UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 1 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA ANÁLISE DO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO E DIAGNÓSTICO SÓCIOECONÔMICO DOS MUNICIPIOS ÁGUA FRIA E PADRE BERNARDO NAS FRONTEIRAS DO NORDESTE GOIANO1 Prof. Dr. Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira2 Pollyanne Moises de Souza Ferreira3 INTRODUÇÃO O referido trabalho teve como objetivo identificar os elementos fundamentais que caracterizam o uso, a ocupação e o processo de evolução dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, situados no Entorno do Distrito Federal, bem como avaliar os resultados e a eficácia do enfoque regional na pesquisa, tendo como suporte teórico-metodológico a linha constituída por Barreira (2002) denominada de “Geografia Regional do Município”. Seguindo esta trajetória coube, em nosso trabalho, verificar os diversos componentes, variáveis e indicadores que dão especificidades aos municípios pesquisados, ao mesmo tempo que inseridos no contexto regional, nacional e mundial. Para efetuar a análise do processo de apropriação do espaço é preciso compreender os componentes de ordem natural e social. Pois, sabemos que o espaço geográfico é físico, social, político, econômico e simbólico-cultural. E é neste espaço que o sujeito atua, produz e constrói sua história, condicionado é claro, às relações de produção, que bem retratam a dimensão social. Mas, não basta compreender os elementos naturais separados dos sociais. É preciso entender a interdependência da Natureza-Sociedade, bem como o relacionamento entre seus componentes. Porque é a partir dessa realidade interdependente que o espaço geográfico é produzido historicamente. Essa compreensão permitiu-nos identificar os elementos fundamentais que caracterizam o uso e a ocupação territorial dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, bem como a análise de suas dinâmicas espaciais, as especificidades sócio-econômicas e paisagísticas perante o contexto 1 Relatório de Pesquisa Professora do curso de Geografia do IESA, Universidade Federal de Goiás. 3 Aluna do curso de Geografia do IESA, Universidade Federal de Goiás e bolsista PIBIC. 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 2 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA regional, a dimensão de sua articulação na rede espacial, e o contexto territorial urbano sob a lógica do capital. Para avaliar a dimensão das potencialidades e vulnerabilidades paisagísticas, fez-se necessário a elaboração de mapas temáticos que representassem o meio físico. Para tal, adquirimos os mapas através do SIG-Goiás, e tratamos as informações utilizando programas de geoprocessamento. As informações foram reunidas em um quadro síntese tendo por base os tipos de solos, os quais foram devidamente caracterizados com os elementos do meio físico predominantes (vegetação, geologia, geomorfologia etc). A partir da compreensão dos elementos norteadores na estruturação da paisagem – que foi possível através das correlações espaciais de suas características dominantes, relacionamos o meio físico com o processo de ocupação e com as principais atividades econômicas nos municípios Água Fria e Padre Bernardo, que são a agricultura e a pecuária. O entendimento desta relação – NaturezaSociedade, aliado aos dados referentes à população e a produção, atenta-nos a questão sócioambiental, presente no processo de adequação e apropriação do espaço natural numa região que tem sido caracterizada como fronteira. Essa dinâmica capitalista, que permite a articulação com diversos setores produtivos e financeiros, tem estabelecido uma nova configuração no território urbano. Procuramos então, analisar o processo de urbanização e a organização do espaço urbano nos municípios Água Fria e Padre Bernardo, e o seu grau de inserção em escala regional. - COMPREENSAO DO MEIO FÍSICO NATURAL Ressaltando, a compreensão do meio físico natural é indispensável no estudo do espaço geográfico. É através da correlação do natural e do social que se obtém a visão de totalidade do espaço que é construído e transformado pelo homem, através de seu trabalho. Diante disso, elaboramos mapas que representam os componentes do meio físico natural dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, para realizar a leitura e interpretação das informações georreferenciadas. Os mapas elaborados foram os de solos, vegetação, altimetria, hipsometria, geomorfologia e uso do solo. A primeira etapa constituiu em identificar as quadrículas que os municípios em estudo estão inseridos e adquiri-las via SIG-Goiás. Após formar um mosaico, com as quadrículas sd22zb, sd22zd, sd23ya e sd23yc, destacamos apenas os municípios Água Fria e Padre Bernardo para UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 3 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA trabalharmos com os dados e as informações existentes, utilizando o programa ArcView. A finalização dos mapas (formatação, legenda, escala gráfica e localização de área) foi realizada no programa Corel Draw. Feito isso, procuramos correlacionar espacialmente os solos com os demais elementos naturais representados nos mapas elaborados. A base desta correlação foi delimitada a partir dos tipos de solos. Assim, cada classe de solo foi representada com as características dominantes do relevo, das feições mórficas, da geologia, da vegetação, do potencial e das vulnerabilidades no uso. Para facilitar a análise elaboramos um quadro síntese elencando todas essas correlações. Assim, podemos tecer as seguintes considerações: Os solos são resultantes de determinadas formações geológicas. Neste caso, temos formações do mesoproterozóico e do Terciário/Quaternário, representados pelos Grupos Canastra e Paranoá. Os principais solos destas formações são os Latossolos e o Cambissolo. Observando os mapas percebemos que o latossolo é o mais usado para agricultura. Nem sempre foi assim. Por causa do intenso intemperismo a que são submetidos, a maior parte dos latossolos são pobres em nutrientes vegetais, sendo considerados até pouco tempo como problemáticos para a agricultura, devido sua baixa fertilidade natural e grande susceptibilidade à erosão. Com a política de desbravamento do cerrado e os avanços tecnológicos relacionados ao emprego adequado de corretivos de acidez do solo (calcário) e adição de fertilizantes de tipos e quantidades adequadas, pôde-se obter excelentes resultados com a atividade agrícola em áreas de latossolos. Soma-se a isso, o relevo plano e suave ondulado favorável a mecanização. Consequentemente tem-se o aumento da produtividade, o que torna este solo bastante procurado. O Cambissolo é um solo sem grande desenvolvimento de horizontes, e o relevo, geralmente com acentuado declive, torna-o num solo não muito próprio para a agricultura. No entanto, é propício à pastagem. De forma mais específica: - O solo dominante em Água Fria de Goiás é o Cambissolo, de textura argilosa e média, com caráter cascalhento. A área do Cambissolo pode ser dividida em dois principais segmentos de relevo, que são reprentados pelas cotas entre 700 e 900m e as de 900 a 1100m. Em geral, o declive é acentuado, perpassando o suave ondulado ao montanhoso; - A segunda maior ocorrência é a de Latossolo Vermelho-Escuro, seguido do solo litólico. O LE apresenta textura argilosa a muito argilosa e o relevo é plano e suave ondulado apesar de as cotas altimétricas serem entre 700 e 1100m. O Solo Litólico apresenta textura média, caráter cascalhento e relevo forte ondulado a montanhoso, de topo aguçado, com cotas que variam entre 900 e 1300m; UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 4 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA - Os solos que compõem o relevo plano são o Gleissolo, Solo Aluvial, Solo Petroplíntico e Podzólico Vermelho-Escuro; - De todos estes, os solos que apresentam aptidão para lavoura com potencial de mecanização e irrigação são o Latossolo Vermelho-Escuro e o Podzólico Vermelho-Escuro, sendo recomendado a cultura anual de ciclo curto. Atualmente a área de LE é utilizada para a agricultura comercial, e o PE como pastagem plantada; - O cambissolo é o único em Água Fria utilizado como Pastagem Natural; - As áreas utilizadas como pastagens plantadas correspondem ao Gleissolo (que também é usado pela agricultura comercial, apesar de não recomendado), ao Solo Aluvial, ao Solo Petroplíntico e ao PE. - O Solo Litólico é utilizado como área de preservação, que também é uma aptidão do Cambissolo. - Em Padre Bernardo os solos dominantes são o Cambissolo (textura argilosa e média, caráter cascalhento) e os Latossolos (textura muito argilosa e argilosa). O Cambissolo tem maior ocorrência na porção leste, sendo representado pelas cotas entre 700 e 900m de altitude. E em menor grau, pelas cotas entre 500 e 700m. O relevo destas áreas é ondulado e forte ondulado, com morros de topo tabular e convexo. Há ainda relevo de morros e colinas com topo aguçado em altitudes de 900 a 1100m. O Latossolo Vermelho-Amarelo ocorre, predominantemente, em altitudes entre 700 e 900m, num relevo plano e suave ondulado. O Latossolo Vermelho-Escuro é encontrado em cotas que variam entre 500 e 700m, próximo ao LA, e entre 1100 e 1300m circundado pelo Solo Litólico. - O Solo Litólico, com relevo de morros e colinas e de forte controle estrutural, predomina em altitudes entre 1100 e 1300m. Porém, chega a alcançar 1500m. - Os Podzólicos são os que menos ocorrem no município. O Podzólico Vermelho-Amarelo é encontrado próximo ao LE, apresenta textura média e argilosa, relevo suave ondulado e ondulado (500-700m). Já o Podzólico Vermelho-Escuro é uma estreita faixa entre o Cambissolo, com relevo suave ondulado e ondulado em altitudes entre 700 e 900m. - Os Latossolos Vermelho-Amarelo e Vermelho-Escuro são os que apresentam aptidão para lavoura de cultura anual e são propícios à mecanização e irrigação. Atualmente estes solos são utilizados para a agricultura comercial e pastagem plantada. - Os podzólicos possuem aptidão para a lavoura, sendo recomendado a cultura anual para o PA, que apresenta boa propensão à mecanização e regular à irrigação, e a cultura permanente para o PE, com restrição à irrigação e regular propensão à mecanização. No entanto, estes solos são utilizados como pastagem plantada. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 5 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA - O Cambissolo é usado como pastagem natural e área de preservação. - O Solo Litólico, com o uso agrícola desaconselhável é utilizado como preservação. - Tanto em Água Fria como em Padre Bernardo, o Solo Litólico é usado como preservação devido às restrições geológicas e geomorfológicas no que diz respeito à produção agropecuária. Sua litologia é formada por quartzito, calcário e outros, além do que, o relevo é forte ondulado com a presença de morros de topo aguçado. Nesta etapa da pesquisa nos limitamos estudar as propriedades dos solos e seus afins, de forma a facilitar a análise do perfil sócio-econômico dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, de caráter eminentemente agropecuário. Fica assim, para a etapa posterior um estudo mais amplo e detalhado dos componentes naturais como a vegetação, o clima, rede de drenagem entre outros, fundamentais no estudo da paisagem. ANÁLISE DO PROCESSO DE POVOAMENTO Segundo Gomes (1993) o povoamento do estado de Goiás se deu de forma lenta por etapas distintas, coincidindo com os seguintes fatores: - corrida do ouro (séc.XVIII); - agropecuária tradicional (séc. XIX E XX); - colonização espontânea e oficial (primeiras décadas do séc. XX); - garimpagem de pedras preciosas e cristal de rochas (séc. XX); - ferrovias e rodovias de integração nacional (séc. XX); - expansão recente da fronteira agrícola baseada nas culturas da soja e cana-de-açúcar e na pecuária melhorada. A relação homem-natureza no processo de povoamento pode ser vista nos fatores acima destacados. A corrida do ouro e a garimpagem de pedras preciosas estão intimamente ligadas a determinadas litologias; a agropecuária está relacionada, principalmente, aos solos e aos recursos hídricos; e a implantação de ferrovias e rodovias depende da disposição do relevo. Destes fatores, ao menos três fazem parte da dinâmica demográfica dos municípios Água Fria e Padre Bernardo, situados no entorno do Distrito Federal. - Água Fria UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 6 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Água Fria de Goiás fazia parte do município Planaltina, que nasceu sob influência da exploração do ouro há 100 anos antes da construção de Brasília. Na década de 1960, quando foi estabelecido o quadrilátero para o Distrito Federal, Planaltina, até então nas proximidades da Capital Federal, teve sua sede transferida para a fazenda Brasília. E em meados da década de 1980, a porção norte do município, uma área correspondente a 2.029.406 Km², foi desmembrada dando origem ao município de Água Fria de Goiás. Essa fragmentação, possivelmente, deu-se pelo irregular ritmo de crescimento entre uma área e outra. Vejamos como essa diferença refletiu-se na população: POPULAÇAO TOTAL DOS MUNICÍPIOS ÁGUA FRIA E PLANALTINA 19802005 1980 Água - 1991 1996 2000 2001 2002 2003 2004 2005 3.976 3.771 4.469 4.527 4.573 4.621 4.722 4.778 40.201 58.576 73.718 77.882 80.770 84.043 90.914 94.717 Fria Planaltina 16.178 Fonte: SEPLAN, 2006 Ademais, levando em consideração algumas características do meio físico como o potencial hídrico e as transformações que ocorrem no campo desde a década de 1970, afirmamos que um dos motivos do povoamento e urbanização em Água Fria foi a recente expansão da fronteira agrícola com a exploração de lavouras comerciais. Em linhas gerais, o povoamento dessa área surgiu com a necessidade de mão-de-obra dedicada à produção agrária e a urbanização, consequentemente, sob a necessidade do fornecimento de meios de consumo pessoal e produtivo. - Padre Bernardo A ocupação do território de Padre Bernardo teve início no século XIX, com o estabelecimento das primeiras fazendas de criação de gado às margens do rio maranhão. “Pelo menos 20% das cidades goianas e tocantinenses surgiram de sedes de fazendas, em torno das quais o lugarejo surgia e prosperava, em terrenos menos acidentados do que o relevo das cidades oriundas da mineração. Este fator facilitou o crescimento e o desenvolvimento da cidade de origem agropecuária... Para sair da estagnação econômica em que as regiões de Goiás e Tocantins se UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 7 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA achavam, os seus habitantes encontraram a solução na roça e na criação extensiva, já que dispunham de imensos espaços favoráveis à atividade agropastoril tradicional.” (GOMES, 1993; p.71) A emancipação do município Padre Bernardo, até então pertencente ao município de Luziânia, deu-se no início da década de 1960, período em que teve início a construção da capital federal, e junto a ela rodovias de integração, consideradas um importante fator de povoamento. As rodovias atraíram trabalhadores de diversas regiões e também formas mais modernas do capitalismo, que ao penetrarem no campo deram lugar a uma nova dimensão na principal atividade econômica em Padre Bernardo. A pecuária passa da forma tradicional para uma forma “melhorada” atendendo às exigências do mercado. Além do fator econômico não podemos esquecer da importância da função religiosa no processo de povoamento do município Padre Bernardo, que em meados da década de 1930, a tradicional festa em louvou ao Divino Espírito Santo atraía romeiros de regiões vizinhas. Assim podemos dizer que o aumento do rebanho e dos fiéis ocasionou o crescimento do município. A DINÂMICA SÓCIO-ECONOMICA NO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO A dinâmica sócio-economica de um lugar é resultado de uma série de fatores, como localização geográfica, recursos naturais, políticas públicas e, principalmente, o impacto do capitalismo, que atinge os lugares de formas e intensidades diferenciadas. Todos esses fatores refletirão na organização do espaço, e consequentemente nas relações de produção e na distribuição e evolução da população sobre o território, o que dá uma nova dimensão ao urbano. De acordo com Santos (1992), “o espaço é um sistema complexo, um sistema de estruturas, submetido em sua evolução à evolução das suas próprias estruturas”. (p.16) Dentre as estruturas do espaço, atemos-nos as estruturas demográficas, econômicas e suas interações para entender o processo de urbanização dos municípios Água Fria e Padre Bernardo. O município Água Fria foi fundado sob uma região agrícola, no final da década de 1980. Sua população inicial, conforme o censo de 1991 era de 3.976 habitantes, sendo 76% da zona rural. Neste período as formas mais modernas do capitalismo penetravam no campo, e ao mesmo tempo em que havia um aumento na produção, a distribuição da população sobre o território estava sendo alterada. Isso se deve ao fato de que os pequenos agricultores, incapazes de acompanhar a lógica do mercado, foram expuslos do campo e obrigados a vender seu trabalho para os empresários do UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 8 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA campo em grandes plantações de soja e milho, ou então se aventurarem em pequenas ativiadades no pacato aglomerado urbano. Ao obsrvarmos o gráfico populacional do município, percebemos que, entre 1991 e 1996, a população rural decresce consideravelmente em relação à urbana. Com isso podemos afirmar que o exôdo rural foi o grande fator de urbanização em Água Fria. Nestes 5 anos (1991-1996), a população total diminuiu em 6%, o que nos leva a crer que houve um deslocamento, principalmente da população jovem, para os centros regionais, em busca de estudo e emprego. POPULAÇÃO - ÁGUA FRIA DE GOIÁS 5.000 4.000 3.000 Total 2.000 Urbana 1.000 Rural 0 1991 1996 2000 2001 2002 2003 Fonte: Seplan A partir do ano 2000, a população total, assim como a rural e a urbana entra em uma estabilidade, que pode ser entendida tanto como um equilíbrio nas relações sociais de produção ou como uma estagnação social e econômica, já que o município até hoje, apresenta sua população rural consideravelmente maior que a urbana. Padre Bernardo apresenta uma trajetória temporal mais abrangente, porém, devido à carência de dados tomamos como referência a partir de 1980, período em que as transformações sócio-econômicas provenientes da construção de Brasília já completavam duas décadas. O município participou diretamente dessas transformações, a qual repercutiu em sua estrutura populacional, assim como em todos os municípios limítrofes com o Distrito Federal. Conforme os dados referentes a 2003, a população total destes nove municípios no Entorno de Brasília somam 658.090 habitantes e a população urbana ultrapassa consideravelmente à rural. No caso de Valparaíso a população rural é nula. É seguindo esta lógica que em 1980 a diferença entre a população urbana e a rural em Padre Bernardo não ultrapassa 5%, e já em 1991 a população urbana é maior. POPULAÇÃO – PADRE BERNARDO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 9 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA 25.000 20.000 15.000 Total 10.000 Urbana Rural 5.000 0 1980 1991 1996 2000 2001 2002 2003 Fonte: Seplan Em relação à dinâmica populacional do município Padre Bernardo, consideramos relevantes os seguintes dados: - entre 1980 e 1996 a população rural somente decresceu; - a população urbana teve maior crescimento entre 1980-1991 e 1996-2000; - a maior taxa geométrica de crescimento, 6,25% foi entre 1996-2000; - a partir do ano 2000 a população rural volta a crescer e a população total tem um crescimento lento, considerando os intervalos anteriores. A partir desses dados percebemos que as maiores alterações na população do município Padre Bernardo aconteceram entre 1996 e 2000. Já que o capitalismo atinge os lugares de formas e em tempos diferenciados, foi nesse período que houve uma maior integração dos espaços, juntamente com novas formas de produção e novas relações sociais de produção, que culminaram no aumento da população total, através da migração de trabalhadores oferecendo mão-de-obra e de novos investidores, já que as condições estavam sendo criadas. A estrutura econômica dos municípios em estudo, segundo os dados do setor produtivo apresentam algumas especificidades em comum e outras distintas. O que Água Fria de Goiás e Padre Bernardo têm em comum é a economia de caráter agropecuária e a rede de articulação espacial, sendo o escoamento da produção direcionado ao Distrito Federal concretizando a estratégia do capital de distribuição das atividades produtivas e da população. O que difere é a intensidade e os efeitos dessas relações perante o contexto regional, onde o grau de inserção em escala regional repercute na organização do território urbano destes municípios. A produção de grãos em Padre Bernardo não teve aumento significativo no período entre 1991 com aproximadamente 18 toneladas e 2003 com pouco mais de 20 toneladas. E a área (ha) destinada à produção agrícola diminuiu neste período. Porém, o forte do município é a pecuária, 10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA estando em 2002 no ranking entre os 50 maiores rebanhos bovinos do Estado de Goiás, com 120.000 cabeças. O município Água Fria tem como forte a produção de soja, milho e feijão. Apesar da redução da área de cultivo entre 1991 e 2003 houve um considerável aumento na produção, passando de pouco mais de 20.000 toneladas em 1991 para mais de 80.000 toneladas em 2003. Já o efetivo da pecuária teve em 2002 44.136 cabeças de gado. Arrecadação do ICMS (R$ mil) 2000 Água Fria Padre Bernardo 2001 2002 2003 2004 315 237 611 1.354 961 1.249 1.343 2.578 11.225 3.339 Fonte: Seplan O setor secundário representado pela indústria de transformação, de construção e outras atividades industriais são pouco expressivas em ambos os municípios. O setor terciário representado pelo comércio, serviços e administração pública, em Água Fria é representado por pequenos comércios varejistas que atendem a demanda local. E em Padre Bernardo é o setor majoritário, concentrando 81% da população ocupada. Estas informações nos mostram a dimensão urbana dos municípios em estudo, pois o ordenamento e a dinâmica territorial urbana dependem de como se reproduz as relações sociais de produção e a força de trabalho. Cabe então, na próxima etapa do trabalho estudar os efeitos dessas relações, como as desigualdades sócio-espaciais, a articulação da cidade com os diversos setores produtivos e o uso do solo urbano. COMENTÁRIOS FINAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 11 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Nesta fase da pesquisa buscamos compreender a apropriação espacial dos municipios Água Fria e Padre Bernardo através de alguns fatores históricos geográficos e econômicos. A saber, a dinâmica ambiental aliada à dinâmica do capital estruturou estes lugares sob determinadas formas e relações de produção, responsáveis pelo ordenamento territorial, dinâmica demográfica, níveis de integração sócio-espaciais, relação campo-cidade e funções urbanas. A principal característica desta região no leste goiano, mais especificamente, no entorno de Brasília é justamente a integração espacial que os municípios do entorno mantêm com o Distrito Federal. Essa integração permite a articulação entre diversos setores produtivos e financeiros e é o que define o grau de inserção de um município em escala regional. A partir dessas considerações percebemos que a localização é um fator determinante, diferenciando dentro de uma mesma região os efeitos dos fluxos ligados à produção, comercialização e serviços. Pelo viés da desigualdade sócio-espacial o modo de vida em Água Fria de Goiás está à margem do contexto regional, sendo que nas proximidades do Distrito Federal há intenso movimento de pessoas e mercadorias, desencadeando num processo de urbanização cada vez mais acelerado, o que não acontece no município. Padre Bernardo limita-se geograficamente com o Distrito Federal e apresenta uma via de acesso direto à Brasilia, o que acelerou o processo de urbanização desde a década de 1980. Porém, a produção agropecuária em expansão torna este processo um pouco mais complexo, já que a população tende a se ocupar em atividades tanto urbanas quanto rurais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 12 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA BARREIRA, celene Cunha Monteiro Antunes Barreira. Vão do Paranã – a estruturação de uma região. Brasília: Ministério da Integração Nacional/UFG, 2002 DEUS, João Batista de. As atuais transformações estruturais na economia goiana e os seus desdobramentos nas mudanças socioespaciais. In: ALMEIDA, Maria Geralda (org.) Abordagens geográficas de Goiás: o natural e o social na contemporaneidade. p:177-196. Goiânia: IESA, 2002 GOMES, Horiestes e NETO, Antônio Teixeira. 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