Implantação e Implementação do Programa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) em uma Indústria de Água Mineral na cidade de Santa Rita, PB. Ana Karla Crispim Soares¹, Liz Jully Hiluey Correia¹, José Alexandre O. Lucena² ¹ Consultora da Área de Alimentos, Serviço Nacional de Aprendizado Industrial – SENAI/CITI – PB ² Estudante de Graduação, Química Industrial - UEPB Resumo A água mineral é o produto que mais apresenta crescimento em consumo entre as famílias brasileiras. Saudável, natural, produz benefícios ao organismo e coerente com um estilo de vida moderno: são estes os conceitos que vão orientar o mercado mundial de bebidas nos próximos anos. O presente trabalho objetivou avaliar o nível de implantação e implementação do Programa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) em uma indústria de água mineral localizada na cidade de Santa Rita – Paraíba, por meio da aplicação de uma Lista de Verificação. A análise dos resultados mostrou uma evolução significativa da base higiênico sanitária da empresa, e que a mesma atingiu 100% de conformidade dos itens imprescindíveis e 88,58% dos demais itens. Palavra-chave: BPF, lista de verificação, água mineral Summary Mineral water is the product that most presents consumptions increase among Brazilian families. Healthy, natural, it brings benefits to the organism and is coherent to a modern life style: these are the concepts which will guide the world's beverage market in the coming years. This work aimed to evaluate the level of implantation and implementation of the Good Manufacture Practices Program (GMP) at a mineral water company in the town of Santa Rita, Paraíba, by means of applying a Verification List. The analysis of results showed a significant evolution of the sanitary-hygienic basis of the enterprise, and that it obtained 100% of conformity of indispensable items and 88,58% for others items. Introdução Águas minerais são aquelas que por sua composição química ou características físicoquímicas são consideradas benéficas à saúde. São obtidas diretamente de fontes naturais ou artificialmente captadas, de origem subterrânea, caracterizadas pelo conteúdo definido e constante de sais minerais e pela presença de oligoelementos e outros constituintes (SILVA, FERREIRA, RAMOS et al., 2008). Desde a antiguidade já se utilizava água mineral, pois se sabe que os romanos eram povos amantes do banho. A expressão “ternalismo” começou na Gália, na qual se introduziu o comércio de águas medicinais. A partir do século XIX nasce à indústria nasce de envasamento de água mineral e inicia-se a comercialização de frascos contendo a referida bebida natural, a fim de serem consumidas nas residências (MACEDO, 2001). Ao longo do tempo o padrão de consumo no Brasil vem passando por transformações. Entretanto, foi a partir da década de 1990 que tais mudanças, que se originam no consumidor, tornaram-se mais significativas. O consumidor brasileiro, através das alterações sócioeconômicas pelas quais tem passado, atualmente procura por maior praticidade, rapidez, comodidade, inocuidade e qualidade (SILVA e PAULA, 2004). Durante a First Global Bottled Water Congress, realizado em Evian, França, em Outubro de 2004, a Zenith International divulgou que o consumo de água envasada deverá continuar crescendo nos próximos quatro anos, passando de um volume de 155 bilhões de litros em 2003 para 206 bilhões em 2008, sendo que 10 países, incluindo o Brasil, serão responsáveis por parte desse crescimento (ABINAM, 2005). Em primeiro lugar vem os Estados Unidos que deverá acrescentar a sua produção atual mais de 8,9 bilhões de litros neste período, seguido do México com crescimento médio de 8,5% ao ano e da China, cuja demanda aumenta 17,5% anualmente, e Brasil, mais de 2,2 bilhões de água, ocupando o 4º lugar no ranking mundial de produtores. Essa tendência será mantida nos próximos anos, detacando-se neste cenário uma maior participação de águas sem gás, de águas tratadas e de embalagens de 20 litros (ABINAM, 2009). Segundo o presidente da ABINAM, o consumo mundial de água mineral brasileira ultrapassou a venda de refrigerantes, sendo em 2007 consumidas 206 bilhões de litros de água vendida em garrafa (ABINAM, 2009). A comissão do Codex Alimentarius (CAC), patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO) desenvolve pesquisas para estabelecimento de padrões de qualidade internacionalmente reconhecidos para os tipos de alimentos e bebidas, incluindo a água mineral. O Codex descreve composição e fatores de qualidade, produtos e rótulos, higiene e embalagem e também as boas práticas de industrialização (WATER YEAR, 2003). Existe a percepção de que o consumo de água mineral natural represente um estilo saudável de vida e que estes produtos são relativamente seguros (COWMAN, 1992). Entretanto, a busca pela qualidade e pela competitividade do mercado, além da necessidade assegurar que o consumo da água não seja veículo de distúrbios gastrintestinais, fez com que a indústria da água mineral implantasse e implementasse boas práticas para a industrialização e o comércio de água mineral em consonância com a RDC 173/06 e com o Codex. Diante do crescente aumento populacional e um significativo e preocupante consumo de água mineral em nosso país, o presente trabalho objetivou avaliar o nível de implantação e implementação do Programa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) em uma indústria de água mineral localizada na cidade de Santa Rita - Paraíba. Material e Método A avaliação das condições higiênico-sanitária da indústria de água mineral localizada no litoral paraibano foi realizada em dois momentos distintos, antes e após a implantação do Programa de Boas Práticas, ocorrida no período de janeiro a maio de 2007. Para realização da avaliação utilizou-se como instrumento direcionador da real situação da empresa uma Lista de Verificação, elaborada de acordo com a Resolução 173/06 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (BRASIL, 2006), contendo 254 itens, distribuídos nos seguintes tópicos: Tópico I - Edificações e instalações; Tópico II -Equipamentos, maquinários, móveis e utensílios; Tópico III – Manipuladores; Tópico IV - Industrialização e comercialização de água mineral natural e de água natural; Tópico V - Documentação e registro e Tópico VI - Procedimentos operacionais padronizados. Estes tópicos foram analisados de acordo com a percentagem de conformidades, não-conformidades e itens não aplicados, como recomenda a Resolução 173/2006. Resultado e Discussão A aplicação da Lista de Verificação, considerada como instrumento para diagnóstico da produção de alimentos seguros à saúde do consumidor, proporcionou o levantamento dos problemas e das necessidades da empresa. Foi a partir da detecção de eventuais erros técnicos de procedimentos, mau funcionamento dos equipamentos, inadequação das instalações e inabilidade dos recursos humanos, que se pode avaliar a real situação da empresa antes de propor soluções, facilitando desta forma a visualização dos pontos negativos e positivos da empresa. De acordo com a adequação total dos itens avaliados, à legislação, a ANVISA preconiza três grupos de análise: Grupo I - Estabelecimento de baixo risco: com 100% de atendimento dos itens referentes à Higienização da canalização, Higienização do reservatório, Recepção das embalagens e Higienização das embalagens (Pertencentes ao Tópico IV) e 76 a 100% de atendimento dos demais itens; Grupo II - Estabelecimento de médio risco: com 100% de atendimento dos itens referentes à Higienização da canalização, Higienização do reservatório, Recepção das embalagens e Higienização das embalagens (Pertencentes ao Tópico IV) e 51 a 75% de atendimento dos demais itens e Grupo III - Estabelecimento de alto risco: não atendimento a um ou mais itens referentes à Higienização da canalização, Higienização do reservatório, Recepção das embalagens e Higienização das embalagens (Pertencentes ao Tópico IV) e 0 a 50% de atendimento dos demais itens. A Tabela 1 apresenta o desempenho dos tópicos da Lista de Verificação frente à evolução das práticas higiênico sanitárias estabelecidas pelas BPF. Pelos resultados apresentados verificase que inicialmente a indústria de água mineral possuía 0% de conformidade em relação aos itens de documentação e registro e dos procedimentos operacionais padronizados. Percebeu-se que após a implantação, todos os itens apresentaram evolução quanto as BPF e que os itens relacionados à industrialização e comercialização de água mineral natural e de água natural apresentaram maior evolução, 27,56% de conformidade, considerados imprescindíveis pela portaria ministerial. Tabela 1 – Percentual de conformidade inicial e final da Lista de Verificação Tópicos da Lista de Verificação Tópico I: Edificações e instalações Tópico II: Equipamentos, maquinários, móveis e utensílios Tópico III: Manipuladores Tópico IV: Industrialização e comercialização de água mineral natural e de água natural Tópico V: Documentação e registro Tópico VI: Procedimentos operacionais padronizados Total % Percentual Conforme Não Conforme (NC) (C) Inicial Final Inicial Final 9,45 23,62 15,75 1,57 2,56 5,12 2,56 0 Não se Aplica (NA) Inicial Final 1,57 1,57 0,39 0,39 2,76 9,84 5,12 37,4 2,76 27,56 0,39 0 0 7,07 0 7,07 0 0 3,15 14,17 3,15 14,17 0 0 0,43 0 0,43 0 24,61 88,58 65,95 1,96 9,46 9,46 A partir da figura 2 percebe-se uma evolução significativa da base higiênico sanitária da empresa, frente a evolução do índice de conformidades alcançados depois do período de interferências - implantação das BPF, de 24,61% para 88,58%. Desta forma, pode-se constatar que as medidas corretivas para as inadequações encontradas durante a avaliação inicial não dependeram exclusivamente de recursos financeiros e sim de uma política interna instituída na empresa voltada a gestão pela qualidade, possibilitando assim, o comprometimento de todos (da direção aos manipuladores, passando pelos fornecedores entre outros), outro fator determinante foi a presença na equipe de profissionais qualificados e a constante busca pela excelência. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Conformidade Não Conformidade Não (Inicial) Conformidade (Final) Conformidade (Inicial) (Final) Figura 2 – Nível de evolução as Boas Práticas de Fabricação Conclusão Em virtude dos resultados expostos, pôde-se concluir que a indústria de água mineral atingiu 100% de conformidade dos itens imprescindíveis e 88,58% dos demais itens, sendo classificada desta forma, no Grupo I - Estabelecimento de baixo risco: com 100% de atendimento dos itens referentes à higienização da canalização, higienização do reservatório, recepção das embalagens e higienização das embalagens (Pertencentes ao Tópico IV) e 76 a 100% de atendimento dos demais itens, conforme preconiza a ANVISA e atestada que tem implantado e implementado as Boas Práticas de Fabricação. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIA DE ÁGUA MINERAL, O mercado de 7 bi de litros. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,o-mercado-de-7-bi-de- litros,342621,0.htm>. Acessado em: 24 de abril de 2009. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 173, de 13 de setembro de 2006. Regulamento Técnico de Boas Práticas para Industrialização e Comercialização de Água Mineral Natural e de Água Natural e a Lista de Verificação das Boas Práticas para Industrialização e Comercialização de Água Mineral Natural e de Água Natural. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 15 de setembro de 2006. COWMAN, S.; KELSEY, R. 1992. Bottled water. In: VANDERZANT C., SPLITTSTOESSER, D.F., editors. Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods. Washington DC, USA. American Public Health Press. p. 1031-1036. FAO/WHO, Codex Alimentarius Comission, Procedural Manual, 10th ed., Joint FAO/WHO Food Standards Programme, FAO, Rome, 1997. MACEDO, J.A.B. Águas & Águas. São Paulo: Varela, 2001. SILVA, J. M.; PAULA, N. M. Alterações no padrão de consumo de alimentos no Brasil após o plano real. Disponível em: <http://www.Pet_economia.ufpr.br/textos>. Acesso em: 10 dez. 2004. SILVA, V. P; FERREIRA, D. do N; RAMOS, N. P; SILVEIRA, E. O. da; BRITO, G. A. P. de; CABRAL, T. M. de A; NASCIMENTO, G. J do. Estudo da qualidade microbiológica de 10 amostras de água mineral natural envasada por uma empresa de mineração da cidade de João Pessoa-pb/2008. In: XI Encontro de Iniciação à Docência, 2008. Autor a ser contactado: Ana Karla Crispim Soares Endereço: Benedito Machado, 322/ Apt 301 – Bairro: São José - Cidade:Campina Grande – PB CEP: 58400-455 Email: [email protected] Fone: (83) 8817-1047