SALVADOR DOMINGO 22/3/2015 Relatório do Inema mostra que 76% dos rios de Salvador têm qualidade ruim ou péssima. Numa cidade que insiste em cimentá-los e polui-los, o desafio é resolver a rede de saneamento, transformando a vida urbana Texto TATIANA MENDONÇA [email protected] Ilustrações AZIZ [email protected] Fotos LÚCIO TÁVORA [email protected] Era uma vez UM RIO O pesquisador Luiz Roberto Moraes caminha por Salvador como um médium, vendo coisas que quase ninguém mais vê. Por causa disso, sofre todo tipo de escárnio, até de parentes. Outro dia, passeava com o neto pela avenida Centenário e a certa altura comentou: “Pedrinho, olhe, isto daquiéumrio”.Nomesmominuto,o menino de 6 anos retrucou: “Você está é maluco, meu avô”. Para provar sua lucidez, Moraes o levou até a desembocadura do rio dos Seixos, onde pôde apontar para a água que corria debaixo de todo aquele concreto. “O homem é tão estúpido que fez isso!”, protestou para a diminuta plateia. Enquanto as grandes cidades do mundo trabalham para restaurar seus rios e devolvê-los à vida urbana, Salvador segue tapando o nariz e fechando os olhos para eles. Já foi assim com o rio dos Seixos, na Barra, e comoriodasPedras,noImbuí.Opróximo alvo é o Camarajipe, que será parcialmente coberto na região da avenida ACM para a implantação do corredor exclusivo para BRT (Bus Rapid Transport), ligando a Estação da Lapa ao Iguatemi. Ao sumiço físico dos nossos rios antecede-se um outro, simbólico, talvez mais grave porque o autorize. Eles perderam o nome próprio e até o comum – passaram a ser chamados de canais em documentos públicos e de esgotos à boca graúda. É no que 15