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A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano*
Márcia Eliane Silva Carvalho**
R e s u m o
Aracy Losano Fontes***
O
presente artigo visa caracterizar a carcinicultura no litoral
sergipano, a partir da análise dos aspectos ambientais e
socioeconômicos desta atividade, além da identificação dos
sistemas de cultivo e as práticas de manejo utilizadas. Os estudos foram
conduzidos, inicialmente, para a caracterização ambiental da zona costeira do estado de Sergipe, sendo realizados levantamentos bibliográficos, documentais e cartográficos. O instrumental metodológico da pesquisa empírica constou de um processo de investigação mediante a realização de entrevistas semi-estruturadas com uma amostra dos empreendedores e trabalhadores dos estabelecimentos analisados e com representantes dos órgãos ambientais locais. Oficialmente, foram identificados 60 empreendimentos de carcinicultura em produção no estado
(Sergipe, 2004), com área total de 636,87 hectares, distribuídos em cinco
bacias hidrográficas, exceto na do rio Japaratuba. Com relação ao tamanho das unidades produtivas, 78,33% são de pequeno porte, 16,33%
possuem porte médio e 5% são de grande porte. Além destes empreendimentos, outros 76 tramitam na ADEMA aguardando licenciamento. Constatou-se que o tipo de cultivo varia de semi-intensivo baixo a semi-intensivo alto e que não ocorre o manejo sustentável dos viveiros. Esta atividade revela relações ambientais, sociais e econômicas muito singulares
pois, ao mesmo tempo em que alcança altos níveis de produtividade e
rentabilidade, utiliza intensamente produtos primários, afetando diretamente o ambiente e apresentando uma distribuição desigual da renda
entre as categorias de trabalho criadas por esta atividade.
PALAVRAS-CHAVE: Carcinicultura; Zona Costeira; Estuários; Bacia
hidrográfica
*
**
***
Síntese parcial da dissertação de mestrado intitulada “A Carcinicultura na
Zona Costeira do Estado de Sergipe”, apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação
em Geografia da Universidade Federal de Sergipe, em dezembro de 2004.
Licenciada em Ciências Biológicas pela UFS, Especialista em Gestão de Recursos
Hídricos e Meio Ambiente (UFS), Mestre em Geografia (NPGEO/UFS), Doutoranda
em Geografia (NPGEO/UFS) e professora do Colégio de Aplicação (UFS). E-mail:
[email protected] ; [email protected]
Profª Drª do Departamento de Geografia e do Núcleo de Pós-Graduação em
Geografia da UFS. E-mail: [email protected]
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
1. Introdução
Por constituírem ambientes de formação geológica
recente e de grande variabilidade natural, a zona costeira apresenta ecossistemas em geral fisicamente
inconsolidados e ecologicamente imaturos e complexos. Essas circunstâncias lhe conferem características
de vulnerabilidade e fragilidade que, aliadas a um consumo de recursos sempre crescente e com impactos
previstos de mudanças climáticas, tendem a uma situação de desequilíbrio.
Dentre as atividades localizadas na zona costeira, o
cultivo de camarões em cativeiro, vem crescendo rapidamente nas áreas tropicais do mundo, devido à adaptabilidade da espécie ao ambiente de cultivo e ao alto
valor de mercado que o camarão tem atingido, sendo
considerado uma fonte importante de renda em muitas economias em desenvolvimento.
Por outro lado, a carcinicultura utiliza de forma
intensa os recursos naturais, tal como ocorre com as
atividades agropecuárias, e, se implementado com
deficiências no seu planejamento, na instalação da sua
infra-estrutura produtiva e no manejo dos principais
parâmetros químicos, físicos e biológicos que lhe dão
sustentação, poderá causar impactos negativos no meio
ambiente de sua área de influência (DPA/MA, 2001).
De acordo com Wainberg e Câmara (1998), as
interações da carcinicultura marinha com o meio ambiente podem ser categorizadas em cinco tipos: de ocupação do solo, com a água, biológicas, químicas e
socioeconômicas. Estas interações podem causar impactos positivos ou negativos a depender do tipo de
manejo utilizado nos empreendimentos.
O Nordeste, em função das condições ambientais
propícias para o desenvolvimento do camarão em cativeiro, destaca-se no contexto nacional em termos de
produtividade e rentabilidade.
O estado de Sergipe vem acompanhando o crescimento da carcinicultura brasileira, tendo aumentado
sua área produtiva de 217ha em 2001 para 637ha em
2004 e crescendo em 75% o número de empreendimentos de cultivo de camarão marinho no estado entre os anos citados (ABCC, 2004; Sergipe, 2004).
Desta forma, considerando que estudos sistematizados sobre o cultivo de camarão marinho ainda são
incipientes no estado, o objetivo principal deste trabalho foi o de analisar a carcinicultura no litoral sergipano
a partir da caracterização ambiental da zona costeira do
estado, da identificação e a distribuição geográfica dos
estabelecimentos de cultivo de camarão marinho, além
da análise dos sistemas de cultivo, das práticas de
manejo utilizadas. Foram também analisados os aspectos socioeconômicos referentes aos trabalhadores diretamente envolvidos com esta atividade.
Os estudos foram conduzidos para a caracterização física e biológica dos segmentos litorâneos –
interface continental, planície costeira e interface marinha – da zona costeira do estado de Sergipe, sendo
realizados levantamentos bibliográficos, documentais
e cartográficos.
Os dados temáticos foram extraídos dos seguintes
documentos: mapa geológico do estado de Sergipe na
escala de 1:250.000 (1998) e de 1:50.000 (1975), ambos do Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM); mapa de solos do estado de Sergipe na escala de 1:400.000 (EMBRAPA, 1975); mapa da Mata
Atlântica e seus ecossistemas associados elaborado
pela CODISE/DRM/CEPES (SERGIPE, 1997). A partir
dessa base cartográfica foram integrados os estudos já
realizados por Amâncio (2001), Fontes (1990a, 1990b,
1991a, 1991b, 1997, 1998, 1999a e 1999b) e Mendonça Filho (1998) sobre a zona costeira do estado de
Sergipe, além da utilização de documentação
aerofotográfica do estado de Sergipe na escala e 1:25.000
(SEPLANTEC/UNITUR, 2003).
Os dados cadastrais referentes às áreas produtoras
de camarão no estado foram obtidos através de consultas realizadas na Administração Estadual do Meio
Ambiente (ADEMA), na Companhia de Desenvolvimento Industrial e dos Recursos Minerais de Sergipe
(CODISE) e na Secretaria Especial de Aqüicultura e
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Pesca vinculada a Presidência da República (SEAP)
do Ministério da Agricultura.
2. Caracterização Ambiental da Zona Costeira
Sergipana
Os trabalhos de campo foram realizados em treze
empreendimentos de cultivo de camarão marinho,
abrangendo os estuários dos rios São Francisco,
Sergipe, Vaza-Barris, Piauí e Real. No estuário do
Japaratuba, em função da existência da Reserva Biológica de Santa Isabel, não existem estabelecimentos de
carcinicultura instalados.
Segundo a classificação de Ab’Saber (2001), a zona
costeira do estado de Sergipe pertence ao Litoral Leste
brasileiro, estando incluído no contexto da unidade
geotectônica Bacia Sedimentar Sergipe/Alagoas e na
feição estrutural rasa denominada Plataforma de Estância. Nestes domínios são encontrados os seguintes
conjuntos litológicos: a) rochas do Complexo
Granulítico de idade Arqueana; b) rochas do grupo
Estância de idade Proterozóica; c) rochas da Bacia
Sedimentar de Sergipe de idade Mesozóica, pertencentes à formação Serraria e aos grupos Baixo São Francisco e Sergipe; d) sedimentos do grupo Barreiras de
idade Pliocênica e Pleistocênica; e) sedimentos marinhos, fluviomarinhos, eólicos, fluviolagunares, alúviocoluvionares e halomórficos de mangue, de idade
Quaternária.
As atividades de campo, aliadas às entrevistas semiestruturadas com os trabalhadores locais e com o empreendedor e/ou responsável técnico ou administrativo constituíram a base para identificar o nível de desenvolvimento tecnológico dos sistemas de cultivo
utilizados, as práticas de manejo adotadas, além dos
aspectos socioeconômicos e dos aspectos ligados à produção e comercialização do camarão cultivado
O recorte espacial em estudo compreende a zona
costeira do estado de Sergipe que possui, aproximadamente, 163 km de extensão. As coordenadas geográficas limites dessa área de transição são as latitudes
de 10o 30’ e 11o 25’S e longitudes 36o 25’ e 37o 20’W,
sendo interrompida apenas pelos estuários dos rios
São Francisco (ao norte), Japaratuba, Sergipe, VazaBarris, Piauí e Real (ao sul) (Figura 01).
A área em estudo está inserida na Mesorregião do
Leste Sergipano compreendendo os municípios costeiros de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Pacatuba, Estância e Itaporanga d’Ajuda e os municípios estuarinos
de Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão, Indiaroba
e Nossa Senhora do Socorro
Em relação às condições climatológicas, o estado
de Sergipe, localizado na porção oriental da região
Nordeste, está sob a influência das massas de ar Tropical Atlântica (mTa) e Equatorial Atlântica (mEa) e
de sistemas frontológicos que se individualizam na
Frente Polar Atlântica (FPA) e nas Correntes Perturbadas de Leste (Ondas de Leste) que são decisivas na
manutenção de um regime pluviométrico caracterizado por chuvas mais abundantes no período outono/
inverno.
Os ventos alísios oriundos do centro de alta pressão do Atlântico Sul atuam durante todo o ano, variando de SE para NE, a depender do próprio deslocamento do Anticiclone.
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Figura 1 – Localização da área de estudo.
Fonte: Mapa hidrográfico de Sergipe, 1974. Adaptado de Amâncio, 2001.
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A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
Segundo França (1998), o litoral norte é menos
úmido apresentando, anualmente, de três a cinco meses secos, enquanto no litoral sul ocorre um ou dois
meses secos. As maiores incidências de chuvas têm
sido registradas nos municípios de Aracaju, São Cristóvão, Itaporanga d’Ajuda e Estância, com
pluviosidade variando entre 1.100 mm e 1.500 mm.
De acordo com Amâncio (2001), ocorrem no litoral
sergipano duas estações bem definidas: uma chuvosa
de abril a agosto, concentrando, geralmente, mais de
70% das precipitações, e outra em que o período de
estiagem ocorre de setembro a março.
O regime térmico sazonal é quase uniforme, em se
tratando de médias mensais, com variações térmicas
pouco expressivas. Assim, ao contrário da temperatura, a pluviosidade constitui o principal elemento
diferenciador do clima em Sergipe. No litoral, as brisas marítima e terrestre conferem conforto térmico nessa
região de baixa altitude.
A vegetação predominante dos estuários sergipanos
é o manguezal que há muitos anos vem sendo convertido em salinas e posteriormente adaptado para
criatório de peixes. Atualmente, estas áreas têm sido
utilizadas como viveiros para aqüicultura, principalmente para cultivo de camarões.
Segundo o projeto RADAM-BRASIL (1981), os
manguezais recobrem cerca de 5,14% da superfície do
estado de Sergipe, sendo a vegetação predominante
dos estuários, podendo adentrar até 25km a partir da
linha da costa.
De acordo com estudos realizados pela ADEMA
(1984), os bosques de Sergipe são classificados como
do tipo Ribeirinho, altamente produtivos, pois os fluxos de água são intensos, aliados a grandes quantidades de nutrientes. Neste tipo de bosques, não existe
problema com relação à acumulação de sais ou falta de
nutrientes, já que os fluxos de água são contínuos.
O segmento litorâneo sergipano compreende três
setores – interface continental, planície costeira e
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interface marinha – que correspondem a divisões transversais à linha de costa.
-
Interface Continental
A interface continental está constituída, basicamente, pelos depósitos continentais do grupo Barreiras, e
de forma secundária por rochas sedimentares
mesozóicas da Bacia Sedimentar e do Complexo Cristalino do pré-Cambriano.
A sedimentação detrítica do grupo Barreiras, de
grande incidência na paisagem brasileira (do Pará ao
Rio de Janeiro), é considerada por Bigarella e Andrade
(1964) como o principal documento do limite pliopleistocênico no Brasil servindo, portanto, como ponto de partida para a datação relativa dos acontecimentos verificados no Quaternário.
Esta interface de relevo plano a ondulado com declive regional na direção leste, corresponde ao domínio geomorfológico dos tabuleiros costeiros, modelados nos sedimentos do grupo Barreiras que se
superpõem ao embasamento cristalino e aos sedimentos mesozóicos da Bacia Sedimentar SE/AL.
Os tabuleiros apresentam um nível mais conservado, referente à superfície tabular, que apresenta altitudes cimeiras de 100 a 200m, onde mais incisivos são
os efeitos da erosão linear pelos rios e riachos que
drenam esta unidade geomorfológica. Em decorrência
da presença da estrutura calcária exposta ou coroada
pelo grupo Barreiras e, ainda, das condições climáticas, os tabuleiros localmente estão dissecados em colinas de topos convexos e planos, eventualmente aguçados.
O contato dos tabuleiros costeiros com a planície
costeira processa-se através de linha de falésia fóssil
de altitude variável definindo, assim, sua condição de
borda de tabuleiro entalhada. A litologia e os processos morfoclimáticos atuais e pretéritos condicionaram
os processos de esculturação das encostas, não excluindo o efeito dos falhamentos e basculamentos que
ocorreram na área da Bacia Sedimentar.
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As condições gerais do relevo e o substrato
sedimentar favoreceram a formação de solos minerais,
não hidromórficos, onde dominam o latossolo vermelho-amarelo de baixa fertilidade natural, o argissolo
vermelho-amarelo que se destaca pelo horizonte B
textural e o neossolo quartzarênico, com predominância de quartzo na sua composição mineralógica. De
modo geral, os solos são porosos e ácidos, de baixa
fertilidade natural e textura variável, com dominância
arenosa.
-
Planície Costeira
Desenvolvendo-se a leste dos tabuleiros costeiros
esculpidos no grupo Barreiras, a planície costeira que
integra a zona costeira do estado de Sergipe segue o
modelo clássico das costas que avançam em direção
ao oceano, em decorrência do acréscimo de sedimentos mais novos, em que cada crista de praia representa
depósito individualizado associado a uma antiga linha de praia (Dominguez et.al, 1992).
Este segmento litorâneo ocupa uma faixa
descontínua, assimétrica e alongada no sentido NE –
SE ao longo do litoral e tem maior expressão areal na
dependência do recuo dos tabuleiros costeiros. Ao
norte do estado é mais ampla, condicionada pela feição deltaica do rio São Francisco.
Os domínios ambientais – terraços marinhos, dunas costeiras e estuários – refletem as influências dos
processos de origem marinha, eólica e fluviomarinha
em decorrência das condições ambientais variáveis
durante o Quaternário.
Ocupando a parte mais interna da planície costeira são encontrados os terraços marinhos
pleistocênicos, associados a um importante episódio
transregressivo do mar, denominado por Martin et al
(1980) de Penúltima Transgressão. Esses terraços
apresentam, na superfície, vestígios de cordões litorâneos, remanescentes de antigas cristas de praia,
parcialmente retrabalhados pela ação eólica ou
semifixados pela vegetação herbáceo-arbustiva de
restinga.
A granulométrica dos sedimentos que constituem
esses terraços de 6 a 8 m de altitude está representada
em função de três componentes: areias médias, finas e
muito finas, de intervalos 1-2, 2-3 e 3-4 Æ, respectivamente (Fontes, 1987; 1988; 1990ª; 1998; Mendonça
Filho, 1998). Esta superfície arenosa expande-se lateralmente, chegando a alcançar os vales dos rios
Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris e Piauí, sendo ocupada por coqueirais produtivos.
Em alguns locais os terraços são interrompidos por
cursos de água sazonais que sulcam os flancos dos
tabuleiros, indo alimentar as lagoas e a baixada pantanosa adjacente. Seccionando esses terraços mais antigos são encontrados ainda paleocanais de maré parcialmente colmatados, onde atualmente predomina a
vegetação de pântano.
Os terraços holocênicos, com altitudes variando de
alguns centímetros até cerca de 4 metros acima do nível médio atual do mar, formam uma faixa praticamente contínua na margem oceânica, interrompendose apenas nas desembocaduras dos rios e riachos que
drenam a planície costeira., Muito embora os cordões
litorâneos ocorram nesta formação holocênica, sua
continuidade é interrompida pela mobilidade das dunas litorâneas ativas que avançam para o interior em
faixas de largura variável e pela ação antrópica.
Apoiados na plataforma continental, os cordões litorâneos mostram progressivo desenvolvimento que conduz ao alargamento dos perfis longitudinais dos rios, criando problemas para a drenagem da planície costeira.
Completam a paisagem dos terraços marinhos
pleistocênicos e holocênicos as dunas sub-atuais
mantidas por uma vegetação psamófila, que
obstaculariza os efeitos da defleção eólica e as dunas
sub-recentes, ainda ativas, respectivamente. Na aba sul
da feição deltaica do rio São Francisco e no litoral sul
do estado os campos de dunas costeiras são mais notáveis. Os solos mais característicos desses sub-ambientes são o neossolo quartzarênico e o espodossolo,
que são excessivamente drenados, extremamente ácidos e de baixa fertilidade natural.
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A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
Neste segmento litorâneo são típicos os ambientes
estuarinos do estado – São Francisco, Japaratuba,
Sergipe, Vaza Barris, Piauí/Real, que se formaram durante a transgressão do mar no Holoceno e encerram
em seus limites inferiores a interface marinha.
Sistema Estuarino-Lagunar do rio São Francisco
em Sergipe
Esse sistema ou complexo indica ambiente de planície costeira composto por uma rede de canais interligados entre si e com o oceano recebendo descarga fluvial.
Ocupando a faixa litorânea com largura de 5km e
extensão de 25km entre a desembocadura do rio São
Francisco e a localidade de Ponta dos Mangues (município de Pacatuba), parte da planície costeira holocênica
é constituída por uma sucessão de ilhas – Arambipe,
Sal, Capim, Cruz, Esperança, Cacimba, Flores, Feijão
e Funil – destacadas do continente por canais de maré
(Fontes, 1990a). No interior das ilhas são visualizados
testemunhos antigos de pontais arenosos (spits), imobilizados pela propagação da linha de costa, que abrigam nas porções mais internas solos halomórficos sob
a influência das marés, com vegetação característica
de mangue.
Flanqueando os canais de Parapuca e Poço ocorre
maior desenvolvimento dos manguezais, que ocupam
uma área de 21,68km2. A Rhizophora mangle é a espécie dominante, adaptando-se bem a este ambiente por
possuir raízes-escora que permitem a sua fixação em
sedimentos fisicamente inconsolidados (Fontes, 1999b).
Os canais de maré têm seu fluxo d’água regido,
principalmente, pelo regime das mesomarés e um gradiente hialino crescente do canal de Parapuca (margem direita do rio São Francisco) em direção a Barra
Nova (canal do Poço), por receber mais diretamente a
influência das águas oceânicas.
Parcela significativa dos manguezais desta região
vem sendo desmatada para construção de viveiros (piscicultura e carcinicultura) e salinas, resultando em
mudanças no padrão hidrodinâmico do manguezal.
93
Formando uma faixa praticamente contínua na
margem oceânica holocênica, a ilha-barreira possui
15km de extensão e largura média de 300m. A presença dessa barreira arenosa, com espessura de 126m,
constituída por uma camada de areia de textura grossa, amarelada, hialina sobreposta a uma outra, formada por argila cinza, escura e plástica, conforme testemunho do poço 2–ARA–1– SE perfurado pela
Petrobrás, isola o canal do Poço do oceano. Decorrente
de suas características geomórficas, o canal apresenta
comportamento hidrodinâmico semelhante ao de uma
laguna (Fontes, 1990a).
Estuário do rio Japaratuba
A bacia estuarina do rio Japaratuba apresenta conexão restrita com o oceano adjacente, sendo influenciada pelo prisma de maré até 6km, que promove a
mistura entre a água do mar e a água doce proveniente
da drenagem terrestre, atestada pela vegetação de mangue e pela diminuição do volume de água na baixamar.
De acordo com os eventos geológicos e geomorfólogicos que ocorreram durante a sua formação, o tipo
fisiográfico do estuário é o construído por barra, segundo a classificação de Miranda et al. (2002).
O sistema hidrográfico do rio Japaratuba, desenvolvido em rochas do complexo cristalino e da bacia
sedimentar Sergipe/Alagoas, que alimenta esse estuário, apresenta descarga variável de acordo com as estações do ano, ocasionando alterações sazonais na geometria da entrada (barra), entre os municípios de Barra dos Coqueiros e Pirambu.
A região estuarina, onde se inclui o canal do
Pomonga que foi construído no século XIX, está ocupada em sua área de inundação pela planície de maré
inferior, colonizada pela vegetação arbórea e/ou
arborescente composta pelas angiospermas
Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa,
Avicennia germinans e Conocarpus eretus, que ocupam área de 10,33km2 (Fontes, 1999b). Na planície
de maré superior a vegetação herbácea restringe-se a
pequenas manchas de Spartina sp e Sporobulus
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
virginicus, quase sempre presentes na área mais elevada, denominada apicum.
A tensão antrópica nesse ecossistema manguezal é resultante da sua conversão para agricultura, estradas
vicinais, habitações, aqüicultura – como observado ao longo
do Canal do Pomonga (povoados Touro e Canal) – e poluição das águas pelas descargas de efluentes químicos.
Estuário do rio Sergipe
O estuário do rio Sergipe, definido em função dos
níveis médios de penetração da maré e ocorrência de
manguezal, abrange uma extensão de 44km a partir da
confluência com o rio Jacarecica, no estuário superior,
até a desembocadura, entre as cidades de Aracaju e
Barra dos Coqueiros. É alimentado por mananciais
afluentes do rio Sergipe, destacando-se, pela margem
direita, os rios Cotinguiba, Sal, Poxim e Pitanga e, pela
margem esquerda, os rios Pomonga, Parnamirim, Limoeiro, Babaçu e Ganhamoroba.
Em decorrência da troca eficiente entre as águas do
rio e a do mar, devido ao processo de difusão turbulenta, a estratificação de salinidade é diferente do tipo
cunha salina em que esse processo é desprezível. A
modulação quinzenal da maré, entre as fases de
quadratura e de sizígia, submete os estuários parcialmente misturados a processos cíclicos de intensificação e relaxamento da estratificação vertical de
salinidade, respectivamente (Miranda et al., 2002).
Além destes impactos destacam-se o desmatamento
e os aterros para projetos imobiliários e de turismo,
agricultura, aqüicultura (piscicultura e carcinicultura),
salinas, estradas, dentre outros.
Considerada como uma área inóspita colonizada
por manguezais, a Coroa do Meio, denominação atribuída ao conjunto de solos criados em antigas coroas
de depósitos fluviomarinhos no estuário inferior, a
partir de 1975 sofreu alterações significativas no seu
quadro ambiental a fim de ser integrada a cidade de
Aracaju. No entanto, a urbanização planejada para o
novo bairro não conseguiu harmonizar a intervenção
humana e o meio ambiente estuarino.
Estuário do rio Vaza Barris
A bacia costeira do rio Vaza Barris abrange partes
dos municípios de Itaporanga d’Ajuda, São Cristóvão
e Aracaju, num total de 115km2. Em relação à geologia, cobre o extremo sul da fossa tectônica que define
a bacia Sergipe/Alagoas e o extremo nordeste da Plataforma de Estância. A falha de Itaporanga separa as
duas feições estruturais e constitui, localmente, a mais
forte evidência de tectonismo que afetou a região no
Cretáceo Inferior.
O estuário, com cerca de 20km de extensão, é alimentado por afluentes, destacando-se, pela margem
direita, o rio Tejupeba e os riachos Água Boa e Paruí e,
pela margem esquerda, o rio Santa Maria.
A estrutura do manguezal predominante é a de
bosque ribeirinho, ocupando área de 54,96km2 (Fontes, 1999b), constituído pelas espécies Rhizophora
mangle, de maior desenvolvimento na margem
estuarina com declive suave dos rios, Laguncularia
racemosa e Avicennia germinans, melhores adaptadas
onde os sedimentos são mais arenosos e com menor
freqüência de inundação pelas marés.
O prisma de maré, ou seja, o volume de água do
mar que entra no estuário durante a preamar, principalmente no verão, propiciou o desenvolvimento de
diversas ilhas de tamanhos variados – Caramindó,
Veiga, Góis, Grande, Pequena, Saco, Gameleira, Paiva,
Cabras, Nova, Vagem, Mém de Sá, Jibóia, Fundão,
Abrete e Urubu, colonizadas, em parte, pela vegetação
de mangue (Fontes, 1988).
Por localizar-se na região central da capital
aracajuana, área densamente ocupada, vastas áreas de
manguezal foram suprimidas em função da urbanização da capital.
Ao longo da bacia estuarina, o comportamento
morfológico modifica-se caracterizando zonas distintas. As diferenças topográficas relacionadas com a largura, profundidade e a forma dos canais mostram diRevista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007
A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
ferentes níveis de atuação dos mecanismos dinâmicos
do ambiente costeiro.
No estuário inferior, onde se faz marcante a influência marinha, o vale é bastante amplo, ocupando toda a
seção estuarina. A hidrodinâmica, com a ação das ondas e das correntes litorâneas presentes nesta porção
mais aberta do estuário, inibe o desenvolvimento dos
manguezais, acarretando uma mobilidade significativa
dos bancos arenosos e erosão na sua desembocadura.
Nas porções mediana e superior do estuário os canais vão ficando mais estreitos e rasos, adquirindo
formas mais estabilizadas em resposta ao maior preenchimento sedimentar típico de um padrão “tidal”, assemelhando-se a um delta estuarial.
Nesse ecossistema mixohalino ocorrem os
manguezais em ambiente de planície de maré inferior
(slikke), ocupando área de 59,37km2 (Fontes, 1999b) e
o apicum, presente na planície de maré superior (shore),
compreendido entre o nível médio das preamares de
sizígia e o nível médio das preamares equinociais.
Dentre as atividades antrópicas verificadas no sistema estuarino, chama a atenção a existência de viveiros e tanques para o cultivo de camarão nas franjas
dos mangues e os desmatamentos ao longo das margens e no interior das ilhas, relacionados com os empreendimentos imobiliários, locações da Petrobrás,
construção de acessos como os que ligam as terras
altas formadas pelo grupo Barreiras e as terras baixas
constituídas pelos terraços marinhos, na ilha do Veiga.
O Sistema Estuarino Piauí/Real
O rio Piauí, com 132km de extensão, abrange áreas
das microrregiões geográficas do Agreste de Lagarto e
Litoral Sul sergipano, desaguando entre os municípios de Estância (Sergipe) e Jandaíra (povoado Mangue
Seco/Bahia), após a confluência com os rios Fundo,
pela margem esquerda, e Real, pela margem direita.
O complexo estuarino Piauí/Fundo/Real abrange
partes dos municípios de Itaporanga d’Ajuda, Estân-
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cia, Santa Luzia do Itanhy, Indiaroba e Jandaíra. Geologicamente está localizado, sobretudo, na feição estrutural rasa denominada Plataforma de Estância. Essa
estrutura capeada por delgado pacote sedimentar do
Cretáceo, Terciário e Quaternário corresponde a uma
extensão do embasamento cristalino em posição estrutural alta em relação à fossa tectônica que caracteriza a Bacia Sedimentar Sergipe/Alagoas.
De acordo com a ADEMA (1984), os estuários dos
rios Piauí e Real podem ser analisadas em conjunto,
pois se apresentam geograficamente próximos e com
características ambientais semelhantes. Estes estuários são os mais ricos em termos de manguezais e produção pesqueira de peixes e caranguejo-uçá no estado
de Sergipe.
O ecossistema manguezal, com área de 75,53km2
(Fontes, 1999b), ocorre ao longo da bacia estuarina,
com maior desenvolvimento no sistema hidrográfico
Piauí/Fundo. A planície de maré superior (shore) ocorre
no médio litoral superior e representa antigos domínios dos manguezais, que decorrente dos eventos
progradantes deixaram de receber regularmente as
águas das marés, sendo bastante influenciados pelas
condições continentais. A vegetação herbácea restringe-se a pequenas manchas de Spartina sp que por vezes aparece na área mais frontal do mangue e
Sporobulus virginicus, quase sempre presente na região mais alta denominada apicum, a exemplo da ilha
da Tartaruga.
Os fatores abióticos fundamentais neste
microambiente de apicum são os elevados valores de
salinidade intersticial, intensa evaporação e a forte
desidratação dos sedimentos. Finas crostas de sal podem ser observadas nas folhas do Conocarpus eretus,
na Ilha da Tartaruga.
O ecossistema mixohalino, particular da planície
de maré inferior, é individualizado pela associação
vegetal halofítica, onde são encontradas as espécies
Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e
Avicennia germanis, sem uma zonação definida. Nesse ecossistema observa-se, ainda, uma zona desproRevista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
vida de vegetação vascular (lavado) cujos limites são
definidos entre o nível médio das baixamares extremas de sizígia e o nível médio das preamares de
quadratura. A vegetação restringe-se a algas podendo, ocasionalmente, serem encontradas plântulas de
mangue fixadas, mas que não conseguem atingir estágios de crescimento mais adiantados. O substrato é
síltico-argiloso e forma uma faixa contínua no estuário inferior.
Os manguezais desse sistema estuarino estão sujeitos a tensores naturais e antrópicos com conseqüências imediatas para a zona costeira. Dentre os principais tensores destaca-se o desmatamento dos bosques de mangue e a sua conversão para agricultura,
infra-estrutura habitacional, viveiros para aqüicultura
(piscicultura e carcinicultura), estradas etc, que causam mudanças no padrão hidrodinâmico do
manguezal, com diminuição da produtividade e qualidade de vida da população dependente deste
ecossistema.
-
Interface Marinha
As margens continentais, que correspondem à
interface marinha, representam a zona de transição
entre os continentes e as bacias oceânicas e, do ponto
de vista geológico, fazem parte do continente, muito
embora situem-se abaixo do nível do mar.
Na zona costeira do estado de Sergipe, a plataforma continental interna, entre os rios São Francisco e
Real, apresenta grandes variações de largura devido a
presença dos canyons do São Francisco, Sapucaia,
Japaratuba, Vaza Barris e Real (Coutinho, 1995).
Em decorrência do conjunto dessas feições
erosivas, a plataforma continental interna do estado
alarga-se de 22km, ao sul do rio São Francisco, para
35km e logo em seguida fica reduzida a 12km devido a
presença do canyon do Sapucaia, voltando a alargarse para 28km defronte a Aracaju. A partir da foz do
rio Vaza Barris, até as proximidades de Salvador, a
largura mantém-se em torno de 20km. Os valores mínimos da profundidade da linha de quebra da plata-
forma correspondem às frentes dos canyons. A
declividade média alcança o valor de 1:100 (10m/km)
ao longo da zona costeira de Aracaju.
A sedimentação na plataforma reflete a geologia da
parte emersa adjacente, clima, drenagem e arcabouço
estrutural. Os sedimentos terrígenos são relíquias
oriundas da sedimentação continental em regime
subaéreo com nível eustático abaixo do atual, exceto
ao longo do rio São Francisco, onde ocorre a sedimentação moderna até 10km da costa (Coutinho, 1995).
Os processos morfodinâmicos que atuam na linha
de costa representados por ações naturais físicas são
basicamente gerados pela ação das ondas, correntes
costeiras e marés, que exercem influência na modelagem costeira, seja através da ação destrutiva (erosão)
em determinados locais ou da ação construtiva em
outros (deposição), como observado na orla marítima
do estado. As ondas constituem um dos processos
marinhos mais efetivos no selecionamento e
redistribuição dos sedimentos depositados nas regiões costeiras e plataforma continental interna.
A forma de arrebentação das ondas na zona costeira do estado depende do gradiente do fundo próximo
à praia e da relação entre a altura e o comprimento da
onda, conhecida como esbeltez da onda. As ondas de
tempestade apresentam uma arrebentação progressiva
em fundos com gradientes baixos (menor que 3o).
Quando as ondas aproximam-se da costa segundo
um ângulo oblíquo, uma corrente paralela à costa desenvolve-se entre a praia e a zona de arrebentação e
estabelece o transporte de sedimentos litorâneos paralelamente à linha de costa, conhecido como deriva litorânea. Por sua vez, as ondas ao aproximarem-se paralelamente à linha da costa, formam as correntes paralelas ou longitudinais (correntes longshore) e de retorno (rip), que se tornam perpendiculares ao litoral,
nos locais onde as alturas das ondas são menores ou
devido as irregularidades batimétricas do fundo. Essas correntes de retorno são responsáveis pelo transporte de sedimentos da praia para a região submarina
adjacente.
Revista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007
A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
Outro processo efetivo de transporte de sedimentos paralelamente à costa ocorre diretamente na face
de praia, pela ação do fluxo e refluxo das ondas (swash
e backwash) em um padrão de zig-zag.
Segundo o trabalho desenvolvido por Viana (1972),
o transporte de sedimentos litorâneos ao longo da costa
sergipana é de 790.000m3/ano, com cerca de 658.000
m3/ano no sentido NE-SW e 132.000 m3/ano no sentido inverso.
Esse processo efetivo de transporte de sedimentos
paralelamente à costa desenvolve-se melhor ao longo
da linha de costa retilínea, como é o caso do estado de
Sergipe, sendo de fundamental importância no planejamento do uso e ocupação do espaço costeiro. A interrupção da deriva litorânea através da construção de
estrutura fixa, como o molhe na desembocadura do
rio Sergipe (município de Barra dos Coqueiros) tem
causado problemas de desequilíbrio ambiental em função do aprisionamento dos sedimentos à montante do
molhe, causando a progradação artificial da planície
costeira, e conseqüente déficit sedimentar a jusante,
ocasionando erosão costeira na praia da Coroa do Meio.
As marés que são observadas nas zonas costeiras
resultam do empilhamento e amplificação das marés
oceânicas, à medida que estas se movem sobre a plataforma continental e para o interior dos estuários e baías. Nestas áreas, movimentos horizontais da coluna
d’água, na forma de correntes de maré, causam mudanças no nível das águas, resultando na inundação
periódica das planícies de marés e manguezais.
97
As marés do litoral de Sergipe são semidiurnas,
com dois picos de marés altas e baixas em um período
de 24 horas e 50 minutos, e com amplitude entre 2 e
4m (mesomarés). A máxima amplitude ocorre nos
equinócios de março e setembro.
3. Aspectos da Produtividade do Camarão
Marinho em Sergipe:
A produção comercial do camarão marinho em
Sergipe teve início em meados de 1998. O tipo de cultivo é semi-intensivo e a espécie cultivada é Litopenaeus
vannamei, espécie exótica adaptada às condições
climatológicas locais.
Segundo dados oficiais, até 2004 encontravam-se
em fase de produção sessenta empreendimentos de
carcinicultura em Sergipe, com área total em produção de 636,87 hectares, distribuídos em cinco bacias
hidrográficas (Gráfico 01), exceto na bacia do rio
Japaratuba, em virtude da existência da Reserva Biológica de Santa Isabel, conforme Resolução no 4 de 18
de setembro de 1985.
A bacia hidrográfica com maior número de empreendimentos de carcincicultura é a do rio Sergipe, com
21 unidades produtoras de camarão cultivado, seguida pela bacia do São Francisco, com 17 unidades produtivas (Gráfico 2). Entretanto, os empreendimentos
da bacia do rio Sergipe totalizam 163,1ha produtivos,
enquanto na bacia do São Francisco a área produtiva
encontra-se em torno de 269,27ha.
Gráfico 1 - Área em produção por bacia hidrográfica em Sergipe.
Fonte: CODISE, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
Gráfico 2 - Empreendimentos de carcinicultura por bacia hidrográfica em Sergipe (2004).
Fonte: CODISE, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.
Com relação ao tamanho das unidades produtivas
de camarão e tomando como base a Resolução 312/
2002 do CONAMA, 78,5% dos empreendimentos são
de pequeno porte (lâmina d’água inferior a 10ha);
16,5% possuem porte médio (lâmina d’água entre 10 e
50ha) e apenas 5% são empreendimentos de grande
porte (acima de 50ha) (CODISE, 2004).
Os municípios com maior número de empreendimentos de carcinicultura em produção são Pacatuba
(14), Nossa Senhora do Socorro (10), Barra dos Coqueiros (8) e Itaporanga d’Ajuda (7).
Por outro lado, até abril de 2004 existiam setenta e
seis empreendimentos de carcinicultura marinha
protocolados para avaliação ambiental do projeto, na
Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA).
De acordo com entrevista realizada neste órgão, já foram realizadas vistorias em todos estes empreendimentos, mas ainda existem pendências em termos da legislação em vigor.
Analisando o número de estabelecimentos em processo de licenciamento na ADEMA destaca-se o município sergipano de Nossa Senhora do Socorro com
vinte e três processos, sendo a maioria de pequeno
porte. Estância, São Cristóvão, Itaporanga d’Ajuda,
Barra dos Coqueiros e Indiaroba são os outros municípios vários processos neste órgão. O município de
Pacatuba, que se destaca em termos de área produtiva
em Sergipe, possui apenas um empreendimento solicitando licenciamento.
Dentre todos os empreendimentos citados, licenciados ou não, foram analisados treze estabelecimentos
de carcinicultura no estado, abrangendo as bacias dos
rios São Francisco, Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real
(Quadro 1, Figura 2).
De acordo com as entrevistas realizadas nestes
empreendimentos, a produção em escala comercial é
recente, a partir do ano 2000, exceto na SIBRA, que é
pioneira no estado, tendo iniciado suas atividades
produtivas há seis anos.
Com relação ao tamanho dos empreendimentos
analisados, 38,5% são de pequeno porte, ou seja, o
espelho d’água em produção possui menos de 10ha;
15,5% possuem porte médio (entre 10 e 50ha em produção) e 7,5% são de grande porte, com área produtiva superior a 50ha. Outros 38,5% não souberam informar a lâmina d’água produtiva.
De acordo com as entrevistas realizadas, na maioria destes empreendimentos as áreas destinadas aos
atuais viveiros de camarão eram utilizadas com piscicultura (38%) ou antigos coqueirais (31%) (Gráfico 3).
Segundo os entrevistados, a mudança para a
carcinicultura ocorreu em função da maior
lucratividade apresentada pelo cultivo do camarão.
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A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
99
Quadro 1 - Empreendimentos de carcinicultura pesquisados em Sergipe (2004).
Estuário
Empreendimento
São Francisco Sítio Boca da Barra
Localidade
Município
Lâmina d’água No de
em produção viveiros
Início da
produção
Pov. Ponta dos Mangues
Pacatuba
Não informou
2
2003
Ilha Chapéu Queimado
Pov. Garatuba
Pacatuba
8ha
2
2001
Ilha do Lobato
Pov. Garatuba
Pacatuba
4ha
8
2000
Sitio Porto do Sal
Pov. Garatuba
Pacatuba
Não informou
3
2000
Fazenda Angelim
Pov. Angelim
Santo Amaro
das Brotas
8ha
1
2001
Fazenda Jatobá
Não informada
Barra dos
Coqueiros
8ha
6
2001
Sítio Esperança
Não informada
Barra dos
Coqueiros
2ha
6
2001
SIBRA
Empreendimentos S/A
Pov. Taiçoca de Fora
N. Senhora
do Socorro
92ha
23
1998
Fazenda Pedra Grande
Pov. Costa do Pau d’Arco
Itaporanga
d’Ajuda
Não informou
4
2002
VIDAMAR
Pov. Candeal
São Cristóvão
32ha
12
2004
Piauí
Sítio Hawaí
Pov. Farnaval
Estância
Não informou
2
2002
Real
Sítio Sobrado
Pov. Cajueirinho
Indiaroba
Não informou
1
2003
Fazenda Santa Bárbara
Pov. Pontal
Indiaroba
15ha
9
2002
Sergipe
Vaza Barris
Fonte: Atividade de campo, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.
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100
Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
Figura 2 – Localização dos empreendimentos de carcinicultura analisados no litoral sergipano.
Fonte: Mapa hidrográfico de Sergipe, 1974. Atividade de campo (2004).
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A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
101
Gráfico 3 - Utilização anterior das áreas destinadas aos viveiros de camarão.
Fonte: Atividade de campo, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.
4. Produtividade nos Estuários Sergipanos:
Estuário do rio São Francisco
De acordo com CODISE (2004) existem 17 estabelecimentos de produção de camarão cultivado neste
estuário, dos quais 14 localizam-se no município de
Pacatuba, totalizando 259,77ha produtivos, e 3 em
Brejo Grande, com um total de 9,5ha. Estes empreendimentos correspondem a maior área produtiva do
estado, totalizando 41,20% da área em produção. No
entanto, apenas um empreendimento, localizado no
povoado Carapitinga, município de Pacatuba, possui
processo na ADEMA solicitando licenciamento.
Estuário do rio Sergipe
Este estuário é o segundo maior em área produtiva
de camarão cultivado ocupando 25,60% dos hectares
produtivos. São 21 empreendimentos de
carcinicultura, sendo 10 localizadas no município de
Nossa Senhora do Socorro, 8 na Barra dos Coqueiros,
2 em Santo Amaro das Brotas e 1 em Aracaju.
O município com maior área em produção é Nossa
Senhora do Socorro, com 125,5ha de lâmina d’água
produtiva, seguido pelo município de Barra dos Coqueiros, com 24,6ha produtivos.
Outros trinta e oito empreendimentos de
carcinicultura encontram-se com processo na ADEMA,
totalizando 50% dos estabelecimentos que estão soli-
citando licenciamento para cultivar camarão. Destes,
60,5% localizam-se no município de Nossa Senhora
do Socorro, 21% na Barra dos Coqueiros, 13,2% em
Santo Amaro e 5,2% em Aracaju.
Estuário do rio Vaza Barris
O estuário do Vaza Barris ocupa a terceira posição
em termos de área produtiva no estado, com 16,80%
de lâmina d’água destinada aos viveiros de camarão.
Sete empreendimentos localizam-se em Indiaroba, somando 37 hectares de produção, enquanto São Cristóvão apresenta apenas uma fazenda, que, no entanto,
possui 70ha em produção
Na ADEMA, tramitam outros 17 empreendimentos, o que corresponde a 22,4% do total dos processos que atualmente solicitam licenciamento para esta
atividade.
Estuário do rio Piauí
Na bacia do rio Piauí existem nove unidades produtivas de camarão cultivado, ocupando o 4o lugar em
termos de área produtiva do estado, com 8,25% hectares de espelho d’água em produção. Dos 52,70ha em
produção, 34,5ha estão localizados no município de
Estância e 18,2ha em Santa Luzia do Itanhy.
Treze empreendimentos localizados neste estuário encontram-se em fase de licenciamento: dez com sede no
município de Estância e três em Santa Luzia. Estas unidades totalizam 17,1% dos processos de todo o estado.
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
Estuário do rio Real
O município de Indiaroba concentra os cinco empreendimentos de carcinicultura desta bacia,
totalizando 52ha em produção, o que equivale a 8,15%
da lâmina d’água em produção no estado.
Outros sete empreendimentos aguardam o
licenciamento da ADEMA, localizados no município
de Indiaroba, perfazendo 9,2% dos processos para
implantação de unidades produtivas de camarão cultivado no estado.
5. Produção e Comercialização de Camarões Marinhos Cultivados nos Empreendimentos de
Carcinicultura Estudados:
Os fatores que influenciam na produtividade de um
empreendimento de carcinicultura estão relacionados
com as condições ambientais e de infra-estrutura da
localidade onde se situa o empreendimento; adequada
estrutura física do estabelecimento produtivo; suporte
tecnológico e manejo sustentável da produção.
As condições ambientais que interagem com a
carcinicultura são as condições climáticas,
hidrobiológicas e topográficas. Toda a zona costeira
do Nordeste brasileiro, onde se inclui a sergipana,
apresenta grande potencial para o cultivo do camarão
marinho, pois possui clima quente praticamente o ano
inteiro, apresentando ricos e extensos estuários propícios ao desenvolvimento do camarão.
revendedores que, na maioria das vezes, localiza-se
fora do estado.
Com relação à estrutura física de uma unidade de
cultivo de camarão marinho para engorda são necessários viveiros bem estruturados, tanques berçários e
um local apropriado para armazenar a ração, insumos
e demais equipamentos utilizados.
Em geral, os viveiros de carcinicultura sergipanos
seguem o padrão do formato retangular. A média de
profundidade dos viveiros analisados é de 1m a 1,50m,
exceto no empreendimento VIDAMAR que varia de
2m a 2,20m. No outro extremo, situam-se os empreendimentos localizados no município de Pacatuba, onde
os viveiros parecem valas, pois no seu centro a profundidade, às vezes, não passa de apenas 0,50m, sendo que nas proximidades das bordas alcançam profundidades entre 1m e 1,50m.
Em 54% dos empreendimentos analisados, a unidade produtiva localiza-se em uma área em que não
ocorre inundação pela maré, sendo o abastecimento
dos viveiros realizado via bombeamento. O abastecimento em função da maré ocorre no município de
Pacatuba, totalizando 31% dos estabelecimentos. Nos
municípios de Estância e Itaporanga o abastecimento
é misto, correspondendo a 15% dos empreendimentos avaliados.
O abastecimento por bombeamento é mais oneroso, mas permite um maior controle físico químico da
água do viveiro e conseqüente manejo sustentável do
mesmo.
Com relação aos aspectos de infra-estrutura, a maioria dos empreendimentos sergipanos analisados possui sistema de energia elétrica para a instalação das
bombas hidráulicas. O acesso ocorre por estradas
vicinais de piçarra, que em época chuvosa dificulta o
fluxo de transporte do camarão após despesca.
Quando as larvas provêm de outros estados é necessário que inicialmente sejam acondicionadas em
tanques berçários para reduzir o estresse do transporte, sendo possível avaliar a sua sanidade, permitindo
a aclimatação ao ambiente de engorda (Nunes, 2000).
Em nenhum dos estabelecimentos existe
beneficiamento do camarão após despesca, por isso o
mesmo deve ser rapidamente escoado, acondicionado
em caixas de isopor com gelo, para os centro
A existência de berçários somente foi diagnosticada
em dois empreendimentos – SIBRA e VIDAMAR. A
fase pela qual as larvas passam no berçário representa
mais um passo no desenvolvimento tecnológico proRevista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007
A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
dutivo do camarão cultivado. No entanto, este procedimento não é aplicado pela maioria dos empreendimentos sergipanos pesquisados.
Em Sergipe, o tipo de cultivo varia de semi-intensivo baixo, com variação da taxa de estocagem de 5 a
14 camarões/m2 (em 46% dos empreendimentos analisados), a semi-intensivo alto, com densidade entre 25
até 70 camarões/m2 (23% dos estabelecimentos analisados). Em 31% dos empreendimentos não foi informado qual a densidade utilizada.
Os produtores do nordeste obtêm até 2,5 ciclos
produtivos por ano, pois o tempo de engorda varia
entre 90 e 120 dias, podendo o camarão alcançar entre
11g e 14g. A taxa de sobrevivência varia de 55% a
70%, sendo que a produtividade aumenta de 550 para
até 4.000kg/ha/ciclo quando ocorre a aplicação de técnicas mais modernas com taxa de estocagem alta
(Nunes, 2000).
A produtividade no município de Pacatuba, onde
o nível de tecnificação é baixo, encontra-se em torno
de 550kg/ha/ciclo ao contrário do que foi diagnosticado nos outros empreendimentos que operam com maior
nível tecnológico de produção, como é o caso da Fazenda Santa Bárbara, da SIBRA, e da VIDAMAR, cuja
produtividade encontra-se variando de 3 a 6 toneladas por hectare produtivo.
O ciclo produtivo do camarão marinho cultivado
no Brasil envolve as fases de maturação, larvicultura e
engorda. Em Sergipe somente foram diagnosticadas
unidades produtivas de engorda de camarão da espécie Litopenaeus vannamei.
Devido à inexistência de larviculturas em Sergipe,
a maioria dos empreendedores entrevistados (70%)
adquire as larvas da LUSOMAR, empresa baiana, localizada no município de Jandaíra, próximo ao município sergipano de Indiaroba. Esta empresa encontrase há vários anos no mercado possuindo em sua estrutura unidades de larvicultura, engorda e
beneficiamento do camarão por ela cultivado e/ou proveniente de outros empreendimentos. Possui também
103
um comprovado sistema de qualidade na produção
das larvas que serão utilizadas nas unidades de engorda destinadas, principalmente, para a região Nordeste.
Outros 20% dos empreendimentos analisados adquirem as larvas da NETUNO (sediada em Recife) e
10% compram tanto da MARICULTURA, com sede
no estado da Bahia, quanto da AQUAMAR do Rio
Grande do Norte.
Em todos os empreendimentos analisados são colocadas telas para impedir a fuga dos espécimes cultivados, bem como para inibir a entrada de predadores
naturais de camarões. No entanto, este procedimento
não impede que no momento da despesca ocorra a
fuga de camarões cultivados para o ambiente externo
ao viveiro. As conseqüências para este fato ainda não
foram diagnosticadas.
A avaliação do estado sanitário do plantel ocorre
mediante análise do comportamento dos camarões e
através da realização da biometria, que consiste em
uma amostragem das espécies por viveiros para serem
pesadas e medidas sendo então possível avaliar o grau
de desenvolvimento e o estado sanitário dos camarões.
A biometria deve ocorrer semanalmente para avaliar o crescimento do camarão, bem como seu estado de
saúde. Segundo os proprietários e responsáveis técnicos e/ou administrativos entrevistados, este procedimento é realizado nos médios e grandes empreendimentos sergipanos analisados. Nos pequenos empreendimentos a biometria somente é realizada no último
mês de engorda, visando apenas avaliar se o camarão
já está apto para ser comercializado em função do peso.
Este fato demonstra um manejo inadequado do cultivo, que poderá trazer conseqüências negativas tanto
para o cultivo e consumo quanto para o estuário adjacente.
A utilização de aeração artificial traz como benefícios uma maior estabilização dos parâmetros
hidrobiológicos; redução da taxa de renovação da água
Revista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007
104
Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
dos viveiros, favorecendo o equilíbrio com o ambiente
estuarino; e intensificação dos cultivos, sem correr o
risco de provocar depleção do oxigênio (Rocha, 1998).
O uso de aeração artificial somente foi diagnosticado em 38,5% dos empreendimentos que operam com
densidades superiores a 15camarões/m2. Nas demais
unidades produtivas não ocorre a aeração artificial. fato
relacionado com a baixa densidade de estocagem e pelo
fato dos aeradores terem um custo muito elevado.
Outro aspecto fundamental, relacionado ao manejo sustentável de um cultivo aqüícola, refere-se a forma de alimentação da espécie. Em cativeiro, visando o
crescimento rápido do camarão, é utilizada ração como
principal fonte alimentar.
O arraçoamento, ou seja, o oferecimento da ração,
pode ser realizado por voleio, onde o alimento é lançado diretamente no viveiro, ou através de bandejas
ou comedouros fixos na proporção de uma bandeja/
ha para cada um camarão/m2, no qual a ração é depositada e levada para o fundo do viveiro, diminuindo o
excesso de ração e conseqüente processo de
eutrofização do viveiro (Nunes, 2003).
Entre os empreendimentos entrevistados, 54% fazem o arraçoamento misto, ou seja, através de voleio e
por bandejas; 31% oferecem a ração por voleio e apenas 15% fazem o arraçoamento através de bandejas.
Estes dados demonstram a não adoção de técnicas mais
modernas de cultivo que visam a sustentabilidade do
mesmo.
A ração utilizada por 70% dos empreendimentos é
proveniente da empresa SIBRA, cuja fábrica localizase no município sergipano de Propriá, fato relacionado com o menor custo da ração, por localizar-se no
mesmo estado e por confiarem nesta empresa, pioneira no ramo da carcinicultura no estado.
Com relação a despesca, esta deve ser realizada
preferencialmente à noite, pois as temperaturas estão
mais amenas, reduzindo o estresse dos animais e o
risco de mortalidade em função do sol (Rocha, 1998;
Saint-Brisson, 1999). No entanto, nos estabelecimentos analisados somente 15,4% realizam despesca à
noite, pois evita uma possível morte do camarão em
função do calor. Em 8,0% dos estabelecimentos a
despesca ocorre em qualquer horário independente
da maré vazante. Nos demais empreendimentos o horário da despesca é variável, não importando o sol,
mas sim o horário da maré vazante.
As análises dos parâmetros físico-químicos
objetivam manter a qualidade da água do viveiro adequada ao desenvolvimento do camarão, corrigindo os
excessos ou carências dos fatores analisados. Dentre
eles, devem ser analisados diariamente o pH, a temperatura, a salinidade, a transparência e o oxigênio dissolvido. Semanalmente deve-se avaliar a concentração
de nitrato, nitrito e amônia (DPA/MA, 2001).
As unidades produtoras de camarão analisadas
nesta pesquisa, de médio e grande porte, avaliam os
parâmetros citados acima, mas em nenhuma delas foi
possível obter estes dados. De acordo com o técnico
da SIBRA entrevistado, a área onde este empreendimento se localiza é imprópria para o cultivo de camarão, pois a poluição do rio do Sal, afluente da margem
direita do rio Sergipe, influencia diretamente na qualidade da água captada para os viveiros. Em determinadas épocas do ano, segundo o entrevistado, a quantidade de amônia é tão alta que é necessário parar o
bombeamento da água e utilizar somente os aeradores
para oxigenar os viveiros. Na Fazenda Santa Bárbara e
na VIDAMAR o principal problema está relacionado
com a depleção do oxigênio, que é monitorado quatro
vezes por dia, estando os aeradores ligados constantemente.
O tratamento dos efluentes provenientes dos viveiros necessita de um manejo responsável a fim de
que sejam preservadas a qualidade ambiental e a proteção a saúde pública no empreendimento e no estuário na qual está inserido.
Somente em dois estabelecimentos (SIBRA e
VIDAMAR) foi identificada a existência de bacias de
sedimentação, ou seja, tanques ou lagoas de decantaRevista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007
A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
ção. Nos demais empreendimentos, que correspondem
a 84,6% dos analisados, os efluentes são liberados
diretamente no estuário. A eliminação direta dos
efluentes pode vir a acarretar modificações nos
parâmetros hidrobiológicos dos estuários.
A legalização dos empreendimentos de
carcinicultura no estado é um problema evidente. Os
empreendimentos já existentes e os em fase de execução necessitam adequar-se a Resolução no12, de 26 de
agosto de 2002, do Conselho Estadual de Controle do
Meio Ambiente em Sergipe, que dispõe sobre o
licenciamento e o disciplinamento dos empreendimentos carcinicultores no estado, visando à legalização e
normatização dos vários empreendimentos irregulares no estado, bem como instituindo normas para a
implementação de novos estabelecimentos de
carcinicultura, e a Resolução do CONAMA 312, de 10
de outubro de 2002, de âmbito nacional que dispõe
sobre o licenciamento da carcinicultura.
Esta última veda a prática da carcinicultura em
ecossistemas de manguezal (Artigo 2o) e no Artigo 3o
fica determinado que a construção, a instalação, a
ampliação e funcionamento das fazendas de cultivo
de camarão na zona costeira dependem de
licenciamento ambiental.
Os empreendimentos de pequeno porte poderão
ser licenciados mediante procedimento de
licenciamento ambiental simplificado. Os demais empreendimentos necessitam apresentar Estudos de Impacto Ambiental, devidamente acompanhados de um
Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Porém,
todos os empreendimentos deverão solicitar inicialmente a licença prévia (LP), em seguida apresentar
outra documentação para solicitar a licença de instalação (LI) e ao final do processo a licença de operação
(LO). Os documentos mínimos exigidos para cada uma
destas fases encontram-se no Anexo A.
Todos os entrevistados afirmaram que o processo
de licenciamento da atividade de carcinicultura é moroso, dispendioso e ocorre uma falta de clareza com
relação à documentação exigida para licenciar. Por isso,
105
muitos dos empreendimentos em questão ainda não
se encontram licenciados, exceto a VIDAMAR. O Sítio Esperança e a SIBRA encontram-se com suas licenças de operação vencidas e em fase de renovação.
Segundo as entrevistas realizadas nos empreendimentos de carcinicultura sergipanos analisados, licenciados ou não, o camarão cultivado é vendido principalmente para os estados da Bahia (empresa
LUSOMAR), Recife (empresa NETUNO), Rio Grande
do Norte (empresa AQUAMAR), Rio de Janeiro e São
Paulo. Em menor proporção é vendido na capital
aracajuana, no Mercado Central.
Os principais impactos ambientais relacionados
com a carcinicultura referem-se a supressão do
ecossistema manguezal; mudanças no padrão de circulação hídrica do estuário e eutrofização do estuário,
com as descargas dos efluentes dos viveiros sem tratamento prévio (Wainberg e Câmara, 1998).
Em Sergipe, a supressão do manguezal foi constatada na maioria dos empreendimentos analisados, nas
atividades de campo, bem como através de fotografias
aéreas verticais na escala de 1:25.000 (SEPLANTEC/
UNITUR, 2003). Estes empreendimentos foram instalados antes de entrar em vigor a Resolução 312/2002 do
CONAMA, que proíbe a estruturação de estabelecimentos de carcinicultura em áreas de manguezal. Em função deste fato tramita no Ministério Público o Termo de
Ajustamento de Conduta para estes empreendimentos
já instalados indevidamente em áreas de manguezal.
Com relação a eutrofização e as possíveis mudanças
no padrão de circulação hídrico dos estuários sergipanos,
nos quais encontram-se instalados os empreendimentos de carcinicultura, são necessários estudos específicos sobre os parâmetros hidrobiológicos e físico-químicos para avaliar o real impacto do cultivo de camarão.
No entanto, foi possível diagnosticar que na maioria dos empreendimentos analisados, não há tratamento
adequado dos resíduos dos viveiros antes que sejam
lançados no estuário adjacente, bem como a modificação estrutural das áreas no entorno dos estuários viRevista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
sando à construção dos canais de abastecimento e dos
próprios viveiros de engorda, embora haja preocupação de parte dos empreendedores de manter certas
áreas do manguezal preservadas.
Um ponto fundamental no ordenamento de atividades potencialmente impactantes, como a carcinicultura
na zona costeira, é a realização do Zoneamento Ecológico Econômico, que tem como objetivo geral organizar
as decisões de agentes públicos e privados no tocante
às atividades que utilizem intensamente os recursos
naturais, adotando medidas de proteção ambiental destinadas a assegurar a qualidade ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida
da população (Decreto no 4.297/2002).
No estado de Sergipe, encontra-se em fase de elaboração o zoneamento da aptidão da carcinicultura, desenvolvido pela empresa de consultoria GEOTEC e a
CODISE. Este estudo tem como objetivo identificar as
potencialidades e limitações da atividade de cultivo de
camarão no litoral sul do estado e faz parte da atualização
do Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro sergipano.
6. Aspectos socioeconômicos do cultivo de
camarão marinho no estado
A análise dos aspectos socioeconômicos dos trabalhadores dos empreendimentos de carcinicultura estudados em Sergipe permitiu identificar questões referentes ao gênero, faixa etária, grau de instrução, condições de trabalho, atividade principal, renda obtida,
número de empregos gerados, dentre outras.
A prática da carcinicultura, como toda atividade produtiva envolvendo capital e trabalho, cria categorias de
trabalho. Nos empreendimentos analisados em Sergipe
foi possível identificar as seguintes categorias: a categoria do trabalhador fixo designado, na maioria dos empreendimentos de pequeno porte, a realizar todas as
atividades relacionadas com o cultivo de camarão; e a
do trabalhador temporário, morador das circunvizinhanças, contratado como diarista na época da despesca ou
para alguns serviços de manutenção dos viveiros.
Dentre os quinze trabalhadores entrevistados, a
maioria, 93,5%, são do sexo masculino e apenas 6,5%
representam o sexo feminino. Esta tendência a ser uma
atividade estritamente masculina provavelmente devese ao fato de ser considerada, segundo os entrevistados, como bastante árdua e por isso requeira mão-deobra mais resistente em termos de desgaste físico.
Com relação à faixa etária, Guzenski (2000) ressalta
que a identificação da idade em uma determinada comunidade permite conhecer diferentes interesses e
necessidades vinculadas ou não aos recursos disponíveis no ambiente onde nasceram ou residem, permitindo ainda avaliar os possíveis movimentos de
êxodo na busca por locais que possam oferecer melhores alternativas de vida e renda.
A idade predominante dos trabalhadores oscila entre a
faixa de 21 a 30 anos e de 41 a 50 anos, totalizando 66,5%
dos entrevistados. Trabalhadores com menos de 20 anos
ou com mais de 50 anos representam igualmente 13,4%
dos entrevistados. A faixa etária predominante corresponde
à população economicamente ativa que, em sua maioria,
dedica-se a esta atividade por motivos financeiros.
Sobre o grau de escolaridade, constatou-se que 80%
dos entrevistados possuem o ensino fundamental incompleto e 13,5% apresentam o ensino superior completo em engenharia de pesca, sendo os responsáveis
técnicos pelos empreendimentos onde trabalham. Um
dos entrevistados (6,5%) é analfabeto funcional, pois
apesar de nunca ter freqüentado a escola, sabe assinar
o nome e resolver cálculos diários.
A escolaridade dos trabalhadores entrevistados é
baixa, não apresentando em sua maioria o ensino fundamental completo. Este fato incide sobre o tipo de
emprego que possuem, repercutindo diretamente sobre sua qualidade de vida.
Com relação às mudanças para a comunidade local, constatou-se que os benefícios da carcinicultura
são poucos e estão diretamente relacionados aos empregos temporários na época da despesca ou para
manutenção dos viveiros.
Revista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007
A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
O município sergipano que apresentou mudanças
expressivas em função da carcinicultura foi Indiaroba.
Embora sua área produtiva de camarões cultivados seja
pequena, este município sofre influência direta da
empresa LUSOMAR, localizada em Jandaíra, Bahia.
Esta empresa é classificada como de grande porte, exportando entre 70 e 90% de sua produção para a Europa e Estados Unidos. Em função da proximidade
desta empresa com Indiaroba, 69% dos seus funcionários são provenientes deste município. Atualmente, esta atividade representa a segunda maior fonte de
emprego para a referida localidade (Carvalho, 2004).
Nas fazendas de cultivo de camarões existem múltiplas funções a serem realizadas, como a manutenção
da bomba e dos viveiros, alimentar os camarões, realizar a limpeza dos viveiros, etc (Rocha, 1998; SaintBrisson, 1999; DPA/MA, 2001).
No entanto, o Gráfico 4 evidencia que a maior parte dos trabalhadores entrevistados concentra todas as
funções, sendo que alguns ainda são responsáveis por
outras atividades existentes no próprio empreendimento. Concentrando todas as funções relacionadas ao
cultivo de camarão, o trabalhador tende a se tornar
107
insatisfeito e cansado, o que pode trazer como conseqüência o manejo incorreto dos viveiros.
No caso específico de alimentar os camarões, Nunes
(2003) alerta que a função de arraçoador exige treinamento técnico, paciência, tempo e resistência física,
pois é necessário estacionar o caiaque nos pontos de
alimentação, içar a bandeja, liberar as sobras, inserir
nova quantidade de alimento e descê-la até o fundo
do viveiro sem virá-la. Trabalhadores com múltiplas
tarefas, inclusive a de arraçoar e sem incentivo econômico podem provocar perdas de ração e comprometer
a qualidade da água do viveiro.
Com relação à renda obtida, 46,5% dos entrevistados
recebem entre R$240,00 e R$320,00; 15,5% possuem uma
renda entre R$400,00 e R$500,00; outros 23% não informaram o valor recebido e 15,5% são trabalhadores temporários, recebendo pela diária em torno de R$15,00.
Os trabalhadores entrevistados afirmaram que as
condições de trabalho são satisfatórias, embora seja
necessário um aumento na renda obtida, face ao árduo trabalho de lidar diariamente com o camarão, em
média oito horas por dia.
Gráfico 4 - Funções dos trabalhadores das unidades produtivas de camarão.
Fonte: Atividade de campo, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.
Revista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
Trabalhar nos estabelecimentos de carcinicultura
sergipanos é visto como complemento de renda para
86,5% dos entrevistados. Os outros 13,5% trabalham
como técnicos atuando, portanto, na área de formação
escolhida.
Conforme Wainberg e Câmara (1998), os benefícios
socioeconômicos da carcinicultura estão diretamente
ligados à geração de emprego e renda, que vem crescendo em função da sua modernização, criando novos
postos de trabalho e conseqüentemente de emprego de
mais mão-de-obra. A relação de funcionários por hectare passou de 0,2-0,3/ha para 0,7/ha, após a disseminação da utilização de bandejas de alimentação.
Em Sergipe ainda não está consolidada a cadeia
produtiva da espécie cultivada. Nos empreendimentos de pequeno porte analisados (com menos de 10ha
de lâmina d’água produtiva), 38,5% geram um emprego fixo para todo o estabelecimento; 15,5% empregam
dois trabalhadores fixos e 15,5% geram três empregos
fixos. Em 7,5% dos estabelecimentos que possuem
porte médio são gerados nove empregos fixos. Nos
estabelecimentos que empregam tecnologia mais moderna e que operam com o cultivo do tipo semi-intensivo alto, são gerados entre 38 e 52 empregos fixos.
Estes empreendimentos totalizam 15,5% dos estabelecimentos analisados, sendo um de médio porte e outro de grande porte (acima de 50ha produtivos). Nos
demais 7,5% não há geração de empregos.
Em 61,5% dos estabelecimentos de carcinicultura
analisados foi informada a lâmina d’água em produção, mediante entrevista com o proprietário ou responsável técnico/administrativo. A área destes empreendimentos totaliza 169ha, que geram 108 empregos
fixos, o que equivale a 0,6 empregos/ha, média considerada baixa em comparação com outras atividades
do setor produtivo primário.
O número de empregos temporários é variável a
depender da área produtiva e do nível tecnológico utilizado no empreendimento. Em geral, para serviços
gerais e na época da despesca, que ocorre em média
de 3 em 3 meses, são gerados nos empreendimentos
de pequeno porte analisados, entre dois a oito empregos temporários, e de dezoito a vinte nos empreendimentos de médio e grande porte analisados.
Desta forma, constata-se nos empreendimentos
analisados que a carcinicultura tem gerado poucas
oportunidades de emprego pois, em média, é gerado
apenas um emprego fixo para cada dois a três hectares
produtivos, fato que contribui para a marginalização
das comunidades locais. Por outro lado, apenas 5%
dos empreendimentos em produção no estado são de
grande porte, 16,5% de médio porte e 78,5% são de
pequeno porte demonstrando que a atividade de
carcinicultura em Sergipe é socialmente expressiva.
Foi constatado nas atividades de campo uma
reorientação das atividades desenvolvidas em parte
do litoral sergipano. As fazendas de produção de coco,
áreas de apicuns e de manguezais, antigos viveiros de
peixes e algumas salinas estão sendo paulatinamente
convertidas em empreendimentos de carcinicultura.
Este fato ocorre principalmente em função do alto valor de mercado que o camarão possui e do seu rápido
desenvolvimento, pois entre 3 e 4 meses está apto a
ser comercializado.
7. Considerações Finais
O espaço geográfico de interesse neste trabalho – a
zona costeira – tem sido palco para o desenvolvimento da carcinicultura mundial, pois apresenta características ambientais que favorecem o cultivo do camarão, principalmente em regiões tropicais onde as condições climáticas, hidrobiológicas e topográficas predominantes criam um potencial para o seu desenvolvimento.
A carcinicultura mundial é na atualidade um
agronegócio com mercado nacional e internacional em
plena expansão, colocando o camarão marinho cultivado como um importante produto gerador de divisas.
Sergipe está inserido neste contexto, pois seus espaços litorâneos antes ocupados por viveiros de peiRevista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007
A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano
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xes, coqueirais, manguezais e apicuns estão sendo paulatinamente convertidos em viveiros para o cultivo do
camarão, cuja produção é destinada, principalmente,
para os mercados nacional – Bahia, Pernambuco, Rio
Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo – e internacional – Europa e Estados Unidos.
Dentre eles, o ecossistema de manguezal é o mais
diretamente impactado pelo cultivo de camarão em viveiros, pois embora não mensurada a área suprimida
do manguezal nos empreendimentos analisados, durante as atividades de campo foi constatado que esta
vegetação foi retirada para a construção dos viveiros.
O aperfeiçoamento das técnicas de cultivo tem permitido atingir alta rentabilidade produtiva com baixo
índice de impacto ambiental. Esta modernização nas
técnicas de cultivo está relacionada com o conhecimento do ciclo biológico da espécie cultivada e com o
aperfeiçoamento das técnicas de manejo sustentável
dos viveiros.
A forma de alimentação das espécies em cativeiro
não segue o padrão desenvolvido para evitar excesso
de ração no fundo dos viveiros ocorrendo, conseqüentemente, excesso de matéria orgânica na água.
No entanto, nível de tecnificação da produção da
maioria dos empreendimentos analisados no estado é
baixo, com poucos estabelecimentos que empregam
tecnologia moderna.
Em Sergipe, algumas destas contradições referentes ao segmento social são evidentes, demonstrando
ser uma atividade lucrativa para o dono do empreendimento e não para o trabalhador braçal que recebe em
média entre duzentos e quatrocentos reais mensais.
Em empreendimentos de pequeno porte, o trabalhador concentra várias funções diárias, desde o oferecimento da alimentação, três vezes ao dia, limpeza e
manutenção do mesmo, até a função de vigilante dos
viveiros. Ocorre também um aumento no número de
trabalhadores temporários, com diárias variando entre dez e quinze reais e sem a perspectiva de nenhum
vínculo empregatício. Nos médios e grandes empreendimentos analisados, as atividades dos trabalhadores são mais específicas, como a de arraçoador, bombeiro, eletricista, vigilante, dentre outras, não sobrecarregando o funcionário com diversas atividades.
No tocante às questões ambientais relacionadas com
a carcinicultura sergipana, alguns aspectos merecem
destaque, pois o manejo sustentável dos viveiros ainda não é aplicado corretamente na maioria dos empreendimentos analisados.
Na maioria dos estabelecimentos, os dejetos dos
viveiros são lançados diretamente nos estuários o que
futuramente, com o aumento dos lançamentos destes
efluentes, poderá causar eutrofização destes corpos
d’água.
Deve-se ressaltar que desde que sejam seguidas as
normas de manejo tanto para instalação quanto para a
operação de um empreendimento de carcinicultura, a
atividade pode ser desenvolvida com um mínimo de
impacto ambiental e social. O uso sustentável, respeitando as áreas onde as populações ribeirinhas tiram
seu sustento, contratando trabalhadores para atividades específicas nos empreendimentos, visando reduzir o acúmulo de funções, adotando medidas de controle da água dos viveiros e de tratamento dos efluentes
antes de liberá-los para o estuário, são alguns pontos
que contribuem para o desenvolvimento da
carcinicultura sustentável. Para tal é necessário também que haja clareza na regulamentação legal da atividade junto aos órgãos ambientais, bem como os empreendedores sigam um código de conduta ambiental
responsável.
Diante do exposto, a carcincicultura no litoral sergipano revela relações ambientais, sociais e econômicas muito singulares. Ao mesmo tempo em que demonstra alcançar altos níveis de produtividade e rentabilidade, utiliza intensamente produtos primários
(água e solo) afetando diretamente o ambiente e apresentando uma distribuição desigual da renda entre as
categorias de trabalho criadas por esta atividade.
Revista da Fapese, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes
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