Polos educacionais na EaD: uma gestão além da questão pedagógica
Prof. Enilton Ferreira Rocha
Do ponto de vista da educação a distância, entende-se como polo educacional uma
unidade de uma determinada instituição de ensino responsável pela gestão técnicoadministrativa no âmbito educacional, gestão pedagógica, gestão tecnológica de apoio
educacional, bem como a unidade responsável pela gestão da secretaria acadêmica e da
gestão de resultados fora da sede da IES - Instituição de Ensino Superior.
Contudo o que se vê, na prática, são núcleos de educação a distância, os NEAD,
assumindo o espaço desses polos que, na realidade, são centros de produção de
conteúdo e acompanhamento pedagógico de alunos e professores da EaD.
Essa
involuntária descaracterização dos polos pelos NEADs tem deixado marcas no caminho
da socialização e da difusão da EaD pelas universidades e instituições de ensino
superior brasileiras.
Se observarmos as políticas e portarias do MEC a esse respeito veremos que há, de certa
forma, um incentivo a essa descaracterização ou a essa concepção errônea acerca do
papel e funcionalidade acadêmica dos polos educacionais, cujo objetivo socioeconômico é o de flexibilizar, democratizar e promover a interiorização da Educação no
país criando, dentre outras possibilidades, condições de expansão na oferta de vagas
para o trabalho e o crescimento econômico sustentável da região onde se localiza o
polo.
Segundo o Secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky,
Setembro, 2009:
Em 2010, esperamos contar já com 850 polos. E, para 2012,
esperamos atender 600 mil alunos.
Se a previsão do MEC de implantação de 850 polos educacionais da UAB Universidade Aberta do Brasil - até 2012 acontecer de fato, podemos imaginar o que
isso representará para o país se esses polos tiverem a configuração, o objetivo e a gestão
a partir da sua concepção original.
Mas, então, onde está o problema?
O primeiro diz respeito a sua concepção como espaço ou unidade educacional
subordinada a uma estrutura organizacional da IES. Observa-se que grande parte dos
problemas na implantação desses polos, por algumas IES brasileiras, está no modo
como eles são institucionalizados, como eles são estruturados e organizados; sendo, na
maioria das situações, encampados por um centro ou núcleo de produção de conteúdos e
materiais didáticos para a EaD absorvendo, ainda, o quartel general da pedagogia
instrucional e a informática de apoio aos processos do NEAD. Alguns deles são meros
espaços físicos de encontros dos alunos com os seus professores para as aplicações de
provas presenciais.
Nesse contexto, apresenta-se como um núcleo de produção e orientação pedagógica
instrucional, longe de sua missão enquanto espaço de fomento para o trabalho no
laboratório pedagógico (Espaço extraclasse de socialização acadêmica e profissional
do aluno; Espaço de integração entre alunos, professores e a instituição de ensino).
Longe da sua importância como órgão ou estrutura organizacional, autônoma e
integrada a sua IES, responsável pelas diretrizes da EaD no polo, pela secretaria
acadêmica do polo e pelos estatutos educacionais e políticas de gestão de pessoas na
EaD.
O que se observa, na maioria dos casos, são pequenos galpões alugados,
terceirizados, ou espaços mínimos de atendimento ao aluno, sem nenhum vínculo com a
identidade social, cultural e educacional da IES de que deveria ser parte integrante.
Graças à intervenção do MEC, esse quadro tem melhorado, mas ainda é lastimável a
situação da maioria dos polos educacionais da EaD nas instituições de ensino superior
privadas.
No âmbito da UAB, há um esforço muito grande realizado pela ação dos convênios com
prefeituras e instituições de ensino em locais fora da sede das Universidades e
Instituições Federais, mas a situação de desencontro é bem próxima da observada no
setor privado.
O segundo refere-se ao desconforto institucional e organizacional que esses polos
representam para os alunos. Não só do ponto de vista da falta de ligação dos polos com
a identidade da IES, mas, principalmente, em relação ao aspecto psicossocial e ao
aspecto cognitivo da relação aluno-escola. Alguns especialistas da EaD criticam esse
cenário imposto ao estudante da EaD no Brasil. Segundo Moran, Oficina - Parâmetros
de eficácia e qualidade na EaD - Maio, 2009:
É fundamental permitir que o aluno se sinta em um pedaço da
sua instituição de ensino, quando muitas vezes se sentem em
um espaço estranho.
Convém destacar que a EaD não é uma modalidade de ensino, mas um Sistema
Educacional e, como tal, precisa ser encarado com seriedade, com respeito aos seus
contextos, sistemas e sujeitos da aprendizagem. É preciso dar oportunidade ao aluno de
se sentir parte do sistema educacional em que está envolvido. É preciso criar condições
de integrar o aluno à escola e as suas comunidades social, cultural e econômica.
Interiorizar a educação superior no país é extremamente oportuno, mas banalizar a sua
forma é inaceitável. Afinal, educação é sinônimo de complexidade, de diversidade e
exige “coerência” em suas ações.
Belo Horizonte, 05 de maio de 2010
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