A Longa Jornada
Divulgado no domingo 19/Dez/2004
Por Brian Germain
Há muitas áreas neste esporte à quais podemos nos dedicar, são diversas as
oportunidades de aprimoramento. Concentrando-se seriamente em uma única disciplina, é
possível se alcançar expressiva notoriedade em um período relativamente curto de tempo.
Através da utilização de técnicas avançadas de treinamento, personal coaching e túnel de
vento, os pára-quedistas de hoje são capazes de atingir significante proficiência em apenas
alguns meses de participação no esporte. Muito embora a veloz retribuição de nossos anseios
seja tentadora e recompensadora em curto prazo, há um objetivo maior, mais importante. Nós
devemos sobreviver.
Perguntei a Lew Sandborn qual ele achava ser o maior problema no esporte hoje em
dia. Com muito pouca hesitação ele disse que sua maior preocupação era com os “novos
atletas tentando fazer um nome para si mesmos antes que suas habilidades estivessem
prontas para se ter esse nome”. Nós queremos tudo de uma vez, alcançando
instantaneamente nossos objetivos. Em uma meta tão complexa como o pára-quedismo, é
impossível conseguir toda a informação necessária em um curto período de tempo. Temos que
aprender continuamente e torcer para que nosso estoque de conhecimento esteja cheio antes
que o da sorte se esvazie.
É difícil enxergar o grande cenário das nossas vidas a partir do onde estamos em
determinado momento. Nós nos esquecemos que as medalhas pelas quais nos empenhamos
tão duramente não significarão muita coisa quando estivermos mais velhos. Elas serão apenas
algo a mais para encaixotar quando nos aposentarmos em alguma praia ensolarada. No final
das contas, as coisas mais importantes dependerão de escolhas do passado que desejaremos
terem sido diferentes. Torcer um tornozelo hoje pode parecer uma coisa menor, mas daqui a
50 anos será algo que nos afetará quer possamos ou não saltar novamente.
Imagine-se daqui a 40 ou 50 anos. Você ainda está saltando? Você sente dores nas
juntas por causa de um pouso ruim? A qualidade da sua vida no futuro depende de escolhas
que você faz hoje. Se aquele sábio velhinho que você será um dia pudesse de alguma forma se
comunicar com você hoje, talvez ele dissesse algo do tipo: “Pare de maltratar meu corpo!”
Somos inseguros quando somos jovens. Somos tão incertos sobre quem somos que
sentimos certa necessidade de nos colocar à prova sempre que há oportunidade. Nós achamos
que nossa identidade se baseia em nossa mais recente performance. Somos capazes de
grandes esforços para demonstrar ao mundo quem somos e frequentemente pagamos um
preço alto por nossa impulsividade. Objetivos de curto prazo evitam considerar qualquer coisa
que não contribua para sua realização. Se parecer legal usando um equipamento ok é sua
maior prioridade, talvez você se veja entrando para o clube dos pára-quedistas mortos antes
que se passe muito tempo.
Detesto soar como um agourento. As pessoas acham que preocupar-se com segurança
significa que você tem que ser chato. Não é verdade, de jeito nenhum. Nós podemos nos
divertir; só não devemos pisar tudo no acelerador se quisermos controlar para onde vamos. Os
sobreviventes mais antigos neste esporte parecem todos possuírem essa perspectiva,
independentemente de falarem ou não sobre isso. Nós nos sentamos em volta de nossos
trailers nos boogies, balançando nossa cabeça em condenação ao ridículo comportamento que
se repete uma vez atrás da outra. Nós vemos as pessoas cometerem os mesmos erros do ano
passado e de vinte anos antes disso. É como se a mensagem não conseguisse ser transmitida
ou algo assim. A mensagem é “Acalme-se, essa é uma longa jornada.”
Em todo salto existe um jeito para sua vida terminar. Não importa quantos saltos você
tenha em sua caderneta, a Morte está aguardando seu momento de distração. Ela está
procurando aquele detalhe para o qual você não está preparado. Isso não exige seu medo,
mas sua atenção. Se você quer participar do Campeonato de Swoop para maiores de 60 anos,
você deve parar de se colocar à prova a todo instante e se concentrar nas coisas que
realmente importam.
A verdadeira identidade do pára-quedista não reside em quantas medalhas ele ganhou
ou no estilo de seus swoops, mas por quanto tempo e o quão seguramente salta. Não existem
Skygods com menos de 60 anos. Se você quiser experimentar, fique vivo.
BG
BrianGermain é autor do livro The The Parachute and its Pilot, com um texto didático sobre
pilotagem de velames, e também de Vertical Journey, um livro educativo e ilustrado sobre
freefly. Brian também é presidente da Big Air Sportz, fabricante americana de velames, e
ministra cursos de pilotagem de velame em todo o mundo. Para saber mais à respeito de Brian
ou para encomendar um livro, clique em www.BrianGermain.com
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