ANAIS DO II CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA – ANDA
Comitê Dança em Mediações Educacionais – Julho/2012
A INSERÇÃO DE OBJETOS E BRINCADEIRAS COMO PROPOSTA
METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO INTANFIL
Lisete Arnizaut Machado de Vargas (UFRGS).
Resumo
O ensino das artes, desde os primeiros anos de escolaridade, pode ser um instrumento
de qualificação da vida, desenvolvendo a autoestima e as diversas formas de ler e
interpretar o mundo, levando as crianças a aprenderem pela sensibilidade. Durante a
prática docente no estágio obrigatório em Educação Infantil do curso de Licenciatura
em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, exploramos diversos
recursos em nossas aulas como a utilização de objetos e brincadeiras, facilitando a
compreensão dos códigos da dança através do lúdico e da interação com elementos.
Durante os encontros, tais recursos tornaram-se valiosos instrumentos de atenção e de
envolvimento dos alunos com as atividades, estimulando sua criatividade e o
desprendimento com a técnica.
Palavras-chave: Dança, Educação Infantil, Objetos, Brincadeira.
THE INTEGRATION OF OBJECTS AND PLAY AS METHODOLOGY FOR
TEACHING DANCE IN EDUCATION INTANFIL
Abstract
The arts education from the earliest years of schooling, can be an instrument of life
skills, developing self-esteem and the various ways of reading and interpreting the
world, taking the kids to learn the sensitivity. The practice of dancing school has its
artistic role focused on motor experience of the students, their expression,
communication and body awareness. In the compulsory training course in Early
Childhood Education Degree in Dance at the Federal University of Rio Grande do Sul,
we explore various features such as the use of objects and games in class, in order to
assist student learning, facilitating the understanding of the codes of dance through play
and interaction with the elements. During the meetings, these resources have become
valuable tools for attention and involvement of students with activities, stimulating their
creativity and generosity with the technique.
Keywords: Objects, Plays, Upbringing, Dance.
Introdução
Este trabalho relata a experiência que tivemos como professoras de dança na
Educação Infantil e os recursos didáticos que utilizamos para nossa atuação como
objetos e brincadeiras testados ao longo do percurso, construindo através do lúdico
uma possibilidade metodológica para o ensino da dança nesta etapa.
Sabemos que nas escolas a aprendizagem está na maioria das vezes, atrelada
à transmissão de conhecimentos preestabelecidos ao longo da história, sendo que a
arte valoriza e nasce, sobretudo da transformação de saberes e do processo criativo.
Assim, quando a dança chega às escolas, em especial àquelas que a recebem pela
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primeira vez precisa encontrar caminhos de adaptação, que prezem tanto pelos
princípios que a fundamentam como pelas rotinas de ensino peculiares aos diferentes
espaços.
O contexto que aqui abordaremos é o da Educação Infantil, abrangendo a faixa
etária dos 03 aos 06 anos de idade. Nesse processo de ensino/aprendizagem,
descobrimos algumas estratégias didáticas importantes que guiaram nosso trabalho,
pois nesta idade a linguagem ainda em formação por vezes é limitada e dependente
dos significantes que fazem parte do imaginário das crianças. Portanto, o desafio,
neste caso, não é somente difundir os códigos da dança, mas também encontrar meios
eficazes de construir afetos e trocas.
Arte e Escola
A arte faz parte de nosso cotidiano, apresentando diferentes propostas, produtos
e mídias que consumimos constantemente. Quando inserida na escola, a arte se torna
importante instrumento de sensibilização. “Dessa forma, o conhecimento em arte
articula-se com o conhecimento através da arte, problematizando e abrindo um leque
de possibilidades de relações entre arte, ensino, aluno e sociedade” (MARQUES, 1999,
p.43).
Ao trabalhamos o fazer-sentir dança com as crianças da educação infantil,
refletimos sobre as possibilidades corporais, motoras, cognitivas e principalmente
sociais que essa arte tem para influenciar na formação de nossos alunos. Queremos
que o fazer artístico proporcione uma nova percepção de mundo. É por intermédio do
corpo que dança, que nossos sentimentos interagem com os processos mentais
proporcionando uma forma diferenciada de entendimento artístico e estético. “(...) o
corpo que dança e o corpo na dança tornam-se fonte de conhecimento sistematizado e
transformador” (MARQUES, 2003, p.25).
Temos trabalhado com os processos de relações entre o que se fala e lê com o
que se sente e expressa através de movimentações e linguagens corporais.
Linguagens que possuem uma diversidade muito grande, que vai desde a dança
criativa até as técnicas mais formatadas de danças. Ao ligarmos o dançar aos
processos educativos proporcionamos às crianças possibilidades de desenvolvimento
das noções de espaço, tempo, movimento, dos domínios cognitivo, afetivo e
psicomotor, fundamentais para sua formação.
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O lúdico na sala de aula
Entendemos que a utilização do lúdico e da brincadeira em sala de aula é fator
indispensável para a construção e desenvolvimento físico, mental e social da criança. A
brincadeira é artifício extremamente útil para que os alunos consigam assimilar com
mais facilidade os conteúdos trabalhados, auxiliando o professor em seu planejamento
e tornando a aula muito mais prazerosa e agradável. Buscando utilizar-se do lúdico, o
professor favorece a emergência de processos psicológicos e estimula outros que
começam a se construir.
No trabalho da educação infantil um dos focos principais é a importância
da brincadeira, da interação e do uso de diferentes linguagens que são
formas privilegiadas de manifestação das culturas infantis. O brincar
deve perpassar todos os momentos do trabalho pedagógico, pois as
crianças quando brincam e se movimentam, o fazem com sua
totalidade. Precisamos programar as atividades de forma a ampliar
estes referenciais, destacando a necessidade do brincar, Interagir e
manifestar-se através de diferentes linguagens. (VARGAS, 2011 p.22)
Através da brincadeira (seja ela direcionada ou não) a criança adquire o
desenvolvimento da capacidade de abstração, o faz de conta, muito presente na idade
pré-escolar. Nessa fase, a criança esta “presa” ao concreto, a aquilo que ela consegue
ver e tocar. Neste sentido, a brincadeira tem papel fundamental para ajudar o aluno a
ver o real através da brincadeira. “O brincar impulsiona vários processos psicológicos,
como a abstração, o autocontrole e etc., sem o desenvolvimento desses processos, a
aprendizagem acadêmica da criança da faixa etária escolar, que se segue, seria
grandemente prejudicada” (VIEIRA, CARVALHO,MARTINS 2005, p.40).
É importante salientar que de modo algum devemos negligenciar a
responsabilidade sobre o ensino e sobre a aprendizagem. A utilização de uma
metodologia com essência lúdica torna-se ferramenta para que possamos ter as
características do brincar em nosso modo de ensinar. Assim, oportunizamos aos
alunos atividades em que eles possam experimentar certa liberdade criativa,
imprevisível, inesperada, representando desafios, ou como sugerem os autores
citados: “novos possíveis”.
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Uma experiência de estágio
Nosso estágio obrigatório de Dança em Educação Infantil do sexto período do
Curso de Licenciatura em Dança da UFRGS foi realizado em uma escola municipal de
Porto Alegre, os encontros eram de aproximadamente 45 minutos, duas vezes por
semana e as turmas eram de jardim A e B, com em média 20 alunos por turma.
Iniciávamos o encontro com o trabalho de esquematização e segmentação
corporal, onde, em círculo, estimulávamos a pesquisa sobre as articulações e suas
possibilidades e também a participação dos alunos em relação à criação de
movimentações baseadas no que haviam vivenciado orientados pelas professoras.
Nesse momento de dança criativa surgiam além de movimentos corporais, movimentos
corpóreo-orais, onde os alunos pronunciavam sons que sugerissem de acordo com o
movimento que executavam.
Após essa etapa inicial, dispersávamos pela sala de aula e iniciávamos o
processo de “brincar em dança”. Aqui uma diversidade de brincadeiras foi trabalhada e
ligada a movimentos de dança estimulados tanto pelas músicas utilizadas nos
encontros, quando pelas professoras. Brincadeiras como a da Estátua, da Boneca de
Pano, da Dança das Almofadas, da Dança das Caretas, da Marionete e da Estátua
com Balão, guiaram este trabalho de contato com a dança.
Para exemplificar essas vivências, vamos narrar as brincadeiras: Estátua, Como
Marionete, Estátua com Balão e Encontro com uma Marionete chamada John Rock.
Brincadeira da Estátua: os alunos encontram-se livres pela sala dançando até que a
professora pára a música e todos devem determinar uma “pose final” para ficar como
uma estátua. Ao ligar novamente a música, as crianças voltam a dançar até uma nova
parada conduzida pela professora. Nessa brincadeira, pode haver variações. Como
sugestão, a cada parada, uma parte do corpo deve ser apontada, parte essa também
determinada pela professora. Já na brincadeira Como Marionete os alunos dispõem-se
livremente pela sala e a professora sugere que se movimentem como se fossem
bonecos marionetes, procurando atentar para cada segmento corporal, pesquisando
qualidades de movimento.
Nas brincadeiras de “Estátua com Balão” e Encontro com uma Marionete,
introduzimos objetos. Na primeira, o balão foi o elemento escolhido como recurso de
interação aluno-dança-objeto. Nesse caso ao parar a dança na brincadeira, o balão era
o foco de atenção, o qual era equilibrado na parte do corpo determinada pela
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professora. Já no “Encontro com a Marionete”, recebemos a visita de “John Rock”,
personagem idealizado pelas professoras que nesse encontro interagiu com as
crianças, provocando um diálogo de movimentos vivenciados com elas.
Considerações finais.
Ao
estabelecer
essa
relação:
brincadeira-dança-objeto,
percebemos
o
envolvimento que essas atividades provocaram nas crianças. A relação que o objeto
causa na brincadeira e conseqüentemente na dança refletiu em uma interação de si
com o espaço e de si com o outro.
Com utilização dessa metodologia, observamos que o acréscimo desses
recursos nas aulas de dança, estimulou consideravelmente a criatividade e fez com
que os alunos se desprendessem da idéia de dança com o conceito de técnica, mas
sim, que vivenciassem as descobertas e a compreensão dos códigos propostos por
esse método.
Referências
FORTUNA, T.R. Sala de é lugar de brincar?. Porto Alegre: Mediação, 2000.
FORTUNA, T.R. Vida e morte do brincar.Escola e Sala de Aula, Mitos e Ritos: Um
olhar pelo avesso do avesso Porto Alegre: Editora.Ufrgs, 2004.
VIEIRA, T., CARVALHO, A., MARTINS, E. Concepções do brincar na Psicologia. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005.
LOBO, A. S.; VEGA, E. H. T. Educação motora infantil: orientações a partir das
teorias construtivista, psicomotricista e desenvolvimentista motora – zero a seis
anos. Caxias do Sul, RS: Educs, 2008.
MARQUES, I. A. Dançando na Escola. São Paulo: Cortez, 2010.
MARQUES, I. A. Ensino da dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez,
1999.
MARQUES, I. A. Linguagem da Dança: arte e ensino. São Paulo: Digitexto, 2010.
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VARGAS, L. A. A dança na educação infantil. In: FRONCKOWIAK, A. O educador
como mediador no desenvolvimento das diferentes linguagens da criança.
Brasília: Gerdau, Fundação Maurício Sirotsky sobrinho, 2011.
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