Editor: Instituto Politécnico de Santarém Coordenação: Gabinete coordenador do projecto Ano 5; N.º 218; Periodicidade média semanal; ISSN:2182-5297; [N.44] FOLHA INFORMATIVA Nº51-2012 A Confraria Marítima de Portugal reconhece e valoriza o Projecto da cultura Avieira, do Instituto Politécnico de Santarém No dia 10 de Novembro de 2012 o Navio Escola Sagres recebeu o 18.º EncontroConvívio da Confraria Marítima de Portugal, numa sessão e visita ao Navio, seguindose uma visita-jantar de convívio na Fragata D. Fernando II e Glória. A sessão no Navio Escola Sagres foi dedicada à entronização de uma dezena de novos Confrades, entre eles o coordenador do projecto de candidatura da cultura avieira a património nacional, reconhecendo-se assim o papel que o projecto e o Instituto Politécnico de Santarém têm tido na defesa do rio Tejo, dos seus ecossistemas, e das culturas ribeirinhas - em particular a cultura dos pescadores Avieiros. A Confraria Marítima de Portugal é uma Associação com sede em Cascais, cujo principal objectivo é a promoção das actividades relacionadas com o Mar, abrangendo as diversas perspectivas, em particular a social, económica, cultural, técnica e científica. Nesta Folha Informativa, para além desta notícia que muito enaltece todo o trabalho que o IPS tem efectuado em prol da defesa dos interesses dos pescadores avieiros, damos também conta dos dois navios que receberam esta iniciativa da Confraria Marítima de Portugal - o Navio Escola Sagres e a Fragata D. Fernando II e Glória. Navio Escola Sagres O actual navio-escola Sagres foi construído nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, em 1937, tendo, na altura, recebido o nome Albert Leo Schlageter. Era o terceiro de uma série de quatro navios encomendados pela Marinha Alemã. No final da guerra, aquando da partilha dos despojos pelos vencedores, o Horst Wessel e o Albert Leo Schlageter couberam aos Estados Unidos mas ao fim de três anos, acabou por ser cedido à Marinha do Brasil, com o intuito de fazer face aos danos causados pelos submarinos alemães aos seus navios, durante a guerra. Em 1961 foi adquirido por Portugal, no sentido de substituir a antiga Sagres, que, curiosamente, também havia sido navio alemão. Albert Leo Schlageter (1937-1948) O contrato para a construção do Albert Leo Schlageter, entre o estaleiro da Blohm & Voss e a Marinha Alemã, foi assinado no dia 2 de Dezembro de 1936. Com a quilha assente no dia 15 de Julho de 1937, dois meses e meio depois, a 30 de Outubro, o navio foi lançado à água, tendo sido incorporado a 12 de Fevereiro do ano seguinte. Largou para a primeira viagem de instrução no dia 20 de Março de 1938, colidindo, dois dias depois, no estreito de Dover, com o navio-vapor Trojan Star, debaixo de cerrado nevoeiro. Antes do início da guerra fez outras viagens de instrução, donde se destacam duas navegações ao Atlântico Sul. Durante grande parte da guerra foi mantido atracado em Kiel, sendo a bordo ministrada instrução de marinharia e navegação. Em 1944, no sentido de melhorar a preparação marinheira dos seus homens, a Marinha Alemã decidiu colocá-lo novamente a navegar, restringindo as viagens ao Báltico, área então considerada relativamente segura para a missão destes navios. Foi, no entanto, durante uma viagem de instrução naquele mar que o Albert Leo Schlageter embateu numa mina. O acidente, ocorrido debaixo de forte temporal no dia 4 de Novembro, vitimou 18 elementos da sua guarnição, tendo o próprio navio escapado graças à existência de compartimentação estanque, um dos requisitos que nortearam a construção dos veleiros desta classe, bem como pelo facto de se encontrar a navegar em conserva com o navio-irmão Horst Wessel. A poucos dias do final da guerra, e depois de haverem sido reparados os danos resultantes do embate na mina, o Albert Leo Schlageter foi levado para Flensburg. Esta decisão terá evitado a sua perda, uma vez que a cidade de Kiel, incluindo a sua base naval e os navios que aí se encontravam atracados e fundeados, foram quase totalmente destruídos pelos bombardeamentos da aviação inglesa, desencadeados nos últimos dias do conflito. Guanabara (1948-1962) O Albert Leo Schlageter foi cedido pelos Estados Unidos à Marinha do Brasil em 1948. Haveria de ostentar o nome da célebre baía brasileira a partir do momento em que foi aumentado ao efectivo dos navios da Marinha do Brasil, cerimónia que teve lugar no dia 27 de Outubro desse ano, logo que concluídas as reparações. Até 1961, altura em que foi vendido a Portugal, efectuou inúmeras viagens de instrução ao longo da costa brasileira, tendo apenas visitado um porto estrangeiro, Montevideu, no Uruguai, em 1949. Dez anos depois, a 21 de Julho de 1959, o Guanabara concluiu a sua derradeira viagem ao serviço da Marinha do Brasil. No dia 30 de Novembro de 1960 foi formalmente abatido ao efectivo. Dois anos depois da sua paragem, o governo português logrou adquirir o Guanabara, muito se ficando a dever este êxito à acção empenhada do Dr. Pedro Teotónio Pereira, na altura Ministro da Presidência. A sua aquisição visava substituir a antiga Sagres, que já não se encontrava em condições de assegurar a continuidade das viagens de instrução. Sagres (desde 1962) Ao abrigo da portaria nº18997, de 30 de Janeiro de 1962, o NRP "Sagres" foi aumentado ao efectivo dos navios da Marinha Portuguesa, diploma que igualmente classificava como navio-depósito o anterior navio-escola Sagres, doravante com o nome Santo André. Não obstante, só nove dias depois, a 8 de Fevereiro, é que a cerimónia oficial teve lugar no Rio de Janeiro, data em que o então Capitão-tenente Silva Horta assumiu o comando do navio, tendo sido o último Comandante da antiga Sagres. Com a aquisição da nova Sagres conseguiu-se o principal objectivo, ou seja, dar continuidade à existência de um navio-escola veleiro na Marinha Portuguesa, para assegurar a formação marinheira dos seus futuros oficiais, complementando-se assim as componentes, técnica e académica, ministradas na Escola Naval. O navio largou no dia 25 de Abril de 1962 para a sua primeira viagem com a bandeira portuguesa, tendo chegado a Lisboa a 23 de Junho, depois de ter feito escalas no Recife, Mindelo e Funchal. Desde 1962 o navio-escola Sagres tem efectuado anualmente viagens de instrução com cadetes da Escola Naval, à excepção de 1987 e 1991, anos em que, com vista à sua modernização, cumpriu prolongados períodos de fabricos. Além da missão relacionada com a instrução dos cadetes, o navio-escola Sagres é também regularmente utilizado na representação da Marinha e do país, funcionando como embaixada itinerante de Portugal. No âmbito das suas missões, o navio-escola Sagres cumpriu já três viagens de circum-navegação, em 1978/79, 1983/84 e 2010, bem como outras viagens de duração superior a cinco meses, que o levaram a participar na regata Colombo (1992), integrar as comemorações dos 450 anos da chegada dos Portugueses ao Japão (1993) e ainda nas celebrações por ocasião dos 500 anos do achamento do Brasil (2000). Fragata Dom Fernando II e Glória Foi uma fragata à vela da Marinha Portuguesa, que navegou entre 1845 e 1878. Actualmente é um navio museu, na dependência do Museu da Marinha e classificada como Unidade Auxiliar da Marinha (UAM 203). A D. Fernando II e Glória foi o último navio de guerra inteiramente à vela da Marinha Portuguesa. Foi construída em Damão, na Índia Portuguesa, sob a supervisão do engenheiro construtor naval Gil José da Conceição, por uma equipa de operários indianos e portugueses. Na sua construção foi usada madeira de teca de Nagar-Aveli. Depois do lançamento ao mar, em 22 de Outubro de 1843, o navio foi rebocado para Goa onde foi aparelhado. O navio foi baptizado em homenagem ao Casal Real Português, o rei-consorte D. Fernando II e a Rainha D. Maria II, cujo nome próprio era Maria da Glória. O "Glória" do seu nome também se referia à sua santa protectora, Nossa Senhora da Glória, de especial devoção entre os Goeses. O navio estava armado com 50 bocas-de-fogo, com 28 na bateria e 22 no convés. A sua viagem inaugural, de Goa a Lisboa, decorreu entre 2 de Fevereiro e 4 de Julho de 1845. A D. Fernando navegou durante 33 anos, percorrendo cerca de 100 000 milhas, correspondentes a, quase, cinco voltas ao mundo. Foi empregue no transporte de tropas, colonos e degredados para Angola, Índia e Moçambique. Participou em operações navais de guerra no Ultramar Português. Apoiou a expedição de Silva Porto de ligação terrestre entre Benguela em Angola e a costa de Moçambique. Em Setembro de 1865 a D. Fernando substituiu a nau Vasco da Gama como Escola de Artilharia Naval, fazendo viagens de instrução até 1878. Nesse ano, fez a sua última missão no mar, realizando uma viagem de instrução de guarda-marinhas aos Açores. Nessa viagem, ainda conseguiu salvar a tripulação da barca americana Laurence Boston que se tinha incendiado. A partir daí passou a estar sempre fundeada no Tejo. Em 1938 deixou se servir de Escola Prática de Artilharia Naval, passando a ser utilizada como navio-chefe das Forças Navais no Tejo. Em 1940 cessou o seu uso pela Marinha Portuguesa, sendo a fragata transformada em Obra Social da Fragata D. Fernando, uma instituição social que se destinava a albergar e a dar instrução e treino de marinharia a rapazes oriundos de famílias pobres. Em 1963, um violento incêndio destruiu uma grande parte do navio, ficando abandonado no Tejo. Entre 1992 e 1997 a fragata foi recuperada pela Marinha Portuguesa, recorrendo ao Arsenal do Alfeite e aos estaleiros Rio-Marine de Aveiro. O navio esteve exposto na Expo 98. Desde então é um navio museu da Marinha Portuguesa, estando actualmente desde 1 de Março de 2008, em doca seca, em Cacilhas - Almada, estando a receber trabalhos de manutenção. Lurdes Véstia