Do azeite de dendê de Ogum ao palm oil commodity: uma oportunidade que a Bahia não pode perder** Augusto Sávio Mesquita* expressivamente superior ao resultado das exportações agrícolas brasileiras em 2001, que se situaram em US$ 21 bilhões. O azeite de dendê, que no mercado internacional de mercadorias recebe a designação de palm oil, é o óleo mais exportado (17,46 milhões de t) e o segundo mais produzido (23,45 milhões de t) e consumido no mundo Carybé (quase 21,8 milhões de t), apenas perdendo para o da soja (MPOPC, 2002). Porém, estatísticas da Oil World citadas por Agropalma (2000) indicam que, até 2015, o dendê desbancará a supremacia daquela leguminosa. laeis guineensis Jacq. é o O dendezeiro é o vegetal que mais nome deste africano, tão produz óleo por unidade de área culíntimo dos baianos e que, tivada. Um hectare de sua exploração há mais de 5 mil anos, constitui-se em comercial em moldes modernos proimportante fonte de alimento huma- duz de 3.500 a 8.000 kg de óleo de no. Comida de orixá do Candomblé. palma ou azeite de dendê (extraído da É orixá guerreiro, valente, de paciên- “polpa” ou mesocarpo) e 200 a 350 cia curta e cortador de cabeças, kg de óleo de palmiste (extraído do Ogum. Oguniê! interior do “coquilho” ou albúmen). Os negócios na cadeia produtiva Em contraponto, a soja produz cerca mundial dessa palmeira giram em de 400 a 600 kg de óleo por hectare. torno de US$ 30 bilhões, cifra Ademais, os custos comparativos de E produção entre os óleos de palma (US$ 185 a 200/t) e soja (US$ 463/t), reforçam o argumento de que é mais vantajoso se produzir aquele resultante do processamento do fruto desta palmácea (Fundação CPE, 1993). O processo de extração desse óleo de excepcionais qualidades para a alimentação humana (Quadro 1) é físico, mediante o uso de prensas. O processamento da soja, por seu turno, na maioria dos casos, demanda o emprego de solventes químicos. As indústrias de transformação, especialmente aquelas que produzem gorduras hidrogenadas (que entram na composição de alimentos, como biscoitos, pães, cremes, inclusive sucedâneos da manteiga de cacau), preferem usar o óleo de dendê. Em virtude de sua composição intrínseca, o consumo de hidrogênio no processo é baixo, reduzindo bastante o custo de produção. Oliveira (1999) ressalta que isso se dá devido ao privilegiado conteúdo de ácidos graxos e aos arranjos de triglicérides. Comparativamente, gasta-se sete vezes menos hidrogênio nesse processo industrial utilizando-se o óleo de dendê, em relação ao uso da soja, seu concorrente direto no mercado consumidor. *Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Diretor de Desenvolvimento da Agricultura/SEAGRI/SDA. e-mail: [email protected] ** Agradeço ao amigo Profº. Hermano Peixoto de Oliveira, patrimônio da dendeicultura baiana, pelas críticas e sugestões apresentadas. 22 Socioeconomia Bahia Agric., v.5, n.1, set. 2002 Quadro 1 Qualidades do azeite de dendê Fonte: MPOPC, s.d. A produção mundial de óleo de palma, que em 1960 era de um milhão de toneladas, hoje supera 22 milhões de toneladas. A Malásia, que, praticamente até a metade da década de 1960 só dispunha de dendezeiro como planta ornamental, atualmente domina o cenário internacional, demostrando competência em explorar o potencial de geração de riqueza imanente a esta planta. Produz mais de 11 milhões de toneladas, em cerca de três milhões de hectares (área praticamente cinco vezes maior do que a ocupada pela cacauicultura baiana antes do advenBahia Agric., v.5, n.1, set. 2002 to da “vassoura-de-bruxa”) e possui o maior parque industrial do mundo de processamento de óleo de palma, que gera mais de 500 mil empregos e contribui com mais de 30 bilhões de Ringgits para a economia malasiana (quase US$ 8 bilhões) (MPOPC, s.d.). O Brasil, que recebeu o dendezeiro por mãos escravas, por volta de 1550 (quando os portugueses passaram, de fato, a se interessar pelo nosso país), produz pouco mais de 104 mil toneladas de óleo. Somos superados pela Colômbia (510 mil toneladas), Equador (245 mil tonela- das) e até mesmo pela Costa Rica (109 mil toneladas), países que passaram a explorar a dendeicultura, recentemente. A Bahia, embora seja a nação da moqueca com azeite de dendê (prato delicioso e nutritivo, porém talvez o uso de menor valor agregado deste precioso óleo) tem uma produção marginal no contexto nacional: 10 a 12 mil toneladas de óleo, em uma área estimada em 31 mil hectares, dos quais quase 20 mil são de dendezais sub-espontâneos na Mata Atlântica . No Pará, responsável por quase 80% da produção nacional (82 mil Socioeconomia 23 AGRONEGÓCIO DENDÊ NA BAHIA OPORTUNIDADE DE MUDANÇAS As vantagens competitivas da Bahia para a exploração da dendeicultura são insofismáveis. Zoneamento realizado pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC, diretoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, identifica 854 mil hectares aptos a esta exploração, considerando-se propriedades de solos (especialmente físicas, tais como profundidade, textura, estrutura, permeabilidade, porosidade) e climáticas (pluviosidade, temperatura, luminosidade). Localizada ao longo da costa, essa faixa se estende do Recôncavo ao Extremo Sul da Bahia, abrange em torno de 30 municípios e dispõe de adequada infra-estrutura à logística de produção: rodovias em bom estado de conservação, redes de energia elétrica e telecomunicação, quatro portos - em Salvador, Aratu, Ilhéus e Camamu/ Campinho - que permitem o trânsito de embarcações de grande calado (embora somente o de Aratu está potencialmente estruturado para embarque e desembarque de óleo e o de Campinho nunca tenha sido utilizado), quatro aeroportos (dois internacionais Salvador e Porto Seguro e dois nacionais Ilhéus e 24 Socioeconomia Valença), centro de pesquisa agronômica e de desenvolvimento rural com produção científica em dendeicultura e de sementes híbridas de dendê Tenera, a partir de material importado da Costa do Marfim e Malásia, redes federal e estadual de defesa agropecuária e extensão rural, duas universidades com cursos de agronomia e escolas agrotécnicas. Com sua localização geográfica estratégica, facilitando as transações comerciais internas e externas, a Bahia, através do seu Governo, busca alavancar essa atividade, superando o atual estágio de estagnação da cadeia produtiva, resultante do baixo desempenho do setor primário, exclusão do segmento da agroindústria familiar da economia de mercado e insuficiente modernização do parque industrial. A produção primária de dendê na Bahia é singular, sendo composta por, basicamente, três segmentos: pequena produção familiar, pequena produção capitalista e produção empresarial. Os agricultores familiares exploram o extrativismo de dendezeiros subespontâneos da variedade Dura, descendentes diretos das sementes trazidas pelos escravos do Golfo da Guiné, via de regra com idade avançada e submetidos ao mínimo de tratos culturais, geralmente apenas roçagem para controle de ervas daninhas e despalma, inexistindo adubação química e correção de acidez do solo. Essas plantas, disseminadas por aves e roedores e, secundariamente plantadas, têm baixo rendimento médio de cachos (cerca de duas a três toneladas por hectare por ano) e reduzido teor de óleo na “polpa” (entre 10 e 12 %). Por conseguinte, o processamento para extração do óleo, que pode ser artesanal, nos “rodões” espécie de agroindústria rústica familiar típica da Bahia (Figura 1) ou nas usinas convencionais da indústria, alcança reduzida taxa de extração e, consequentemente, renda, reproduzindo uma situação de poucos ganhos com a atividade e negócios ao longo da cadeia produtiva. A comercialização da produção se dá através de cachos de dendê mediante a integração informal com a indústria processadora ou diretamente de óleo, oriundo do fabrico próprio ou em parceria em “rodões”, que se caracterizam pela baixa produtividade do trabalho e de extração, falta de higiene e agressão ambiental (uso de lenha oriunda de manguezais, visto que se localizam geralmente às suas margens, de modo a dispor de água não tratada e poder efetuar a vazão descuidada de efluentes). A pequena produção capitalista é composta de cultivos de pequena escala, geralmente formados com plantas da variedade Dura, de propriedade de agricultores que têm outras fontes de renda. Este segmento mutatis mutantis é informalmente integrado à indústria processadora, comercializando apenas dendê em cachos. A produção empresarial, por sua Foto: Acervo SDA toneladas de óleo em 33 mil hectares) a dendeicultura é uma atividade progressista, que abriga modernos empreendimentos, como o da Agropalma, do Grupo Real, dotado de refinaria de óleo (única no país) e porto apropriado para exportação deste produto, cujo investimento supera US$ 50 milhões. Figura 1 - “Rodões” de dendê mecânico e a tração animal. Baixo Sul da Bahia Bahia Agric., v.5, n.1, set. 2002 vez, é vinculada ao capital industrial Óleo de Dendê Ltda - OLDESA, Óleo de Pa lm a S /A - O PALMA e Pindorama. Cultiva-se, basicamente, o híbrido Tenera, resultante do cruzamento controlado das variedades Dura (pouca “polpa”, muito “coquilho”) e Psífera (muita polpa, praticamente ausência de “coquilho”, mas com probl emas de repro dução ), porém sem os necessários tratos culturais e reduzido uso de insumos modernos, como adubos químicos, corretivos de acidez de solo, agroquímicos e feromônio sintetizado para controle da população do besouro Rhynchophorus palmarum, vetor da principal doença das palmeiras na Bahia, o “anel vermelho”, causado pelo nematóide (verme) Bursaphelencus cocophilus. At ua lm en te , a OL DE SA e a OPALMA terceirizaram a produção primária à firma empreiteira, restringindo suas atividades ao processo industrial e a Pindorama, fechou sua usina de extração localizada em Una e arrendou seu decadente plantio à Jaguaripe Agroindustrial S/A, caçula do setor, que tenta recuperá-lo. A área colhida com dendê, a capacidade instalada e a produção da indústria baiana estão nos Quadros 2 e 3. Conforme se evidenciou, a comercialização do dendê na Bahia dá-se de duas formas: venda em cacho pela produção primária para as usinas ou para os proprietários de “rodões” e venda de óleo realizada por estes segmentos do processamento industrial. A desorganização da produção primária enseja a atividade de intermediários, donos de caminhões e vinculados à indústria regional de processamento de óleo, que, a despeito de reduzir a margem de lucro e apropriar-se de parte da renda da terra (os “atravessadores” ficam com 10% do preço de comercialização na usina, Quadro 2 Área colhida com dendê na Bahia em hectares, 2001 Exploração Região Municípios Valença Valença Taperoá Nilo Peçanha Ituberá Camamu Recôncavo Valença Cacaueira Nazaré Taperoá Una Nilo Peçanha Sub-espontâneo Cultivado Total Área 19.657 8.256 3.045 1.010 1.699 5.647 11.320 2.800 4.000 3.000 1.520 30.977 Fonte: SEAGRI Quadro 3 Capacidade de extração e produção de azeite de dendê na Bahia, em t/dia, 2000 Produtor Capacidade de processamento Produção Município Oldesa Opalma Jaguaripe Mutupiranga Roldões Total 270 280 144 100 n.d. 794 3.700 1.360 1.800 1.975 4.000* 12.835 Nazaré Taperoá Muniz Ferreira Nilo Peçanha Diversos - ( * ) Estimativa n.d. - não disponível Fonte: SEAGRI e FNP Consultoria & Comércio, 2001 Bahia Agric., v.5, n.1, set. 2002 que tem girado entre R$ 70,00 a R$ 100,00/t), garante o escoamento do produto. O principal destino do óleo de palma produzido na Bahia é o CentroSul do país, onde estão concentradas fábricas de produtos alimentícios, de sabões, sabonetes e cosméticos, co mo a Sa nb ra , Ge ss y- Le ve r, Colgate, Amparo, Maeda, Santista Paulista. Contudo, em virtude do crescimento da avicultura baiana, a indústria de rações vem aumentando o consumo desse produto. Também não se pode deixar de registrar a importância do consumo doméstico de azeite de dendê voltado à culinária, em garrafas de vidro e pet e em latas de 5 e 14 kg. Neste caso, os principais canais de comercialização são as redes de supermercados, armazéns, bodegas, feiras livres e através dos tabuleiros das “baianas de acarajé” afamadas quituteiras ambulantes, que vendem “acarajé” e “abará”, com “vatapá” e “caruru”, típicos pratos da rica culinária baiana, de raízes africanas e ligados intimamente ao culto de orixás do Candomblé (embora, devido ao “acarajé” e “abará” virem assumindo a feição de verdadeiras grifes e, consequentemente, elevado valor agregado, têm muitas católicas e, até mesmo evangélicas, atuando nesta profissão, vestidas com indumentárias de “Filhas de Santo”). De modo a alterar esse status quo é que o Governo da Bahia, através da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária - SEAGRI, lançou, em 1999, o Programa de Desenvolvimento da Dendeicultura Baiana, que contempla um protocolo de intenções com o Banco do Nordeste, OPALMA, OLDESA, Mutupiranga, Jaguaripe, CEPLAC, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA e Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia ADAB. Ambiciona-se expandir a área colhida com dendê em 12 mil hectares e alcançar produção de 48 mil t de óleo, na plenitude do programa. Para consecução dessas metas, foi instituído um convênio que possibilitou a retomada da produção de Socioeconomia 25 para o campo, onde passarão pela fase de pré-viveiro (quatro a cinco meses) e viveiro (seis a sete meses), para, finalmente, serem levadas à área de plantio definitivo (Figura 2). A estratégia construída pelos parceiros do protocolo de intenções assegurará o repasse de mudas aos agricultores familiares e capitalistas ao preço de custo (R$ 0,35 na fase de pré-viveiro ou R$ 1,60 na fase de viveiro). Para isso, o Banco do Nordeste garante o financiamento agrícola nas linhas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, Fundo Constitucional do Nordeste FNE e BNDES, aportando, anualmente recursos superiores a R$ 8 milhões. Poderão também ser contemplados com os empréstimos do crédito rural, os donos de “rodões”, que queiram promover a premente modernização de suas instalações. Nesse sentido, em complementaridad e às açõ es e nca mpa das pel a SEAGRI, a Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração - SICM, em parceria com o Instituto de Des env olv ime nto Sus ten táv el do Baixo Sul - IDES, está implementando o Projeto de Modernização dos Rodões de Dendê, que objetiva apoiar a inovação desse tipo de agroindústria, elevando a produtividade e qualidade do óleo e minorando os impactos ambientais, objeto de preocupação do Ministério Público e do Instituto Brasileiro do Foto: Acervo SDA sementes de dendê híbrido Tenera. Investindo R$ 436 mil, no período 2000 a 2003, o Governo da Bahia possibilitou o ingresso deste estado no seleto grupo de produtores desta mercadoria de alto valor agregado. No Brasil, apenas a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias EMBRAPA, na Estação Experimental do Rio do Urubu, em Manaus, produzia sementes pré-germinadas de dendê. Do exterior, o MAPA só permite a importação da empresa ASD de Costa Rica, por haver realizado análise de risco de pragas ARP. Enquanto que o preço praticado pela EMBRAPA é de R$ 1,00/unidade e da ASD de Costa Rica de US$ 0.65/unidade, a EBDA está comerciando ao preço de custo de R$ 0,20/unidade as sementes produzidas e pré-germinadas pela CEPLAC, na Estação Experimental Lemos Maia, em Una. Já estão asseguradas cerca de 1,2 milhão de sementes (50% da meta), das quais 550 mil já estão acondicionadas em sala com ar refrigerado, prontas para serem submetidas à prégerminação em ambiente específico, com absoluto controle de temperatura (39°, mais ou menos meio grau) e umidade superior a 85%, no Laboratório de Produção de Sementes da CEPLAC, em Una, reformado e reequipado pela SEAGRI, com recursos não reembolsáveis. Brevemente, essas sementes irão Figura 2 - Unidade de Demonstração na CEPLAC, em Una, com dendê Tenera - planta com 2,5 anos, gerando produtividade de 7,5 t/ha 2001. 26 Socioeconomia Meio Ambiente - IBAMA. Para atrair capitalistas produtivos e apoiar a modernização do parque industrial, incentivos são promovidos pelo Governo, como aqueles previstos no Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica do Estado da Bahia - DESENVOLVE, que prevê a prorrogação do prazo de pagamento de até 90% do saldo devedor mensal do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS normal, limitada a 72 meses e o diferimento do lançamento e pagamento do ICMS devido. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por que plantar dendê? Apresentar as vantagens competitivas da Bahia para a expansão da dendeicultura em moldes modernos e demonstrar o dinamismo deste agronegócio no contexto internacional parece ser insuficiente para convencer agricultores a investir nesta atividade. Não basta evidenciar que o dendê é a principal mercadoria no concorrido mercado internacional de óleos e gorduras, destacando-se no segundo posto no ranking de produção e consumo, gerando negócios da ordem de US$ 30 bilhões. Também o argumento, com base na avaliação da Oil World citado por Agropalma (2000), fundamentada na manutenção dos atuais níveis de crescimento da população mundial e de consumo global desse óleo (17%), de que será preciso se plantar 2,5 milhões de ha até 2010 e 6 milhões de ha até 2025, ou seja, 215 mil ha/ano, não tem ensejado a quebra de inércia do agronegócio dendê na Bahia. Essas sinalizações de crescimento sustentado do agronegócio internacional precisam ser complementadas com dados concretos sobre a viabilidade econômico-financeira desse negócio em nosso estado. Percebe-se que a política de comercialização com os seus fornecedores, adotada em passado recente pela indústria, deixou seqüelas difíceis de supeBahia Agric., v.5, n.1, set. 2002 rar. Até recentemente na Bahia, praticava-se a comercialização da produção primária em um mercado imperfeito, com características de monopsônio. Apenas a OPALMA (que já foi subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional) e a OLDESA compravam dendê em cachos e ditavam os preços. A entrada de novos competidores ne ss e me rc ad o - Ja gu ar ip e e Mutupiranga, a concorrência resultante da entrada do óleo produzido no Pará (já tem muita “baiana de acarajé” fazendo quitutes com azeite de dendê paraense, assim como prateleiras de supermercados expõem produtos dessa origem), a iminente comercialização do azeite malaio por força da globalização (o Conselho de Promoção do Óleo de Palma da Malásia - MPOPC reabriu o seu escritório em São Paulo, vem prospectando a demanda real brasileira por esse produto e já ensaia as bases para o lançamento de produto nobre de mesa, voltado ao tempero de saladas, o “Carotino”), a organização dos proprietários de “rodões” da região de Valença (cerca de 40 pequenos agroindustriais) e a maior facilidade para que produtores autônomos ou associados possam verticalizar sua produção, através de micro-usinas ou, até mesmo “rodões” modernizados, são constatações que determinam novas cores nesse cenário, avizinhando saudável concorrência, favo- rável aos dendeicultores. O óleo de palma é uma commodity com cotações definidas em bolsas internacionais de mercadorias. Nos últimos dez anos o preço médio do óleo bruto de palma FOB no mercado internacional foi de US$ 464.00/t. Nos últimos cinco anos foi de US$ 467.00/t. Atualmente, tem-se situado entre US$ 350.00 a US$ 420.00/t. O custo de implantação de um hectare de dendezais Tenera é estimado em R$ 2.000,00. Estudo recente de Barcelos et al. (1999), portanto já nos auspícios da estabilidade econômica do Real, ao analisar quatro modelos de sistema de produção, chega às seguintes conclusões, com base nos coeficientes de Taxa Interna de Retorno - TIR (índice que traça um paralelo da rentabilidade da exploração em contraponto a aplicação financeira, geralmente caderneta de poupança): 4 ha com produção vinculada à extração de óleo própria ou associativa dá TIR de 21%, 10 ha com produção vinculada à extração de óleo própria ou associativa dá TIR de 17%, 20 ha com produção vinculada à extração de óleo própria ou associativa dá TIR de 24% e 10 ha apenas voltado à venda de cachos dá TIR de 8%. Todos os modelos deram resultado econômico superior à caderneta de poupança (cerca de 6% ao ano), mas a TIR do sistema de exploração exclusiva de cachos é insuficiente, embora que a base de cálculo tenha sido res- paldado na dendeicultura paraense, onde uma tonelada de cachos gira em torno R$ 55,00. Para condição da Bahia, certamente o resultado desse último sistema de produção seria mais favorável. Terá atingido o seu objetivo, se este trab alho cons egui r queb rar velhos paradigmas que dificultam a modernização do agronegócio dendê na Bahia e desmistificar a equivocada idéia de que o azeite de dendê é danoso à saúde do homem e só se presta à culinária baiana. Oguniê! REFERÊNCIAS AGROPALMA. O Mercado mundial do óleo de palma e seus derivados numa economia globalizada. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL AGRONEGÓCIO DA PALMA: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA, 2000, Manaus. Anais ...Manaus: EMBRAPA/IICA, 2000. 25 p. BARCELOS, E., RODRIGUES, F. M., MORALES, E. A. V. Dendeicultura: alternativa para o desenvolvimento sustentável no Amazonas. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 1999. 19 p. (Embrapa Amazônia Ocidental. Documentos, 7) FNP CONSULTORIA & COMÉRCIO. Agrianual 2001: anuário da agricultura brasileira. São Paulo: Argos Comunicação, 2001. p.325-328. FUNDAÇÃO CPE. Pólo oleoquímico do dendê: uma proposta de desenvolvimento para o Litoral Sul da Bahia. Salvador: Fundação CPE, 1993, 27 p. M A L A Y S I A N PA L M O I L PROMOTION COUNCIL. Óleo de palma da Malásia. São Paulo: MPOPC, s.d. 37 p. M A L A Y S I A N PA L M O I L PROMOTION COUNCIL. Palm oil link. Datuk Haron Siraj. Malaysia: MPOPC, 2002, 13 p., vol. 12. Foto: Acervo SDA OLIVEIRA, Hermano Peixoto de. A dendeicultura no estado da Bahia. Salvador: s.e., 1999. Mimeo. 12 p. CARYBÉ. Os deuses africanos do Candomblé da Bahia. 2 ed. Salvador: Governo do Estado da Bahia, 1993. Figura 3 - Refinaria de óleo de palma na Malásia Bahia Agric., v.5, n.1, set. 2002 Socioeconomia 27