Perfil de Resultados – Proficiência Clínica
Área: Tema Livre
Rodada: Abr/2013
Tema
PATOLOGIA CLÍNICA OCUPACIONAL
Elaborador
Alvaro Pulchinelli Jr. Patologista Clínico, Médico do Trabalho, Doutor em Ciências UNIFESP, Preceptor
Centro Alfa UNIFESP e assessor médico da Gestão da Saúde e de Toxicologia do Grupo Fleury.
Análise das respostas e comentários dos participantes
Questão 1 – Esta questão mostra em todas as alternativas várias Normas Regulamentadoras. Aquela que o laboratório clínico, que
atua em exames ocupacionais, deve prestar atenção é a NR 7, que trata justamente dos exames médicos ocupacionais e dita: a
forma de análise, o tipo de amostra e o momento de coleta de alguns agentes tóxicos. Esta lista se baseia nos agentes mais comuns,
e para efeitos de controle médico e também periciais, esta deve ser seguida a risca. Alguma confusão pode até ocorrer com a NR que
trata de atividades insalubres (NR 15), mas ao se pesquisar o conteúdo desta não há referência aos exames específicos, mas ao
limite de tolerância à exposição às substâncias.
Questão 3 – Esta questão trata especificamente do mercúrio. Na primeira afirmação falamos que o metal é mais tóxico na forma de
vapor em relação à forma líquida, o que é correto. Isto de deve ao fato de absorção na forma de vapor ser muito maior do que a forma
líquida. Aliás, esta tem toxicidade limitada, de tal sorte que a quebra de um termômetro clínico de forma acidental expõe a risco
ínfimo, bem como a exposição ocupacional de odontólogos que manipulam restaurações de amálgama que contém mercúrio.
Porém, em certas exposições ocupacionais, esta exposição é grande, como nos garimpos, onde o mercúrio é utilizado na extração do
ouro de outras impurezas. O metal é aquecido e sobre sua superfície flutua o ouro. Os vapores emanados contaminam o garimpeiro e
o ambiente, isto sem falar no grande impacto ambiental causado pelo descarte inadequado deste metal na natureza. A alternativa dois
é portanto correta.
O metal na natureza é metabolizado pelo plâncton entrando na cadeia alimentar dos peixes podendo assim contaminar os seres
humanos que consumirem o pescado. Na década de 50 do século passado, um grande desastre ambiental ocorreu no Japão, na
região da bacia de Minamata, com grande número de casos de intoxicações. Portanto a alternativa 3 também está certa.
O quadro clínico deste tipo de intoxicação por mercúrio orgânico é neurológico, ao contrário da forma metálica, onde o acometimento
é renal. A alternativa 4 é a única incorreta.
Questão 5 – Uma breve consulta ao anexo I da NR 7 nos dá a resposta correta aos marcadores de exposição a estes dois tipos de
solventes, utilizados com muita frequência nas indústrias de tintas, vernizes e borrachas. Os pintores também são expostos a estes
riscos. O metil benzeno e o fenol são produtos de metabolismo do benzeno, sendo que o fenol já está em desuso como marcador.
Questão 6 – Esta questão fala do benzeno especificamente. Para respondê-la é interessante consultarmos a portaria 34, onde se fala
do ácido trans, trans-mucônico como marcador de exposição. Outro exame complementar é o hemograma, pelo potencial de
mielotoxicidade e carcinogenicidade do benzeno. Este controle deve ser semestral, conforme dita a portaria 34. Não dosamos o
benzeno sérico, ou urinário pela sua curta meia vida. As enzimas hepáticas podem estar alteradas, mas não são específicas
marcadoras da exposição ao benzeno, podendo aumentar na exposição aos solventes em geral.
Questão 7- A exposição ao etanol (álcool etílico) pode ser aferida em três amostras diferentes: ar expirado (bafômetro); sangue e
urina. As amostras mais adequadas são ar expirado e o sangue. O ar expirado apresenta uma relação fixa de concentração com o
sangue (1:2000). Assim este método é prático e confiável. O sangue é amostra pericial por excelência, pois comprova a presença da
substância e indica que o indivíduo está sob a influência da substância.
A urina mostra uma correlação de concentração de 1,3: 1 em relação ao sangue no pico da concentração. Fora disto, fica difícil
extrapolar a concentração sanguínea. Tanto o sangue como a urina podem ser submetidos à CG com leitura de head space, que é a
metodologia de eleição.
Questão 8 – O recado desta questão é bem claro: não usar álcool na assepsia da coleta de etanol, pois a chance de contaminação é
enorme, resultando em falso positivo. As outras alternativas podem por outro lado levar a um falso negativo.
Questão 9 – Como citado na questão anterior o método de referência é CG com leitura de head space.
O metanol leva, além do estado embriaguês, a um quadro de acidose metabólica (acúmulo de acido metanoico – “ácido fórmico”) e
neurite óptica levando a cegueira irreversível. Para evitar este quadro devemos impedir que haja a produção de ácido fórmico. Isto se
consegue saturando-se a via metabólica com etanol, que tem preferência no metabolismo. O metanol assim é eliminado por outras
vias (urina e ar expirado). Portanto o antídoto de metanol é o etanol! Etilômetro e laxativos não são eficazes neste caso.
Questão 10 – Nesta questão tratamos dos agentes metahemoglobinizantes. Este fenômeno se caracteriza pela formação de
metahemoglobina, que tem função prejudicada em relação à hemoglobina, A oxihemoglobina é hemoglobina presente no sangue
arterial, rico em oxigênio. Os principais agentes são as anilinas (corantes) e outra substâncias como o dinitrotolueno. O dinitrofenol é
um agente tóxico, que tem sua ação baseado no desacoplamento da cadeia respiratória celular, impedindo a produção de ATP.
Atualmente é utilizado como herbicida, mas a título de curiosidade, foi uma das primeiras drogas emagrecedoras testadas nos anos
1940. Logo foi abandonada pela sua toxicidade, mas porém causou a morte recente de uma estudante de medicina do Reino Unido
que a usou inadvertidamente com este fim.
Questão 11 - O intuito desta questão é salientar que o diagnóstico de intoxicação é eminentemente clínico. Ou seja, o laboratório
pode (e deve) ajudar no diagnóstico, mas este só é fechado na presença de sinais e sintomas. Isto se deve a variabilidade individual
de respostas, onde alguns indivíduos podem tolerar níveis maiores de exposição sem repercussão, e outros podem se intoxicar com
exposição pequena. Como o laboratório não tem, via de regra, esta informação, resultados acima do IBMP devem ser imediatamente
reportados, para que o médico do trabalho tome as medidas necessárias. Estas medidas podem ir de simples observação até
afastamento e outros tratamentos.
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Questão 13 - Nesta questão parece que não houve muita dúvida a respeito da relação do arsênico com frutos do mar, pela
acumulação deste tipo de alimento, ou ainda quanto à acetona em diabéticos.
Quanto ao benzeno, pode sofrer a interferência de aditivos alimentares como o sorbitol. Também sua meia vida pode estar
aumentada no caso de uso de etanol.
O ácido hipúrico também pode ter sua meia vida aumentada pelo uso do etanol. Mas, para efeitos da questão, como só temos uma
alternativa para o ácido hipúrico, devemos associar o benzeno com o sorbitol. Portanto a alternativa correta é a alternativa 4.
Referências
Bibliográficas
•
Pulchinelli Jr, A.; Andriolo, A. Toxicologia in Adagmar Andriolo; Medicina Laboratorial 2,a Ed Manole
2008.
•
Pulchinelli Jr, A. Métodos Laboratoriais em Toxicologia in Fundamentos de Toxicologia Clínica Ed
Atheneu 2006
•
Moyer, TP, Burritt, MF, Butz, JA. Metais Tóxicos in Burtis C A, Ashwood E R, Bruns D E. Tietz,
Fundamentos de Química Clínica. 6a ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2008.
•
Porter, WH. Toxicologia Clínica in Burtis C A, Ashwood E R, Bruns D E. Tietz, Fundamentos de Química
Clínica. 6a ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2008.
•
Pincus, MR, Abraham, NZ. Toxicologia e Monitoramento de Drogas Terapêuticas in Henry J B.
Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20a ed. Barueri, SP. Manole. 2008.
•
Fundamentos de Toxicologia, Seizi Oga, 2ed Atheneu 1996.
•
Brasil, Min. do Trabalho, Norma Regulamentadora 7 anexo I.
•
Brasil, Min. do Trabalho, Port 34 de 20/12/2000.
Respostas dos Participantes
Opções (%)
Questão 1
Resultado(s) aceito(s)
Opção 1
Opção 2
Opção 3
Opção 4
6.7%
68.1%
7.6%
16.0%
2
Questão 2
2.9%
7.1%
84.9%
5.0%
3
Questão 3
47.5%
20.6%
13.9%
16.8%
1
Questão 4
2.9%
7.6%
5.9%
82.8%
4
Questão 5
71.8%
3.4%
8.0%
16.8%
1
Questão 6
6.3%
13.9%
18.9%
59.7%
4
Questão 7
4.6%
51.3%
13.9%
29.4%
2
Questão 8
70.2%
9.2%
11.3%
8.4%
1
Questão 9
17.6%
13.0%
6.3%
61.3%
4
Questão 10
68.1%
11.8%
10.1%
9.7%
1
Questão 11
30.7%
13.4%
32.4%
22.3%
3
Questão 12
2.1%
89.9%
2.5%
3.8%
2
Questão 13
7.1%
5.5%
32.4%
52.9%
4
Questão 14
81.5%
5.0%
5.9%
5.9%
1
Questão 15
1.7%
7.1%
81.1%
8.4%
3
Questionários Respondidos
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