Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Educação Ciências E Programa de Saúde 16 CEEJA “MAX DADÁ GALLIZZI” PRAIA GRANDE –SP 1 “Os que passam pela escola, passam melhor pela vida.” Esse material foi elaborado com carinho. Pedimos que você o trate da mesma forma. Evite amassá-lo, dobra-lo ou escrever em suas páginas. . BOM ESTUDO!!! ROTEIRO DE ESTUDO Nessa unidade iniciaremos o estudo da Química conhecendo os seus conceitos básicos, a estrutura do átomo e as funções químicas. Objetivos Conhecer a matéria, sua estrutura fundamental e suas propriedades físicas. Diferenciar misturas homogêneas e heterogêneas. Conhecer a estrutura do átomo. Diferenciar as funções químicas e suas aplicações. 2 Matéria e Energia A física e a química estudam a matéria. Mas há algo mais: pense, por exemplo, no que movimenta as partículas que formam o ar e no calor que um objeto quente nos transmite. Esses fenômenos resultam da energia. A energia põe o ar em movimento, nos aquece, ilumina os ambientes, está presente nos alimentos. Matéria e energia são dois importantes temas da física e da química. Conceitos básicos: Matéria é tudo aquilo que possui massa e ocupa lugar no espaço Mas quando estudamos a matéria, costumamos considerar apenas porções limitadas, que recebe o nome de corpo. A matéria pode sofrer alterações. Toda matéria é formada por minúsculas partículas denominadas átomos. No interior da matéria A maioria dos corpos é constituída por uma mistura de diferentes tipos de matéria, ou seja, uma mistura de substâncias. Moléculas Molécula é a menor parte de uma substância pura que conserva a mesma composição química dessa composição. Os químicos representam a água pela fórmula H2O. Essa fórmula indica que a substância água é formada por moléculas constituídas de hidrogênio (representado pela letra H) e oxigênio ( representado pela letra O). Elementos químicos Oxigênio, hidrogênio e carbono são elementos químicos. Hoje são conhecidos pouco mais de 110 elementos químicos, cujos nomes e símbolos são listados em uma tabela chamada de tabela periódica. A fórmula de uma substância indica os elementos que a formam e em que proporção. Assim, a água é uma substância formada pela combinação de dois elementos – hidrogênio e oxigênio – na proporção de dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, daí a sua representação H2O. 3 Propriedade física da matéria Em ciência, fenômeno é qualquer transformação que ocorre com a matéria. Basta ficarmos atentos para percebermos fenômenos ao nosso redor: o derretimento do gelo, o apodrecimento de fruto, a corrosão do ferro, a chuva, etc. Com base nessa propriedade física, podemos classificar a matéria. Podemos, por exemplo, classificar a matéria de acordo com seu estado físico como sólido, líquido ou gás. Transformação da matéria Dizemos que ocorre transformação química ou reação química quando uma ou mais substâncias, denominadas reagentes, são transformados em uma ou mais substâncias, denominadas produtos. Substâncias puras: caracterização Só podemos chamar de água pura a substância composta, exclusivamente, de moléculas contendo 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo de oxigênio ligados entre si. Além disso, entre outras propriedades, qualquer amostra de água pura será: Insípida (sem sabor) Inodora (sem cheiro) Incolor (sem cor) Aos nossos sentidos e sob pressão de 1atm, terá ponto de solidificação de 0ºC e ponto de ebulição de 100ºC. Outro exemplo: o gás nitrogênio (N2) é composto por 2 átomos de nitrogênio ligados entre si. Amostras desse gás serão sempre incolores e inodoras aos nossos sentidos. Substâncias simples e compostas Substâncias puras podem ser classificadas inda como simples ou compostas. A água pura, ou seja, a substância H2O, é um exemplo de substância pura composta, pois suas moléculas são formadas por átomos de dois elementos químicos diferentes, oxigênio (O) e o hidrogênio (H).Substâncias pura simples são aquelas formadas por átomos iguais. Ex.: H2, Cl2, O2, O3, N2 Misturas homogêneas e heterogêneas Nem sempre é possível detectar, a olho nu ou utilizando microscópio, a presença de outras substâncias misturadas à água. Por exemplo, quando adicionamos uma colher das de chá de sal de cozinha (cloreto de sódio) a um copo com água, ocorre a total dissolução do sal. Nessa mistura, não podemos distinguir o que é água e o que é sal. Misturas desse tipo são denominadas misturas homogêneas. Em outros casos, por exemplo, quando juntamos água e óleo num mesmo recipiente, não ocorre mistura tão perfeita entre as substâncias. Na “mistura” de água e óleo é nítida a separação entre 4 os dois líquidos; dizemos, então, que há separação das fases. Misturas desse tipo são denominadas misturas heterogêneas. Todas as misturas heterogêneas são polifásicas, isto é, formada por duas ou mais fases. A mistura água mais óleo é bifásica, pois possui duas fases. As misturas heterogêneas podem também ser trifásicas (três fases), tetrafásicas (quatro fases), etc. O átomo: estrutura e identificação Modelos de átomos Demócrito, filósofo grego nascido na Tracia por volta de 460 a.C., foi um dos primeiros a defender a ideia que a matéria poderia ser dividida sucessivamente a suas minúsculas partículas - os átomos. E que este, que seria a partícula fundamental da matéria, não poderia ser mais dividido. Daí o nome átomo, que significa "sem partes", "indivisível". O primeiro modelo de átomo, porém, só foi proposto no início do século XIX. Seu autor foi um cientista inglês John Dalton (1766 - 1844), que construiu seu modelo com dados experimentais e em outros conhecimentos relacionados com o tema. O modelo atômico de Dalton, de definia o átomo como partícula indivisível, imutável e maciça, continuou valido até o final do século XIX, pois não havia evidencias experimentais que pudessem contestá-lo. Mas, entre o final desse século e o início do século XX, sucessivas descobertas experimentais levaram a proposição de novos modelos atômicos. Experimentos científicos demonstraram, por exemplo, que o átomo, já muitíssimo pequeno, é formado por partículas ainda menores: prótons, nêutrons e elétrons. O modelo atual: De forma simplificada, podemos descrever o modelo de átomo atualmente aceito, proposto em 1913 pelo físico neozelandês Ernest Rutherford (1871-1937) e pelo físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), da seguinte maneira. Composto por duas regiões, uma central - o núcleo -, compacta, densa e com carga elétrica positiva, contendo prótons e nêutrons, e outra, periférica - a eletrosfera -, na qual os elétrons giram em órbita ao redor do núcleo. Tais órbitas são denominadas níveis de energia ou camadas eletrônicas. Os elétrons possuem carga negativa, os prótons, carga positiva e os nêutrons não apresentam carga elétrica. Em cada órbita, o elétron possui uma energia específica, quanto mais próximo do núcleo, menor a energia do elétron em relação ao núcleo, quanto mais afastado, maior a sua energia em relação ao núcleo. O elétron pode mudar de órbita. Para que ele passe de uma órbita de menor energia (mais próxima do núcleo) para uma de maior energia (mais afastada), é necessário fornecer energia ao átomo. No processo contrário, ocorre liberação de energia. Os átomos são neutros, ou seja, partículas positivas (prótons) igual a quantidade de partículas negativas (elétrons). 5 Para estudo: 1- O que você entendeu do conceito de átomo? 2- Cite os modelos atômicos estudados. 3- Quais as partículas principais na formação do núcleo? 4- Qual a carga de cada elétron? 5- O que acontece quando um elétron perde ou ganha energia? 6- O que são substâncias homogêneas e heterogêneas? 7- O que são substâncias puras? 8- Diferencie substâncias simples de substâncias compostas. 9- Faça um pequeno esboço de um átomo. 10- Quem foi John Dalton? E em que época viveu? 11- Quais as características da água? 12- O que é eletrosfera? 6 Funções Inorgânicas Sais Os sais são substâncias muito presentes em nosso dia-a-dia. O sal mais comum é o que usamos na preparação de alimentos, o cloreto de sódio (NaCl). Além dele, podemos citar: o cloreto de potássio (KCl), componente de adubos e fonte de potássio para as plantas; o carbonato de sódio (Na 2CO3), empregado na fabricação do vidro; e o sulfato de alumínio [ Al2 (SO4)3 ], utilizado no tratamento da água. Ácidos Dependendo de seu comportamento químico, certas substâncias são classificadas como ácidos. Entre o mais comum no nosso dia-a-dia estão os ácido acético (presentes na composição do vinagre), o ácido cítrico (que existe nas frutas cítricas, como limão e laranja), o ácido láctico (que existe no iogurte) e o ácido acetilsalisílico (princípio ativo da aspirina). Essas substâncias apresentam pelo menos uma característica comum: o sabor azedo. Mas não se deve usar o paladar para classificar substâncias desconhecidas. Esse é um procedimento que jamais deve ser adotado em laboratório, pois é muito perigoso: muitas dessas substâncias contidas nos frascos são tóxicos e pode causar a morte; outras podem provocar queimaduras graves ou outros danos irreparáveis a saúde. Essa é mais uma característica dos ácidos: em geral são substâncias tóxicas e corrosivas. Principais ácidos e suas aplicações Ácido clorídrico (HCl) É comercializado com o nome de ácido muriático e utilizado, principalmente, na limpeza de pisos e de superfícies metálicas antes de uma soldagem. Também está presente no estômago, sendo responsável pela acidez do suco gástrico. Ácido sulfúrico (H2SO4) Entra na produção de diversas substâncias, como corantes, tintas, explosivos, papel. Também é usado na indústria de fertilizantes agrícolas para a produção de adubos. O líquido da bateria de automóveis é uma solução aquosa desse ácido. 7 Ácido nítrico (HNO3) É usado na fabricação de explosivos, como nitroglicerina (dinamite); e na indústria de fertilizantes agrícolas como matéria-prima para a fabricação dos nitratos de amônio e de cálcio. Ácido cianídrico (HCN) Utilizado em indústrias diversas, como as de plástico, de acrílico e de corantes. Altamente letal, foi o gás utilizado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial nas câmaras de gás dos campos de concentração. Ácido fosfórico (H3PO4) É usado na fabricação de tinturas, na indústria de alimento, de vidro e de fertilizantes agrícolas (na produção de superfosfatos). Bases Elas se caracterizam por apresentar gosto adstringente (como o de bananas verdes) ou caustico (como o de substâncias corrosivas). Entretanto, como dissemos e nunca é demais lembrar, substâncias químicas não devem ser provadas, pois elas podem ser tóxicas ou corrosivas, esse é o caso de muitas bases. Como os sais e os ácidos, as bases ou hidróxido conduzem corrente elétrica quando dissolvidas em água, pois em solução aquosa sofrem dissociação iônica, e a presença dos íons livres possibilita a passagem de corrente elétrica. Principais bases e suas aplicações Hidróxido de sódio (NaOH) Conhecida também como soda caustica, essa substância tem diversas utilizações; na fabricação do sabão, de detergentes e de produtos para desentupir pias e ralos,na fabricação de celofane e da fibra raiom, no processo de extração de celulose na indústria de papel, etc. Hidróxido de magnésio [Mg(OH)2] A suspensão aquosa dessa base é comercializada com o nome de leite de magnésia e utilizada como laxante e antiácido. Entretanto, é recomendável que o consumo desse 8 produto e de qualquer outro medicamento seja feito com orientação médica, pois podem surgir efeitos colaterais. Hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] Conhecida como cal hidratada ou cal extinta, essa substância é usada na construção civil, na preparação de argamassa (areia, cal e cimento) e na caiação (pintura a cal). As indústrias açucareiras também a utilizam na purificação do açúcar comum. Hidróxido de amônio (NH4OH) Comercializado como amoníaco, essa substância é obtida pela dissolução do gás amônia em água. É usada na fabricação de produtos para a limpeza doméstica e detergentes, na revelação de filmes fotográficos, na indústria têxtil, etc. Óxidos O óxido é muito abundante em nosso planeta e podem ser encontrados naturalmente em todos os ambientes; na rocha que forma a crosta terrestre, na água dos rios e mares e no ar atmosférico. Eles são fonte de matéria-prima para muitas atividades humanas. Em geral, os materiais utilizados na construção de uma casa são os tijolos, a areia, a cal, o cimento, o vidro, o ferro, o alumínio e a água. Esses materiais apresentam outros aspectos comuns: são extraídos diretamente da natureza e de sua constituição original participa de algum tipo de óxido. Metais como o ferro e o alumínio, utilizado na fabricação de esquadrias para portas e janelas, são obtidos de minério constituídos principalmente por óxidos metálicos. O componente principal da bauxita (minério de alumínio) é o óxido de alumínio (Al 2O3); o da hematita (minério de ferro) é o óxido de ferro III (Fe2O3). Podemos definir os óxidos como compostos binários, isto é, substâncias formadas por combinação de dois elementos; no caso, um deles é sempre o oxigênio. Obs.: Ácidos, Bases, Sais conduzem corrente elétrica quando dissolvidos em água. Para estudo: 1- Dê alguns exemplos de sais. Como é conhecido o sal de cozinha? 2- Cite algumas utilidades do hidróxido de sódio. 3- Para que servem e onde são encontrados os óxidos? Cite alguns exemplos do que você entendeu. 4- O que entra na composição do sabão que você utiliza em sua casa? 5- Para se identificar um sal, uma base ou um ácido, podemos cheirá-lo? 9 6- "Podem causar queimaduras graves" os sais, os ácidos ou as bases fortes? 7- Qual foi o gás utilizado nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial? 8- Onde é utilizado o ácido fosfórico? 9- Qual o ácido utilizado nas baterias de automóveis? Ser humano e saúde. Cigarros e bebidas alcoólicas: drogas permitidas por lei Por que as pessoas começam a fumar cigarros e a beber bebidas alcoólicas? Tanto as drogas lícitas, cuja venda e consumo são permitidos por lei, como as ilícitas, cujo consumo e venda são proibidos pela lei, participam do mesmo processo de iniciação. Geralmente, o início se dá pelas drogas lícitas, passando para as ilícitas. Existem vários fatores relacionados nesse processo como, por exemplo, a genética, a neurobiologia, o comportamento e o ambiente. Sabe-se que a frequência do uso repetido de drogas produz alterações no sistema nervoso. Essas alterações podem ser chamadas de tolerância ou sensibilização e contribuem para aumentar o desejo de consumir drogas. Existem vários outros motivos para o uso de cigarro, álcool ou outras drogas, como a busca pelo reconhecimento grupal ou prazer imediato, o acompanhamento de uma cultura que potencializa o uso, a fuga da realidade, negligência ou desestrutura familiar, relações próximas violentas, busca de coragem para ter atitudes que não teria na ausência da droga, são alguns dos motivos. Um pai que fuma e bebe pode influenciar o filho a fazer o mesmo? Deve-se ter muito cuidado para não rotular crianças e adolescentes, nem culpabilizar os pais. Pois, apesar de haver uma influência genética para o uso de álcool ou outras drogas, não significa que a dependência seja completamente herdada ou predeterminada. Porém, sabese que pessoas com história familiar de dependência apresentam maior risco do que as demais. Cigarros e bebidas alcoólicas: drogas permitidas por lei - Males Primeiro Momento: age como um “estimulante”, pode ocorrer mudança comportamental, deixando a pessoa eufórica, desinibida, mais sociável e falante, com sensação de prazer e alegria ou intensificar um comportamento agressivo. Segundo Momento: Age como um “depressor” da atividade cerebral, reduzindo a ansiedade, mas prejudicando a coordenação motora. Conforme aumenta a concentração do álcool no sangue, há a diminuição da autocrítica, a fala pode ficar “arrastada”, os reflexos ficam mais lentos, sonolência e prejuízos na capacidade de raciocínio e concentração. Em doses elevadas, a visão pode ficar “dupla”, ocorre prejuízo da memória, vômitos, insuficiência respiratória, podendo chegar à anestesia, coma e morte. 10 Ressalta-se que os efeitos dependem da quantidade de álcool que o indivíduo bebe e do metabolismo de seu corpo. É importante salientar que mesmo uma pequena quantidade de álcool que pode passar pelo leite materno já é suficiente para prejudicar o padrão de sono do bebê. Seu uso por longo período pode causar danos psicológicos? Sim. O uso prolongado pode causar dependência e, com ela, detecta-se todo um comprometimento físico, psicológico e social do usuário. Diminui o auto-cuidado, compromete o trabalho e as relações familiares, podem haver transtornos depressivos ou ansiosos, o comportamento pode tornar-se mais agressivo e em casos mais graves pode haver até suicídio ou homicídio. Cigarros e bebidas alcoólicas: drogas permitidas por lei: Vício Bebida e cigarro viciam? Sim. Porém, nem todo o usuário irá se tornar dependente da droga. Fatores genéticos, história familiar, e outros aspectos biopsicossociais podem interferir na relação do sujeito com a droga. Que fatores os pais devem observar nos filhos para terem pistas de que eles estejam bebendo e fumando? O maior segredo para saber se os filhos estão ou não usando drogas é o conhecimento aprofundado da personalidade, das características pessoais e emocionais de seu filho. Existem algumas mudanças de comportamento que podem ser identificadas como comuns em todos os usuários, como por exemplo o cheiro de cigarro ou de álcool, comportamento mais isolado, preocupação em conseguir dinheiro e esconder coisas (cigarro). Porém, as consequências do uso dependem da personalidade da pessoa, do seu histórico familiar, dos fatores genéticos e dos relacionamentos que estabelece. Como os pais devem se portar ao noticiarem que seus filhos estão envolvidos com estes tipos de drogas? O principal é o diálogo. Porém, os pais que nunca tiveram a rotina de conversar e se importar com o filho, terão dificuldade de estabelecer um canal de comunicação diante do envolvimento com drogas. Entender que a dependência é uma doença que precisa de ajuda médica para ser tratada e não direcionar ao usuário atos agressivos e de rejeição, pois estes últimos poderão o afastar ainda mais do convívio familiar e intensificar ainda mais o uso. Dra. Gislaine Pereira Tavares é Mestre em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Atua em psicologia social, violência, drogadição, educação, relações familiares e políticas públicas. 11 Como agem as drogas psicoativas Introdução “Droga” segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são usadas com a finalidade de produzir efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, e são consideradas drogas medicamentosas ou simplesmente medicamentos. Mas também existem substâncias que provocam malefícios à saúde e por isso os denominamos venenos ou tóxicos. Uma coisa importante, a saber, é que uma mesma substância pode funcionar como medicamento em algumas situações e como tóxico em outras. Existem drogas que são capazes de alterar o funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental, no psiquismo e por isso mesmo são denominadas de drogas psicotrópicas ou substâncias psicoativas. Há uma lista grande de substâncias presentes em uma espécie de Dicionário onde as Doenças são classificadas (Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão = CID10). Em um dos seus capítulos, o de nº V, cujo título é Transtornos Mentais e de Comportamento, lista-se as Doenças e as Drogas a elas relacionadas. Nesta lista incluem-se substâncias como o álcool; substâncias denominadas opioides (relacionadas ao ópio como a morfina, heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas); substâncias denominadas canabinoides (relacionadas a maconha); substâncias denominadas como sedativos ou hipnóticos (como é o caso dos barbitúricos e os benzodiazepínicos); substâncias estimulantes como a cocaína e o crack; ou as anfetaminas ou ainda substâncias relacionadas como a cafeína ou a nicotina (tabaco) ou ainda substâncias que provocam alterações como alucinações, caso dos alucinógenos (chá de cogumelo, LSD). Enfim, vale lembrar que nem todas as substâncias psicoativas têm a capacidade de provocar dependência apesar de todas elas afetarem o Sistema Nervoso Central; entretanto, há substâncias aparentemente inofensivas e presentes em muitos produtos de uso doméstico que têm esse poder. Classificação das drogas Há diversas formas de classificar as drogas. Drogas Lícitas Drogas Ilícitas Proibidas por lei. São aquelas comercializadas de forma legal, Estas não podem ser comercializadas. A 12 podendo ou não estar submetidas a algum restrição aqui não se enquadra em uma tipo de restrição. Como por exemplo, álcool faixa etária, mas a todas as faixas etárias e (venda proibida a menores de 18 anos) e todas as formas de apresentação. Ex: alguns medicamentos que só podem ser maconha, cocaína, crack. adquiridos por meio de prescrição médica especial (tarja preta). Existe uma classificação – de interesse didático – que se baseia nas ações aparentes das drogas sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), conforme as modificações observáveis na atividade mental ou no comportamento da pessoa que utiliza a substância. São elas: Drogas Depressoras, Estimulantes e Perturbadoras da Atividade Mental. DROGAS DEPRESSORAS DA ATIVIDADE MENTAL incluem uma grande variedade de substâncias, que diferem muito em suas propriedades físicas e químicas, mas que apresentam a característica comum de causar uma diminuição da atividade global ou de certos sistemas específicos do SNC. Como consequência dessa ação, há uma tendência de ocorrer uma diminuição da atividade motora, da reatividade à dor e da ansiedade, e é comum um efeito de melhoria do bem estar em geral. • ALCOOL: O álcool etílico é um produto da fermentação de carboidratos (açúcares) presentes em vegetais, como a cana-de-açúcar, a uva e a cevada. Suas propriedades são conhecidas desde tempos pré-históricos e praticamente, todas as culturas têm ou tiveram alguma experiência com sua utilização. É de longe a droga psicotrópica de maior uso e abuso sendo amplamente disseminada em um grande número de países na atualidade. • BARBITÚRICOS: Pertencem ao grupo de substâncias sintetizadas artificialmente desde o começo do século XX, que possuem diversas propriedades em comum com o álcool e com outros tranquilizantes (benzodiazepínicos). Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia, porém a dose para causar os efeitos terapêuticos desejáveis não está muito distante da dose tóxica ou letal. • BENZODIAZEPÍNICOS: Esse grupo de substâncias começou a ser usado na Medicina durante os anos 60 e possui similaridades importantes com os barbitúricos, em termos de ações farmacológicas, com a vantagem de oferecer uma maior margem de segurança, ou seja, a dose tóxica, aquela que produz efeitos prejudiciais à saúde, é muitas vezes maior que a dose terapêutica, ou seja, a dose prescrita no tratamento médico. Atuam potencializando as ações do GABA (ácido gama-amino-butírico), o principal neurotransmissor inibitório do SNC o que leva a diminuição da ansiedade; indução do sono; relaxamento muscular; redução do estado de alerta. • OPIÓIDES: Grupo que inclui drogas “naturais”, derivadas da papoula do oriente (Papaver somniferum), sintéticas e semi-sintéticas, obtidas a partir de modificações 13 químicas em substâncias naturais. As drogas mais conhecidas desse grupo são a morfina, a heroína e a codeína, além de diversas substâncias totalmente sintetizadas em laboratório, como a metadona e meperidina. • SOLVENTES E INALANTES: Esse grupo de substâncias, entre os depressores, não possui nenhuma utilização clínica, com exceção do éter etílico e do clorofórmio, que já foram largamente empregados como anestésicos gerais. Solventes podem tanto ser inalados involuntariamente por trabalhadores quanto ser utilizados como drogas de abuso, por exemplo, a cola de sapateiro. Outros exemplos são o tolueno, o xilol, o nhexano, o acetato de etila, o tricloroetileno, além dos já citados éter e clorofórmio, cuja mistura é chamada, frequentemente, de “lança-perfume”, “cheirinho” ou “loló”. DROGAS ESTIMULANTES DA ATIVIDADE MENTAL: São incluídas nesse grupo as drogas capazes de aumentar a atividade de determinados sistemas neuronais, o que traz como consequências um estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos. • ANFETAMINAS: São estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC) e muito utilizada por pessoas que desejam fazer regimes para emagrecer ou pessoas que querem ficar acordadas e “ligadas” por mais tempo não respeitando os limites fisiológicos. São substâncias sintéticas, ou seja, produzidas em laboratório. Existem várias substâncias sintéticas que pertencem ao grupo das anfetaminas. São drogas “anfetamínicas”: o fenproporex, o metilfenidato, o manzidol, a metanfetamina e a dietilpropiona. Atuam aumentando a liberação e prolongando o tempo de atuação de neurotransmissores utilizados pelo cérebro, como a dopamina e a noradrenalina o que permite uma maior vigília e estimulação. • COCAÍNA: É uma substância extraída de uma planta originária da América do Sul, popularmente conhecida como coca (Erythroxylon coca). A cocaína pode ser consumida na forma de pó (cloridrato de cocaína), aspirado ou dissolvido em água e injetado na corrente sanguínea, ou sob a forma de uma pedra, que é fumada, o crack. Existe ainda a pasta de coca, um produto menos purificado, que também pode ser fumado, conhecido como merla. A cocaína é um potente estimulador do Sistema Nervoso Central (SNC) DROGAS PERTUBADORAS DA ATIVIDADE MENTAL: Nesse grupo de drogas, classificam-se diversas substâncias cujo efeito principal é provocar alterações no funcionamento cerebral, que resultam em vários fenômenos psíquicos anormais, entre os quais destacamos os delírios e as alucinações. Por esse motivo, essas drogas receberam a denominação de “alucinógenos”. Em linhas gerais, podemos definir alucinação como uma percepção sem objeto, ou seja, a pessoa vê, ouve ou sente algo que realmente não existe. Delírio, por sua vez, pode ser definido como um falso juízo da realidade, ou seja, o indivíduo passa a atribuir significados anormais aos eventos que ocorrem à sua volta. Há uma realidade, um fator qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de fazer 14 avaliações corretas a seu respeito. Por exemplo, no caso do delírio persecutório, nota em toda parte indícios claros – embora irreais – de uma perseguição contra a sua pessoa. Esse tipo de fenômeno ocorre de modo espontâneo em certas doenças mentais, denominadas psicoses, razão pela qual essas drogas também são chamadas psicotomiméticos. • MACONHA: Há na Cannabis sativa (= pé de maconha) muitas substâncias denominadas de canabinóides. Desse vegetal as folhas e inflorescências secas podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semi-sólida obtida por meio de grande pressão nas inflorescências, preparação com maiores concentrações de THC (tetrahidrocanabinol), uma das diversas substâncias produzidas pela planta, principal responsável pelos seus efeitos psíquicos. Há uma grande variação na quantidade de THC produzida pela planta conforme as condições de solo, clima e tempo decorrido entre a colheita e o uso, bem como na sensibilidade das pessoas à sua ação, o que explica a capacidade de a maconha produzir efeitos mais ou menos intensos. • ALUCINÓGENOS: Designação dada a diversas drogas que possuem a propriedade de provocar uma série de distorções do funcionamento normal do cérebro, que trazem como consequência uma variada gama de alterações psíquicas, entre as quais alucinações e delírios, sem que haja uma estimulação ou depressão da atividade cerebral. Fazem parte deste grupo a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e o Ecstasy. Há também diversas plantas com propriedades alucinógenas como, por exemplo, alguns cogumelos (Psylocibe mexicana, que produz a psilocibina), a jurema (Mimosa hostilis) e outras plantas eventualmente utilizadas na forma de chás e beberagens alucinógenas. • DIETILAMADA DO ÁCIDO LISERGICO: LSD Substância alucinógena sintetizada artificialmente e uma das mais potentes com ação psicotrópica que se conhece. As doses de 20 a 50 milionésimos de grama produzem efeitos com duração de 4 a 12 horas. Seus efeitos dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu estado de espírito no momento da utilização e também, do ambiente em que se dá a experiência. • ECSTASY (3,4-metileno-dioxi-metanfetamina ou MDMA) É uma substância alucinógena que guarda relação química com as anfetaminas e apresenta, também, propriedades estimulantes. Seu uso está associado a certos grupos, como os jovens freqüentadores de danceterias ou boates. Há relatos de casos de morte por hipertermia maligna, em que a participação da droga não é completamente esclarecida. Possivelmente, a droga estimula a hiperatividade e aumenta a sensação de sede ou, talvez, induza um quadro tóxico específico. • ANTICOLINÉRGICOS: São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em laboratório que têm a capacidade de bloquear as ações da acetilcolina, um neurotransmissor encontrado no SNC e no Sistema Nervoso Periférico (SNP). Produzem efeitos sobre o psiquismo quando utilizadas em doses relativamente grandes e também provocam alterações de funcionamento em diversos sistemas biológicos, portanto, são drogas pouco específicas. 15 OUTRAS DROGAS: Você já tem uma idéia de que as drogas podem ter vários tipos de classificação, entretanto, há drogas cujos efeitos psicoativos não possibilitam sua classificação numa única categoria (depressoras, estimulantes ou perturbadoras da atividade mental). Todas as drogas descritas a seguir são lícitas, ou seja, são comercializadas de forma legal. • Tabaco: Um dos maiores problemas de saúde pública em diversos países do mundo, o cigarro é uma das mais importantes causas potencialmente evitáveis de doenças e morte. Efeitos: doenças cardiovasculares (infarto, AVC e morte súbita); doenças respiratórias (enfisema, asma, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica); diversas formas de câncer (pulmão, boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, rim, bexiga e útero). Seus efeitos sobre as funções reprodutivas incluem redução da fertilidade, prejuízo do desenvolvimento fetal, aumento de riscos para gravidez ectópica e abortamento espontâneo. A nicotina é a substância presente no tabaco que provoca a dependência. Embora esteja implicada nas doenças cardiocirculatórias, não parece ser esta a substância cancerígena. As ações psíquicas da nicotina são complexas, com uma mistura de efeitos estimulantes e depressores. Mencionam-se o aumento da concentração e da atenção e a redução do apetite e da ansiedade. A nicotina induz tolerância e se associa a uma síndrome de abstinência com alterações do sono, irritabilidade, diminuição da concentração e ansiedade. Gravidez extra-uterina, fora do útero. Fumantes passivos – existem evidências de que os não-fumantes expostos à fumaça de cigarro do ambiente (fumantes passivos) têm um risco maior de desenvolver as mesmas patologias que afetam os fumantes. • Cafeína É estimulante do SNC menos potente que a cocaína e as anfetaminas. O seu potencial de induzir dependência vem sendo bastante discutido nos últimos anos. Surgiu até o termo “cafeinísmo” para designar uma síndrome clínica associada ao consumo importante (agudo ou crônico) de cafeína, caracterizada por ansiedade, alterações psicomotoras, distúrbios do sono e alterações do humor. • Esteróides anabolizantes: Embora sejam descritos efeitos euforizantes por alguns usuários dessas substâncias, essa não é, geralmente, a principal razão de sua utilização. Muitos indivíduos que consomem essas drogas são fisioculturistas, atletas de diversas modalidades ou indivíduos que procuram aumentar sua massa muscular. Podem desenvolver um padrão de consumo que se assemelha ao de dependência. Efeitos adversos 16 • diversas doenças cardiovasculares; alterações no fígado, inclusive câncer; alterações musculoesqueléticas indesejáveis (ruptura de tendões, interrupção precoce do crescimento). Referências ANDRADE, A.G., NISCATRI, S. & TONGUE, E. Drogas: atualização em prevenção e tratamento curso de treinamento em drogas para países africanos de língua portuguesa. São Paulo: Editora Lemos, 1993. BEEDER, A.B. & MILLMAN, R.B. Patients with psychopatology. In: LOWINSON, J.H., RUIZ, P., MILLMAN, R.B. & LANGROD, J.G. (Orgs.). Substance Abuse: a comprehensive textbook. 3. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997, p. 551-562. EDWARDS G. O tratamento do alcoolismo. Porto Alegre: ARTMED, 1999 GALLOWAY, G.P. Anabolic-androgenic steroids. In: LOWINSON, J.H., Ruiz, P., MILLMAN, R.B. & LANGROD, J.G. (Orgs.). Substance Abuse: a comprehensive textbook. 3. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997, p. 308-318. GREDEN, J.F. & WALTERS, A. Caffeine. In: LOWINSON, J.H., RUIZ, P., MILLMAN, R.B. & LANGROD, J.G (Orgs.). Substance Abuse: a comprehensive textbook. 3. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. LEITE, M.C., ANDRADE, A.G. et al. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul, 1999. MASUR, J. & CARLINI, E.A. Drogas - Subsídios para uma discussão. São Paulo: Brasiliense, 1989. Miller WR & Rollnick S. Motivational Interviewing - preparing people to change addictive behavior. New York: Guilford Press; 1991 Organização Mundial de Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Porto Alegre: Editora Artes Medicas Sul, 1993. SCHMITZ, J.M., SCHNEIDER, N.G., JARVIK, M.E. Nicotine. In: LOWINSON, J.H., RUIZ, P., MILLMAN, R.B. & LANGROD, J.G (Orgs.). Substance Abuse: a comprehensive textbook. 3. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. Referências eletrônicas: http://www.antidrogas.com.br/oquedrogas.php www.aed.one2one.com.br Álcool e Drogas Sem Distorção. , do Núcleo de Estudos do Álcool & Outras Drogas NEAD do Hospital Albert Einstein http://www.brasilescola.com/drogas ) Jorge Luiz Barbosa da Silva é professor de Química do Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, professor do Cursinho Pré- Vestibular Só Exatas, de Florianópolis 17 (SC), professor de pós-graduação da Faculdade Luterana de Teologia (FLT – SC), farmacêutico, bioquímico, Presidente do Conselho Municipal sobre Drogas – COMEN (Florianópolis) e Membro do Fórum Parlamentar sobre Drogas da Câmara Municipal de Florianópolis (SC). 18