Capítulo 6: Escoamento Externo Hidrodinâmica Conceitos fundamentais EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Fluido • É qualquer substância que se deforma continuamente quando submetido a uma tensão de cisalhamento, ou seja, ele escoa. • Fluidos existem como líquido (água, gasolina), gás (ar, hidrogênio) e como uma combinação de líquido e gás (vapor úmido). EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Propriedades de um fluido • São várias as propriedades que permitem distinguir os fluidos e que são independentes do seu movimento: – Densidade; – Pressão de vapor; – Tensão superficial (atração molecular de um líquido próximo de uma superfície ou outro fluido); – Velocidade do som (velocidade na qual a onda acústica se movimenta no fluido). EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Fluidos incompressíveis x compressíveis • Fluidos compressíveis – São aqueles que apresentam variação na densidade quando escoam: usualmente os gases. • Fluidos incompressíveis – São aqueles que não apresentam variação da densidade quando escoam (densidade constante ao longo do escoamento): usualmente líquidos e alguns gases. • Neste curso serão considerados apenas os fluidos incompressíveis. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento incompressível x compressível • A diferença entre o escoamento incompressível e compressível pode ser verificado através do número de Mach: V M= c • Onde V é a velocidade do fluido e c é a velocidade do som. • Esta equação permite determinar qual o escoamento de um fluido. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento incompressível x compressível • Gases: V M= c – Se M < 0,3 ⇒ escoamento é incompressível. – Se M > 0,3⇒ ⇒ escoamento é compressível. – M = 1,0 ⇒ escoamento é crítico (barreira do som no vôo de aeronaves) – Se M > 1,0 ⇒ escoamento é supersônico • Líquidos: o escoamento será incompressível pois a velocidade de som dos líquidos é muito grande: – Velocidade do som na água é cerca de 1.500 m/s. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento incompressível x compressível • Escoamentos incompressíveis de gases: – Escoamentos de ar em sistemas de ar condicionado e de aquecimento; – Escoamentos em torno de automóveis; – Escoamento de ar em volta de edifícios. • Escoamentos compressíveis de gases – Aerodinâmica de aeronaves de alta velocidade; – Escoamento de ar através de turbinas a jato; – Escoamento de vapor através de uma turbina em usinas termoelétricas. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Movimento de um fluido Pode ser analisado segundo duas descrições: • Lagrangiana: é a descrição de movimento na qual as partículas individuais são observadas em função do tempo. – Torna-se uma tarefa bastante difícil quando o número de partículas é muito grande, como no escoamento de um fluido. • Euleriana: é a descrição de movimento na qual as propriedades de escoamento (como a velocidade) são funções do espaço e do tempo. – A região de escoamento considerada é o campo de escoamento. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Movimento de um fluido Exemplo: uma empresa de engenharia é contratada para fazer recomendações para melhorar o escoamento do tráfego de uma grande cidade. A empresa tem duas alternativas: • Contratar estudantes universitários para dirigir automóveis pela cidade registrando as observações necessárias: abordagem lagrangiana. • Ou contratar estudantes universitários para ficar em interseções e registrar as informações: abordagem euleriana. • Uma interpretação correta de cada conjunto deverá levar ao mesmo conjunto de recomendações, ou seja, à mesma solução. No curso introdutório de fluidos se usa a abordagem euleriana. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Campo de escoamento • É uma representação do movimento do fluido no espaço em diferentes instantes. • A propriedade que descreve o campo de escoamento é a velocidade. • A velocidade tem componentes nas três coordenadas cartesianas (x, y, z) e pode variar com o tempo. • Assim, o campo de escoamento é como uma fotografia do movimento do conjunto de partículas e suas velocidades no instante t. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Campo de escoamento Linhas de corrente: definidas como a linha contínua que é tangente aos vetores velocidade ao longo do escoamento num dado instante t. As linhas de corrente são sempre paralelas ao escoamento. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento externo X interno • Escoamento externo é aquele que ocorre externamente a uma superfície sólida, onde o fluido está em contato com uma única fronteira sólida; EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento Externo EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento externo X interno • Escoamento externo é aquele que ocorre externamente a uma superfície sólida, onde o fluido está em contato com uma única fronteira sólida; • Escoamento interno é aquele que possui fronteiras limitando o campo de escoamento; EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento Interno EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento externo X interno • Escoamento externo é aquele que ocorre externamente a uma superfície sólida, onde o fluido está em contato com uma única fronteira sólida; • Escoamento interno é aquele que possui fronteiras limitando o campo de escoamento: – No escoamento interno, os efeitos viscosos causam perdas energéticas substanciais e são responsáveis por grande parte da energia necessária para transportar óleo e gás em tubulações. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Força externa total no VC A força externa total atuando em um VC é: ∑F VC ∑F VC = F grav + Fpres + Fvis = ρgV + ∫∫ (-n) P dA + ∫∫τ dA SC EM-524 Fenômenos de Transporte SC Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Tensão de cisalhamento Ao encontrar uma fronteira sólida, o fluido se deforma devido à aplicação de forças de cisalhamento (que agem paralelamente às superfícies do fluido). Enquanto esta força estiver atuando, o fluido continuará se deformando. Esta força é resultado de uma tensão (de cisalhamento) agindo sobre o fluido, que exerce uma oposição ao movimento do fluido. Energia deve ser fornecida para vencer esta resistência e manter o escoamento. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Tensão de cisalhamento • Existem fluidos em que a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação é linear e pode ser expressa por: Taxa de deformação ∂u τx = µ ∂y Viscosidade dinâmica EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Tensão de cisalhamento Viscosidade dinâmica ∂u τx = µ ∂y Taxa de deformação Gradiente de velocidade • A taxa de deformação é proporcional à variação da velocidade do fluido na direção normal ao escoamento. • A taxa de deformação é diferente para diferentes fluidos. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Viscosidade dinâmica • É uma propriedade intensiva, também conhecida como viscosidade absoluta. • Como relaciona tensão de cisalhamento e velocidade local está diretamente associada com o transporte de momento e portanto é uma propriedade de transporte. • No SI : N.s/m2 • Apresenta valores tabelados variando com a temperatura e da pressão: – Varia muito com a temperatura e pouco com a pressão. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Fluidos newtonianos X não newtonianos • Quando existe a relação linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação resultante, os fluidos são chamados de newtonianos: – Água, óleos, etc. • Neste caso a expressão para determinar a tensão de cisalhamento é válida. • Nesse curso só trabalharemos com fluidos newtonianos. • Quando o fluido não apresenta uma relação linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação são conhecidos como fluidos não newtonianos: – Pastas de dentes, tintas, etc. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Gradiente de velocidade • Devido o princípio da aderência (ou do não escorregamento) o fluido em contato com uma superfície sólida (por exemplo uma mesa) possui a velocidade da superfície. • Na medida em que afasta da parede, a velocidade do fluido relativa à parede aumenta, variando desde a velocidade da superfície (zero) até um valor máximo finito (U). • Essa variação de velocidade é chamado de perfil de velocidade ou gradiente de velocidade. • A tensão de cisalhamento age no sentido de resistir ao movimento do fluido, sendo máxima na superfície onde não existe movimento relativo. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Camada limite hidrodinâmica • É uma camada relativamente fina onde os efeitos das tensões viscosas de cisalhamento são preponderantes (ou seja, o escoamento é viscoso). • Logo, é na camada limite que existe o gradiente de velocidade. • A espessura da camada limite, δ, corresponde a distância a partir da qual o valor da velocidade do fluido corresponde a uma fração da velocidade a montante U. • Logo: u = 0 em y = 0 u = 0,99 U em y = δ EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero u = 0,99U em y = δ δ u = 0 em y = 0 EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Fora da camada limite • Fora da camada limite o fluido escoa com velocidade U, paralela à superfície sólida, como se ela não existisse. • Por isto, fora da camada limite os efeitos viscosos são desprezíveis e o escoamento pode ser tratado como sem viscosidade ou invíscido (ττx = 0). • Nesta extremidade da camada limite em que o escoamento é não-viscoso, a equação de Bernoulli pode ser válida. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Sem Viscosidade Com Viscosidade EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite • Experimentos mostram que existem dois regimes de escoamento na camada limite: laminar e turbulento. • Escoamento laminar: fortemente ordenado – As partículas mantém seu padrão de comportamento; – O mecanismo de difusão é somente o molecular; – O escoamento se processa na forma de “lâminas” sobrepostas. • Escoamento turbulento: fortemente desordenado – As partículas não apresentam um padrão de comportamento; – O mecanismo de difusão não é somente o molecular; – Ocorre difusão devido ao movimento desordenado das partículas – choques. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Laminar x Turbulento EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite • Os regimes de escoamento laminar e turbulento podem ser caracterizados considerando-se a relação entre a força de inércia numa partícula fluida e a força viscosa agindo nessa partícula fluida. • Essa relação é adimensional e é conhecida como Número de Reynolds (Re). 3 2 ρL U força inercial M.a ρUL UL L Re = = = = = força viscosa τ.A µ U L2 µ ν L EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite O regime de escoamento depende de três parâmetros físicos: • Escala de comprimento do campo de escoamento: – Como por exemplo o comprimento da placa, o diâmetro de um duto, etc.. – Se essa escala de comprimento é suficientemente grande, o distúrbio de escoamento pode aumentar, tornando-o turbulento. • Escala de velocidade: – Para uma velocidade suficientemente alta, o escoamento pode ser turbulento. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite O regime de escoamento depende de três parâmetros físicos: • Viscosidade cinemática: razão entre a viscosidade dinâmica e a densidade µ ν= ρ – A viscosidade alta tende a amortecer as perturbações, dissipando sua energia, evitando o movimento desordenado. – Para uma viscosidade cinemática relativamente pequena, o escoamento pode ser turbulento. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite • A combinação dos parâmetros comprimento, velocidade e densidade referem-se à força inercial numa partícula fluida. • A combinação dos parâmetros comprimento, velocidade e viscosidade referem-se à força viscosa agindo nesta partícula fluida. • Estes parâmetros podem ser combinados em um único parâmetro, conhecido como Número de Reynolds: ρUL UL Re = = µ ν EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Número de Reynolds ρUL UL Re = = µ ν Efeito inercial Efeito viscoso Re << 1, efeitos viscosos preponderantes Re >> 1, efeitos inerciais preponderantes • Existe um valor crítico de Re acima do qual o escoamento será turbulento e abaixo do qual será laminar. • Este valor é conhecido como número de Reynolds de transição ou crítico. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite • Na camada limite a pressão é constante ao longo da sua espessura: Py=0 = Py=δδ • Na extremidade da camada limite o escoamento é não-viscoso e Equação de Bernoulli pode ser válida. Assim, a pressão Py=δδ pode ser encontrada caso a velocidade U na região não-viscosa seja conhecida: Py =δ = (constante) EM-524 Fenômenos de Transporte ρU 2 2 Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento na camada limite • A variação da pressão na direção do escoamento é conhecida caso a variação da velocidade U na direção x também seja conhecida. 1 dP dU = −U ρ dx dx • O termo dP/dx é chamado de gradiente de pressão do escoamento. • Para o caso do escoamento próximo à superfície sólida, dU/dx = 0 e o gradiente de pressão é zero. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Camada limite térmica • Caso a superfície sólida esteja a uma temperatura diferente da corrente livre de escoamento (fora da camada limite), uma camada limite térmica também será formada. • Sua taxa de desenvolvimento e espessura são semelhantes aos da camada limite hidrodinâmica. • A relação entre as camadas limite térmica e hidrodinâmica é indicada pelo número de Prandtl: ν Pr = α • Pr de vários fluidos está tabelado (Tabela A-8 e outras). EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Camada limite térmica N. Prandtl, Pr ν δ Pr = = α δT EM-524 Fenômenos de Transporte Onde ν é a viscosidade cinemática e α é a difusividade térmica. O Pr pode ser interpretado como a razão entre as espessuras das camadas limites hidrodinâmica e térmica. Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento em regime permanente X transiente • No escoamento em regime permanente não há alteração das propriedades da partícula ao longo do tempo. – Logo, as quantidades de interesse no escoamento de um fluido (como por exemplo velocidade, pressão e densidade) são independentes do tempo. • No escoamento em regime transiente as propriedades da partícula se alteram ao longo do tempo. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero Escoamento natural X forçado • Natural: quando forças naturais (gravidade) movimentam o fluido e normalmente não há velocidade de movimento. • Forçado: quando há uma fonte de energia externa que promove o movimento do fluido, havendo uma velocidade do fluido. EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero FIM ! EM-524 Fenômenos de Transporte Profa. Dra. Carla K. N. Cavaliero