museudapessoa.net P/1 – Bom, Poliana, primeiro eu queria te agradecer por dedicar um pouquinho do teu tempo, pra gravar tua história de vida para o Projeto dos Correios e para o Museu da Pessoa, também. Pra começar e deixar registrado, eu queria que você falasse seu nome completo, onde você nasceu e tua data de nascimento. R – Ah, eu que agradeço. Obrigada pelo convite, fico honrada em ser uma das pessoas escolhidas pra dar meu depoimento, falar um pouco da minha história de vida e, meu nome, Poliana Okimoto, agora Poliana Okimoto Cintra, mas mais conhecida como Poliana Okimoto no meio do esporte. Data de nascimento, oito de março de 1983. P/1 – E onde você nasceu? R – Em São Paulo. P/1 – E quais os nomes dos teus pais, Poliana? R – Meu pai, Yoshio Waldemar Okimoto. Minha mãe, Cleonice Cavalcante Okimoto. P/1 – E dos avós? R – Hermina Okimoto, da parte do... de pai. E Sam Okimoto. E da parte de mãe, meu avô, Porfirio Cavalcante e a minha avó, Sebastiana Cavalcante. P/1 – E conta um pouquinho primeiro da história da família do teu pai, depois da tua mãe, pra gente. R – Bom, a família do meu pai é japonesa, então, os pais dos meus avós vieram do Japão e vieram pra São Paulo e foram pro interior de São Paulo. Meu pai nasceu em São José do Rio Preto, minha avó ainda é viva e ela ainda mora lá e meu pai viveu toda a infância dele no interior e foi estudar em Uberaba, que é a cidade da minha mãe, e eles se conheceram, casaram e vieram pra São Paulo, tentar uma vida melhor e meu pai é dentista, então ele começou a trabalhar aqui e se estabeleceu na cidade. E teve três filhos. P/1 – E da família da tua mãe? R – A família da minha mãe é mineira. A minha mãe nasceu numa cidade que nem existe mais, chama Nova Ponte, é uma cidade que foi aterrada pra fazer uma usina, então acho que com quinze anos ela saiu dessa cidade e foi morar em Uberaba e foi lá que ela conheceu meu pai e a família dela que ainda mora lá. Eu já não tenho mais avós vivos, mas os irmãos dela – ela tem quatro irmãos – todos moram lá. Meus primos... A gente sempre passou assim muito tempo lá em férias, juntos. Meu irmão ainda tá morando lá, porque ele foi pra lá pra fazer faculdade, a nossa história tá um pouquinho ligada em cada lugar. P/1 – E você teve contato com os seus avós? Você tem histórias de contato com eles? R – Ah, era mais difícil. Porque a gente morava aqui em São Paulo e a gente só passava final de ano assim, natal, férias, junto com a família, era sempre dividido. Natal com a família do meu pai, ano novo com a família da minha mãe ou vice-versa. Então, assim o contato que a gente tinha era pouco. Porque era longe, São José do Rio Preto dá umas seis horas de São Paulo e Uberaba é de sete a oito horas, então não dava pra ir sempre pra lá. E meus avós como já não eram muito bons de saúde, também não podiam ficar vindo muito pra cá, era só em fim de ano, nas festas que a gente se via mais. P/1 – Poliana, você falou que teu pai é dentista, fala um pouquinho do teu pai e da sua mãe pra gente. R – Ah, é difícil falar. A gente sempre... Todo mundo acha que tem os melhores pais do mundo. Mas, acho que os meus realmente, eles foram assim, ótimos pais pra mim, se eu conseguir ser um terço da mãe e do pai que eles foram pra mim, pros meus filhos eu vou tá muito feliz, porque eles fizeram de tudo pra gente, sempre pensando no nosso melhor. Só o meu pai de o meu trabalhar em casa, ele sempre se esforçou muito. Tinha épocas assim que ele trabalhava até meia noite pra conseguir dá um sustento bom pra família, conseguir pagar um colégio bom, conseguir me manter na natação, porque é um esporte caro, querendo ou não, é difícil ter patrocínio e só depois de um tempo no paitrocínio que eu consegui um patrocínio, patrocínio dos Correios... Que me ajudou demais desde pequena, eu tenho que só agradecer meu pai e minha mãe por todo apoio que eles me deram, não só pensando em natação, mas assim pelo caráter, honestidade, pelo exemplo de vida que eles têm, que eles passaram isso pra mim, pros meus irmãos, eu acho que a família é muito unida, todo mundo gosta de todo mundo dentro da família, todo mundo se preocupa com cada um, sabe? E eu acho que esse amor que a gente tem um pelo outro é muito mais importante do que qualquer outra coisa no esporte. P/1 – Poliana, você tem irmãos? R – Tenho dois irmãos, um mais velho e um mais novo. P/1 – Quais os nome deles? R – O mais velho chama André, André Luís Okimoto e o mais novo, Alisson Okimoto. P/1 – Poliana, você falou um pouquinho das férias que você ia passar com a família da tua mãe, de vez em quando, no Natal, ia visitar a família do teu pai... Conta um pouquinho da tua infância pra gente, do que gostava de brincar... R – Bom, a infância... Eu sou dois anos mais nova que o André e sou seis anos mais velha do que o Alisson, a gente era amigo, nós três, acho que principalmente com o André porque a diferença de idade é pouca. Então, a gente brincava muito junto, quando o Alisson começou a brincar um pouco mais a gente já era um pouquinho mais velhinho. As brincadeiras eram diferentes, mas o Alisson sempre foi assim, um menino que se enturmava muito bem com qualquer tipo de pessoa, com qualquer idade, ele tava sempre no meio. A gente morava em prédio. Em São Paulo, então a gente tava sempre descendo lá no pátio do prédio. E brincando com os amiguinhos lá. Era bom, porque era seguro. Pra minha mãe não ficar preocupada com a gente brincando na rua, e ao mesmo tempo era também bom pra gente porque tinha muitos amiguinhos da nossa idade lá, era piscina, era quadra, era parquinho, a gente ficava o dia inteiro fora de casa, só chegava, comia, tomava banho e saía de novo (risos). P/1 – E tinha alguma brincadeira que você mais gostava? Que era a tua preferida? R – Ah, eu sempre fui, eu sempre fui assim desde pequena muito hiperativa. Eu não parava quieta, eu sempre tinha que buscar alguma coisa pra fazer, então, era pega–pega, esconde–esconde, queimada, na escola eu gostava muito de jogar handebol e a natação, né? Lógico! Sempre, desde pequena... É, com dois anos eu entrei na natação pra aprender a nadar e aí, com sete anos eu já comecei no treinamento e eu amava, sempre amei, amo, ainda a natação! Desde que eu me conheço como gente a água faz parte da minha vida. A brincadeira também era na água, mesmo quando eu não tava no treino, se eu tava no prédio, a gente ia pra piscina brincar de água, sempre dava um jeito de aprontar (risos). P/1 – E você se lembra das aulas de natação quando ainda era bem pequenininha?O que você mais gostava nas aulas? R – Eu me lembro, eu... Eu nadava em academia. Então, tinham duas piscinas: a piscina de aprendizado que era a menor e rasa e a piscina que era para aperfeiçoamento e treinamento. E eu me lembro muito bem do dia que eu tava na água, na piscina pequena, aprendendo ainda a nadar e um professor que era da aula de aperfeiçoamento, chegou nessa piscina e falou assim: “Poliana, amanhã você vai nadar na piscina grande”. Eu falei: “Não! Eu não vou nadar na piscina grande! (risos) Eu tenho medo! Eu não vou conseguir atravessar a piscina toda”. No dia seguinte, eu fui morrendo de medo, a água era até um pouco mais gelada. Eu fui e o professor entrou na água junto comigo e aí eu gostei muito e nunca mais quis sair de lá. P/1 – E o mar, Poliana? Você se lembra de ir à praia quando menina? Gostava de nadar na água do mar? R – O meu pai tinha uma casa em Caraguatatuba e eu tinha acho que uns dez, 11 anos... Ele começou a construir, ele comprou o terreno e começou aos poucos construir e a gente tinha um amigo que tinha uma casa no mesmo lugar que a gente tava construindo, então a gente ia sempre pra casa desse amigo e pro meu pai ir vendo a construção, como que estava, eu me lembro muito bem assim, desde pequena amar de ir na praia. Sempre gostei, meus irmãos... A gente comprou uma prancha de surf, a gente ficava o dia todo pegando onda (risos) e a minha mãe ficava doida da vida atrás da gente, com medo da gente se perder, se afogar, porque a praia era cheia. Eu lembro até dela comprar um guarda–sol de melancia pra gente não se perder, pra gente saber que ela tava ali. A gente sempre tinha que ficar olhando pra praia e acenando pra ela pra falar que tava tudo bem. P/1 – Poliana, você se lembra das tuas primeiras lembranças escolares? Do comecinho? R – Eu entrei na escola bem novinha. O meu irmão mais velho já estava na escolinha, então a minha mãe decidiu me colocar pra ir sociabilizando já com as crianças. Eu entrei num colégio que chamava Pixoxó, aqui na Zona Leste de São Paulo. E era um colégio–floresta, tinha bastante animal, tinha papagaio, um monte de pássaro, tinha tartaruga e a gente brincava muito assim, era mais uma diversão, do que ir pra aprender. Mas, eu sempre gostei assim de estudar, desde pequena. P/1 – E você morava na Zona Leste? Em que bairro você morava? R – Eu sempre morei na Penha... De infância assim, até uns três anos eu morei ali perto de São Miguel, ali, Ponte Rasa e logo depois a gente veio pra Penha e a minha mãe e meu pai se estabeleceram lá. P/1 – Poliana, você falou que com sete anos, já começou a competir. Conta pra gente: lembra da primeira competição? R – Eu lembro mais ou menos, eu... Meu pai grava tudo, tem fita das competiçõezinhas que eu ia, desde pequenininha, tem fita guardada minha até hoje. Às vezes a gente até dá umas olhadas porque chega a ser engraçado. E assim, eu sempre gostei muito de nadar, era muita diversão pra mim. Eu não encarava aquilo como competição. Com sete anos de idade a gente vai para estar junto com os amiguinhos. Vai porque gosta, não vai pensando em competir. Então, no começo foi assim. E no começo, as provas de natação, eram só 25 metros. Dos sete aos dez, era só 25 metros, 50, no máximo. Só que velocidade nunca foi meu forte, sempre fui melhor de resistência, nos treinamentos sempre mostrei que era resistência meu forte. Eu não ganhava nada, eu era uma das últimas a chegar, era um zero à esquerda. Eu até chegava pro meu técnico e falava: “Mas, puxa, eu no treino, ganho de todo mundo, aí chega na competição, eu sou a última?!” (risos). Aí, o técnico sempre falava: “Não, calma que o seu negócio é resistência, quando você estiver mais velha as provas vão ficar mais longas e você vai começar a se destacar melhor”. Com 12 anos foi minha primeira prova de 400 metros, era a prova mais longa que tinha pra idade, aí eu ganhei. Ganhei o Campeonato Paulista, bati recorde paulista, ganhei até dos meninos. Então, aí que ele falou assim: “Olha, realmente, você vai ser uma nadadora de fundo”. Que é nadadora de resistência. E aí que eu comecei a gostar mais ainda. Quando você começa a ganhar, vira um vício. Você vai querer sempre ganhar, vai querer sempre tá melhorando e se superando. P/1 – E esse foi seu primeiro técnico? Fala um pouquinho dele pra gente. R – É. O nome dele é Ismar Barbosa, ele foi meu primeiro técnico, eu treinei com ele durante dez anos. E ele foi realmente assim, a pessoa que me descobriu. Descobriu meu talento, desde os sete anos quando ele me pegou para treinar, ele via que eu tinha talento pra nadar e ele sempre falava para minha mãe para ela me ajudar. Em casa, nas lições de casa, é difícil o atleta que é ainda muito inexperiente, conseguir levar as duas coisas junto, estudo e esporte, e ela me ajudava muito com a natação, com os estudos e com a alimentação também. Criança quer comer besteira, quer comer doce, salgadinho, então até no lanche da escola, o meu recreio era diferenciado, eu tinha que levar de casa um negócio mais saudável, um suquinho, uma fruta. Minha mãe sempre se preocupou muito com a minha alimentação. E deu muito certo assim, desde pequena eu fui muito regrada, hoje em dia tudo eu não tenho nenhum tipo de problema com a alimentação. P/1 – Poliana, você falou um pouquinho da ajuda da tua mãe e eu queria te perguntar: na tua casa tinha festa de aniversário, Natal? R – Tinha tudo. Até hoje, eu até brinco com a minha mãe que eu estou com 30 anos e ela não deixa um aniversário sem o bolinho dentro de casa (risos). Todo ano sempre tinha o bolo, eu chamava minhas amiguinhas, tanto pra mim, quanto pros meus dois irmãos. O meu pai, eu acho que é o mais sortudo de todos, porque ele faz aniversário, dia primeiro de Janeiro, então a festa dele é a mais comemorada. Mas, minha mãe sempre fez assim muita questão de fazer festa, Natal sempre reúne a família até hoje, todo mundo tem que estar junto, ano novo cada um pode até se virar com os amigos, ou eu agora casada, vou pra família do meu esposo, mas natal é regra, a gente tem que tá sempre junto. P/1 – E teve algum aniversário, algum presente (risos), que você tenha ganhado que tenha marcado? Uma festa? Algum presente? R – Com dez anos de idade, minha mãe fez uma festa e foi num restaurante. Pode falar o nome? P/1 – Pode, pode. R – Foi no McDonald’s. E na época assim era uma febre, todo mundo gostava de fazer festa no McDonald’s. Eu fiquei super realizada, que eu ganhei muito presente, foi todo o pessoal da escola, da natação, foi assim, super legal, eu nunca me esqueço dos presentes e, na época a gente usava sempre touca de latex, então a touca acabava com o cabelo, ficava larga, era um sacrifício e estava começando as toucas de silicone, naquela época. E era super caro assim, não dava pra comprar. E eu ganhei lá na festa de dez anos, ganhei uma touca de silicone de um amiguinho lá da natação. Nossa! Mas, eu fiquei super feliz, super animada pra no dia seguinte começar a usar a touca. P/1 – Poliana, conta um pouquinho agora como que era com os teus amigos. Você brincava com o pessoal da natação? Saía com eles? Fala um pouquinho desse universo. R – As minhas amizades eram mais com o pessoal da natação do que com o pessoal da escola e do prédio. Porque era com quem eu passava mais tempo junto. E a gente acabava viajando pra competir, os nossos interesses eram em comuns e a gente acabava se envolvendo mais. Eu sempre me dei bem com todo mundo, nos treinamentos, um ajudando o outro, a hora que um tava quase desistindo: “Nossa, eu não vou aguentar esse treino hoje”, aí o outro: “Não, vamo lá” – dava um tapinha nas costas – “Vai aguentar! Se eu estou aguentando, você também vai aguentar”, sabe? Sempre foi assim, parceria e companheirismo com todo mundo. P/1 – E como é que era pra viajar? Quando foi a sua primeira viagem pra nadar? R – Em clube, eu acho que deve ter sido com 13 anos, é eu acho que foi com 13 anos, que é na categoria infantil. A gente foi pro meu primeiro Campeonato Brasileiro, foi em Brasília, eu acho que foi a primeira viagem em que a gente viajou junto. E foi assim muito legal, e tava super frio em Brasília, a gente ficava todo mundo juntinho, levava cobertor do hotel e ficava todo mundo juntinho, se espremendo do frio, a água da piscina tava super fria, mas eu nadei super bem, ganhei índice técnico, ganhei três provas do Campeonato Brasileiro, foi o primeiro campeonato já pra marcar. P/1 – E tem alguma história engraçada, algo peculiar dessa viagem ou de alguma outra viagem que você tenha feito? R – Dessa época? Ah, sempre tem. Porque as crianças... Sempre tão aprontando. E o meu técnico era muito rígido, muito bravo, a gente não podia fazer nada, mal olhar pros lados. E eu me lembro que a gente estava... Pra aquecer, ainda nem tinha começado a competição, ele pediu pra gente alongar, a gente tava realmente alongando, mas começou a passar a música, e aí a gente começou a aquecer dançando (risos), o técnico ficou doido da vida quando viu a gente dançando: “Porque é pra vocês alongarem, vocês não tão se concentrando na competição, não sei o quê, não sei o quê...” Mas aí passa. Essas coisas, é coisa de molecagem. Hoje eu realmente vejo, que, poxa, não era pra tá dançando, era pra tá alongando, mas a gente era criança. 13, 14... 12, 13 anos, a gente tava lá mais pra curtir do que pensando em competir. P/1 – Poliana, além da natação na escola, o que você mais gostava? Alguma matéria? R – Ah, matéria, na escola o que eu sempre gostei de português e inglês, tanto que eu fiz Letras depois na faculdade. E o que eu não gostava era de Química, Física, nunca gostei de matérias muito exatas, de Matemática, sempre tive mais dificuldade, mas com Português, Inglês, Espanhol sempre fui boa. Redação, Literatura, sempre gostei muito e era um prazer estudar pra mim, essa matérias (risos). P/1 – E as aulas de Educação Física? R – Na Educação Física eu sempre fui boa também. Porque a natação ajuda na coordenação motora. E a criança no começo é totalmente descoordenada. Eu sempre me saía bem nas aulas, eu gostava muito de jogar handebol, só que teve um dia que eu tava num jogo, eu caí e quebrei o braço e aí meu técnico ficou louco da vida. Eu tive que ficar um mês de recuperação, fora da água. E faltava assim, dois ou três meses pro campeonato importante do ano, eu perdi muito treino com isso. Ele escreveu uma carta pedindo pro professor de Educação Física me liberar das aulas, que eu era nadadora, competia e tudo mais e depois disso eu não pude mais fazer handebol, nem Educação Física na escola (risos). P/1 – Poliana, conta um pouquinho dessa transição, da parte que você era menorzinha, até a parte que foi ficando mais profissional, que foi ficando mais sério o treino, se intensificando... R – Bom, as coisas pra mim foram assim bem precoces, porque com 13 anos eu fui pro meu primeiro campeonato, Troféu Brasil. Que é um campeonato absoluto, que envolve todas as idades e eu ganhei a primeira medalha, nos 800 metros. E assim, eu era um super talento, era uma promessa e tava todo mundo de olho em mim, sabendo que eu poderia ser uma boa nadadora e com 14 anos eu ganhei a prova. Então, a partir do 14 anos as coisas começaram a ficar mais profissionais, mais sérias. Porque eu ganhei o principal campeonato do Brasil, que envolvia todas as idades, ganhei de atletas experientes, atletas que já tinham dez, 15 anos a mais do que eu, a partir dali começou a ficar mais sério. Eu sempre levei os treinamentos muito a sério. Sempre gostei muito e sempre fui concentrada no treino pra fazer meu melhor. Só que a partir do dia que eu ganhei a medalha no Troféu Brasil com 13 anos, eu tive que começar a fazer dois períodos de treinos, eu tinha que acordar quatro horas da manhã, cair às cinco horas na água, nadava até às sete, saía da água, comia o café da manhã no carro, ia pra escola, saía da escola, comia no carro de novo meu almoço e voltava pro treino. E saía da academia, umas cinco horas da tarde e chegava em casa exausta, eu ainda tinha que estudar, fazer lição de casa, então nessa época começou a ficar mais sério e muito difícil conseguir levar as duas coisas junto. P/1 – E nessa fase teus pais te ajudaram? Você falou que também tem essa questão do patrocínio de conseguir se manter nadando... R – Os meus pais sempre me ajudaram muito, a minha mãe, ela moveu a vida dela toda em função minha, de me trazer, de me buscar, estar sempre à disposição do que eu precisasse, Ela acordava quatro horas da manhã e eu penso que era difícil pra uma mãe tirar o seu filho de 13, 14 anos da cama, quatro horas da manhã, pra colocar na água e treinar. E hoje eu me imagino como mãe e eu imagino que o coração dela devia ficar partido de fazer isso, mas ela sabia que eu queria aquilo, eu pedia pra ela me acordar e ela sabia que era o que eu queria, era o que eu gostava, ela me apoiava muito nisso. E o meu pai também sempre torceu, foi o meu maior incentivador assim, desde pequena, ele acreditou muito em mim, até hoje ele fala: “Não, Poli, você vai conseguir, você vai ganhar, você vai nadar super bem, fica tranquila, vai tranquila pra competição”. E aí, eu penso: “Ai, pai, só você mesmo!”. Pai é pai. Aí, ele fala: “Não, não é porque eu sou seu pai, não (risos), é porque você vai bem mesmo!”. Mas os dois sempre foram... Meu pai, eu acho que é eu fã número um, ele, por mais que eu vá mal na competição, como aconteceu em Londres, eu não consegui nem terminar a prova, ele tá sempre ali me apoiando, estando bem ou estando mal para ele eu sou sempre a melhor nadadora do mundo. P/1 – Você falou que ele sempre filmou as suas competiçõezinhas. Vocês assistiam depois? R – Assistia, assistia e ele dava até as opiniões dele, opinião de leigo: “Oh, Poli, sua virada não tá muito boa; ó, esse braço aqui não sei quê...”. Ele sempre gostou muito assim, sabe? Então, era uma forma dele me ajudar também. Porque eles estando de fora, eles não conseguem ajudar muito. Então, uma opinião que ele desse ali, talvez ele achava que tava me ajudando. E tava, claro, com certeza! P/1 – Poliana, além do treinador, teve algum amigo, alguma pessoa especial que tenha treinado com você bastante tempo, que tenha marcado? R – Nossa, muita gente! Muita gente! Facebook é bom por isso. A gente encontra tanta gente das antigas. Muita gente mesmo passou assim pela minha carreira, pessoas mais velhas, que eram um espelho pra mim, naquela época da academia. A academia chamava Munhoz e era uma academia muito tradicional aqui na Zona Leste, todo mundo que queria aprender a nadar e que queria esporte competitivo nesse local aqui, Tatuapé, Penha, ia pra essa academia, sabia que ali tinha bons formadores. E a minha mãe foi justamente pra lá, pensando nisso, procurando isso. E quando eu comecei a treinar, a treinar mais sério e ir pra competições de campeonatos absolutos, eu ia sempre com o pessoal mais velho, eu sempre fui a mais nova assim. Com 13, 14 anos, o pessoal já tinha 20, 20 e poucos, então eles me tratavam assim como o bebezinho deles. Era a princesinha deles. Eu admirava muito esses nadadores, eu via eles treinando, o treino deles começava depois que o meu acabava, eu ficava na arquibancada vendo eles nadando, admirando e me imaginando, estando no lugar deles. Muitos atletas passaram pela minha carreira e muitos me ajudaram, de uma forma ou de outra. P/1 – E na escola? Tem algum professor que tenha marcado? Que tenha te ajudado? R – Eu acho que me marcou mais um professor que não me ajudou em nada! (risos) P/1 – Pode contar essa história. R – Eu precisava faltar e eu faltava muito, porque eu viajava muito. Então, eu fui conversar com ele: “Professor, eu vou precisar faltar na prova”, e era a última prova do ano e eu tava precisando da média, cinco, seis. E eu: “Professor, eu vou precisar faltar na sua prova, vou ter que fazer a prova substitutiva, tudo bem?”. Eu acho que o professor deve ter ficado bravo de ter que ir lá, nas férias, dar a prova substitutiva pra uma pessoa, aí ele pegou e falou assim: “Poliana, você quer nadar, ou você quer estudar?”. Aí, eu pensei... Eu queria nadar! (risos) Mas, eu não podia falar isso pra ele, eu pensei e falei pra ele: “Ah, professor eu gostaria de fazer as duas coisas junto”, ele falou assim: “As duas coisas junto não dá, tem que escolher uma coisa ou outra”, eu falei: “Professor, eu preciso de cinco”, ele falou assim: “Não importa o quanto você precisa, eu não posso vir aqui nas férias dar a sua prova substitutiva”, eu falei: “Mas, eu tenho direito de ter a prova substitutiva, nem que outra pessoa aplique, eu tenho direito de fazer a prova!”, ele falou assim: “Ó, se eu fosse você, eu escolhia uma coisa ou outra”, e saiu. Aí, eu fiquei super chateada, pensei: “Poxa, será mesmo que eu não consigo fazer as duas coisas junto?”. Mas, eu consegui, sempre consegui. E terminei o colégio, sempre com as melhores notas da turma, o único problema que eu tinha era realmente de falta e que muitas vezes eu faltava em prova e tinha que fazer prova substitutiva, esse era realmente o meu grande problema, mas sempre consegui fazer as duas coisas junto. Mas, esse professor, ele me marcou porque ele não me incentivou em nada. P/1 – E nesse comecinho, ainda nova, o que era mais difícil? Você precisou da ajuda financeira dos teus pais? Como é que era nadar sem um patrocínio ainda? R – Ah, é super complicado. Porque a gente precisava viajar, tinha campeonatos brasileiros, campeonatos paulistas, até campeonatos fora do Brasil, e meu pai realmente não tinha condições de me bancar, de me levar pra todas as competições. E tinha maiô de competição, maiô de treino, touca, óculos, os acessórios todos de treino. Pé de pato, prancha e até os suplementos alimentares. Nessa época assim, de 14, 15 anos ainda não tinha tanto, hoje em dia tem muito mais. Só que o que tinha na época era muito mais caro do que o que tem hoje, se a gente não tomasse um suplemento, uma maltodextrina durante o treino, a gente acabava ficando defasado, sem energia, muitas vezes eu cheguei até a passar mal durante o treino, porque era um treino muito longo, precisava ter um suporte energético melhor, só que eu realmente não tinha condições de comprar tudo o que o nutricionista mandava. Tinha médico, nutricionista, é difícil pro meu pai que tem dois outros filhos pra criar também, conseguir pagar tudo que a natação pedia. E a gente foi levando, foi levando e com 13 anos eu fui convocada pela primeira vez pra um campeonato fora do Brasil e pra ser integrante da Seleção Brasileira e essa primeira vez assim pra mim foi a coisa mais emocionante, o que eu senti na hora, sabe? Quando chegou a cartinha do Correios, me convocando pra Seleção Brasileira de natação, que a gente ia viajar pro Campeonato Sul-americano, ia ser na Colômbia, e veio toda a caixa do Sedex, com os uniformes, todo o material da seleção brasileira que eu sonhava em ter, eu via meus amigos lá do treino, todos vestidos de uniforme, Correios e... Patrocinados pelo Correios, eu sonhava em ter aquilo. E quando chegou a primeira vez, foi uma emoção muito grande. Quando eu vi o envelope do Correios, com meu nome e a minha mãe que me deu. Ela nem quis abrir, ela deixou pra eu abrir, ela falou assim: “Ó, Poliana chegou uma carta do Correios pra você”, eu já: “Nossa, que que será, né?” e quando eu abri, que era a convocação pra Seleção Sul-americana, foi assim a maior emoção que eu tive na época, chorei. Fiz de tudo, mas assim fiquei bem, bem feliz. E aí, a partir dessa primeira convocação até hoje eu continuo integrando a Seleção Brasileira de natação e Maratona Aquática. 1996, 2006... quatro, cinco, seis... Não, pera. 1996, 2006 são dez anos, dez anos pra 2010, 14. Quatorze, 15, 16, 17 anos. Então, a partir dessa primeira convocação, em 1996, que eu fui convocada pro Campeonato Sul-americano, até hoje, depois de 17 anos, eu continuo integrante da Seleção Brasileira e continuo recebendo pelo Correios, a minha convocação pras Seleções Brasileiras. P/1 – E como que foi essa primeira competição como integrante da Seleção Brasileira? R – Nossa, foi assim surreal! Porque eu nunca tinha saído do Brasil, foi minha primeira seleção e tá junto com toda a equipe, integrando a Seleção Brasileira, indo competir um campeonato internacional, que também tinha sido meu primeiro, num país estrangeiro, a gente não sabia o que esperar, mal conseguia pegar um vôo, tinha viajado pouquíssimas vezes de avião, então foi assim, foi super emocionante. E chegando lá, eu ganhei três provas. Oitocentos, 1500 e 400 livre, eu bati recorde sul-americano, lá também, foi meu primeiro recorde sul-americano, foi inesquecível. P/1 – Como é que funcionava? Tinha uma periodicidade pra você ser convocada? Vinha de novo uma convocação? Como que funcionava isso? R – Geralmente, é por competição. Então, Sul-americano é de dois em dois anos, o Sul-americano de Categoria é de dois em dois anos, Sul-americano Adulto, também é de dois em dois anos, sempre intercalado. No ano seguinte eu fui convocada pro Sul-americano Absoluto. Que é o adulto. A partir daí todo ano sempre tinha uma convocação, eu sempre tava no Sul-americano de Categoria, ou no Sulamericano Adulto. Eu fui convocada pra Campeonatos Mundiais, Copas do Mundo, e aí, depois, entrou a Maratona Aquática também e foi seguindo. P/1 – Conta um pouquinho das competições mais marcantes e da entrada da Maratona Aquática na tua vida. R – Bom, teve essa primeira. Em 1996, teve um Campeonato Mundial que eu consegui índice, foi em 2002, foi meu primeiro campeonato mundial em piscina, fui pra nadar a prova de 800 livre e 400 livre, depois entrou a Maratona Aquática e a minha primeira competição internacional foi pro Campeonato Mundial, em 2006, eu era super nova assim em Maratona Aquática, tinha pouquíssima experiência, fazia um ano só que eu fazia prova de maratona, eu fui muito sem saber o que esperar da prova. Só que chegou lá, eu nadei super bem, ganhei uma medalha de prata nos cinco quilômetros, foi a primeira medalha da história da natação brasileira e isso marcou muito a gente, foi em Nápoles, e na prova de dez quilômetros, eu ganhei outra medalha de prata, a gente voltou pra casa com duas medalhas no bolso e muito contentes porque foi medalha histórica. Nunca uma mulher brasileira tinha conseguido uma medalha em campeonatos mundiais de natação e eu fui a primeira, foi assim emocionante. As minhas primeiras vezes foram muito impactantes. No primeiro Campeonato Sul-americano eu bati o recorde sul- americano, ganhei três provas, e no primeiro Campeonato Mundial de maratonas eu trago duas medalhas pro Brasil, sendo que ninguém esperava, nem eu mesma esperava. Não conhecia ninguém, ninguém me conhecia, era o meu primeiro campeonato, então, foi bem surpreendente. P/1 – E nesse comecinho de Maratona Aquática, o que foi mais difícil de se adaptar? O que você precisou mudar nos teus treinos? R – No começo foi bem complicado, acho que o que mais é difícil de adaptar é o contato físico que tem durante a maratona. Como não tem raia pra separar os atletas, nada todo mundo junto, pode acontecer de ter uma cotovelada, um puxão, alguma coisa, mas também existe o fator negativo da prova. Que muita gente faz proposital e nessa primeira prova, na prova de dez quilômetros, eu tive o tímpano estourado... Nessa primeira prova, em Nápoles, que eu ganhei a medalha de prata, na largada eu tive o tímpano perfurado por uma cotovelada no ouvido e, todo mundo me pergunta se foi proposital ou não. É difícil saber. Mas, a pessoa que me deu a cotovelada foi a pessoa que ganhou a prova, então, não sei, pode ser. Mas, o que mais foi difícil de me acostumar foi esse contato físico. A resistência... O meu técnico, hoje ele é meu marido, na época a gente era namorado, ele que me praticamente forçou a começar a nadar na Maratona Aquática, ele via que nos treinos eu era muito mais resistente do que uma nadadora de 800, 1500 de piscina, a gente começou a fazer maratona sem saber se eu ia conseguir me adaptar. E eu me adaptei super bem e realmente a minha resistência é muito grande e a prova de dez quilômetros se encaixou perfeitamente pra mim. P/1 – Poliana, quando que foi essa mudança de treinador? Conta um pouquinho dos lugares que você treinou. R – Bom, eu treinei dez anos com o Ismar Barbosa, que foi meu primeiro técnico, acho que a gente não conseguiu passar da criança pro adolescente. Ele não conseguiu continuar me incentivando e chegou uma hora que eu já não queria nem mais nadar, porque eu não conseguia mais ter motivação. E o esporte é movido por motivação. Se você não tiver vontade mais de ganhar é melhor você parar. Eu procurei outro técnico, fui pro Corinthians, treinei lá durante alguns anos, consegui o índice pro mundial, treinando no Corinthians, o técnico chamava Edílson Bezerra, treinei dois anos com ele, e ele foi mandado embora do clube e eu fui pra Santos, morar e estudar em Santos, na Universidade Santa Cecília, treinei lá durante um ano e foi lá que eu conheci meu marido, ele também era nadador e a gente começou a namorar, e ele ainda nadava nessa época e a gente saiu de lá pra ir pro Pinheiros. E ele parou de nadar e começou a me dar treino, ele já tinha terminado a faculdade e já queria pensar numa carreira e como eu não tava me dando bem com os técnicos de lá de Santos, ele resolveu assumir os meus treinamentos. E a partir do momento que ele assumiu os meus treinamentos, ele conseguiu me motivar, ele conseguiu me incentivar e tudo começou assim a melhorar muito rápido. Nos primeiros seis meses que ele tava me treinando, eu já bati todos os meus tempos em piscina, eu voltei à minha melhor forma, eu já tava em decadência nessa época que eu fui pra Santos, e eu voltei a baixar meus tempos, voltei a ganhar campeonatos brasileiros, sul-americanos, e foi aí que ele descobriu a Maratona Aquática e me apoiou muito pra iniciar esse novo ciclo. E a gente começou a trabalhar junto em 2004 e até hoje a gente tá junto. P/1 – Ah, Poliana, eu queria te perguntar das suas histórias de superação. Se você puder contar algumas pra gente, talvez essa mesmo, ou algumas outras provas que com alguma situação extremamente difícil que você conseguiu superar. R – Ah, essa prova do campeonato mundial, foi a prova de dez quilômetros, eu tive essa pancada no ouvido logo na largada, e eu sabia que alguma coisa tava de errado, porque eu tava muito tonta, comecei a ficar enjoada, mareada, porque bateu no ouvido, a gente começa a mexer com o labirinto, né? Então, eu fiquei muito esquisita, durante a prova, mas consegui voltar à concentração e me superei muito mesmo, porque a vontade era de ter parado ali, porque eu sentia muita dor no ouvido e uma prova de dez quilômetros dura, em média, duas horas, duas horas e pouco, e eu fiquei duas horas com muita dor no ouvido, mas eu sabia que eu tava muito bem preparada, eu tinha acabado de ganhar uma medalha nos cinco quilômetros e queria muito ganhar a medalha nos dez, também dez é a prova olímpica. Eu queria muito aquela medalha e tentei esquecer a dor e me concentrar na prova e foi o que fiz, só pensei me nadar e consegui a medalha de prata também nessa prova de dez quilômetros, foi assim a maior superação que eu tive na minha vida, porque quando eu saí que eu vi que realmente era sério aquela pancada que eu tinha tomado no ouvido, porque eu não conseguia ficar em pé, eu parecia bêbada, ficava de um lado pro outro assim, não conseguia ficar parada mesmo em pé, e o meu ouvido saindo sangue. E com muita água do mar, acabou infeccionando e eu tive até que operar depois pra reconstituir o tímpano, senão poderia até vir a ficar surda um dia. Então, foi uma superação muito grande pra mim. E que teve final feliz, né? Graças a Deus. P/1 – E, Poliana, dos atletas da seleção que você teve contato, teve algum que você tenha se identificado mais? Que você tenha feito alguma amizade? R – Hummm, da Seleção? Eu gosto muito da Fabíola Molina, ela é uma pessoa que irradia felicidade, alegria. Muito positiva, otimista com tudo e ela é um exemplo de pessoa, de nadadora também. Foi uma super nadadora, mas acho como pessoa a Fabíola nota mil. P/1 – E como é na Seleção, quando vocês viajam juntos? Como funciona a concentração? R – A Maratona Aquática a equipe é menor. Porque são duas provas só e são só dois nadadores por país, como eu nado cinco e dez quilômetros, a outra nadadora também nada cinco e dez quilômetros, que é a Ana Marcela, são só de dois a quatro atletas na seleção, a seleção é bem enxuta. Mas, na Seleção Brasileira de natação, tem várias provas, trinta e tantas provas tem mais gente, e aí fica todo mundo junto, vai pra aclimatação junto, treinamento junto, almoço, janta, tudo junto (risos). P/1 – Tem alguma história peculiar, engraçada dessa convivência? R – Bom, a convivência... a convivência sempre é difícil. E quando a gente tá em convivência pensando num campeonato, acaba sendo mais difícil ainda. Eu acho engraçado que geralmente dura em torno de 20, 23 dias, então são 23 que a gente convive 100% do dia junto: dorme junto, almoça junto, treina junto, faz tudo junto, é complicado, fica mais complicado. O convívio é sempre difícil. E quando a gente tá em competição, acaba ficando mais difícil ainda porque todo mundo tá tenso, ansioso pra ir competir, pra saber como que vai competir, o mais engraçado nos treinamentos em altitude que a gente faz, em torno de 20 a 23 dias de convívio, 100% junto, enclausurado, dentro do Centro de Treinamento, não pode sair, não pode fazer nada. No início é tudo alegria, tudo lindo, todo mundo amigo de todo mundo, chega nos últimos dias, tá todo mundo meio nervoso já, pra querer ir embora e competir logo e sempre sai uma briguinha ou outra, mas são tantos anos competindo junto, treinando junto, estando na Seleção junto que a gente acaba sendo uma família ali. Porque muitas vezes, por muitos anos a gente acaba convivendo mais com o pessoal da Seleção, do que com a nossa própria família. Em 2009, a gente teve 12 etapas de Copa do Mundo, Campeonato Mundial, Campeonato Brasileiro e eu morava em Santos. Eu convivi muito mais com o pessoal da Seleção Brasileira, do que com a minha família, a gente acaba sendo todo mundo uma família, mesmo se briga, já, já, já tá tudo certo de novo. A gente acaba fazendo a nossa família. P/1 – Poliana, desse tempo de ficar longe da família, eu sei que a nossa geração é mais de e–mail, mas tem alguma história de carta, alguma correspondência que alguém tenha te enviado, que você tenha enviado pra alguém? R – É, eu peguei essa transição. Ainda recebendo carta, depois, um pouco mais jovem as entram os e–mails. Mas assim, o que eu mais me recordo de recebimento de carta foram as convocações, principalmente a minha primeira convocação, até hoje eu ainda recebo convocações por carta, o Correios faz questão de mandar pra gente, mas o que mais é marcante pra mim é, são essas convocações. Desde 1996, recebendo cartas dos Correios, pra me convocar pra Seleção Brasileira, hoje eu pensando nisso, é realmente um fato emocionante pra mim. Estar há tantos anos na seleção, defendendo o Brasil e o Correios patrocinando a gente, desde essa época, há muito tempo antes até de eu entrar na Seleção Brasileira, a gente tem que só muito agradecer o Correios, por tá sempre patrocinando e apoiando a natação brasileira, por me patrocinar e me apoiar há muito... Desde 2006, que eu sou patrocinada individual deles e eu tenho assim, muito orgulho, muito respeito por todo o pessoal do Correios que me ajudou muito e ajuda muito a natação brasileira, se não fosse o patrocínio do Correios com certeza a natação não seria o que é hoje. P/1 – Poliana, você falou que na convocação, além da cartinha de convocação vem o uniforme. O que mais que vem? Como vem? R – Vem os uniformes da Seleção, e vem uma caixona assim, parece que é um presente de Papai Noel, porque a gente quando chega é a maior felicidade, querer ver o que que tem, como que vai ser o uniforme, experimentar pra ver se cabe tudo, então sempre que vem, a cartinha de convocação sempre vem antes e o uniforme sempre vem um pouquinho depois. E a gente fica esperando o dia que vai chegar o uniforme. É muito legal. P/1 – E no seu caso, já vem os acessórios pra nadar também? R – Vem tudo dentro do uniforme, vem agasalho, camiseta, bermuda e aí, vem touca, vem óculos, maiô que a gente vai nadar em competição, vem tudo junto. P/1 – E já vem customizado assim do teu tamanho? R – É, a gente já manda para eles saberem qual que é o nosso tamanho, o meu é sempre o menor, o P, eles já até sabem, já nem preciso mais mandar, eles sempre mandam referente ao que a gente escolheu. P/1 – Poliana, fala um pouquinho de outras conquistas que tenham sido também especiais. De medalhas, de pódio... R – Bom, tem a medalha de prata do Pan, do Pan do Rio, em 2007 que também foi super especial, eu tinha acabado de sair dessa cirurgia do ouvido. Eu tinha ficado três meses fora da água pra reconstituir e voltar ao normal, eu não podia entrar na água, foram três meses super difíceis pra mim. E eu sabia que no próximo ano, dali alguns meses tinha o Pan e eu queria muito estar na Seleção Brasileira, queria muito representar o Brasil dentro de casa e graças a Deus, consegui estar na minha melhor forma lá e foi por um triz que eu não consegui a medalha de ouro, mas fiquei assim super feliz, porque medalha é medalha, não importa a cor e tá dentro do nosso país, lá na praia de Copacabana, tava super cheia, assim mais de cinco mil pessoas pra assistir a gente, fiquei super emocionada assim, foi minha primeira conquista de Pan e, em Guadalajara também ganhei a prata, também foi muito legal, Campeonato Pan–Americano e Olimpíadas são dois campeonatos de quatro em quatro anos que são especiais. Pra gente então, a gente tem que dar valor no que a gente conquista. Porque a gente sua muito durante o dia, nossa rotina diária não é fácil, quando a gente consegue esses feitos, a gente tem que dar valor neles e agradecer a todo mundo que ajuda a gente. E teve também a minha medalha de bronze, no campeonato mundial de Roma, essa medalha fazia 15 anos que o Brasil não conseguia entrar no pódio, a última vez tinha sido com Gustavo Borges e eu quebrei esse jejum de 15 anos, com essa medalha, foi no cinco quilômetros, foi também uma medalha histórica pro Brasil, num campeonato de desportes aquáticos foi a primeira medalha, eu abri as portas porque depois veio o César Cielo, que ganhou os 50 e cem livres, veio o França também, que ganhou o bronze nos 50 peito, então foi também uma medalha muito comemorativa assim pra gente. P/1 – Poliana, você falou do Gustavo; tem algum nadador que tenha sido uma inspiração pra você? Desde quando você era pequena? R – Ah, Gustavo e Xuxa sempre foram da minha geração os dois maiores ídolos. Nossos. Só que eles eram tão inalcançáveis assim, quando a gente olhava em competição e eu com 14 anos consegui pegar a seleção brasileira junto com Gustavo Borges. Eu fiquei deslumbrada de tá na mesma seleção que ele. E é engraçado assim, que hoje a gente se encontra, ele é super parceiro nosso, vai assistir várias competições de maratona, ele até comenta algumas nas televisões e a gente tira foto junto, posta em facebook e eu fico até emocionada, porque ele realmente foi o maior ídolo da natação brasileira durante muitos anos. E da minha geração ele foi o maior, com certeza, e hoje poder ser amiga dele e, com 14 anos, quando ele tava no auge, eu conseguir pegar uma Seleção Brasileira junto com ele foi super gratificante. Entrou pra minha história, com certeza. P/1 – Poliana, conta agora um pouquinho pra gente os momentos mais difíceis que você passou na sua carreira. R – Bom, acho que teve dois momentos. Um com 17 pra 18 anos, que eu tava quase parando de nadar, foi quando eu fui morar em Santos e conheci o Ricardo, meu marido, ele que me ajudou a me recuperar e a voltar a ter autoestima, a voltar a gostar de nadar, gostar de competir e a me motivar mais e ele que me introduziu na Maratona Aquática, então isso me deu um up na minha vontade de voltar a nadar bem. Eu já nessa fase não tava nadando muito bem, não tava conseguindo treinar bem, já tava até pensando em parar de nadar e ele que ajudou muito nessa fase e agradeço muito a ele por ele conseguir me tirar dessa fase ruim e a gente passou tão rápido dessa fase que a gente olha pra trás e a gente fala: “Putz, acho que eu perdi tempo”, mas as coisas vêem pra gente aprender e a experiência sempre conta muito. Eu acho que outra fase difícil pra mim foi em Londres, eu tava muito bem preparada, tinha treinado muito bem, mas eu sabia que a água ia estar fria e a gente tentou engordar um pouco, pra ter um pouco mais de isolante térmico, mas não ajudou muito, e a prova, ela foi muito difícil pra mim, foi muito difícil eu abandonar a prova e ter essa consciência de sair da prova, acho que na minha carreira foi o pior momento pra mim. E depois, voltar a ter vontade de retomar os treinamentos e retomar as competições e retomar, também, a coragem. Saber que eu posso, que eu continuo podendo, que não é por causa de uma prova que eu vou desistir, por causa de uma prova que eu não sou mais aquela nadadora que eu era antes... Foi uma fase assim psicologicamente difícil pra mim. P/1 – Poliana, queria que você falasse um pouquinho pra gente da sua vida pessoal, da sua vida em Santos, da faculdade de Letras... R – Eu comecei... Quando eu acabei a escola, eu não sabia o que fazer de faculdade, eu comecei fazendo psicologia, eu fiz seis meses e parei, não era o que eu queria e fiquei só estudando Inglês, estudando línguas. E quando eu fui pra Santos, eu iniciei a faculdade de Letras. Eu pensava assim: “O que que eu gosto na escola? Português, Inglês, Literatura. Então vou fazer Letras.” Sempre gostei muito de ler, sempre gostei de estudar, poesia, tudo. Era isso que eu queria, vamos fazer! E foi uma fase difícil pra mim, porque eu estudava a noite, treinava de manhã e a tarde, morava sozinha, tinha que fazer meu almoço, tinha que fazer minha janta e tinha que treinar e o que me sustentava, eu tinha bolsa na faculdade, bolsa de estudos, mas o que me sustentava em Santos, era a natação, então eu tinha que estar nadando bem, não podia tá nadando meia boca, eu tinha que continuar nadando em alto nível. Eu treinava muito durante o dia, de manhã e a tarde e a faculdade a noite, chegava em casa, 11 e meia, meia noite, e no dia seguinte tinha que levantar seis, sete horas da manhã, foi uma época bem complicada, que eu tive muita ajuda das minhas amigas da faculdade, sempre me ajudaram muito, sempre entenderam muito, Santos é uma cidade pequena. Na faculdade minhas amigas me ajudaram muito, os professores também, eles entendiam muito mais do que os professores da escola, e como Santos é uma cidade pequena, eu aparecia muito na televisão, jornais, eu acabei ficando muito conhecida na cidade, os professores me ajudavam e incentivavam bastante, entendiam as faltas que eu tinha que ir pra viagens, competições, foi uma época muito gostosa, apesar de muito sacrifício, muito esforço pra conseguir terminar essa faculdade, mas foi uma época muito boa. P/1 – Poliana, você gosta de ler, estudou Letras. Leva algum livro com você pras competições? R – Sempre levo, sempre levo, certeza. Em época de competição a gente sempre fica mais tenso, ansioso, eu não gosto muito de ficar muito tensa. Começa a ficar, essa parte, essa região assim, o trapézio, muscular mesmo, é a hora da gente relaxar pra ir pra competição, Então, eu tento pensar em outras coisas, não ficar pensando só na prova. Acaba travando mais os músculos e eu prefiro ficar um pouco mais relaxada, não ficar pensando muito na prova, não ficar tão ansiosa, deixar acontecer lá na hora. Então, eu sempre levo livro pra ler, eu não consigo ficar longe e, principalmente, quando a gente tá fora, não tem televisão que baste pra gente, eu estou sempre com um livro embaixo do braço. P/1 – E quais são os livros que marcaram tua vida? Livros de cabeceira assim? R – Ah, e leio muito rápido, eu já li muitos livros, não sei dizer um livro que me marque, mas eu sou espírita. Um livro que tá sempre assim na minha cabeceira é O Evangelho Segundo o Espiritismo, todos os dias a noite eu dou uma lidinha, rezo, me concentro, peço proteção pra mim, pra minha família, saúde e acho que isso é o mais importante. O resto a gente vai levando e de cabeceira é esse, mas assim, os livros que eu leio pra relaxar é mais romance, eu já li centenas, não dá nem pra eu te falar um livro, e eu leio também muito livro espírita, romance espírita também eu gosto, faz bem pro coração, faz bem pra alma. P/1 – E, Poliana, você é espírita por família? Ou você escolheu isso depois? R – Por família, a família da minha mãe é de Uberaba. E lá o Chico Xavier é muito forte, ela desde pequena sempre foi e passou essa religião pra gente e é engraçado que o meu marido também tem formação espírita, ele também é espírita. E não foi combinado, não foi eu que levei ele pro espiritismo, nem ele que me levou, ele também foi de criança. P/1 – Poliana, como que foi o seu casamento? R – Ah, a gente começou a namorar, em 2003. Em 2004, a gente já começou a morar junto e a gente ficou um bom tempo assim, só morando junto, sem passar nada no papel, no cartório, nada. E eu queria muito fazer uma festinha só de comemoração, mas a minha avó adoeceu e eu não podia fazer uma festa com a minha avó doente. Então, eu preferi não fazer nada, como já tava marcado pra gente fazer no cartório, a gente só foi no cartório, assinamos tudo, mas não mudou nada na nossa vida, porque a gente já morava junto, já há muito tempo... E acabou que a gente deixou pra depois, pra quando minha avó melhorasse, só que ela demorou bastante pra melhorar e depois veio até a falecer, acabou que a gente nem fez festa, se não fez na hora, depois fica difícil. P/1 – Poliana, você pensa em ser mãe? R – Penso, penso muito. Eu amo criança e é um sonho que eu tenho ser mãe, a gente já até escolheu os nomes dos filhos (risos). Mal conseguimos ter filho ainda, a gente já sabe os nomes. Mas, por enquanto não, eu vou até 2016, vai ter a Olimpíada no Rio e aí, passando a Olimpíada,a gente vai pensar em ter filho. P/1 – E como é que estão agora os treinamentos, a preparação? R – Bom, treinamentos tão super fortes. A gente tá indo pro Campeonato Mundial, em Barcelona, e é o campeonato mais importante do ano pra gente, os treinamentos tão fortes, já visando esse campeonato. Mas, o ano que vem tem todo o circuito de Copa do Mundo, de Maratona Aquática, 2015 tem a seletiva pra Olimpíada, é uma seletiva muito forte, seletiva internacional, não tem nenhum brasileiro ainda classificado, a gente tem que tá entre os 20 melhores do mundo, tem essa seletiva que vai ser a mais importante de todos esses anos e, se Deus quiser e a gente classificar, em 2016 a gente vai tá lá representando o Brasil, lá na praia de Copacabana. P/1 – Poliana, conta pra gente como é que é teu dia a dia, hoje. R – Bom, acordo seis horas da manhã todos os dias, entro sete e meia, no máximo, oito horas na água, faço uma preparação física depois do treino, de uma hora, uma hora e meia, depois eu volto novamente pra cá pra treinar, treino mais duas horas e meia a tarde, saio, faço um alongamento, volto pra casa, janto, durmo (risos). A minha semana é assim. E assim, eu tenho muita ajuda da minha mãe, morando aqui em São Paulo, a minha mãe mora super perto de casa, ela faz questão de fazer o nosso almoço, nossa janta, ela leva nossa marmita todo dia, até minha casa, pra eu não precisar cozinhar e isso é uma ajuda enorme que ela dá, que ela me faz, porque se chegasse cansada do treino e ter que ir pra cozinha, cozinhar as coisas, lavar, é complicado. P/1 – Poliana, o que você gosta de fazer nas tuas horas de lazer? R – Ah, eu leio muito, amo ler, eu não vejo o tempo passar, quando eu tô com o livro na mão. E gosto muito de filme também, a gente vai muito no cinema e os programas que a gente faz é mais light. A gente sai pra jantar, pra comer fora, ou eu vou pra casa da minha mãe, a gente faz um churrasco lá, reúne todos os irmãos, o Ricardo, e as namorada dos irmãos também vão, é mais família assim, mais light. Também eu já to com 30 anos. Não tem muito o que sair dessa rotina. P/1 – E quais são seus sonhos, Poliana? R – Meu maior sonho na natação é conseguir uma medalha olímpica e meu maior sonho como pessoa é ser mãe. P/1 – Conta pra gente se além do patrocínio, você utiliza os Correios de outra maneira, pra enviar alguma coisa, mandar carta, cartão postal, hoje em dia. R – Direto, muito. Correios está presente na vida de todo cidadão brasileiro. Com certeza. É uma encomenda que a gente recebe, ou é uma carta que a gente tem que mandar, eu tenho que mandar muita carta pra Confederação Brasileira. Porque tem muita coisa pra assinar, o contrato de patrocínio, às vezes alguma convocação, a gente tem que mandar os nossos endereço, nossos contatos, é sempre por carta e eu recebo... Por exemplo, eu tenho patrocínio da Speedo, eu recebo os materiais da Speedo também pelo Correios, suplementos que eu compro, eu compro pela internet e mandam sempre pelo Correios, eu acho que eu sou a que mais utilizo no meu prédio, porque todo dia tem alguma coisa chegando em casa, ou é uma carta ou é uma encomenda. P/1 – E por acaso tem algum fã que tenha te mandado alguma carta. R – Carta, eu acho difícil, porque o meu endereço não é assim aberto. Mas, eu recebo muito e–mail, contato, facebook, de muitos fãs assim, me parabenizando, me dando muito apoio, na época de Londres, que aconteceu a hipotermia lá na prova, eu recebi muita ajuda de fãs no facebook, muita gente me ajudando, me mandando energias positivas, foi assim muito gratificante pra mim, saber que tanta gente tava me assistindo e tanta gente me apoiando, me ajudando a sair daquele estado. P/1 – Agora, Poliana, eu queria saber o que você acha do projeto de resgatar a história de 350 anos dos Correios, através da experiência vivida das pessoas? R – Bom, acho super legal. Porque o Correios está presente na vida de todo mundo e há 350 anos, é muito tempo. Eu acho muito legal esse projeto e fico muito honrada de estar aqui falando com vocês um pouquinho da minha história com o Correios que é uma história assim, que se une à minha, porque a minha história é basicamente vivida com a natação, e a natação é basicamente vivida pelo Correios, então a gente tá muito presente um na vida do outro. P/1 – você pode voltar esse finalzinho? R – Ih, será que eu vou lembrar? P/1 – Não precisa ser igual, só retomar que a história dos Correios cruza com a tua vida, cruza com a vida dos brasileiros... R – Ah, não lembro. P/1 – O que você acha desse projeto? R – Acho muito legal o projeto, o Correios tá presente na vida de todo brasileiro e 350 anos é muito tempo. A gente tem que dar muito valor pro Correios que é uma instituição totalmente segura, muito confiável, a gente sabe que o dia que a gente trocar uma carta, vai chegar no dia que eles disseram que vai chegar, e o Correios tá muito presente na minha vida, desde sempre. A natação... Eu não sei o que é viver sem a natação e a natação não sabe o que é viver sem o Correios e uma coisa tá muito atrelada à outra, e uma se une à outra, então, a minha vida e o Correios estão totalmente unidos, desde sempre, desde que eu me conheço como gente. P/1 – Poliana, em nome do Projeto dos 350 anos e do Museu da Pessoa, eu agradeço muito você ter contado tua história de vida pra gente. R – Ah, obrigada. Obrigada, vocês! Rua Natingui, 1100 - São Paulo - CEP 05443-002 tel +55 11 2144.7150 | fax +55 11 2144.7151 | [email protected] Image not found http://dualtec.museudapessoa.net/furniture/v2013/common/media/layout/banner_transcrit.png