ACTUALIDADE
Jubileu de ouro
Ao serviço de Deus
e da missão
Seis sacerdotes do Instituto
missionário da Consolata celebraram
cinquenta anos de vida missionária.
Dois deles, Aventino Oliveira e
Jaime Marques festejaram as
bodas de ouro sacerdotais. Quatro:
António Rossi, Eduardo Frazão, João
Coelho Baptista e Norberto Louro
completaram cinquenta anos de vida
religiosa. São, “300 anos de vida
missionária”, salientou Norberto
Louro, também ele jubilado, durante
a eucaristia comemorativa, a 7 de
Outubro, em Fátima. “A vocação
cristã é missionária. O cristão que
não é missionário põe em causa a
vocação cristã”, sublinhou.
Nós, ”procurámos ser fiéis
à palavra inicial da chamada
que não compreendíamos bem”,
disse referindo-se às vocações
dos mais novos.
António Rossi e João Coelho
sentiram-se chamados ao
sacerdócio, já adultos. “Deixaram
tudo e foram”. Ser missionário, hoje
– defendeu – não é só uma tarefa de
religiosos mas “também de leigos”
que “no trabalho, na política, na
educação devem evangelizar”.
Superior provincial, Norberto Louro, ladeado pelos colegas, celebrando juntos as bodas de ouro sacerdotais e de consagração religiosa
texto Lucília Oliveira fotos E. Assunção
Jaime Marques
Aventino Oliveira
Cinquenta anos de
sacerdócio marcados por diversas e
profundas mudanças nos contextos
em que o exerceu,
o missionário destaca a sua acção em
Moçambique como
“o tempo áureo” .
Para Jaime Marques, “nada mais gratificante para um missionário do que assistir
e colaborar na ressurreição daquele povo
e na renovação daquela Igreja”.
Foi ali que viveu o tempo mais
fecundo, mas também, o mais difícil:
“Não faltaram riscos sérios, pois estávamos em guerra contínua, mas foi
um período muito gratificante”.
Deposita grande esperança nos jovens
para o futuro da sociedade e da Igreja
e defende que “seja a Igreja sejam os
jovens, devem fazer um esforço de aproximação e de maior compreensão”.
Para o missionário “cada vez é mais
necessário assumir e defender a própria
identidade. Vida cristã e laicismo são
incompatíveis”. Por isso, “os jovens
que desejem servir a sociedade, a Igreja
devem compreender e estimar o valor
das privações, do voluntariado, da missão e do sacerdócio.
“Creio que por
meio de mim
Deus atingiu muitos milhares de
pessoas de várias
maneiras”, salienta
Aventino Oliveira
que atingiu o jubileu de ouro sacerdotal. Para o missionário “só um comportamento que
responda aos compromissos assumidos
durante a ordenação sacerdotal pode
resolver a problemática dos nossos dias
no que respeita à religião católica”.
É da opinião que o maior problema
da Igreja reside no facto de “vários
sacerdotes já não se considerarem
como tendo sido consagrados para
um ministério sacerdotal em favor do
povo de Deus, mas comportarem-se
como sendo simplesmente membrosagentes quaisquer da comunidade”.
Como conquistar os jovens que hoje
vivem afastados de Deus? Eles “absorvem ideias que são contrárias a Deus, à
Igreja, à religião” em “mil e uma actividades públicas e privadas (internet,
canções, filmes, críticas exageradas)”
e muitos “ignoram a maior parte do
conteúdo da fé”. Aos jovens, Aventino
Oliveira lança o desafio: “Não se deiFÁTIMA MISSIONÁRIA
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Edição LIII | Novembro de 2007
xem arrastar pela corrente anónima
duma camaradagem sem destino nem
finalidade. Apreciem o facto de que
Deus, desde toda a eternidade, os escolheu para serem felizes com Ele”.
Norberto Louro
“Esta
aventura ímpar teve
três intervenientes
principais:
Deus, o Instituto
Missionário da
Consolata e, claro
está, eu próprio”,
comenta o superior provincial, a
propósito destes 50 anos de vida religiosa. O Instituto deu-lhe “uma coisa
de valor incalculável: a oportunidade
de ser missionário”. Daí resulta uma
“alegria incalculável que procuro
saborear e comunicar”.
A falta de liberdade experimenta­da
durante a guerra civil em Moçam­
bique marcou-o. O momento de maior
alegria aconteceu quando aí aprendeu
“a viver do essencial” o que “é um
alívio incalculável e faz sentir o gosto
de ser livre”, comenta.
Vivemos numa sociedade laicista e
esquecida de Deus e a vida religiosa
deixou de ser atractiva. Para alterar
esta situação, “é preciso fazer uma
experiência pessoal de Deus, de despojamento de coisas que ocupam o
lugar de Deus”. É certo que “quem
converte é Deus, mas o testemunho
coerente de quem crê e já fez essa
experiência, pode ser o fermento que
desperta a fome de Deus”, advoga.
Aos mais novos lança o desafio:
“Deixem-se cativar por Deus. Ele é o
belo, o bom e o verdadeiro que todos
procuram. Tudo o resto são tretas”.
João Coelho
“Gostaria de po­­
der recomeçar”,
diz o padre João
Coelho Baptista,
em jeito de balanço destes 50 anos
de vida religiosa.
“Como já aprendi
o caminho, tudo
seria mais fácil”,
salienta. Vivências e experiências
marcantes “tive muitas e dignas de
ficarem escritas”, comenta.
A propósito dos jovens, manifesta o seu
optimismo e defende que “ainda os há
bons e generosos, prontos a entregar
a vida pelo reino de Deus”. Da vasta e
grande experiência que possui com os
mais novos, lembra que, dos adultos, eles
“exigem muito pouco: apenas que lhes
digamos a verdade e com convicção”.
Rossi Severo
Não há balanço
a fazer destes 50
anos de vida consagrada porque
“a vida religiosa
não é um programa humano, é um
programa que vem
de Deus”, salienta António Rossi.
Diz que “sem esta luz que nos conduz,
perde sentido a vida religiosa”. Ao
longo destes anos "tem sido o Espírito
Santo que se tem servido dele para fazer
a vontade do Senhor", comenta.
Momento mais “bonito”, foi o da ordenação sacerdotal, pela “alegria do sacerdócio”. António Rossi afirma que “a alegria
de ser padre foi sempre a alegria maior
da minha vida” e ao longo dos anos tem
ajudado as pessoas que precisam.
Como causa da diminuição de vocações
consagradas nos dias de hoje, aponta
a “falta de espiritualidade profunda”.
Se os jovens descobrirem o “amor profundo de Deus”, daí nascerá a vocação.
Recomenda-lhes: “Deixem-se conduzir
pelo Senhor”, numa “experiência profunda do amor de Deus”.
FÁTIMA MISSIONÁRIA
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Edição LIII | Novembro de 2007
Eduardo Frazão
A experiência de
dez anos no Brasil
marcou “a minha
vida como missio­
nário, ao lado do
“po­vo que era ex­­
plorado pelos lati­
fun­diários, desprezado pelos políticos,
mas preferido pela
Igreja local”, afirma Eduardo Frazão.
Cinquenta anos depois de ter dito
“sim” ao convite do Senhor, faz um
balanço positivo, salientando que um
“momento difícil” foi quando, depois
de vinte anos dedicados à formação
no seminário e à animação através da
FÁTIMA MISSIONÁRIA, “comecei a
ver que me faltava a experiência além
fronteiras”.
Para cativar os jovens e oferecer-lhes
uma vida mais ligada a Deus “os meios
de comunicação são importantes”. No
entanto, “estou convencido de que o
testemunho de vida dos animadores
é fundamental”. Apesar das mudanças do mundo em que vivemos, é
preciso “escutar o grito, muitas vezes
silencioso, de multidões que sofrem, e
anunciar-lhes o Reino de Deus, porque este é o projecto de Jesus Cristo”,
considera o missionário.
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