Igualdade I eletricitários apontam em pesquisa que Uma grande empresa só se constrói com tratamento justo para todos magine uma Cemig onde todos tivessem os mesmos direitos e oportunidades. Uma Cemig que valorizasse o trabalhador como o seu maior patrimônio. Uma empresa transparente e justa, onde o diálogo e o respeito aos eletricitários e ao acordo coletivo fossem as regras mais valiosas do RH. Que a solidariedade estivesse acima do lucro e dos interesses dos acionistas. Imagine uma Cemig que tivesse uma conduta humana, ética e moral baseada na fraternidade, sem perseguições e punições. Que a segurança da força de trabalho estivesse acima dos interesses da terceirização. Esta é a Cemig idealizada pelos eletricitários. Nos últimos dias o Sindieletro recebeu centenas de retornos para o CG On Line que perguntava sobre a árvore de Natal dos sonhos dos trabalhadores. Para além do Natal, também perguntamos quais posturas que os eletricitários esperam da Cemig em 2013 e as respostas foram reveladoras. Quase a totalidade dos trabalhadores respondeu que quer uma Cemig com igualdade de direitos. A paridade no tratamento, apesar de base para a dignidade humana, é negligenciada pela direção da empresa, que fecha os canais de diálogo, persegue, retira direitos e demite eletricitários. Enquanto pune os trabalhadores, a empresa vai à guerra para defender os interesses dos acionistas, aumenta o número de gerentes, promove festas vips, com direito a show da cantora Paula Fernandes e privilegia chefes na hora da distribuição da PLR. Para o restante dos eletricitários, sobram cobranças e muito autoritarismo. O que a direção da Cemig ainda não entendeu é que atrás de cada crachá não existe apenas uma matrícula, mas um ser humano, dotado de habilidades, altamente qualificado e que contribui decisivamente para aumentar o lucro da empresa e quer ser tratado com respeito e dignidade. Em 2012 a Cemig sequer foi classificada no Guia das 150 Melhores Empresas para se Trabalhar. A última vez que constou na publicação foi em 2007, mas sem nenhum destaque. Essa resposta do Chave Geral - Nº 719 - DE 25/9/12 A 1/10/12 - Página 1 trabalhador, que deixa a empresa fora do Guia, vai continuar enquanto a direção da empresa conservar a incoerência. Como podem deixar o acordo coletivo dos trabalhadores para o ano seguinte, passando mais de 90 dias sem diálogo e sem negociação e, ao mesmo tempo, distribuir um megadividendo de R$ 3,3 bilhões entre os acionistas? A direção da Cemig precisa fazer uma autocrítica sobre a gestão de pessoal. Que em 2013, a empresa adote uma nova relação com os trabalhadores, à altura da importância da Cemig e do merecimento dos eletricitários, baseada no diálogo, no respeito e na igualdade de direitos. Essa é a opinião dos trabalhadores. Luta nacional dos Eletricitários pela renovação das concessões e contra a privatização e terceirização continua Chave Geral: A seu ver, deve ser dado novo prazo para as empresas que não aderiram às concessões baseadas nas novas regras renovarem os contratos? Franklin Moreira Gonçalves: Sim, o prazo deve ser prorrogado. Em minha opinião, o debate sobre a MP não deveria ter sido tão politizado como foi. Sabemos que onde não houver renovação, haverá licitações com forte risco de privatizar as u s i n a s. N o caso da Cesp, de São Paulo, e da Cemig, se não houver renovação, haverá licitações já em 2013 para operar as usinas Três Irmãos e Jaguara. A FNU/CUT lançou a campanha Renovar para Não Privatizar e ela vai continuar. Queremos que o governo federal e as empresas de energia voltem a se reunir para criar condições para renovar as concessões. CG: Em que ponto você considera que a MP não foi suficientemente debatida? Franklin: Além de alternativas para garantir a renovação, sem licitação, outro aspecto que não está sendo considerado no debate sobre a Medida Provisória é a Rua Mucuri, 271 - Bairro Floresta Belo Horizonte/MG - CEP: 30.150-190 O eletricitário e presidente da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU/CUT), Franklin Moreira Gonçalves, analisa, nesta entrevista, o cenário do setor elétrico após a Medida Provisória 579. situação dos trabalhadores do setor elétrico. Sabemos que a licitação que corre o risco de ser feita é apenas do ativo físico das usinas. Mas como fica o trabalhador da empresa? Na Cesp, por exemplo, todas as concessões da empresa estarão vencidas e o governo de São Paulo fala em demissões. Falta um debate que leve em conta a situação dos trabalhadores, dos consumidores e da população do entorno dessas usinas dos três estados, onde não houve renovação das concessões ( Minas, São Paulo e Paraná), que podem ser afetadas pela falta de investimentos. CG: As empresas reclamam da nova tarifa, que favorecerá os consumidores em 2013. A tarifa proposta pela Aneel remunera quais gastos das concessionárias de energia? Franklin: O diretor geral da Aneel, Nelson Hubner, disse em reuniões com a FNU/CUT, em que o Sindieletro esteve presente, que a tarifa de O&M contempla o pagamento de pessoal e, inclusive, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Durante reunião na Comissão Mista, que discutiu a MP, no Congresso Nacional, ele repetiu a afirmação. A Aneel enviou questionários para empresas pedindo informações sobre os custos de operação e manutenção, que não se restringem ao pessoal das usinas e subestações. O levantamento deve incluir o pessoal altamente qualificado necessário para manter o bom funcionamento do sistema elétrico, que atua em áreas como operação, manutenção, proteção e análise. Além disso, a nova tarifa vem com a remuneração para as empresas em 10%. CG: Como você vê ameaça de demissões pela Cemig para manter lucro? Franklin: Há alguns anos a direção da Cemig promove a redução permanente de custo, principalmente com pessoal, executando o que o mercado chama de eficiência operacional. As demissões fazem parte de um pacote da empresa que mexe no Acordo Coletivo - prova disso foi a retirada da cláusula 58, que proibia demissão imotivada. do nosso Acordo Coletivo - enfrentando greve de 20 dias. Depois a empresa decretou a Instrução de Pessoal 8.3, tornou a avaliação de Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais - Sindieletro-MG Contato: Telefone (31) 3238.5000 Fax: (31) 3238.5049 E-mail: [email protected] Diretor responsável: Arcângelo Queiroz Edição: Rosana Zica Redação: Benedito Maia, Rosana Zica, Mariângela Castro e Vinícius Avelar Diagramação: Viveiros Editoração Fotos: Benedito Maia e Vinícius Avelar Cartunista: Nilson Azevedo Central de Informações: Nízio Fernandes Impressão: Atividade Gráfica/8.500 exemplares Chave Geral - Nº 721 - DE 7/1/13 A 13/1/13 - Página 2 desempenho punitiva e passou a praticar demissões, começando pela Cemig S e pela dispensa imotivada de eletricitários da Cemig D e GT com estabilidade no emprego. A conjuntura atual, que inclui a MP 579 e a revisão tarifária, é usada pela Cemig como argumento político para acelerar a implantação de mudanças já planejadas. CG: A Cemig alegava que três usinas ainda tinham contrato e acabou abrindo mão de 21. Como você avalia esta decisão? Franklin: Não fiquei surpreso com a decisão da empresa de renunciar às 21 usinas. A Cemig já tinha dito que se renovasse Jaguara, Miranda e São Simão, renovaria as outras 18. Ao não renovar as 21, a Cemig mantém a posição única para fortalecer a briga pelas 3 maiores. A empresa dá sinais que vai participar da licitação para operar as 18 usinas e brigar na Justiça para manter a concessão das três com base nas regras anteriores à MP. Defendo que, se não renovar mesmo, a empresa participe de todas as licitações com a intenção de ganhar pois tem pessoal qualificado e conhece o custo real da operação das usinas. CG: Mas se a Cemig insistir em não renovar, o que pode acontecer com as usinas? Franklin: Licitação é licitação e abre oportunidade para todo mundo disputar o negócio. Além de promover a privatização, a licitação pode colocar as usinas nas mãos de grupos que reduziriam o preço pelo serviço, mas economizariam demais na manutenção, precarizando as condições de trabalho, comprometendo a qualidade dos serviços, a relação com as comunidades atingidas e a segurança. Sem renovação, a população que investiu nas usinas teria perda de patrimônio. Reafirmo que a Cemig tem que entrar para ganhar, a margem do lucro não pode ser um empecilho. CG: A lei de concessões mantém a terceirização, apesar do diretor geral da Aneel, Nelson Hubner, dizer que quadro próprio qualificado leva à eficiência das empresas. Como fica a luta nacional pela primarização? Franklin: A Câmara e o Senado já aprovaram a Emenda 72, que determina que a avaliação das atividades acessórias que podem ser terceirizadas seja feita com a participação da Aneel e cria padrões de segurança para o trabalhador e de respeito ao consumidor. Barrar a Emenda seria um retrocesso e vamos lançar uma campanha para que Dilma não a vete. Há empresas remuneradas para ter duplas no sistema elétrico praticando o trabalho individual, proibido pela NR 10. Concordo com o diretor-geral da Aneel, quando ele afirma que, no atual cenário de redução de receita, seria um erro das empresas transferir para Chave ChaveGeral Geral--Nº Nº719 721--DE DE25/9/12 7/1/13 AA13/1/13 1/10/12--Página Página33 terceiros atividades de operação e manutenção do sistema, o que se assemelha à mera prestação de serviços. Ao invés de gastar com terceirização, elas devem inovar processos de trabalho e motivar as equipes próprias, aumentando a produtividade. CG: Além da não privatização das concessões de energia e do fim da terceirização, qual a prioridade nas lutas do trabalhador do setor elétrico? Franklin: Como cidadão, sinto que faltou uma proposta da esquerda mineira para renovar as usinas São Simão, Jaguara e Miranda, conforme o contrato de concessão 007/97. O Luz Para Todos está chegando ao fim e outros projetos sociais devem disputar o destino do lucro da Cemig. Minas é grande e desigual na distribuição de renda e no desenvolvimento. Parte do dinheiro obtido em 20 anos de operação das três usinas (cerca de R$ 30 bilhões) deve ir para programas sociais e até representar uma redução da tarifa para os mineiros que vai além da isenção de ICMS para quem consome até 90 kWh. 2012- Um ano de muitas contradições na Cemig A o mesmo tempo em que deixa os eletricitários mais de três meses sem Acordo Coletivo, a direção da Cemig se curva às vontades dos seus sócios privados. O atual Acordo de Acionistas dá superpoderes para a Andrade Gutierrez decidir os rumos da Cemig. Não é à toa que o comentário dentro da Companhia é que nada é aprovado pela gestão da estatal sem que o “Conselhinho da Andrade Gutierrez” tenha se posicionado. A empreiteira tem forte presença nos comitês de apoio ao Conselho de Administração da Cemig, por onde passam todas as decisões da estatal. É o “conselhinho” da AG que analisa e seleciona todos os investimentos e despesas da Cemig. Foram criados seis comitês permanentes para analisar os assuntos do Conselho de Administração, que é o órgão máximo da gestão da Cemig. Um pequeno exemplo do poder da Andrade Gutierrez é o prédio da Forluz que está sendo construindo em frente à sede da Cemig, em BH. O edifício está sendo feito para ser ocupado pela Cemig. Contudo, o imóvel somente será usado parcialmente ou na totalidade pela Cemig, como previsto, com autorização da Andrade Gutierrez. Entre os comitês permanentes, há um especialmente estratégico que é o de Desenvolvimento e Gestão de Participações, com poderes para analisar os estudos de aquisição e participação em novos negócios, premissas para in- vestimentos, pontos positivos e negativos de cada negócio. O ‘supercomitê’ opina, até, sobre as abordagens a serem seguidas nas negociações, sobre matérias significativas das empresas subsidiárias, controladas e coligadas e também sobre alienações. Nada mais oportuno para Chave Geral - Nº 721 - DE 7/1/13 A 13/1/13 - Página 4 a Andrade Gutierrez, já que o Acordo de Acionistas, prevê, no item 4.2.6, que “Será sempre indicado como um dos membros dos referidos comitês o Diretor de Desenvolvimento de Negócios e Controle Empresarial de Controladas e Coligadas”. No item 4.3.2, vem o pulo do gato. “Os Acionistas acordam que o Diretor de Desenvolvimento de Negócios e Controle Empresarial de Controladas e Coligadas será sempre indicado pela AGC Energia”. A ACG Energia, vale lembrar, é a subsidiária da Andrade Gutierrez. Operação nebulosa A Andrade Gutierrez entrou na Cemig como “sócia estratégica” através de uma manobra estranha. A Cemig comprou a participação da Andrade na Light do Rio de Janeiro por R$785 milhões, fazendo o pagamento à vista, e a Andrade Gutierrez deu R$500 milhões de entrada para comprar 33% de ações ordinárias da estatal mineira, deixando o restante do valor da compra (R$1,6 bilhão) para ser pago em 10 anos com a emissão de debêntures a serem adquiridos pelo BNDES com a taxa facilitada de CDI mais 1,5% de juros. O eletricitário já matou a charada: a Cemig quer menos para os trabalhadores e mais para a Andrade Gutierrez.