Loucuras
Há algum tempo atrás recebi uma ligação telefônica de uma ex-namorada, ela fala
mansamente, de um jeitinho todo seu, quente e sensual, como se estivesse a fazer
convite ardente. Infelizmente era apenas para comunicar algumas trivialidades, não
aceitou o convite para me visitar. A voz me afetou tanto que após o seu telefonema
corri para (não é o que você está pensando, mente poluída!) o computador e escrevi
uma poesia. Depois eu dei uma boa gargalhada ao ver o modo como estava me
comportando e me lembrei daquela piada do papagaio que todo dia passava da sua
casa, através do fio elétrico, para casa vizinha com a finalidade de namorar. Um belo
dia o fio ficou descoberto e ao passar por ele o papagaio levou um choque e
exclamou: um namoro tão velho e hoje eu estou nervoso!
Não me pergunte o nome da poesia, pois eu não me recordo e ela não está
publicada. Ao me lembrar do fato eu a procurei, mas não consegui localizar nos
arquivos contendo as poesias que não publiquei, talvez eu a tenha arquivado em
algum local pouco usual e agora não me lembro mais. Ao relatar hoje o ocorrido
senti saudade da voz, decidi procurar a poesia, mas não consegui localizar.
Abandonei a idéia de encontrar a poesia e fiquei a imaginar o que nos leva a
recordar uma pessoa. Comigo está acontecendo uma coisa interessante, agora não
estou sentindo falta das pessoas com quem me relacionei, mas da voz, do seu
cheiro, da sua maneira de ser, dos seus seios, da sua bunda e de outras coisas
mais...
Recentemente falei por telefone com uma pessoa, ela estava com problema na
garganta provocado por gripe, voz um pouco rouca que me lembrou a ex-namorada,
depois da ligação fui para o computador e escrevi a poesia que recebeu o nome de
Fusão. Foram as lembranças da outra, misturadas com a conversa telefônica que
me levaram a escrever a poesia. Resumindo: uma salada meio doida, mas o que
você queria saindo da minha cabeça?
Às vezes eu passo dias pensando em algo para escrever, em alguma coisa para
incendiar o verso e não consigo. Tem ocasiões em que até uma folhinha tangida
pelo vento é motivo para uma crônica. É difícil entender a cabeça daquele que se
dedica a escrever, mas de uma coisa eu sei e já coloquei até em uma poesia: de
poeta tenho pouco, mas de louco tenho muito. A filha de uma ex-esposa sempre me
dizia isso, agora vejo que ela tinha razão, afinal de contas um louco sempre
reconhece outro com facilidade.
Marcos Antônio da Cunha Fernandes
João Pessoa, novembro de 2006.
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