cinco extinções em massa principais, que atingiram a Terra há aproximadamente 65 milhões de anos. Devemos nos preocupar com isso? A resposta pertinente é sim: sem dúvida precisamos de nossos viveiros de peixes e outras espécies aquáticas, das florestas com suas interações e dos reservatórios genéticos para a produção de novos medicamentos, além do reabastecimento dos suprimentos agrícolas. Devemos trabalhar com o compromisso, de que todos envolvam-se com o que chamamos de Ecologia Social, descobrindo e definindo princípios que geram o equilíbrio lógico, permitindo a sobrevivência harmoniosa dos seres na superfície da Terra.