DESCONTAMINAÇÃO BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA
ATRAVÉS DE UM PASTEURIZADOR SOLAR
Silva, T.C.D.(1); Calazans, G. M. T.(1): Carielo, G.(1); Tiba, C.(1)
[email protected]
(1)
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Recife - PE, Brasil.
RESUMO
A água destinada ao consumo humano deve ser isenta de agentes biológicos
como vírus, bactérias, protozoários e helmintos. O homem sempre procurou
alternativas para purificação da água. Dentre os métodos conhecidos os que
usam energia solar como forma de descontaminação tem grande destaque.
Assim, o presente trabalho tem como finalidade avaliar a qualidade
microbiológica da água tratadas por um protótipo que usa da tecnologia de
pasteurização solar. As amostras de água foram coletadas em um laguinho
localizado no jardim do departamento de antibióticos do campus Recife da
Universidade Federal de Pernambuco. As amostras coletadas foram
submetidas a tratamentos específicos durante cinco dias. As analises
microbiológicas foram feitas através da técnica de tubos múltiplos. Os
resultados obtidos mostram a descontaminação da água após o tratamento de
pasteurização solar. As analises mostraram que o método é eficiente no
tratamento da água atendendo às características exigidas pelo Ministério da
Saúde, sob o ponto de vista bacteriológico.
Palavras-chaves: Coliformes Totais, Potabilidade, Pasteurização Solar.
INTRODUÇÃO
A água destinada ao consumo humano deve ser isenta de agentes
biológicos como vírus, bactérias, protozoários e helmintos (BRANCO,
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1977). Desde o final do século XIX e início do século XX, a qualidade
da água tornou-se uma questão de saúde pública. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% das doenças ocorridas em
países subdesenvolvidos ocorrem através do consumo de água
contaminada (DOMINGUES et al, 2007).
Desde os primórdios das civilizações, o homem procura alternativas de
tratamento para água. Essas populações sempre possuíram costumes,
técnicas ou equipamentos para tentar, domesticamente, tornar mais
limpa a água que consumiam (WEBER, 2007). Em épocas précolombianas na América, alguns índios do continente usavam “filtros”
primitivos feitos de pedra porosa e de material originado de lava
vulcânica, para separar os elementos sólidos da água que retiravam de
poços, rios ou lagos (HOYOS, 2003).
Com a finalidade de purificar a água utilizada nas residências, surgiram
diversos equipamentos e utensílios domésticos que limpavam a água
(BELLINGIERI, 2006). Com o passar do tempo, foram descobrindo
maneiras de tornar a água aparentemente mais limpa para o consumo
doméstico. Primeiramente de maneira mais rudimentar, utilizando
plantas e até processos físicos como decantação, sedimentação e
posteriormente, usando processos mais elaborados, com materiais mais
desenvolvidos (HOYOS, 2003).
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Assim, o presente trabalho tem como finalidade avaliar a qualidade
microbiológica da água, quanto à presença de coliformes totais e fecais,
tratadas por um protótipo que tem como base de funcionamento o uso
da tecnologia de pasteurização solar.
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta das amostras
As amostras de água foram coletadas em um laguinho localizado no
jardim do departamento de antibióticos do campus Recife da
Universidade
Federal
de
Pernambuco.
As
amostras
foram
acondicionadas em frasco de capacidade de 10L previamente
esterilizado com álcool 70%, evitando contaminação adicional.
Posteriormente uma sub amostra de 100mL da água foi transferida para
frascos plásticos com tampa rosqueada previamente esterilizados afim
de se realizar uma analise da amostra antes do tratamento de
pasteurização solar.
Tratamento
As amostras coletadas do laguinho foram conduzidas ao coletor solar, e
lá foram depositados um volume de cerca de 2L para que passasse pelo
processo de descontaminação da máquina. Após a passagem da água
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através do protótipo uma nova coleta foi realizada e imediatamente
levada para o laboratório de processos fermentativos (LPF) para analise
bacteriológica da água. Esse procedimento de coleta foi repetido
durante cinco dias consecutivos utilizando as seguintes configurações
de tratamento: 55°C por 3600 segundos; 60°C por 2700 segundos; 65°C
por 1800 segundos; 75°C por 900 segundos e 85°C por 15segundos.
Técnica utilizada
As analises foram feitas quanto a presença de coliformes totais e
coliformes fecais, especificamente E.coli. A técnica realizada foi a
técnica de tubos múltiplos utilizando o meio Caldo Fluorocult LMX
(MERCK, 2000), esse meio proporciona a detecção simultânea de
coliformes totais e E. coli devido a presença de um substrato
cromogênio e de um substrato fluorogênico, usados respectivamente
pelos dois grupos.
Para semeio das amostras utilizaram-se pipetadores automáticos
acoplados com ponteiras estéreis para as inoculações de 1000 µL, 100
µL e 10 µL em três séries de três tubos contendo 1 mL do meio
fluorocult, respectivamente, com incubação a 35°C por 24-48 horas.
Após 24 horas de incubação, os cultivos verdes azulados indicaram a
presença de coliformes totais e os cultivos que apresentaram
fluorescência sob luz ultravioleta 366 nm, indicam a presença de E.
coli. O cálculo do NMP dos coliformes foi efetuado pela tabela de Mac
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Crady (BRASIL, 2003) para obter o NMP/g ou mL, para série de 3
tubos, com intervalos de confiança 95%, dividir por 10 os valores
correspondente ao arranjo de tubos positivos obtido na análise
(BRASIL, 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Determinação de pH
A Portaria do Ministério da Saúde (MS) Nº 2914 de 12/12/2011
recomenda que, no sistema de distribuição, o pH da água seja mantido
na faixa de 6,0 a 9,5. Observa-se em média que todas as amostras do
processo, tanto na primeira quanto na segunda etapa de experimentos,
apresentaram-se dentro da faixa estabelecida pela portaria supracitada
(Figura 1). Durante o processo de desinfecção ocorreram apenas
pequenas oscilações no pH das amostras fato confirmado em
experimentos realizados por Silva (2010).
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Figura 1. Variação do pH antes e após o tratamento da água.
Pesquisa de Coliformes totais e E. coli
Os resultados das analises obtidas antes do tratamento de pasteurização
solar mostraram que a água estava contaminada do ponto de vista
bacteriológico devido a presença de coliformes totais. A pesquisa da
presença de E.coli também foi realizada através da observação de
fluorescência nos tubos contendo fluorocult e mostrou-se positivos na
maioria dos tubos analisados. Segundo a portaria Nº 2914 de
12/12/2011 do MS recomenda ausência total de bactérias do grupo
coliformes para que a água seja considerada potável, portanto esta água
é considerada imprópria para o consumo humano.
Todas as amostras apresentaram um grande número de bactérias
demostrando altos valores de NMP, como pode ser visto na Quadro 1.
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Quadro 1. Parâmetros bacteriológicos pela técnica dos tubos múltiplos.
Outro fato importante a ser observado é que a presença de E. coli
significa provavelmente que a água teve uma contaminação fecal
recente já que as bactérias dessa espécie fazem parte da microbiota
intestinal do homem e outros animais de sangue quente e por sua vez
podem indicar a presença de patógenos entéricos (POPE et al, 2003).
As analises realizadas após a passagem da água no protótipo de
pasteurização solar mostrou-se negativa em todos os ensaios (Quadro
1). As diferentes temperaturas usadas nos diferentes tempos
demonstrou-se eficiente na eliminação de todas as bactérias do grupo
coliformes totais e E.coli identificas antes do tratamento. A desinfecção
por luz solar de água foi relatada por Silva (2010) numa técnica mais
primitiva que consistia no acondicionamento de água em garrafas PET e
sua exposição ao sol (técnica conhecida como SODIS), entretanto não
obteve-se uma eliminação total das bactérias apesar do grande tempo de
exposição.
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CONCLUSÃO
A desinfecção por luz solar de água mostrou o potencial de inativação
de coliformes termotolerantes e coliformes totais, através das análises
realizadas nas diferentes etapas, nos diversos intervalos de tempo, da
água submetida ao método de pasteurização solar.
Devido ao exposto anteriormente, a água submetida a esse processo de
desinfecção e nas condições que foram averiguadas na presente
pesquisa,
apresentou
resultados
satisfatórios,
atendendo
às
características exigidas pelo Ministério da Saúde, sob o ponto de vista
bacteriológico, para que ela seja considerada potável para o consumo
humano.
REFERÊNCIAS
BELLINGIERI, J.C. Uma análise da indústria de filtros de água no Brasil. In: 50º
CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, Blumenau. SC. v. 11, nº 3, maiojunho. p. 31-35, 2006.
BRANCO, S.M.; ROCHA, A.A. Poluição, proteção e usos múltiplos de represas.
São Paulo, CETESB, 1977.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa
nº 62, de 26 de agosto de 2003. Oficializada os Métodos Analíticos Oficiais para
Analise Microbiológica para Controle de Produtos de Origem Animal e Água. Diário
Oficial da União de 18/09/2003, Seção 1, p. 14, 2003.
DOMINGUES, V. O.; TAVARES, G. D.; STÜKER, F.; MICHELOT, T. M.;REETZ,
L. G. B.; BERTONCHELI, C. M.; HÖRNER, R. Contagem de bactérias
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heterotróficas na água para consumo humano: comparação entre duas
metodologias. Saúde, Santa Maria, vol 33, n 1: p 15-19, 2007.
HOYOS, R. Progresso de la filtración casera en America Latina. Água
latinoamericana. Disponível em: http://www.agualatinoamericana.com/docs/PDF/12-02hoyos.pdf . Acesso em 13 de maio de 2011.
MERCK. Microbiology Manual. Berlin. Alemanha. 407p, 2000.
POPE, M.L; et al. Assessment of the Effects of Holding Time and Temperature on
Escherichia coli Densities in Surface Water Samples. Appl Environ Microbiol.
October; 69(10): 6201–6207, 2003.
SILVA, I.F.M.C. Avaliação da eficiência do sodis como método alternativo para
obtenção de água potável. 2010. Monografia (Bacharel em Ciências Biologicas) –
Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, 2010.
WEBER, C. R. Avaliação de Sistemas Domésticos de Filtração Utilizados como
Purificadores de Água. 2007. Monografia (Bacharelado em Biomedicina) –
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 2007.
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