Semente certificada é fundamental para a agricultura Vinícius Ferreira Carvalho* Quando uma tecnologia é colocada no mercado, não se pode esquecer da pesquisa que está na retaguarda do desenvolvimento de um produto comercial. Isso é particularmente verdadeiro para as novas tecnologias que vêm sendo desenvolvidas para agricultura, especialmente para os produtos obtidos com a biotecnologia. Uma importante questão é antiga para os agrônomos: a diferença entre grãos e sementes. Para um leigo, qualquer grão colhido de uma planta que for semeado deverá germinar e resultar numa nova planta. Mas, para um agrônomo ou um agricultor, existe uma sutil, porém fundamental, diferença. Em linguagem simples, grão é o que se colhe e semente o que se planta. E por que existe essa diferença técnica? Porque semente é o resultado de muitos anos de pesquisa e desenvolvimento. A unidade reprodutiva da planta é, no sentido agronômico, um pacote de tecnologia que, se usada adequadamente, vai proporcionar o máximo ganho na produção de grãos. A utilização de grãos, ao invés de sementes, para formação lavouras é um fator de grande risco para os agricultores. Quando são utilizadas sementes compradas de empresas idôneas, os agricultores têm garantias de pureza, qualidade, percentagem de germinação e origem, entre outros itens. No caso dos grãos, nada disso existe e, na maioria das vezes, a equivocada economia pontual pode resultar em lavouras sem uniformidade na germinação e em plantas com baixo potencial produtivo. Em conseqüência, a produtividade será comprometida e os prejuízos serão verificados, principalmente, na condução do plantio e na colheita. Também é importante destacar as questões fitossanitárias. Muitos são os casos de perdas de mercado quando produtos são atacados por pragas e doenças, situações que com freqüência impedem a sua comercialização nos países importadores. Basta uma praga, uma doença ou mesmo uma semente de erva daninha para servir, corretamente, de motivo de rejeição do produto no mercado internacional. Isso é preocupante quando sementes são contrabandeadas e introduzidas no país sem que sejam observadas as normas fitossanitárias do Ministério da Agricultura, seja no Brasil, seja no exterior. As possibilidades de introdução de pragas e doenças decorrentes do contrabando de sementes são muito grandes. A biotecnologia entra aqui como o início de uma verdadeira revolução na agricultura. E, nessa revolução, paradigmas serão quebrados – alguns relacionados com o uso de sementes para o estabelecimento de lavouras. Uma tecnologia agregada à semente só pode ser garantida se sua produção for adequada. É necessário que sejam respeitadas condições para a manutenção da indústria de sementes no Brasil. Se não houver uma rápida conscientização de todos os segmentos envolvidos com a agricultura, os prejuízos serão rapidamente notados, não apenas pela indústria de sementes, mas principalmente pelos agricultores. Que fiquem estes então atentos para os riscos, a médio e longo prazo, decorrentes do mercado ilegal de sementes. * Vinicius Ferreira Carvalho, Eng. Agrônomo e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) [email protected]