2ª Assembleia Luso Espanhola de Geodesia e Geofísica 2ª Asemblea Hispano Portuguesa de Geodesia y Geofisica Lagos 2000 1 Comparação entre detectores de Radiação Ultravioleta-B de banda larga Comparison between Ultraviolet-B Radiation broadband detectors Fernanda R. S. Carvalho(1), Diamantino V. Henriques(2) (1) (2) Instituto de Meteorologia, Rua C do Aeroporto de Lisboa, 1700 Lisboa, [email protected] Instituto de Meteorologia, Rua C do Aeroporto de Lisboa, 1700 Lisboa, [email protected] SUMMARY The stratospheric ozone depletion observed during last 15 years has called the attention of the scientific community about the expected Ultraviolet Radiation (UVR) increase at surface. The UVR monitoring in Portugal started in 1983 using Robertson-Berger broadband detectors (SUVMETER) at Lisboa/Gago Coutinho station. A new model of UV-B broadband detectors (UV-Biometer) has been compared with the existing detector in order to find eventual changes. Measurements performed with the SUVMETER from July to October 1999 show significant UV-B changes relative to the measurements carried out between 1983 and 1990 with the same instrument even after a correction made with the new detector. 1. INTRODUÇÃO A diminuição da quantidade total de ozono observada principalmente nas latitude médias e altas tem chamado à atenção da comunidade científica relativamente ao esperado aumento da radiação ultravioleta (UVR) à superfície (Madronich et al., 1997). Embora a medição regular da quantidade de ozono remonte aos anos 60, a medição da UVR teve início nos anos 70, principalmente nos EUA. Esta rede era constituída principalmente por detectores do tipo Robertson Berger RB), os quais possuem uma resposta espectral semelhante à da pele humana na região UV-B (280 nm-320 nm). Estes instrumentos pertencem à categoria de "broadband" ou "banda larga" porque a irradiância I resultante corresponde a um intervalo espectral relativamente largo: I = ò Fλ S λ dλ (1) onde Fλ e Sλ são respectivamente a irradiância espectral incidente e a resposta espectral do instrumento para o comprimento de onda λ. A resposta espectral é por vezes designada por espectro de acção relativamente a um determinado efeito, como por exemplo a queimadura solar ou eritema. Neste caso, a irradiância I representada na equação (1) designa a irradiância efectiva para o eritema. Os detectores do tipo RB têm respostas Sλ semelhantes ao espectro de acção do eritema. Estes espectros de acção têm um máximo de 100% por volta dos 305 nm, decaindo rapidamente até 10 % aos 320 nm e até 1% aos 330 nm. Por outro lado, a UVR à superfície aumenta rapidamente a partir dos 290 nm devido a absorção praticamente total do ozono na atmosfera até os 280 nm. É precisamente na região do UV-B onde a radiação é mais sensível variações do ozono atmosférico. Por outro lado, para o caso da irradiância efectiva para o eritema estas variações são como que amplificadas: dΩ dI = − RAF I Ω (2) onde dI/I e dΩ/Ω são respectivamente as variações relativas da irradiância efectiva e da quantidade total de ozono. O coeficieente RAF representa o factor de amplificação da radiação (Radiation Amplification Factor), que para o caso do eritema varia entre 1.1 e 1.2. Deste modo, para variações na quantidade total de ozono de 10%, a variação correspondente da irradiância efectiva para o eritema varia entre 11% e 12% . No entanto, existem outros factores que contribuem para a atenuação da radiação UV-B, como por exemplo o aerossol atmosférico, as nuvens e até o próprio ar (Rayleigh). Existem também outros que podem contribuir para um aumento da radiação à superfície como por exemplo a reflexão proveniente de certos tipos de nuvens. Para além das influências de todos estes factores ambientais existem sempre os erros instrumentais que dificultam ainda mais a análise das observações. De facto, os detectores do tipo RB desenvolvidos inicialmente possuíam uma forte dependência com a temperatura (1% K-1) a qual representa uma incerteza importante na avaliação de tendências de séries longas como as dos EUA. 2. OBSERVAÇÕES PORTUGAL DA RADIAÇÃO UV-B EM A observação sistemática da radiação UV-B em Portugal teve início em 1983 no extinto Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) (Gonçalves et al., 1991). As observações foram efectuadas na estação aerológica de Lisboa/Gago Coutinho (38°46'N, 07°08'W, 105 m), utilizando detectores de banda larga do tipo RB da marca Solar Light, também designados por SUVMETER (Sunburning UV Meter Model 500) ou simplesmente SL500. Estes detectores consistem basicamente numa doma de Vycor que recebe toda a radiação num ângulo sólido de 2π (global), num filtro UG11 que absorve a radiação visível deixando passar apenas a UV, num elemento sensível de fósforo que recebe a radiação UV e emite luz verde, um filtro posterior para deixar passar apenas a luz verde e finalmente por um fotodiodo que recebe a luz verde e a transforma num sinal eléctrico. O sinal é amplificado por forma a ser registado, permitindo assim um registo contínuo da radiação UV. O detector é calibrado de fábrica por forma a que a saída seja directamente proporcional a irradiância em MED/h. Um MED (Minimum Erithemal Dose) ou dose mínima eritemal é equivalente a 210 Jm-2 (CIE). Em 1988, o INMG adquiriu 2 espectrofotómetros Brewer MKII, financiados pela extinta JNICT (Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica) que também tinha financiado a aquisição de um segundo detector SL500. O espectrofotómetro Brewer permite efectuar medições da irradiância espectral global entre 280 nm e 325 nm. As irradiâncias espectrais podem ser convertidas em irradiâncias efectivas utilizando a resposta espectral do detector que é fornecida pelo fabricante. Durante algumas comparações efectuadas em Lisboa com os dois instrumentos concluiu-se que os valores do SL500 eram cerca de 11% menores que os do espectrofotómetro Brewer (Fernanda et al., 1998), mas para ângulos zenitais do Sol mais elevados essa diferença diminuía significativamente e inclusive mudava de sinal. Devido à dificuldades na exploração do detector SL500 entre 1994 e 1999, quer por falta de pessoal quer por avaria dos sistemas de aquisição de dados, o seu funcionamento foi muito irregular. Recentemente, o Instituto de Meteorologia (IM) adquiriu 5 sistemas de detecção UV da nova geração, UV-Biometer 501 (Solar Light), aqui designados por SL501 e que são basicamente do mesmo tipo que os SL500 mas com a vantagem de poderem estabilizar a temperatura do sensor por forma a reduzir a influência da temperatura nas medições. Estes sistemas foram financiados pelo Projecto HARTLEY (Programa PRAXIS XXI) com vista a instalação de uma rede de medida da radiação UV-B em Portugal Continental. Neste contexto e por forma a avaliar as diferenças existentes entre os dois sistemas, em Julho de 1999 foram instalados no terraço da sede do IM, que dista cerca de 2 km da estação de Lisboa/Gago Coutinho. Lagos 2000 2ª Assembleia Luso Espanhola de Geodesia e Geofísica 2ª Asemblea Hispano Portuguesa de Geodesia y Geofisica 2 300 V.Médio (1983-1990) Máximo (1983-1990) Mínimo (1983-1990) 250 SL501 (1999) SL500 (1999) 0.01 MED 200 150 100 50 0 J F M A M J J A S O N D Mês Figura 1 – Valores médios, máximos e mínimos da irradiação semihorária UV-B efectiva para o eritema para cada dia do ano, observados com o SL500 na Estação de Lisboa/Gago Coutinho no período de 1983 a 1990 e integrados no intervalo entre as 11:30 e as 12:00 (TSV). Encontram-se também representados os valores observados em 1999 pelos instrumentos SL500 e SL501. (Average, maximum and minimum values of UV-B half hour erithemally effective doses measured with SL500 at Lisbon/Gago Coutinho station between 1983 and 1990 and integrated over 11:30 and 12:00 TSV period. Measured values in 1999 with the SL500 and SL501 instruments are also displayed). 3. RESULTADOS Ambos os sistemas foram configurados por forma a registarem valores integrados em 60s em Tempo Universal Coordenado (TUC). O registador do SL500 não possui memória mas permite a conversão digital do sinal analógico do detector e sua ligação a uma porta série de um PC, através de uma interface RS232, registando os valores médios em 60s em MED/hora. O registador do SL501 possui memória e permite também a transferência dos dados armazenados para um PC, ficando registado o valor em MED/minuto. Os resultados foram posteriormente processados por forma a obterem-se valores integrados em 30 minutos e em Tempo Solar Verdadeiro (TSV), comparáveis aos valores publicados por Gonçalves et al. (1991). Na figura 1 encontram-se representados os valores médios, máximos e mínimos para cada dia do ano, observados com o SL500 na Estação de Lisboa/Gago Coutinho no período de 1983 a 1990 e integrados no intervalo entre as 11:30 e as 12:00 (TSV). Na mesma figura encontram-se também representados os valores observados em 1999 pelos dois instrumentos (SL500 e SL501). Pode observar-se que em média as medidas com o SL500 em 1999 ultrapassam muitas vezes os valores máximos observados no período de 1983 a 1999. Por outro lado pode observar-se também que as medidas com o SL501 são cerca de 13% inferiores as efectuadas com o SL500 no mesmo ano. Este último resultado encontra-se de acordo com o esperado, pois diferenças desta ordem foram encontradas também durante campanhas de intercomparação de instrumentos realizadas em outros locais (Letszcynski et al., 1996). As diferenças relativamente ao período 19983-1990 poderão ser por isso de natureza instrumental. No entanto, mesmo depois de corrigidos, verifica-se que cerca de 18% dos valores ultrapassam os respectivos máximos e que a diferença chega por vezes a ser de 12%. Contudo, é possível que a combinação de vários factores possam justificar tal diferença. De facto, como já foi dito atrás, uma diminuição de por exemplo 5 % na quantidade total de ozono em 1999, relativamente ao período de 1983-1990 pode justificar um aumento de 5.5% a 6.0% na irradiância UV efectiva para o eritema. Porém, esta hipótese deverá ser confirmada analisando as observações de ozono disponíveis na Estação de Lisboa/Gago Coutinho. Como se pode também notar, existe uma aproximação gradual dos valores a medida que se avança para o Inverno, ou seja para menores elevações do Sol. Este resultado também é encontrado na variação diária entre os instrumentos. Os modelos espectrais simplificados podem neste caso contribuir para simular separadamente os efeitos de cada um dos factores relevantes (ozono, aerossóis, nuvens, etc.) e alterações na resposta espectral dos instrumentos. 4. CONCLUSÕES Os resultados obtidos em 1999 utilizando dois detectores de UV-B de banda larga da marca Solar Light, apresentam diferenças da ordem de 13%, que se podem considerar aceitáveis tendo em conta que um dos detectores (SL501) é um novo modelo que inclui estabilização de temperatura e que ambos possuem respostas espectrais diferentes. Relativamente ao período de 19831990, foram encontradas diferenças significativas nas medidas do SL500, relativamente aos valores máximos observados próximo do meio dia solar verdadeiro, que podem ser atribuídas a alterações instrumentais, havendo portanto necessidade de averiguar a existência de uma eventual alteração na quantidade total de ozono, espessura óptica do aerossol ou regime de nebulosidade, relativamente ao mesmo período. 5. REFERÊNCIAS Carvalho, F.R.S and D. Henriques (1998): "“UV-B Measurements in Portugal”, Report of the WMO Meeting of Experts on UV-B Measurements, Data Quality and Standardization of UV Indices, Les Diablerets, Suiça, de 21 a 25 de Julho de 1997. Gonçalves, C., F. Oliveira, G. Mendonça, e A. Gavieiro (1991): "A Propagação da radiação electromagnética - Ultravioleta B, incidências no aspecto biológico", INMG. Letszcynski, K., K. Jokela, L. Ylianttila,R. Visuri and M. Blumthaler (1996): Report of the WMO/STUK Intercomparison of Erithemally-weighted solar UV radiometers, Helsinki, Spring-Summer, 1995. ), WMO -TD No.781. Madronich, S., J. Damski, Q. Dai, E.W. Hare and D. Henriques (1997): "UV-B radiation and its Effects on the Biosphere". The Stratosphere asnd Its Role in the Climate System (NATO ASI), I-54, 21, 173-198.