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Avaliação de testes rápidos para detecção anti-HIV no Brasil
Orlando C. Ferreira Juniora, Cristine Ferreirab, Maristela Riedelc, Marcya Regina Visinoni Widolinc e Aristides Barbosa
Júniorb
pelo Grupo de Estudos de Testes Rápidos Anti-HIV
Objetivos: Esta avaliação foi realizada no Brasil a fim de averiguar o desempenho do teste rápido
(TR) anti-HIV comercialmente disponível em relação ao padrão-ouro para testagem, bem como
estabelecer um algoritmo altamente sensível e específico para TR para o diagnóstico do HIV.
Desenho: Estudo prospectivo, anônimo e desvinculado.
Metodologia: Realização de uma avaliação de sete TR comercialmente disponíveis a fim de
comparar o desempenho dos mesmos com o padrão-ouro brasileiro. Isto inclui dois imunoensaios
de enzima (EIA) diferentes e mais um teste confirmatório Western Blot. Após obter o
consentimento informado, foram coletadas amostras de sangue total de voluntários em centros de
testagem e aconselhamento voluntário (n = 400), serviços de atenção pré-natal (n = 500) e controles
HIV positivos em serviços de referência em Aids (n = 200). Dois painéis de soroconversão, um
painel de subtipos de HIV-1 (B, B´, C e F) e uma avaliação de desempenho operacional dos ensaios
também faziam parte dos parâmetros do estudo.
Resultados: A sensibilidade clínica dos sete TR variou entre 97,74 e 100%. Contudo apenas quatro
TR foram considerados aceitáveis após avaliação completa. Os dois EIA tiveram sensibilidade
clínica de 100% e especificidade clínica de 99,66%. Dois TR obtiveram o mesmo desempenho que
os EIA nos painéis de soroconversão. A avaliação do desempenho operacional dos TR indicou que
o Hexagon e o Capillus não poderiam ser classificados como ensaios simples.
Conclusão: Demonstramos que TR podem ter um desempenho igual ou melhor que o EIA para a
detecção de anticorpos anti-HIV. A simplicidade e rapidez dos TR justificam sua utilização em um
algoritmo para um diagnóstico rápido de infecção por HIV.
© 2005 Lippincott Williams & Wilkins
AIDS 2005, 19 (suppl 4):S70–S75
Palavras-chave: avaliação de testes rápidos, teste rápido de HIV, ensaios sorológicos rápidos,
testagem e aconselhamento voluntário, atenção pré-natal, testagem para HIV com sangue
total.
Introdução
A estratégia convencional para o diagnóstico da infecção pelo HIV-1 no Brasil inclui a combinação
de dois imunoensaios de enzima (EIA) diferentes mais um ensaio confirmatório, utilizando o
Western Blot ou imunoflorescência (conhecido como o ‘padrão-ouro’).
a
Laboratório de Virologia Molecular, Departamento de Genética, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, bPrograma Nacional de DST/Aids do Brasil, Sao Paulo, e cLaboratório Municipal de Curitiba.
Correspondência: Orlando C. Ferreira Junior, Laboratório de Virologia Molecular, Departamento de Genética,
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Centro de Ciências da Saúde - CCS, Bloco A, Sala 121, 2º andar, Av.
Brigadeiro Trompowsky s/n, 21944-970, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail:
[email protected]
S70 ISSN 0269-9370 © 2005 Lippincott Williams & Wilkins
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Este sistema de diagnóstico é altamente específico e sensível para a detecção de anticorpos antiHIV-1, porém tem algumas restrições operacionais. O sistema requer técnicos de laboratório
altamente capacitados e infra-estrutura laboratorial avançada. Além disso, o tempo para a devolução
do resultado para o cliente pode ser de 1 a 2 semanas ou mais, resultando assim na perda do
acompanhamento dos indivíduos, demoras no diagnóstico e no encaminhamento a serviços
essenciais de referência.
A partir de 1985, logo após a introdução do EIA, os testes anti-HIV-1 rápidos/simples (TR)
passaram a ficar cada vez mais disponíveis [1]. No início, o desempenho dos ensaios TR para o
HIV foi baixo quando comparado ao EIA. Contudo, nos últimos anos os ensaios rápidos/simples
foram melhorados e novos ensaios foram desenvolvidos com base em novas tecnologias [2].
Conseqüentemente, o desempenho de alguns ensaios TR para o HIV é comparável com o do EIA
[3–5]. Não precisam de habilidades laboratoriais e podem ser realizados com poucas etapas em
menos de 20 minutos.
A Organização Mundial da Saúde recomenda um algoritmo racionalizado para TR para o
diagnóstico do HIV-1 [3]. Como o valor preditivo de um único ensaio de testagem depende da
prevalência do HIV na população testada, um único ensaio TR para o HIV não é viável enquanto
ferramenta para o diagnóstico rápido do HIV. Portanto, a Organização Mundial da Saúde propôs a
utilização seqüencial de dois ou três ensaios TR para o HIV para o diagnóstico rápido da infecção
pelo HIV em indivíduos assintomáticos. Tal estratégia já foi aplicada com êxito em outros países
[6–8].
Neste projeto avaliamos sete ensaios TR para o HIV disponíveis comercialmente utilizando
amostras de sangue total de indivíduos em centros de testagem e aconselhamento voluntário (CTA)
e de gestantes em serviços de atenção pré-natal (APN). Nosso objetivo foi criar uma metodologia
para a avaliação de ensaios TR para o HIV utilizando sangue total no Brasil. Esta iniciativa abrirá o
caminho para o desenvolvimento e implementação futura de um algoritmo com três testes diferentes
que dependeria somente de ensaios TR para o diagnóstico rápido da infecção pelo HIV no Brasil.
Metodologia
Aprovação pelo Conselho de Ética
Trata-se de um estudo anônimo desvinculado aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em
Pesquisa, CONEP. O consentimento informado foi obtido de cada participante antes de ingressar no
estudo.
Coleta de amostras e testagem para o HIV
Entre 16 de junho e 29 de agosto de 2003, um total de 1.000 amostras foi coletado para avaliação a
partir de três sítios populacionais diferentes: (i) do CTA (n = 400); (ii) de serviços de APN (n =
500); e (iii) de indivíduos infectados com HIV, enquanto grupo de controle positivo (n = 200). Após
obter o consentimento informado, 5 ml de sangue total foram coletados através de punção venosa
em tubos de ácido etil-diamino-tetra-acético. As amostras foram etiquetadas e encaminhadas para o
Laboratório Municipal de Curitiba onde TR e os ensaios sorológicos padrão-ouro foram realizados
no mesmo dia.
Os sete TR avaliados foram: Determine HIV-1/2 (Abbott Laboratories, Diagnostics Division, 100
Abbott Park Road, Abbott Park, II 60064-3500, EUA); HIV Rapid Check (NDI-UFES, Núcleo de
Doenças Infecciosas, Universidade Federal do Espírito Santo, Av. Marechal Campos, 1468 –
Maruípe, 29.040-091, Vitória (ES), Brasil); Hexagon HIV 1+2 (Human GmbH, Max-Planck-Ring
3
21, D 65205, Wiesbaden, Alemanha); HIV 1/2 STAT PAK (Chembio Diagnostic Systems Inc.,
3661 Horseblock Road, Medford, BY 11763, EUA); Hema-Strip HIV-1/2 (Saliva Diagnostic
Systems, (SDS), 11719 NE 95th Street, Vancouver, WA 98682, EUA); Cappillus HIV-1/HIV-2 e
Uni-Gold HIV (Trinity Biotech plc, IDA Business Park, Bray, Co., Wicklow, Irlanda). Todos os
ensaios foram realizados e os resultados interpretados de acordo com as recomendações do
fabricante contidas nas bulas.
Quatro técnicos de laboratório fizeram uma escala para realizar dois TR por dia, com sangue total
em lotes de quatro amostras. O resultado de cada teste foi lido por dois técnicos e por um terceiro
técnico no caso de resultados discordantes.
Após a conclusão dos TR, as amostras foram centrifugadas a fim de recuperar o plasma
remanescente. O volume de plasma foi dividido em dois alíquotas: (i) 1 a 2 ml para o banco de
plasma; 5 (ii) 0,5 ml para testagem de padrão-ouro (EIA e, se necessário, o confirmatório com o
Western Blot).
Diariamente, três amostras (pelo mesmo uma negativa e uma positiva) foram selecionadas para um
procedimento de controle de qualidade. Todos os sete ensaios TR foram repetidos e, no caso de
resultados discordantes entre o TR inicial e a testagem de controle de qualidade, um terceiro teste
foi realizado com o lote da amostra inicial do TR no teste com resultado discordante. O resultado da
amostra foi a média dos três resultados obtidos.
A fim de garantia a compatibilidade, todas as amostras submetidas a testagem TR também foram
avaliadas utilizando o padrão-ouro, incluindo dois EIA em sanduíche de fabricantes diferentes:
Vitrus anti-HIV1/2 (Ortho-Clinical Diagnostics, Inc., Rochester, New York, EUA) e Axsym HIV1/2 gO (Abbott GmbH, Wiesbaden-Delkenheim, Alemanha) e o New Lav Blot I (Bio-Rad, Marnesla-Conquette, França) como ensaio confirmatório. Nossos critérios para resultado positivo com o
Western Blot exigem a presença da proteína gag p24 mais duas proteínas do envelope do vírus
(gp41, gp120 ou gp160), independente da intensidade da banda.
A fim de levar em consideração a sensibilidade analítica dos ensaios utilizados neste estudo,
utilizamos um painel comercial de soroconversão da Boston Biomedica Inc. (BBI; painel número
PRB931) e um painel interno de um doador de sangue soroconversor, identificado originalmente
por meio de técnica de testagem individual de ácido nucléico no Brasil.
O desempenho dos ensaios também foi avaliado utilizando um painel de subtipos de HIV-1
compreendendo os três principais subtipos do HIV-1 circulantes no Brasil (B´, C e F) mais o
subtipo B. Cada subtipo foi representado por quatro amostras.
Critérios utilizados para aceitação e pontuação do desempenho dos testes rápidos
Os critérios utilizados foram: (i) sensibilidade clínica (= 99,5%); (ii) sensibilidade ao painel de
subtipos; (iii) sensibilidade analítica a dois painéis de soroconversão; (iv) especificidade clínica (=
99,0%); e (v) desempenho operacional do ensaio.
O desempenho operacional do ensaio avalia algumas características operacionais positivas (escore =
1) e negativas (escore = 0) do ensaio conforme segue: (i) número de reagentes necessários para
realizar o ensaio (1, apenas um reagente necessário; e 0, mais de um reagente necessário); (ii)
temperatura de armazenamento do reagente (1, possibilidade de armazenar na temperatura
ambiente; e temperatura de 0, 2 a 8ºC necessária); (iii) número total de etapas do ensaio (1, igual ou
inferior a quatro etapas; e 0, mais de quatro etapas); (iv) tempo total de realização (1, igual ou
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inferior a 20 minutos e 0, mais de 20 minutos); e (v) habilidade técnica exigida do operador (1,
nenhuma experiência de laboratório; e 0, experiência de laboratório recomendada). O desempenho
do ensaio foi considerado como sendo bom se obteve pelo menos quatro pontos, e fraco se obteve
menos de quatro pontos.
Gestão de dados e análise estatística
Os resultados diários foram lançados em uma planilha de Excel (Microsoft Windows 2000;
Microsoft Corp., Redmond, Washington, EUA) utilizada para a análise dos dados e para o cálculo
do intervalo de confiança (IC) de 95%.
Resultados
Um total de 1.100 amostras foi testado com sete TR para HIV e os dois EIA padrão-ouro. Das 400
amostras do CTA, 23 foram reagentes repetidos em um ou dois testes EIA, e destas 18 foram
confirmados positivos com o Western Blot (prevalência do sítio de 4,5%; IC 95%: 2,5 a 6,5%). As
demais cinco amostras tiveram resultado indeterminado (n = 1) ou negativo (n = 4) com o Western
Blot. Das 500 amostras testadas do APN, seis foram reagentes repetidas em um ou dois testes EIA e
três amostras foram confirmadas com o Western Blot (prevalência do sítio de 0,6%; IC 95%: 0,0 a
1,3%). As demais três amostras tiveram resultado indeterminado (n = 2) ou negativo (n = 1) com o
Western Blot. Todas as amostras do grupo de controle positivo foram reagentes repetidas e
positivas com o Western Blot.
Avaliação de sensibilidade e especificidade clínica
Por meio dos ensaios padrão-ouro, 221 amostras foram caracterizadas como sendo positivas com o
Western Blot e serviram para a avaliação da sensibilidade clínica dos TR. Todas as demais 879
amostras (do CTA e do APN) foram consideradas como tendo anticorpos negativos ao HIV-1/2,
incluindo as 871 amostras negativas nos dois testes EIA, as cinco amostras negativas utilizando o
Western Blot e as três amostras com resultado indeterminado utilizando o Western Blot.
A Tabela 1 mostra a sensibilidade e especificidade clínica dos TR e dos dois EIA. Todos os TR com
a exceção do HemaStrip e do Hexagon detectaram as 221 amostras confirmadas positivas pelo
Western Blot (sensibilidade clínica de 100%). O ensaio Hexagon não identificou duas das amostras
e o ensaio HemaStrip não identificou cinco amostras, resultando em uma sensibilidade clínica de
99,10% (IC 95%: 97,85 a 100%) e 97,74% (IC 95%: 95,78 a 99,70%), respectivamente.
Tabela 1. Sensibilidade e especificidade clínica dos sete testes rápidos, e dos dois imunoensaios
de enzima padrão-ouro.
Sensibilidade clínica (n = 221)
Ensaio
Determine
RapidCheck
UniGold
Stat Pak
Capillus
HemaStrip
Hexagon
Vitrus EIA
Axsym EIA
Sens (%)a
100
100
100
100
100
97,74
99,10
100
100
IC 95%b
–
–
–
–
–
95,78
97,85
–
–
IC 95%c
–
–
–
–
–
99,70
100
–
–
Especificidade clínica (n = 879)
Espec (%)d
99,89
99,89
100
99,77
100
100
99,43
99,66
99,32
IC 95%b
99,66
99,66
–
99,46
–
–
98,94
99,27
98,77
IC 95%c
100
100
–
100
–
–
99,93
100
99,86
5
EIA, imunoensaio de enzima.
Sensibilidade clínica do ensaio.
b
Limite inferior do intervalo de confiança (IC) de 95%.
c
Limite superior para o IC de 95%.
d
Especificidade clínica do ensaio.
a
Tabela 2. Avaliação do desempenho operacional do ensaio baseado em cinco características do
teste rápido.
Escore para a avaliação do desempenho operacional do ensaioa
Ensaio
Determine
RapidCheck
UniGold
Stat Pak
HemaStrip
Capillus
Hexagon
Nº de
reagentes
1 (1)
1 (1)
1 (1)
1 (1)
1 (1)
0 (3)
0 (3)
Tempertura de
armazenamento
do reagenteb
1 (2–30)
1 (2–27)
1 (2–27)
1 (8–30)
1 (2–33)
0 (2–8)
0 (2–8)
Nº de.
etapasc
Tempo de
realizaçãod,e
1 (4)
1 (3)
1 (3)
1 (3)
1 (4)
0 (6)
0 (11)
1 (16 : 30)
1 (10 : 30)
1 (10 : 30)
1 (10 : 30)
1 (15 : 45)
1 (9 : 00)
1 (9 : 10)
Habilidades Desempenho
do ensaio
técnicas do
operador
1
1
1
1
1
0
0
Bom (5/5)
Bom (5/5)
Bom (5/5)
Bom (5/5)
Bom (5/5)
Fraco (1/5)
Fraco (1/5)
a
Os valores entre parênteses representam os reais parâmetros avaliados.
Faixa de temperatura em ºC.
c
As etapas incluem todas as atividades realizadas pelo operador, mais o tempo de incubação, antes
da leitura do teste.
d
O tempo de realização inclui o tempo completo de incubação e uma média de 15 segundos por
etapa, com a exceção do Capillus (algumas etapas podem levar de 30 segundos a 1 minuto) e do
Hexagon (média de 20 segundos por etapa).
e
Os valores entre parênteses representam minutos : segundos.
b
Os ensaios UniGold, Capillus e HemaStrip tiveram especificidade clínica de 100%, seguidos dos
ensaios Determine e RapidCheck com especificidade clínica de 99,89% (uma amostra não
identificada), o ensaio Stat Pak com especificidade clínica de 99,77% (duas amostras não
identificadas), e o ensaio Hexagon com especificidade clínica de 99,43% (cinco amostras não
identificadas). O EIA Vitrus não identificou três amostras (duas oriundas de APN) e o EIA Axsym
não identificou seis (três de APN), resultando em especificidade clínica de 99,66 e 99,32%,
respectivamente. Os nove resultados falso-positivos detectados pelos TR foram relativos a nove
amostras diferentes. Contudo, o TR Hexagon e o EIA Axsym geraram resultados falso-positivos da
mesma amostra de APN. Este mostra foi indeterminada com Western Blot com a presença de p24,
uma banda p55 fraca e uma banda p66 fraca.
Painéis de soroconversão e painel de subtipos de HIV-1
Todos os sete TR e os dois EIA foram testados contra dois painéis de soroconversão. O BBI
PRB931 é um painel com nove amostras, no qual as últimas quatro amostras têm anticorpos anti-
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HIV. Todos os TR e EIA, menos o TR Capillus, deram resultados positivos para as quatro amostras.
O Capillus deu positivo apenas para as últimas três amostras.
Nosso painel interno de soroconversão é um painel com seis amostras no qual as últimas quatro
amostras têm anticorpos anti-HIV (amostras 3 a 6). Além dos dois EIA, somente entre os TR, os
ensaios Determine e RapidCheck deram resultado positivo para as quatro amostras com anticorpos
positivos. Os TR UniGold, Stat Pak e Capillus deram positivo para as últimas três amostras apenas.
O TR HemaStrip deu um resultado positivo fraco apenas para a amostra número 6. O TR Hexagon
demonstrou um perfil irregular de reatividade. Deu positivo fraco para as amostras 1 e 4, positivo
para a amostra 5 e negativo para a amostra 6.
Todos os sete TR deram resultados positivos com todas as 16 amostras do painel de subtipos de
HIV-1.
Desempenho operacional dos ensaios
Cinco características dos TR foram utilizadas para avaliar seu desempenho conforme descrito na
seção sobre a metodologia.
O Determine, RapidCheck, UniGold, Stat Pak e Hema-Strip obtiveram um escore máximo (5/5)
(Tabela 2). Tipicamente, estes ensaios começam com a aplicação da amostra no aparelho de
testagem seguido da adição de uma solução tampão, o que leva menos de 2 minutos. Os resultados
devem ser lidos após 10 a 15 minutos, mas no caso de alguns ensaios o resultado pode ser lido em
até 20 (RapidCheck e UniGold) ou 60 (Determine) minutos. Qualquer indivíduo com capacitação
específica relativa a estes TR poderia realizar os ensaios. Além disso, a ampla faixa de temperatura
para o armazenamento dos reagentes inclui a temperatura ambiente.
O ensaio Capillus teve um desempenho fraco (escore de 1/5) (Tabela 2). Este ensaio tem três etapas
e utiliza três reagentes diferentes. Uma das etapas envolve a aplicação de partículas de látex no
aparelho de testagem e a agitação da amostra, sendo críticos para o bom desempenho do ensaio.
Esta etapa não é simples, visto que exige boas habilidades laboratoriais. O resultado do teste pode
ser lido em aproximadamente 9 minutos, mas novamente requer um técnico de laboratório bem
capacitado ou experiente para reconhecer a aglutinação de látex. A iluminação da área na qual o
teste está sendo realizado também pode afetar o reconhecimento da aglutinação e, portanto, a
interpretação do resultado também. Os reagentes devem ser guardados em ambiente refrigerado (2 a
8ºC), restringindo assim a utilização do teste no campo.
O desempenho do ensaio Hexagon também foi fraco (escore de 1/5) (Tabela 2). Este ensaio tem 11
etapas diferentes que podem levar até 4 a 5 minutos antes da incubação final que dura 5 minutos e
após a qual os resultados devem ser lidos imediatamente. Cada etapa envolve a adição de uma entre
três soluções diferentes que devem ser adicionadas tempestivamente. Fica claro que este ensaio
requer muito tempo e atenção. A leitura do resultado final requer habilidade visto que envolve uma
comparação entre alterações colorimétricas desenvolvidas na área de testagem com uma alteração
desenvolvida na área de controle. Assim como o ensaio Capillus, os reagentes devem ser mantidos
refrigerados (2 a 8ºC).
Procedimento de controle de qualidade
Os TR foram repetidos em um total de 157 amostras (14,3% do total de 1.100) para fins de controle
de qualidade. Duas amostras positivas com Western Blot do grupo de controle positivo
demonstraram resultados discordantes ao comparar o TR inicial com o teste de controle de
qualidade. Em um caso, o ensaio Hexagon deu negativo inicialmente mas o teste de controle de
7
qualidade e o terceiro teste repetido deram positivo, corrigindo assim o resultado falso-positivo
inicial.
O segundo caso envolveu os ensaios Stat Pak e HemaStrip. Ambos os ensaios deram positivo no
teste TR inicial mas o teste de controle de qualidade deu negativo para os dois ensaios. O terceiro
teste repetido deu positivo fraco no caso do ensaio Stat Pak, confirmando assim o resultado desta
amostra como positivo. Contudo, o ensaio HemaStrip deu negativo novamente.
Os escores de sensibilidade clínica para estes ensaios foram ajustados de acordo. Os TR Determine,
RapidCheck, UniGold e Capillus não tiveram qualquer resultado discordante entre o TR inicial e o
teste de controle de qualidade.
Avaliação cumulativa dos testes rápidos
O desempenho dos TR contra o painel de subtipos não serviu para discriminar o desempenho, visto
que todos os sete TR detectaram todos os quatro subtipos. A discriminação do desempenho dos
ensaios pôde ser observada na base dos quatro demais critérios.
Os critérios de sensibilidade clínica dividiram os sete TR em dois grupos: o Determine,
RapidCheck, UniGold, Stat Pak e Capillus demonstraram 100% sensibilidade clínica, enquanto o
desempenho dos ensaios Hexagon e HemaStrip não alcançou o valor limiar de 99,5%.
O ranking de Sensibilidade Analítica é importante porque pode ajudar a escolher um ensaio melhor
para os fins de testagem. Salienta-se que o desempenho dos ensaios Determine e RapidCheck foi
igual aos dois EIA padrão-ouro.
Todos os ensaios TR alcançaram os critérios do estudo relativos à especificidade clínica de 99,0%,
três ensaios de TR tiveram especificidade clínica de 100%; e seis obtiveram especificidade clínica
acima de 99,5%. A especificidade clínica de 100% observada no ensaio HemaStrip pode compensar
sua baixa sensibilidade (97,74%).
Os TR Determine, RapidCheck, UniGold, Stat Pak e HemaStrip obtiveram um escore operacional
máximo. Os ensaios Hexagon e Capillus não atenderam este critério porque seu escore foi abaixo
do nosso limite de descarte de quatro pontos.
Discussão
Este estudo é a primeira tentativa de avaliação sistematicamente dos TR comercialmente
disponíveis no Brasil, e de comparação de seu desempenho com a testagem padrão-ouro utilizada
no algoritmo nacional para o diagnóstico do HIV. Cinco parâmetros foram considerados na
avaliação de sete TR: sensibilidade clínica, especificidade clínica, sensibilidade analítica,
desempenho contra um painel de subtipos de HIV-1 e o desempenho operacional do ensaio.
Todos os sete TR tiveram um bom desempenho em termos destes parâmetros, mas quatro TR se
destacaram marcadamente: Determine, UniGold, Rapid-Check, e Stat Pak. Os dados sobre a
sensibilidade e a especificidade clínica são consistentes com os resultados de outros estudos [2,3,7].
Contudo, devemos relembrar que variações entre lotes de TR podem afetar a sensibilidade e a
especificidade.
Pelo menos dois TR (Determine e RapidCheck) tiveram um desempenho igual aos EIA quando
comparados contra painéis de soroconversão. Outros dois TR (UniGold e Stat Pak) deixaram de
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identificar apenas uma amostra (o que resultaria em uma diferença de 2 dias na detecção de
anticorpos anti-HIV) de um painel de soroconversão quando comparados com os EIA. Estes dados
proporcionam evidência de que o TR é uma boa alternativa à utilização de EIA para testagem,
conforme já sugerido por outrem [3–5,9].
Todos os TR e os dois EIA detectaram todas as amostras do nosso painel de subtipos de HIV-1 (B,
B´, C, F). Como os subtipos B´, C e F são os mais importantes no Brasil [10], acreditamos que
todos os sete TR funcionariam bem no país.
Em termos de facilidade de realização, o Capillus e o Hexagon receberam escores mais baixos que
outros TR porque precisam de mais de um reagente que deve ser guardado entre 2 e 8ºC, envolvem
mais de quatro etapas para sua realização, e requerem um grau de habilidade laboratorial por parte
do operador. Embora sejam testes rápidos (o tempo de realização é inferior a 10 minutos)
observamos que não são testes fáceis de realizar, sobretudo fora de um ambiente laboratorial. Os
demais cinco TR obtiveram um bom desempenho operacional com o tempo de realização variando
entre 10 : 30 a 16 : 30 (minutos : segundos). As características destes cinco TR fazem deles uma
excelente opção para o diagnóstico rápido do HIV em situações em que o tempo, as condições e o
pessoal de laboratório são limitados.
Quatro TR (Determine, RapidCheck, UniGold e Stat Pak) tiveram o melhor desempenho relativo a
todos os critérios de avaliação, e serão utilizados para construir um algoritmo para o diagnóstico
rápido da infecção por HIV no Brasil. Este diagnóstico por TR será avaliado subseqüentemente para
determinar seu valor programático.
Nossos resultados demonstram que qualquer grupo de dois entre os quatro TR daria um resultado
preciso de testagem. Na base da sensibilidade analítica, o Determine e o RapidCheck teriam a
mesma eficácia que os EIA para os fins de testagem. Um resultado discordante seria resolvido
corretamente através da aplicação de um terceiro teste decisivo, superando a necessidade de
confirmação por Western Blot. No nosso caso, o UniGold seria um ensaio ideal para esta finalidade
porque tem especificidade clínica de 100%.
A utilização generalizada de dois ensaios enquanto estratégia confirmatória deverá ser analisada
com cautela visto que alguns duplos de ensaios podem estar suscetíveis aos mesmos efeitos nãoespecíficos e portanto poderiam gerar um resultado falso-positivo. Recomendamos que antes de
implementar esta estratégia sejam realizadas avaliações adicionais da especificidade de determinado
duplo de ensaios utilizando um número grande de amostras negativas para anticorpos anti-HIV.
Para concluir, desenvolvemos uma metodologia para a avaliação de TR, e demonstramos de forma
documentada que os TR podem fornecer resultados de testagem para HIV altamente precisos iguais
aos EIA em termos de sensibilidade e especificidade. A vantagem em utilizar um algoritmo com TR
é sua simplicidade e rapidez quando comparado com os algoritmos que utilizam EIA e o Western
Blot para confirmação. Estas características podem ser úteis no lidar com algumas populações de
risco acrescido nas quais seja possível apenas uma oportunidade de aconselhamento e testagem
incluindo a entrega do resultado. Além disso, a adoção de uma estratégia apropriada poderia
ampliar a disponibilidade e a aceitabilidade do aconselhamento e testagem em HIV, o que poderia
aumentar o número de indivíduos alcançados e incentivados a adotar comportamentos de redução
de risco.
Agradecimentos
9
Este estudo foi co-patrocinado pelo Centers for Disease Control and Prevention, Global AIDS
Program, Atlanta, Georgia, EUA e pelo Programa Nacional de DST e Aids, Brasília, Brasil.
O painel de subtipos de HIV-1 foi gentilmente fornecido pelo Dr. Amilcar Tanuri da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Também gostaríamos de agradecer Dr. Mauro Niskier Sanchez do
Programa Nacional de DST/Aids por sua colaboração na fase inicial deste projeto.
Por último, agradecemos a William Brady, Peter Crippen e Suzanne Westman, do Centers for
Disease Control e Prevention/Global AIDS Program, pelo apoio e incentivo constantes.
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10. Brindeiro RM, Diaz RS, Sabino EC, Morgado MG, Pires IL, Brigido L, et al. Brazilian
Network for HIV Drug Resistance Surveillance (HIV-BResNet): a survey of chronically
infected individuals. AIDS 2003; 17:1063–1069.
Anexo
Outros integrantes do Grupo de Estudos do Teste Rápido Anti-HIV são: Tomoko Sasazawa Ito,
Rosamaria Megias Ligmanosvski Kuss e Sara Ferraz Vianti do Laboratório Municipal de Curitiba;
Maria Rita C.B. Almeida do CTA; Luiz Carlos Beira, Gefersson Alexandre Fernandes de Freitas,
Danielle Fontoura Teixeira, Márcia Maria Fantinatti Guerra, Luciana Kusman, Maria Terumi Kami,
Silvana Ribeiro Pienta, Paula Graciela Bochkariov, Ligia Fatima Simões, Michele Kessler, Patrícia
Regina Crozeta, Benedita Almeida dos Santos, Cristiane Ceccon de Souza Martinelli, Cristiane
Yumiko Osawa, Solange Dalazoana, Tania Mary Medeiros Karvat, Grizeldi Colla e Dulce Meri
Blitzkow dos serviços de Atenção Pré-Natal.
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Avaliação de testes rápidos para detecção anti