ISSN 2236-3866
DOI: 10.7902/ecb.v4i1.63
Acesso livre em www.simposiodabiodiversidade.com.br/ecb
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ICTIOFAUNA DO BAIXO RIO MANHUAÇU (BACIA DO MÉDIO RIO DOCE)
ICHTHYOFAUNA OF THE LOWER MANHUAÇU RIVER (MIDDLE DOCE RIVER BASIN)
Bruno da Silva Marques²; Frederico Belei¹²; Wagner Martins Santana Sampaio¹ ³
1-Departamento de Biologia Animal
2-IPEFAN Consultoria e Meio Ambiente
3 – Departamento de Biologia Geral
[email protected]
Resumo
A ictiofauna da bacia do rio Doce apresenta uma grande diversidade e registros atuais indicam a ocorrência
de 71 espécies de peixes nativos, onze ameaçadas de extinção e 28 espécies introduzidas.Somente o médio
curso do rio apresenta uma riqueza superior a 70 espécies.O presente trabalho teve como objetivo avaliar
a diversidade da ictiofauna do rio Manhuaçu, um dos principais afluentes do rio Doce.Para a realização do
estudo foram estabelecidas em quatro estações amostrais e para cada área de amostragem foram utilizadas
metodologias qualitativas e quantitativasde coletas. Durante o período de amostragem foram capturados 240
indivíduos, distribuídos em 30 espécies, 6 ordens e 15 famílias, revelando a importância do rio Manhuaçu para
a diversidade de peixes do médio rio Doce.
Palavras-chave: rio Doce, espécies não-nativas, rio Manhuaçu.
Abstract
The ichthyofauna of the Doce river basin is highly diverse and current records indicate the occurrence of 71
species of native fish, 11 species are on the list of threatened species and 28 species non-native.Only the
segment of the river has a higher species richness at 70.This study aimed to evaluate the diversity of the fish
fauna of the river Manhuaçu, one of the main tributaries of the river Doce. For the study four sampling stations
were established in each area and sampling qualitative and quantitative methodologies were used collections.
During the sampling period, 240 individuals belonging to 30 species, 6 orders and 15 families, were captured,
revealing the importance of the river Manhuaçu for fish diversity of the Middle Rio Doce.
Key words: Doce River, non-natives, Manhuaçu River.
Introdução
O Brasil lidera o número de peixes de
água doce, possuindo 2.587 espécies catalogadas,
aproximadamente 21% das espécies do mundo (Buckup
et al., 2007).Essa diversidade é reflexoda complexidade
de habitats e da história evolutiva desse grupo (Langeani
et al., 2009). No entanto ainda existem divergências
Evolução e Conservação da Biodiversidade
entre as estimativas disponíveis na literatura sobre
diversidade da ictiofauna em águas continentais
brasileiras (Buckup & Menezes, 2003). Vieira (2005)
estima que somente no Estado de Minas gerais existam
354 espécies. Grande parte destadiversidade está
diretamente relacionada à sua localização geográfica
na região tropical, às suas dimensões territoriais,
Rio Paranaíba, Vol. 4 Nº 1| 32-41 | ago-dez 2013
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quantidade e o tamanho de suas bacias hidrográficas.
A bacia do rio Doce encontra-se inserida na
bacia do Atlânticosudestee merece destaque diante
daimportânciaeconômica, ambiental e social, além
de apresentar alto índice de endemismo, espécies
ameaçadas de extinção e por possuir grande parte de
sua drenagem inserida na Mata Atlântica. Por esses
motivos, bacia do rio Doce é considerada uma área
prioritária para conservação (Drummond et al., 2005;
Abell et al., 2008; Vieira, 2009; Nogueira et al., 2010).
Embora tratadas rotineiramente como
grandes unidades, as bacias hidrográficas possuem
características diferenciadas quanto à composição da
fauna de peixes, principalmente porque cada afluente
apresenta suas formações geográficas e climáticas.
Recentemente, os dados levantados demonstram que
a riqueza de espécies e o grau de endemismo por bacia
são bastante diferenciados entre os grandes tributários
do rio Doce (Vieira, 2006).
A bacia do rio Doce é subdividida em três
seções: alto curso (região de cabeceira até a foz do rio
Matipó), médio curso (da foz do rio Matipó até divisa
dos estados ES/MG) e baixo curso (da região de Baixo
Guandu e Aimorés até a foz do rio doce em Linhares/
ES) (ANA, 2001). Na transição entre Médio e Baixo
curso desta baciaestá localizado a bacia hidrográfica
do rio Manhuaçu, que é formada pelas sub-bacias dos
rios Manhuaçu, Mutum, São Luís, Pocrane, Itueto, José
Pedro e Capim, além de ribeirões e rios de menor porte.
O rio Manhuaçu nasce na Serra da Seritinga, divisa
dos municípios de Divino e São João do Manhuaçu,
desenvolve-se por 347 km até desaguar no rio Doce,
acima da cidade de Aimorés, sendo considerado um dos
principais afluentes pela margem direita (ANA, 2001).
A bacia rio Manhuaçu corresponde acerca de
11 % da drenagem do rio Doce, embora os estudos
ictiofaunísticos sejam muitos escassos, registros
anteriores demonstram que uma parcela significativa
da diversidade descrita para o rio Doce também é
incorporada pelorio Manhuaçu (Veado, 2002). O rio
Manhuaçu é refúgio para espécies de vida restrita,
endêmicas e extremamente ameaçadas na bacia do
Evolução e Conservação da Biodiversidade
rio Doce como Steindachneridiondoceanum (Surubimdo-rio-Doce) (Drummond et al., 2005; Rosa & Lima,
2008; Vieira, 2010). A ictiofauna do rio Manhuaçu é
representada por peixes presentes nas três porções do
rio Doce, porém após a construção das hidrelétricas
de Mascarenhas e Aimorés no rio Doce ocorreu a
redução de diversas espécies, principalmente espécies
diadrómase invasores marinhos (Vieira, 2010).
Diante da falta de dados científicos consolidados
para a bacia rio Manhuaçu o presentetrabalho teve por
objetivo inventariar a ictiofauna do rio Manhuaçu.
Materiais e métodos
A área de estudo esta localizadano rio
Manhuaçu, na bacia do Médio rio Doce, no município
de Aimorés, estado de Minas Gerais. Para a realização
do presente trabalho foram estabelecidas três estações
amostrais,uma estação amostralna confluência do rio
Manhuaçu com o rio Capim (Alto Manhuaçu), uma
estação amostral na confluência do rio Manhuançu com
o rio Doce (Foz do Manhuaçu) e uma estação amostral
em um tributário (córrego Capa Bode) (Tab. 01; Fig.
01). As coletas foram realizadas sob licença do IBAMA
(02001.009572/2009-15) e ocorreram mensalmente
entre o período de setembro de 2009 a julho de 2010,
perfazendo um total de 10 campanhas com idêntico
esforço amostral.
Em todas as estações de amostragem foram
utilizados metodologias quantitativas e qualitativasde
coleta. Em cada área de amostragem foi utilizado um
conjunto de dez redes de espera, cada uma com 10
metros de comprimento e altura de 1,6 metros, com
as malhas 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45, 50, 60 e 70 mm,
entre nós adjacentes, dois espinhéis com 10 anzóis
iscados com peixes, tarrafas operadas com cinco
lances cada malhagem (2,4; 4; 6 e 7mm, entre nós
adjacentes), e arrasto com 20 metros de comprimento,
quando não foi possível a utilização da rede de arrasto,
essa metodologia foi substituída por peneiras, sendo
aplicadas no mesmo espectro de atividade do arrasto,
ou seja, 20 metros. No córrego Capa Bode e no rio Capim
ainda foi utilizado a metodologia de pesca elétrica de
acordo coma metodologia proposta por Mazzoni et
al. (2000), usando sistema de puçás acoplados a um
Rio Paranaíba, Vol. 4 Nº 1| 32-41 | ago-dez 2013
34
Tabela. 01: Estações amostrais, coordenadas geográficas, vegetação ripária e descrição do curso dá água.
Estação Amostral
Coordenadas
Vegetação Ripária
Curso d’água
Observações do
Entorno
P1 - Alto Manhuaçu
24k - 268321.00 m E/
7843415.00 m S
Margens desmatadas com
poucos remanescentes de
vegetação ciliar.
Situado na calha do rio
Manhuaçu. Ambiente
lótico, e o leito é
composto por areia e
rochas.
Propriedades rurais
com criação de gado,
hortaliças e tanques
para pisciculturas.
PCH desativada.
P2 - Foz Manhuaçu
24k - 280814.00 m E/
7844035.00 m S
Margens desmatadas com
poucos remanescentes de
vegetação ciliar.
Situado na calha do rio
Manhuaçu. Ambiente
lótico, e o leito é
composto por areia e
rochas.
Propriedades rurais
de pequeno e médio
porte. Montante da
cidade de Aimorés.
Influência das
UHEs Aimorés e
Mascarenhas.
P3 - córrego Capa
Bode
24k - 269902.77 m E/
7843156.63 m S
Margens desmatadas com
poucos remanescentes de
vegetação ciliar.
Ambiente lótico, e o
leito é composto por
areia e cascalho. Curso
d’água de primeira
ordem e intermitente.
Propriedades rurais
de pequeno e
médio porte, leito
assoreado.
P4 - rio Capim
24k - 268642.00 m E/
7843025.00 m S
Margens desmatadas com
poucos remanescentes de
vegetação ciliar.
Ambiente lótico, e o
leito é composto por
areia e pedras. Curso
d’água de segunda
ordem.
Propriedades rurais
de pequeno e
médio porte, leito
assoreado.
Fig. 01: Mapas da área de estudo e as estações amostrais no rio Manhuaçu.
Evolução e Conservação da Biodiversidade
Rio Paranaíba, Vol. 4 Nº 1| 32-41 | ago-dez 2013
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gerador de corrente alternada de energia elétrica com
configuração de 900W, 220V, 1-2 A. Foram realizadas
três remoções sucessivas (Zippin, 1958) em trechos de
aproximadamente 50 metros de extensão, resultando
em um esforço de pesca constante. As extremidades
de cada ponto amostral foram bloqueadas com redes
de arrasto de malha de 5 mm, para evitar o escape de
peixes. Após as capturas, os peixes foram anestesiados,
sacrificados, fixados e conservados em formaldeído
a 10% da solução comercial, sendo acondicionado
em sacos contendo etiquetas com anotações sobre
o tipo de aparelho de pesca, malhagem, ponto de
amostragem e período de captura. A identificação
das espécies capturadas foi obtida com o auxílio dos
trabalhos científicos disponíveis (Géri, 1977; Garavello,
1979) e consulta a especialistas. Os exemplares foram
depositados no Museu de Zoologia João Moojen
(MZUFV) na Universidade Federal de Viçosa.
Resultados
Durante o período de amostragem foram
capturados 240 exemplares, distribuídos em 30 espécies,
pertencentes a 6 ordens e 15 famílias (Anexo 2). Entre
os peixes capturados as famílias que apresentaram
maior número de espécies foram Characidae com
20%, Loricariidae 16.6% e Cichlidae 10% (Tab.2). As
estações amostrais com maior riqueza foram a P1 com
23 espécies e 151 indivíduos capturados e a P2 com
20 espécies e 57 indivíduos, situadas na calha do rio
Manhuaçu. As estações com menor riqueza foram a P3
com 5 espécies e 26 indivíduos e aP4 com 4 espécies e
6 indivíduos capturados, localizadas em afluentes do rio
Manhuaçu (Tab. 2).
No presente trabalho foi encontrada a espécie
Prochilodus vimboides (Curímba), com status de
conservação considerado ameaçado de extinção no
Estado do Espírito Santo; (Vieira & Gasparini, 2007) (Tab.
2). Ainda foram registradas espécies introduzidas, que
representaram aproximadamente 26.6% das espécies
capturadas no presente trabalho para o rio Manhuaçu
(Tab. 2). Sendo elas, Salminus brasiliensis, Oreochromis
niloticus, Pygocentrus piraya, Hoplosternum litoralle,
Evolução e Conservação da Biodiversidade
Clarias gariepinus, Duopalatinus emarginatus,
Lophiosilurus alexandri e a Poecilia reticulata. Entre as
espécies encontradasse destacaram pela abundância
Poecilia reticulata (Barrigudinho), alóctone pertencente
à região Norte do Brasil, Clarias gariepinus (Bagre
Africano) espécie exótica originaria do continente
africano e Pygocentrus piraya (Piranha Preta) alóctone
pertencente à bacia Amazônica.
Discussão e conclusão
A ictiofauna inventariada no rio Manhuaçu, pelo
presente trabalho, representam aproximadamente 42%
das 70 espécies descritas para o rio Doce, revelando
a importância do rio Manhuaçu para esta bacia
(Drummond et al., 2005; Vieira, 2010). Os resultados
obtidos são considerados satisfatórios para se avaliar
a composição da ictiofauna no rio Manhuaçu, uma vez
que estudos anteriores citam uma menor diversidade
para esta sub-bacia. Veado (2002) registrou a ocorrência
de 19 espécies na caracterização da RPPN Feliciano
Miguel Abdala e 25 espécies durante os estudos nas
áreas das PCH’s Areia Branca e Cachoeirão. A proporção
encontrada entre a riqueza de espécies por família está
de acordo com o esperado para região Neotropical
(Lowe-Mcconnel, 1999) e para a bacia do rio Doce
(Vieira, 2010).
A maior riqueza e abundância encontrada na
estação amostral P1 pode estar relacionada à melhor
qualidade do habitat e menor influência das UHEs
situadas no rio do Doce e da cidade Aimorés. Na
estação P2 foi encontrado exemplares de Pygocentrus
piraya, Salminus brasiliensis, Prochilodus vimboides
e Lophiosilurus alexandria presença dessas espécies
somente na estação P2 pode estar relacionado à maior
influência das UHEs situados no rio Doce.
A menor riqueza encontrada no córrego
Capa Bode e no rio Capim pode estar relacionada ao
tamanho desses cursos d’água que são de primeira e
segunda ordem e estando sujeitos sazonalmente a
grandes flutuações no volume de água, situação que
desfavorece o estabelecimento de espécies de grande
porte (Esteves & Aranha, 1999). Esta menor diversidade
Rio Paranaíba, Vol. 4 Nº 1| 32-41 | ago-dez 2013
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Tabela 2: Espécies amostradas na área de influência da drenagem do rio Manhuaçu. São exibidos: classificação taxonômica
segundo REIS et al., 2013. ¹Não citado por VIEIRA (2010), AM/ES Ameaçado na Lista estadual do estado do Espírito Santo (GASPRINI
& VIEIRA, 2007). Apetrecho de Coleta: P: Peneira; PE: Pesca Elétrica; RE: Rede Emelhar; T: Tarrafa; A:Arrasto, E: Espinhel. Estação
Amostral: P1: Alto Manhuaçu; P2: Foz do Manhuacu; P3: Córrego Capa Bode; P4: Rio Capim.
Classificação Taxônomica
Apetrecho
de Coleta
Origem
Ocorrência
P1
P2
P3
P4
RE
Autóctone
Nativa
0
4
0
0
RE
RE
Autóctone
Autóctone
Nativa
Nativa
3
4
0
2
0
0
0
0
T,P,RE,
A,PE
T,RE, A, PE
T,P,RE,
A,PE
P
RE,T
RE
Autóctone
Nativa
27
2
5
2
Autóctone
Autóctone
Nativa
Nativa
5
4
0
0
3
3
0
1
Autóctone
Autóctone
Alóctone
Nativa
Nativa
Introdução dos anos de 1960/
Bacia do São Francisco
1
21
0
0
6
2
0
0
0
0
2
0
RE
Alóctone
Desconhecida/Bacia
Amazônica
0
12
0
0
RE
RE
Autóctone
Autóctone
Nativa
Nativa
3
3
3
3
0
0
0
0
RE,T
Alóctone
Pesca esportiva
1
0
0
0
RE
RE,T
RE,T
RE
RE
Autóctone
Autóctone
Autóctone
Autóctone
Autóctone
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
7
10
6
4
1
0
1
3
2
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
RE
Alóctone
Desconhecida/ Bacia do rio
São Francisco
0
1
0
0
Pimelodidae
Duopalatinus emarginatus (Valenciennes,
1840)1
RE
Alóctone
Desconhecida/ Bacia do rio
São Francisco
1
1
0
0
Pimelodus sp.
RE
Autóctone
Nativa
0
1
0
0
Auchenipteridae
Pseudauchenipterus affinis (Steindachner,
1877)
RE
Autóctone
Nativa
3
2
0
0
RE
Autóctone
Nativa
11
4
0
0
RE, E
Exótica
Piscicultura/Continente
Africano
15
4
0
0
Characiformes
Prochilodontidae
Prochilodus vimboides (Kner,1859)AM/ES
Anostomidae
Leporinus conirostris Steindachner, 1875
Leporinus copelandii Steindachner, 1875)
Characidadae
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819)
Astyanax scabripinnis (Jenyns, 1842)
Astyanax sp
Oligosarcus argenteus Günther, 1864
Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816)
Serrasalmidae
Pygocentrus piraya (Cuvier, 1819)1
Erythrinidae
Hoplias lacerdae Miranda Ribeiro, 1908
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)
Siluriformes
Callichthyidae
Hoplosternum littorale Hancock, 1828
Loricariidae
Delturus carinotus (La Monte, 1933)
Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855)
Hypostomus affinis (Steindachner, 1877)
Hypostomus sp2
Hypostomus sp3
Pseudopimelodidae
Lophiosilurus alexandri Steindachner, 1876
Trachelyopterus striatulus (Steindachner,
1877)
Clariidae
Clarias gariepinus (Burchell, 1822)
Gymnotiformes
Evolução e Conservação da Biodiversidade
Rio Paranaíba, Vol. 4 Nº 1| 32-41 | ago-dez 2013
37
Gymnotidae
Gymnotus carapo Linnaeus, 1758
Cyprinodontiformes
Poeciliidae
Poecilia reticulata Peters, 1859
Synbranchiformes
Synbranchidae
Synbranchus marmoratus Bloch, 1795
Perciformes
Cichlidae
Crenicichla lacustris (Castelnau, 1855)
Geophagus brasiliensis(Quoy & Gaimard,
1824)
Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758)
RE
Alóctone
Pesca esportiva
4
0
0
0
P,PE
Alóctone
Aquariofilia
9
0
13
0
A
Autóctone
Nativa
0
0
1
0
RE,T
RE,T,PE
Autóctone
Autóctone
Nativa
Nativa
0
2
2
1
0
1
0
1
RE
Exótica
Piscicultura/Continente
Africano
6
0
0
0
151
57
26
Total
também pode está ligada a qualidade dos habitas desses
córregos, situação que favorece o estabelecimento
de espécies de pequeno porte e generalistas como a
Poecilia reticulata (Casatti et al., 2012). As condições
ambientais diminuíram o sucesso da utilização de
apetrechos quantitativos nos tributários do rio
Manhuaçu, nesse sentido a utilização da pesca elétrica
mostrou-se interessante como metodologia qualitativa
complementar para complementar a metodologia
tradicional para inventário de riachos, descritas por
Uieda & Castro (1999).
A região estudada no rio Manhuaçu destacase por fazer parte da porção da bacia do rio Doce
que abriga a maior concentração de pescadores
profissionais e amadores e por fazer parte das áreas de
influência da UHE Mascarenhas e Aimorés. O presente
trabalho foram capturadas espécies de importância
cinegética, ou seja, de importância para subsistência
da comunidade ribeirinha local como a traíra (Hoplias
malabaricus), o Lambari bocarra (Oligosarcus
argenteus) e o cascudo (Hypostomus affinis). Além de
espécies de interesse comercial em que destacam-se
Leporinus copelandii, Leporinus conirostris, Prochilodus
vimboides, Lophiosilurus alexandri, Salminus brasiliensis
e Oreochromis niloticus. As três primeiras são nativas e
as demais são introduzidas e atualmente compõem a
principal fonte de pescado na região.
A substituição de espécies nativas por
Evolução e Conservação da Biodiversidade
6
introduzidas pelos pescadores na região teve inicio a
partir da construção da UHE Mascarenhas, nos anos
1965, que fragmentou a região e impediu o acesso de
espécimes diádromasque antes do barramento estavam
entre as espécies de maior importância econômica,
como a Tainha (Mugilsp) e o Caçari (Genidens genidens).
Este impacto se intensificou com a construção da UHE
Aimorés que contribuiu para a homogeneização do
sistema (CTA, 2010; Vieira, 2010).
A introdução de espécies já é reconhecida
como uma das mais importantes causas de perda de
diversidade no planeta (Mack et al., 2000; Reis et al.,
2013).Na Bacia do rio Doce eventos de introdução de
espécies são conhecidos desde anos de 1970 nas áreas
de influência da UHE Mascarenhas (Alves et al., 2007;
Vieira, 2010). Nos últimos anos, novas ocorrências
têm sido descritas. Barros et al.(2012) registraram
duas novas espécies (Plagioscion squamosissimus e
Parachromis managuensis) para o trecho do médio
rio Doce e Belei et al.(2012) registraram a ocorrência
de Pygocentrus piraya no médio e baixo rio Doce. O
aumento de espécies introduzidas na porção do médio e
baixo rio Doce está intimamente relacionadoàs diversas
ações antrópicas que levaram a redução das espécies
de espécies nativas, como o abastecimento histórico
dessa região com espécies de peixes não-nativas para o
restabelecimento do sistema de pesca da região (Alves
et al., 2007; CTA, 2010;). O presente trabalho demonstra
que atualmente o rio Manhuaçu incorpora uma parcela
Rio Paranaíba, Vol. 4 Nº 1| 32-41 | ago-dez 2013
38
significativa dessa ictiofauna introduzida na bacia do rio
Doce.
A introdução de espécies é uma das principais
ameaças a ictiofauna nativa por características
biológicas que favorecem seu sucesso no novo habitat
colonizado como a alta taxa de reprodução, a rápida
dispersão e a grande tolerância a variações ambientais
(Barbieri, 1998). Os principaisimpactos da introdução
de espéciesestão relacionadosa alterações no habitat,
na estrutura da comunidade, introgressão, perda de
patrimônio genético, alterações tróficas e introdução
de doençasque podem resultar na homogeneização
da biota nativa (Barbieri, 1998). Em regiões com
influência de barragem essa homogeneização pode ser
potencializada pela eliminação de barreiras naturais
(Vitule et al.,2012).
A bacia hidrográfica do rio Doce tem sofrido
historicamente com diferentes açõesantrópicas, a
supressão das matas ciliares, o represamento de seus
rios e cachoeiras e o assoreamento devido ao uso e
ocupação do solo. Segundo Almeida & Carvalho (1993),
no Brasil diversos empreendimentos hidrelétricos
tiveram sua capacidade de geração reduzida ou até
mesmo a operação interrompida devido a problemas
de assoreamento de seus reservatórios. As barragens
com fins de geração de energia induzem um efeito
devastador para as taxocenoses de peixes, sobretudo
pela quebra dos ritmos migratórios, alimentares e
reprodutivos de muitas espécies, principalmente das
reofílicas de piracema (Britto, 2009). Assim, a ictiofauna
remanescente nos reservatórios é constituída por
peixes oriundos de seus rios formadores como o rio
Manhuaçu.
A falta de dados científicos consolidados, os
registros de espécies ainda não capturadas em estudos
anteriores e a captura de espécies ameaçadas de
extinção demonstram a importância do presente estudo
para conhecimento da ictiofauna do rio Manhuaçu e
reforça a necessidade de programas de conservação da
ictiofauna do rio Manhuaçu, devido sua contribuição
para manutenção da diversidade das três regiões da
bacia do rio Doce.
Evolução e Conservação da Biodiversidade
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Anexo 1: Estações amostrais das áreas de estudo na subbacia do rio Manhuaçu
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Anexo 2: Peixes do rio Manhuaçu
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DOI: 10.7902/issn.2236-3866
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Resumo A ictiofauna da bacia do rio Doce apresenta uma grande