Só não coloquei o óleo de dendê tão recomendado. Em pouco tempo, o lugar ficou apinhado de barracas. Só então me dei conta de que eu não podia sair para fazer as minhas necessidades, tomar água ou banho e muito menos dormir. Fiz as contas e vi que teria que passar confinado naquele espaço oito dias e oito noites consecutivas. Não tive nem tempo para pensar muito na burrice que fiz, porque as vendas começaram fortes. Os “trios elétricos”, para entrarem na praça, paravam ao lado da barraca. O som derrubava as latas, tremiam eu, a barraca e os clientes. Não adiantava falar porque ninguém ouvia. Era o inferno na Praça Castro Alves. Quando começavam a andar, puxavam um mar de pessoas. Muitas vezes o cliente me dava o dinheiro e quando ia lhe entregar a cerveja só via a mãozinha dele, acenando de longe, sendo puxado pela correnteza humana. Naquela venda o lucro era de cem por cento. Às cinco da manhã vinha o bloco dos lixeiros, com trio e tudo. Com uma animação surpreendente, iam limpando, dançando e cantando. O barulho, porém, era menor. Eu vigiava por duas horas a barraca do meu vizinho e ele olhava a minha pelo mesmo tempo. Era quando eu tirava um soninho, deitado sobre a madeira que aparava a sanduicheira, naquele momento, colocada no chão, sempre acalentado pelo barulho incessante das músicas baianas e do movimento sem fim. Acordava quase sempre desacordado de sono. À tarde, Lígia, minha esposa, vinha buscar o saco cheio de dinheiro arrecadado na noite anterior. No quarto dia eu já estava entorpecido. Murilo, meu filho mais velho, naquele tempo com 11 anos, quis passar uma tarde comigo para conhecer o carnaval. Em dado momento deu nele uma vontade de urinar. Pedi a uma senhora conhecida, que trabalhava na barraca da frente, que o levasse. Ele voltou com os olhos esbugalhados dizendo... “Pai! a moça desceu as calças e fez xixi na minha frente”! Ele ainda precisava entender o procedimento despreocupado do baiano. Veio a chuva forte e eu tive que deitar na enxurrada para evitar a debandada de minhas cervejas. Muitas foram parar nas mãos de alguns sortudos. Tudo pela construção de minha casa. E a festa continuava com toda força e todo o barulho. Lá pelas tantas, já alta madrugada, o caminhão que puxava o Bloco dos Apaches contornava a praça e começava uma pequena subida. Nisto gritaria, estrondo e correria. O motorista do caminhão não conseguiu engrenar a primeira marcha e o imenso caminhão com alegoria, banda e sons começou a voltar de ré, esmagando todas as pessoas que seguiam atrás do caminhão, conhecidas por “pipocas”. Normalmente são pessoas mais humildes que não precisavam pagar e nem tinham abadás e se divertiam 26