COMPORTAMENTO CONFORMACIONAL DO ÉSTER ETÍLICO DA NACETIL-L-CISTEÍNA POR IV E CÁLCULOS TEÓRICOS. Larissa Sens (PIBIC/CNPq-UEPG), Barbara Celânia Fiorin (Orientador), e-mail: [email protected]. UEPG /Departamento de Química / Ponta Grossa – PR. Química – Química Orgânica Palavras-chave: Conformações, Química computacional, Aminoácidos. Resumo: Neste trabalho a substância de estudo foi o éster etílico da N-acetil-Lcisteína (EENACys). O isomerismo rotacional desta molécula foi investigado com o emprego de cálculos teóricos. Dez geometrias de menor energia foram obtidas. O confôrmero de maior população representou cerca de 30% do equilíbrio, seguido de outras duas conformações com porcentagens de 24% e 17% aproximadamente. A estabilidade do confôrmero majoritário é justificada pela proximidade do grupo tiol e da carbonila do EENACys. Introdução Todas as proteínas são sintetizadas a partir da ligação em seqüência de apenas 20 aminoácidos. A cisteína (Cys) está entre esses aminoácidos, sendo o único que apresenta o grupo tiol (SH) em sua estrutura, responsável pela formação da ligação dissulfeto [1]. Alguns estudos apontam que aminoácidos livres encontrados no intestino, como a cisteína, aumentam a absorção da espécie férrica, pois formam quelatos solúveis com o ferro [2,3].Outros estudos sugerem que os peptídeos liberados durante a digestão no estômago podem aumentar a solubilidade de ferro não heme melhorando sua absorção, sendo essas propriedades atribuídas aos aminoácidos sulfurados como a cisteína [2,4]. A N-acetil-L-cisteína (NACys) é uma forma modificada da cisteína, possuindo um grupo sulfídrico livre. Tem sido usada terapeuticamente devido à sua propriedade de ser um precursor da glutationa, possuindo, portanto, um papel-chave na homeostase celular, visto que a depleção de glutationa pode causar morte celular devido à peroxidação lipídica e declínio nos níveis de tiol-proteínas.[5] Em termos biológicos apresenta as seguintes características: ajuda a desfazer e acabar com os mucos e desintoxicar as substâncias perigosas no corpo, atua como um expectorante, é utilizado como medicamento para tratamento de bronquite e antídoto para superdosagens com paracetamol. A NACys apresenta uma ação mucolítica pela presença de um grupo sulfídrico livre, ao qual é atribuída a propriedade de romper as pontes ou as ligações dissulfeto das mucoproteínas que outorgam viscosidade ao muco das secreções pulmonares [6]. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. O principal objetivo desse projeto foi realizar uma investigação estrutural de um derivado da NACys, éster etílico da N-acetil-L-cisteína (EENACys, Figura 1). Para esse estudo foi proposto o uso da espectroscopia na região do IV e cálculos teóricos. Desta maneira, será possível a visualização tridimensional do EENACys, bem como conhecer as conformações preferidas, para a molécula isolada e em solução, e os efeitos que favorecem as mesmas. O HS O NH O Figura 1 – Éster etílico da N-acetil-L-cisteína. Materiais e métodos Cálculos Teóricos. Os cálculos teóricos foram realizados utilizando o pacote de programas Gaussian 03[7]. O primeiro passo foi a construção de superfícies de energia potencial, as quais são obtidas a partir de um cálculo com nível de teoria HF/ 6-311g, que combina o giro de um ângulo diedro com um cálculo de energia da geometria, este tipo de procedimento é convencionalmente chamado de scan. A análise destas superfícies revelou quais são as geometrias de menor energia, possivelmente as mais estáveis. Em busca da confirmação das formas de menor energia, foram realizados cálculos de otimização e frequência. Para todos os valores de energia dos confôrmeros fez-se a correção da energia do ponto zero (ZPE). O nível de teoria empregado para os cálculos de otimização e freqüência foi o B3LYP/cc-pVDZ. Obtenção do EENACys. A primeira etapa experimental do trabalho em questão foi a conversão do cloridrato de éster etílico da L-cisteína em sua amina livre. Para a realização deste processo, em um balão de fundo redondo de 10mL foram solubilizadas 1g do cloridrato de éster etílico da L-cisteína, 1,36g de NAHCO3 em 5mL de clorofórmio agitou-se durante 30 minutos. Em seguida, a mistura foi transferida para um funil de decantação e adicionou-se 5 mL de éter etílico, agitou-se e logo após acrescentou-se 3 mL de uma solução de NaHCO3 saturada.Foi observada a formação de duas fases, porém apenas a fase orgânica é de interesse, sendo essa separada da fase aquosa. Da solução obtida anteriormente, partiu-se para a reação de acetilação, o resíduo foi tratado a 90ºC por um período de 15 minutos com 3 mL de anidrido acético.Em seguida, o produto foi rotaevaporado e será analisado por espectroscopia de ressonância magnética nuclear. Resultados e Discussão Cálculos Teóricos. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Inicialmente foram selecionados os ângulos diedros a serem analisados, que estão representados na Figura 2. O 2 HS 3 1 O NH O Figura 2 – Ângulos diedros Com o cálculo de scan do ângulo diedro 1, foi obtido uma superfície de energia potencial. Dessa superfície, retirou-se as geometrias de menores energias que foram submetidas a outros cálculos de scan, com o giro do diedro 2 e o mesmo foi realizado para o diedro 3.Encontramos vinte e oito mínimos de energia, os quais foram otimizados com o nível de teoria B3LYP/ cc-pVDZ. As otimizações são necessárias para que as estruturas mais estáveis da superfície de energia potencial se convertam em geometrias de menor valor energético possível. Para todos os valores de energia dos confôrmeros fez-se a correção da energia do ponto zero (ZPE), devido a vibrações moleculares de baixa energia que não são consideradas no cálculo de otimização. Esta correção foi realizada com o cálculo de frequência, que além do ZPE, é capaz de caracterizar a geometria como um “real” ponto de mínimo através da inexistência de frequências imaginárias. Ao final destes cálculos dos vinte e oito possíveis mínimos de energia, apenas dez estruturas foram atribuídas ao equilíbrio conformacional do EENACys, pois os outros confôrmeros apresentaram uma diferença de energia maior que de 2 kcal/mol em relação a estrutura de menor energia. As três principais geometrias estão apresentadas na Figura 3. 1 2 3 Figura 3 – Principais conformações do EENACys. Com as geometrias mais estáveis do equilíbrio foram realizados os cálculos de população, sendo que o confôrmero 1 representou 30,06% do equilíbrio, seguido da geometria 2 e 3 com as seguintes porcentagens 23,93%; 17,04% respectivamente. A estabilidade da primeira conformação pode estar relacionada com a aproximação do grupo tiol à carbonila, com uma distância de 2,53 A°. Obtenção do EENACys A conversão do cloridrato de éster etílico da L-cisteína em éster etílico da N-acetil-L-cisteína, foi feita com NaHCO3 , como descrita anteriormente nos materiais e métodos.O que foi realizado até o momento foi a reação de conversão, porém a purificação e os espectros de infravermelho e RMN serão os próximos passos a serem realizados. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Conclusões O conformêro mais estável do equilíbrio representou aproximadamente 30% da população, esta estrutura foi a que apresentou o grupo tiol mais próximo da carbonila. Sendo assim, com o emprego dos cálculos teóricos obteve-se a visualização tridimensional das estruturas do EENACys, a atribuição das conformações preferidas e suas respectivas populações para a molécula isolada. O uso das espectroscopias de RMN e IV serão realizadas após a obtenção do EENACys, esta etapa está em andamento. Agradecimentos CNPq Fundação Araucária FAPESP Referências 1. DEVLIN,T.M.. Manual de Bioquímica com correlações clinicas. 1ª edição, São Paulo: Edgard Blucher. Tradução da 5ª edição Americana, 2003. 2. FANTINI,P.A.; ET AL. Iron availability in food mixtures including foods with high vitamin C and cysteine contents. Ciênc. Tecnol. Aliment. vol.28 nº.2 Campinas Apr./June 2008. 3. HURRELL, R. F. et al. Meat protein fractions enhance nonheme iron absorption in humans. Journal of Nutrition, Bethesda, v. 136, n.11, p. 28082812, nov. 2006. 4. LYNCH, S. R. Interaction of iron witch other nutrients. Nutrition Review, Lawrence, v. 55, n. 4, p. 102-110, apr. 1997. 5. OLIVEIRA,M.B.V. Efeitos de N-acetilcisteína e/ou deferoxamina no estresse oxidativo e hiperatividade induzidos por anfetamina em um modelo animal de mania. Tese de Mestrado – Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2007. 6. http://www.mapric.com.br/anexos/boletim610_14112007_081834.pdf acessado em 25/05/2010 ás 11:26 hr 7. M. J. Frish, et al, Gaussian 03, Revision D.02, Gaussian, Inc.,Walling ford CT, 2004. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.