Trabalho 286 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO CLÍNICA DOS BEBÊS REMOVIDOS DA CASA DE PARTO DA FACENF/UFJF PARA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR DE 2001 A 2007. FLÁVIA TERRA HAUCK Juiz de Fora 2007 2704 Trabalho 286 Flávia Terra Hauck ANÁLISE DA EVOLUÇÃO CLÍNICA DOS BEBÊS REMOVIDOS DA CASA DE PARTO DA FACENF/UFJF PARA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR DE 2001 A 2007. Monografia apresentada à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial e obrigatório para obtenção do título de bacharel em enfermagem. ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª BETÂNIA MARIA FERNANDES Julho/2007 2705 Trabalho 286 Monografia intitulada “Análise da evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para instituição hospitalar de 2001 a 2007” de autoria da acadêmica de enfermagem Flávia Terra Hauck, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: Prof. Dra. Betânia Maria Fernandes (Orientadora) Prof. Maria Inês Gomes de Almeida Prof. Zuleyce Lessa Juiz de Fora Julho/2007 2706 Trabalho 286 DEDICATÓRIA À querida orientadora Prof.ª Dr.ª Betânia Maria Fernandes, grande responsável pela criação da Casa de Parto da FACENF/UFJF. Pela dedicação a esta monografia. 2707 Trabalho 286 AGRADECIMENTOS Às professoras Maria Inês Gomes de Almeida, coordenadora da Casa de Parto FACENF/UFJF e Zuleyce Lessa, por gentilmente terem aceito fazer parte da banca examinadora deste trabalho. A toda equipe da Casa de Parto pela disponibilidade e ajuda nesta pesquisa. Ao hospital Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora por ter concedido o direito de realizar esta pesquisa. À minha família pelo desejo de sucesso, incentivo e paciência. Ao meu noivo, Júnior que estava ansioso ao término deste trabalho pelo apoio, compreensão e incentivo nessa jornada. 2708 Trabalho 286 RESUMO O objetivo geral do estudo foi analisar a evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de maio de 2001 a 31 de maio de 2007. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do estudo foi de natureza quantitativa, descritiva com análise documental. Os dados foram coletados através de 20 prontuários de bebês removidos da Casa de Parto para o hospital. No período do estudo ocorreram 21 remoções de bebês, sendo que ocorreu a perda de 01 prontuário que não foi localizado pela instituição do cenário do estudo. Para a análise dos dados foram utilizados tabelas e gráficos. O local de internação dos bebês foi a enfermaria pediátrica, o berçário e a UTI, o tempo de internação variou de 3 a 20 dias. Os bebês foram submetidos a exames como raio-x, exame de sangue, exame de urina, anti-HIV, ecocardiograma e ultra-sonografia. Os procedimentos realizados foram dissecção venosa, aspiração das vias aéreas superiores, oxímetro de pulso, intubação orotraqueal, sonda orogástrica e lavagem gástrica. Os tratamentos realizados foram antibioticoterapia, hidratação venosa, oxigenoterapia, uso de incubadora aquecida e fototerapia. A insuficiência respiratória aguda foi o diagnóstico mais encontrado seguido da infecção neonatal, síndrome da aspiração meconial, pneumonia, taquipnéia, síndrome da aspiração meconial, icterícia, hipóxia, hipoglicemia e HIV. Todas as altas foram em boas condições, não ocorreram óbitos. Percebe-se que os resultados encontrados corroboram com os encontrados na literatura, fato que assegura a qualidade da assistência prestada em CPN. Palavras-chave: Centros Independentes de Assistência a Gravidez e ao Parto, evolução clínica, mortalidade neonatal. 2709 Trabalho 286 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------10 1.2 Objetivos----------------------------------------------------------------------------------------------11 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA 2.1 Tipo de estudo --------------------------------------------------------------------------------------16 2.2 Sujeitos do estudo----------------------------------------------------------------------------------17 2.3 Cenário do estudo ----------------------------------------------------------------------------------18 2.4 Coleta dos dados -----------------------------------------------------------------------------------18 2.5 Qualidade das informações dos prontuários -------------------------------------------------19 2.6 Análise dos dados ----------------------------------------------------------------------------------19 2.7 Aspectos éticos -------------------------------------------------------------------------------------20 CAPÍTULO 3 - REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 A situação da Mortalidade Infantil e Perinatal no Brasil -----------------------------------21 3.2 A prevenção da Mortalidade Perinatal---------------------------------------------------------26 3.3 A situação da Mortalidade Perinatal no município de Juiz de Fora ---------------------27 CAPÍTULO 4 - CONHECENDO A EVOLUÇÃO CLÍNICA DOS BEBÊS REMOVIDOS DA CASA DE PARTO PARA O HOSPITAL ------------------------------------29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------------46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------------------48 ANEXOS --------------------------------------------------------------------------------------------------53 2710 Trabalho 286 LISTA DE QUADROS E TABELAS Tabela 1 - Taxa de mortalidade neonatal por região do Brasil por mil nascidos no ano de 2002 ------------------------------------------------------------------------------------------22 Quadro 2 - Distribuição dos diagnósticos médicos inicial e definitivo de cada bebê removido da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007---------------------------------------------28 Quadro 3 – Condições de alta de cada bebê removida da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de maio de 2001 a 31 de dezembro de 2007. -------------------------------------------------------------------------------------44 2711 Trabalho 286 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Coeficiente de mortalidade infantil (por 1000 nascidos vivos) e seus componentes em Juiz de Fora. ----------------------------------------------------------------------28 Gráfico 2 - Distribuição do local de internação dos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007 ---------------------------------------------------------------------------29 Gráfico 3 - Duração da internação em número de dias dos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007 ---------------------------------------------------------31 Gráfico 4 - Exames realizados nos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007 -----------------------------------------------------------------------------------------32 Gráfico 5 – Procedimentos realizados nos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007 -------------------------------------------------------------------------------------34 Gráfico 6 – Tratamentos realizados nos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007 -----------------------------------------------------------------------------------------36 2712 Trabalho 286 10 CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 - Introdução: A forma como a humanidade vê o nascimento sofre mudanças e transformações e se adapta aos padrões culturais de cada época. Por muitos anos mulheres conhecidas como aparadeiras, comadres ou parteiras eram quem prestavam assistência durante o parto e nascimento. Nessa época acreditava-se ser seguro que as mulheres tivessem seus filhos em suas próprias casas. Porém esse cenário mudou quando a medicina assumiu esta prática através da “arte obstétrica”, em meados do século XVII, quando o parto tornou-se aos poucos um evento médico (BRENES, 1991). No século XX o parto começou a sofrer cada vez mais intervenções sem fundamentação científica com o objetivo de controlar o processo fisiológico, na intenção de promover a melhora da assistência ao parto; (KOIFFMAN, 2006). Até que o hospital passou a ser considerado como único lugar seguro para o nascimento, e foi durante muito tempo o principal responsável pela queda da mortalidade materna e perinatal (BRASIL, 2001). Com o tempo o aumento da medicalização e de intervenções como cesáreas desnecessárias, episiotomia rotineira, indução e aceleração do parto, tricotomia, posição de litotomia, fórceps de alívio entre outras práticas não contribuíram para bons índices de mortalidade materna e perinatal. No final do século XX, começaram a surgir questionamentos e reflexões a respeito do parto com diversas intervenções (KOIFFMAN, 2006). Como marco dessas discussões tem-se o comitê regional formado por vários profissionais de saúde e representantes de mulheres que foi criado na Europa em 1979, ano internacional da criança, para estudar os métodos que estavam sendo usados e possíveis mudanças no quadro de morbidade e mortalidade materna e perinatal que serviu de incentivo e sustentação para vários outros estudos (DINIZ, 2001). 2713 Trabalho 286 11 Em 1987,o trabalho desse grupo que levou o nome de “Iniciativa Cochrane” em homenagem ao epidemiologista inglês Archibald Cochrane, publicou a revisão sistemática dos estudos sobre 275 práticas na assistência ao parto que foram categorizadas de acordo com sua efetividade e segurança. Esse trabalho foi considerado um marco histórico, pois a partir de então a forma de se conduzir a medicina deixa de ser baseada na experiência clínica não científica e nas teorias fisiopatológicas para se concentrar na análise apurada de métodos (DINIZ, 2001; FERNANDES, 2004). Como resultado das diversas discussões e pesquisas sobre o que a mulher precisa realmente para dar a luz tranqüilamente a um bebê saudável, várias iniciativas foram adotadas no intuito de evidenciar a segurança no parto, como a publicação de um Guia Prático de Assistência ao Parto Normal pela Organização Mundial de Saúde - OMS, em 1996. Neste guia consta que deve haver um bom motivo que justifique qualquer tipo de intervenção no parto normal. E também aponta as condutas que devem ser encorajadas, as claramente prejudiciais ou ineficazes que deveriam ser eliminadas, as freqüentemente utilizadas de forma inapropriadas e as freqüentemente utilizadas de modo inadequado (FERNANDES, 2004; KOIFFMAN, 2006; OMS, 1996). Surgindo um novo paradigma em relação ao parto e nascimento onde a mulher passa a ser vista como protagonista do processo de nascimento e as intervenções devem ocorrer o mínimo possível de forma que o parto transcorra de forma humanizada (DINIZ, 2001). Em relação ao local do nascimento, a OMS recomenda que deve ocorrer em um lugar onde se possa oferecer à mulher assistência de qualidade e segura, não sendo o hospital o único local para este evento. Os profissionais que atuam podem ser enfermeira obstétrica, parteira e médico obstetra (KOIFFMAN, 2006; OMS, 1996). Neste contexto, surgem os Centros de Parto Normal - CPN (local extra ou intra-hospitalar) com o objetivo de resgatar a fisiologia natural do parto e o protagonismo da mulher. 2714 Trabalho 286 12 Para a Drª Ruth Osawa: No CPN o foco da assistência é a promoção do processo fisiológico, valorizando, para tanto, estratégias não medicamentosas de alívio da dor, a participação ativa da mulher no trabalho de parto e parto, e a liberdade de escolha da posição em que ela deseja dar a luz (Revista de APS ano 3, nº8 , pg. 8, 2001). No Brasil, este movimento de mudança de paradigma tomou força no início dos anos 70, com o movimento feminista que lutava pela redemocratização e melhoria nas condições de vida da população brasileira (FERNANDES, 2006). E na tentativa de mudar a realidade caracterizada por excessivas cesarianas e intervenções no processo gravídico-puerperal, o Ministério da Saúde institui várias propostas, como o incentivo aos cursos de especialização em enfermagem obstétrica, a inclusão na tabela de pagamento do Sistema Único de Saúde - SUS o parto normal sem distócia realizado por enfermeira obstétrica, a definição de índices decrescente para o pagamento de cesáreas e o incentivo a criação de Centros de Parto Normal. Em 1999, cria o Prêmio Nacional Galba de Araújo com a finalidade de premiar as instituições que se auto-definem como humanizadas na atenção à mulher e ao recémnascido incluindo o estímulo ao parto normal e ao aleitamento materno. E os Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento e Pacto Nacional pela redução da Mortalidade Materna e Perinatal, lançados em 2000 (KOIFFMAN, 2006; FERNANDES, 2006). Em 1998, foi criado o primeiro Centro de Parto Normal do Brasil, instalado na cidade de São Paulo a “Casa de Parto de Sapopemba”, é uma instituição extra-hospitalar integrada ao SUS e faz parte do Projeto Qualidade Integral em Saúde-Qualis, do Programa de Saúde da Família da Fundação Zerbini do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (KOIFFMAN, 2006). Em dezembro de 2001, foi inaugurada a Casa de Parto no município de Juiz de Fora. A criação da Casa de Parto de Juiz de Fora surgiu frente a um contexto em que a assistência ao parto estava marcada pelo alto índice de cesáreas, 62% em 1998, levando-se em consideração que a OMS considera como parâmetro aceitável um percentual em torno de 15% (BRASIL, 2003; 2715 Trabalho 286 13 FERNANDES, 2006). O índice de mortalidade materna era de 97 por mil nascidos vivos. A proposta da criação da Casa de Parto surgiu na Comissão Municipal de Proteção ao Parto e Redução do índice de Cesáreas em Juiz de Fora da Secretaria Municipal de Saúde. Apresenta como meta contribuir para a melhoria da assistência prestada à mulher, família e recém-nascido, através de práticas humanizadas, baseadas em evidências científicas, com o mínimo de intervenção, ambiente confortável e acolhedor onde a mulher possa ser a protagonista do nascimento (FERNANDES, 2006). Ela foi inaugurada em 17 de dezembro de 2001 através de uma parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF e o Ministério da Saúde e está regulamentado pela resolução nº 26/2001, de 26 de novembro de 2001, do Conselho Superior da UFJF (FERNANDES, 2006). A equipe da Casa de Parto é formada por enfermeiro obstetra, auxiliar de enfermagem, assistente social e auxiliar de serviços gerais, de acordo com a portaria nº 985 de 5 de agosto de 1999 que regulamenta o funcionamento do Centro de Parto Normal. Tem a capacidade de realizar noventa partos por mês, além disso consultas de pré-natal, consulta puerperal, atividades educativas e consulta de prevenção do câncer cérvico-uterino e de mama em gestantes e puérperas (FERNANDES, 2004). De acordo com o protocolo de admissão, são atendidas gestantes consideradas de baixo-risco ou risco habitual, gestação única, idade gestacional entre 37 e 41 semanas e feto com apresentação cefálica (FERNANDES, 2006). Como a segurança da parturiente e do recém-nascido, “é uma preocupação presente a todo o momento, a Casa de Parto conta com material, equipamento e medicação para prestar o atendimento de urgência” (FERNANDES, 2004, p.61). A equipe é treinada a fazer reanimação neonatal e prestar os primeiros socorros ao recém-nascido e puérpera até que possam ser removidos para unidade hospitalar (ibidem, 2004). Nos cinco anos e cinco meses de funcionamento da Casa de Parto foram realizados 681 partos, e ocorreram 21 remoções de recém-nascido para a unidade hospitalar Santa Casa de Misericórdia, seguindo o protocolo de atendimento da instituição que adota como critério para encaminhamento de recém-nascido ”aquele submetido a manobras de reanimação, que se 2716 Trabalho 286 14 apresente instável e/ou grave”; com “desconforto respiratório crescente, persistente, diverso da taquipnéia transitória”; com “peso menor que 2500 g, baixo peso e/ou pré-termo, mesmo em boas condições ao nascer; com suspeita de mal - formação congênita (cardiopatias, atresias, imperfuração anal e outras”); e que “apresente icterícia precoce, hipoativo e ausência de eliminação fisiológica até o momento da alta” (FERNANDES, 2004, p.153; 2007). Um dos critérios de avaliação da assistência em centro de parto normal refere-se ao índice de remoção de recém-nascidos e evolução clínica destes, e também o índice de mortalidade perinatal (KOIFFMAN, 2006). A mortalidade perinatal é considerada como um indicador de qualidade da assistência obstétrica e neonatal, por ter uma relação direta com a assistência prestada à gestante no pré-natal, no parto e ao recém–nascido (LANSKY et al, 2002), sendo fundamental para a análise da qualidade da assistência em Centro de Parto Normal. Em duas pesquisas realizadas nos EUA sobre centro de parto normal o resultado apontou o índice de mortalidade perinatal em CPN semelhante aos encontrados em hospitais. Koiffman (2006), em seu estudo sobre “Fatores de Risco para Remoção Neonatal na Casa de Parto de Sapopemba” relata, ao analisar os óbitos ocorridos, “que não existem garantias de que pudessem ter sido evitados, caso o nascimento tivesse ocorrido dentro do hospital” (p.76). Na Casa de Parto do município de Juiz de Fora, como dito anteriormente, ocorreram 21 remoções de bebês para a instituição hospitalar. Ao pesquisarmos junto à instituição detectamos que não foi realizado nenhum estudo sobre a mortalidade e morbidade dos bebês removidos para o hospital, surgindo assim o meu interesse em conhecer “a evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto da UFJ para instituição hospitalar”. O meu interesse pela obstetrícia e pela Casa de Parto surgiu a partir da prática como aluna do curso de graduação em enfermagem na disciplina Enfermagem em Saúde da Mulher. Nesta prática, pude observar o trabalho desenvolvido na instituição o que despertou o meu desejo em conhecer a evolução clínica dos bebês em que houve necessidade de remoção da Casa de Parto para instituição hospitalar. Como foi a evolução clínica dos bebês 2717 Trabalho 286 15 removidos para o hospital? Ocorreram óbitos? E quais foram os diagnósticos médicos? Diante da constatação da inexistência de estudo e informações sobre a evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto para a instituição hospitalar, surgiu o objeto do nosso estudo e com isso pretendemos conhecer o índice de mortalidade perinatal da Casa de Parto da FACENF/UFJF. 1.2- Objetivos: 1.2.1-Objetivo geral: Analisar a evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto/UFJF para instituição hospitalar no período de 17 dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007. 1.2.2-Objetivos específicos: • Descrever a evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto/UFJF para instituição hospitalar no período de 17 de dezembro 2001 a 31 de maio de 2007 segundo diagnóstico e desfecho. • Descrever o índice de mortalidade perinatal da Casa de Parto /UFJF no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007. 2718 Trabalho 286 16 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA De acordo com Gil (1999), para que um estudo tenha reconhecimento científico é necessário que os métodos utilizados sejam identificados e descritos. Minayo (1994) conceitua metodologia como sendo o caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa lugar central no interior das teorias sociais, pois ela faz parte intrínseca da visão social de mundo veiculada na teoria. A metodologia inclui concepções teóricas de abordagem, ou seja, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador (MINAYO, 1999). Ela indica técnicas de pesquisa científica e fornece os elementos de análise crítica das descobertas e comunicações na comunidade científica (SANTOS e CLOS; In: GAUTHIER et al, 1998). 2.1- Tipo de estudo: Para o desenvolvimento do estudo sobre “a análise da evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto FACENF/UFJF para a instituição hospitalar no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007” foi realizada uma pesquisa de natureza quantitativa, descritiva com análise documental. A abordagem quantitativa visa o conhecimento objetivo, utiliza a linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e estudar as relações entre suas variáveis (TEIXEIRA, 2001; TURATO, 2005). O método quantitativo deve ser usado “quando se necessita de um diagnóstico inicial da situação” e também quando “se exige um estudo exploratório para um conhecimento mais profundo do objeto da pesquisa” (HAGUETE, In: GAUTHIER et al, 1998). 2719 Trabalho 286 17 A metodologia descritiva tem o objetivo principal de estudar as características de um determinado grupo, podendo também ter interesse em apontar a associação presente entre as variáveis em estudo (GIL, 1999). A pesquisa documental consiste na análise de materiais visando uma interpretação além das que podem existir (NEVES, 1996). Para Gil (1999, p.66) a pesquisa documental “assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica”, estando a diferença entre ambas apenas no fato de que na pesquisa bibliográfica utilizam-se fontes produzidas por diversos autores sobre um determinado assunto e na pesquisa documental a fonte consiste em documentos que podem ou não já ter sido explorado. Gil (1999, p.166-167), ainda aponta como vantagem das fontes documentais “a possibilidade do conhecimento do passado, a obtenção de dados com menor custo e também a obtenção de dados sem o constrangimento dos sujeitos”. 2.2- Sujeitos do estudo: A população do estudo consistiu em 100% dos bebês removidos da Casa de Parto para a instituição hospitalar no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007, com registro no prontuário do cenário do estudo. Este foi considerado o critério de seleção, não havendo, portanto, nenhum critério de exclusão. A perda ocorrida foi de 01 prontuário que não foi localizado na instituição, não sendo possível conhecer o motivo da perda. Portanto, a investigação foi feita utilizando prontuários hospitalares e coletadas informações registradas em qualquer parte dos mesmos. Analisamos 20 prontuários dos bebês removidos da Casa de Parto para a instituição hospitalar, representando 95,24% da nossa população do estudo. A não localização de 01 prontuário nos causou estranheza uma vez que a instituição tem a obrigatoriedade de arquivar o prontuário , segundo a resolução 1.639/02 do Conselho Federal de Medicina: “Todo prontuário médico deverá ser arquivado no mínimo por 20 anos e nos casos de hospitais maternidade os prontuários de parto deverão ser arquivados por 21 anos, conforme estabelecido no 2720 Trabalho 286 18 Estatuto da Criança e do Adolescente. Decorrido esses prazos os originais podem ser substituídos por métodos de registro, capazes de assegurar a restauração plena das informações nele contidas”. 2.3 - Cenário do estudo: O cenário do estudo foi o hospital Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora para onde foram transferidos todos os bebês durante os 5 anos e 5 meses de funcionamento da Casa de Parto. A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora foi fundada em 6 de agosto de 1854. É hoje um hospital geral, filantrópico conveniado com o SUS e com planos de saúde. Possui cerca de 1300 funcionários e funciona com 517 leitos, sendo 64% dos leitos para o SUS. Possui leitos de pediatria e de UTI neonatal que servem ao SUS. 2.4 - Coleta dos dados: Os dados foram coletados através do prontuário de 20 bebês removidos da Casa de Parto para a instituição hospitalar no período de 17 dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007. O nome dos bebês transferidos para o hospital foi obtido através dos registros da Casa de Parto. De acordo com o relatório de cinco anos de funcionamento da instituição, até o dia 03 de janeiro de 2007, 20 bebês foram transferidos para o hospital, caracterizando um índice de transferência de bebês de 3,1% (FERNANDES, 2007). No entanto, até o mês de maio de 2007 em que coletamos os dados este número foi acrescido de apenas mais um caso de remoção, totalizando 21 casos de remoção. Foi utilizado como instrumento para a coleta de dados um roteiro (anexo 1). As informações constantes no instrumento foram: 1- Identificação; 2- Data e hora da internação; 3- Local da admissão; 4- Condições clínicas do RN na admissão; 5- Diagnóstico médico na admissão; 6- Tratamento realizado; 7Exames realizados; 8- Diagnóstico médico. 2721 Trabalho 286 19 A coleta de dados foi realizada na instituição do estudo durante o mês de maio de 2007, por 3 dias consecutivos e 4 horas por dia. Portanto, para a coleta dos dados foi gasto em média 30 minutos para cada prontuário, perfazendo um total de 12 horas de trabalho de campo. 2.5- Qualidade das informações dos prontuários: Observamos que o preenchimento dos prontuários é deficiente, corroborando com o estudo de Magalhães (2000, p. 48) quando afirma “que a qualidade dos registros é precária”. Devido a essa situação a variável prognóstico do bebê no momento da alta foi identificada em alguns prontuários, mas não encontramos informações importantes e esclarecedoras. 2.6- Análise dos dados A análise dos dados ocorreu da seguinte forma. Inicialmente os dados foram agrupados nas categorias: 1) local de internação; 2) tempo de permanência no hospital em números de dias; 3) tipo de exame realizado; 4) procedimento realizado; 5) tratamento realizado; 6) diagnóstico médico inicial e definitivo e 7) condições de alta hospitalar. Para Medronho (2005) os dados da forma que são coletados não permitem claramente sua análise, sendo necessária sua organização. Portanto, em seguida fez-se a tabulação dos dados que para Gil (1999, p. 171) “é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas categorias de análise”. Este processo possibilitou a próxima etapa da análise que foi a organização das categorias em gráficos e tabelas que são úteis para apontar a distribuição e valores das variáveis (MEDRONHO, 2005). Finalmente foi realizada a análise descritiva propriamente dita das categorias de acordo com o referencial bibliográfico do estudo. De acordo com Constandriopoulos (1997, p. 90) “os estudos descritivos são os únicos que se limitam à utilização de estatísticas descritivas”, como por exemplo, a construção de taxas. 2722 Trabalho 286 20 2.7- Aspectos éticos: A pesquisa foi realizada utilizando-se os dados obtidos do prontuário de 20 bebês em estudo. Foi respeitado o sigilo da fonte de informação, identificando cada recém-nascido por um número. Para o desenvolvimento do estudo o projeto de pesquisa foi aprovado pela comissão de Ética em Pesquisa do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora (anexo 2). De acordo com a Resolução 196 do MS de 1996, toda instituição que serve de cenário de estudo para pesquisa envolvendo seres humanos de forma direta ou indireta deve ter formado um Comitê de Ética em Pesquisa que tem o objetivo de apoiar os pesquisadores e garantir os direitos e interesses dos sujeitos da pesquisa (MEDRONHO, 2005). Obtivemos autorização do referido Comitê e da Direção Clínica do Hospital. 2723 Trabalho 286 21 CAPÍTULO 3- REFERENCIAL TEÓRICO 3.1- A SITUAÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL E PERINATAL NO BRASIL: A taxa de mortalidade infantil no Brasil vem decrescendo muito nos últimos anos. Em 1980 era de 85,6/1000 nascidos vivos e em 2004 foi de 26,6/1000. Esse fato deve-se a várias intervenções do governo como: o incentivo ao aleitamento materno, o investimento em saneamento básico, o aumento do acesso e qualidade dos serviços de saúde e programas de imunização entre outros. Com essas medidas o governo alcançou a redução da taxa de mortalidade no período pós-neonatal, aquele compreendido entre 28 dias e um ano de vida, considerada como potencialmente evitável por estar relacionada às condições de vida da população (BRASIL, 2004, UNICEF, 2005). De acordo com a Organização Mundial de Saúde que classifica a taxa de mortalidade infantil em alta (acima de 50/1000 nascidos vivos), média (entre 20/1000 e 49/1000 nascidos vivos) e baixa (menor que 20/1000 nascidos vivos) o Brasil tem um índice de mortalidade considerado como médio (BRASIL, 2004). Porém este índice ainda preocupa, segundo relatório da Unicef o “Brasil tem terceira maior taxa da América do Sul” (ibidem, 2005, p. 6). Ainda com o objetivo de intervir no número de óbito infantil, o Ministério da Saúde criou em 2004 o “Pacto Nacional para Redução da Mortalidade Materna e Neonatal” com o “objetivo mais urgente de qualificar a atenção obstétrica e neonatal no país”. Neste pacto o governo lançou propostas que visavam a redução da taxa de mortalidade neonatal e materna em 15% até o início de 2007. Estas propostas incluíram: “qualificar e humanizar a atenção ao parto e nascimento”; garantir que a gestante tenha direito ao atendimento durante todo processo gravídico-puerperal; e assegurar o direito ao alojamento conjunto entre outros (BRASIL, 2004, p.1). Outra ação importante vigente no Brasil e em alguns países do mundo como estratégia de melhoria na assistência e diminuição do índice de mortalidade infantil diz respeito ao Comitê de Mortalidade Infantil e Fetal que 2724 Trabalho 286 22 são “organismos interinstitucionais de caráter eminentemente educativo, congregando instituições governamentais e da sociedade civil organizada, que conta com a participação multiprofissional”. Estes organismos têm como objetivo geral “elucidar as circunstâncias da ocorrência dos óbitos infantis e fetais, identificarem os fatores de risco e propor medidas de melhoria da assistência à saúde para a redução da mortalidade perinatal e infantil” (BRASIL, 2004, p. 12). Cabe destacar, para que tenhamos a real magnitude da situação de morte infantil no Brasil, que quando comparado a países em desenvolvimento, principalmente os do hemisfério norte, como a Suécia, Japão, Itália e ainda a países vizinhos como Uruguai e Chile, o Brasil tem um índice de mortalidade infantil de duas a três vezes maiores (MEDRONHO, 2005; LANSKY et al, 2006; UNICEF, 2005). No Brasil, assim como no mundo a mortalidade infantil sofre variações de acordo com as condições de vida da população de determinada região (UNICEF, 2005; FONSECA, 2004). Fato que pode ser observado através dos dados da tabela 1. Observa-se que a região do nordeste apresenta um índice de mortalidade neonatal maior que o índice nacional e a região sul o menor índice do país. Tabela 1:Taxa de mortalidade neonatal por região do Brasil por mil nascidos vivos no ano de 2002. Brasil 18,2 Centro-oeste 14,0 Nordeste 24,6 Norte 17,5 Sudeste 14,0 Sul 11,8 Fonte:IBGE Ribeiro (2000, p.436), ao analisar a situação da mortalidade neonatal em São Luís-Maranhão,afirma que de acordo com a realidade nacional, o estado do Maranhão vem apresentando uma redução lenta no coeficiente da 2725 Trabalho 286 23 mortalidade infantil que diz respeito aos óbitos nos primeiros 28 dias de vida. Porém quando compara esse coeficiente com áreas urbanas e mais desenvolvidas do país percebe que esta redução está acontecendo muito lentamente. Ressalta ainda que este fato deve estar associado à “queda na qualidade da assistência obstétrica e neonatal” na região. À medida que se consegue uma diminuição da mortalidade pós-neonatal evidencia-se o aumento do número de mortes no período perinatal e neonatal precoce (de 0 a 6 dias de vida). Desde a década de 90, estas taxas vêem se mantendo em níveis elevados, representando em termos de proporcionalidade, os maiores componentes da mortalidade infantil. O que é confirmado pelos dados do Ministério da Saúde, que aponta um índice de mortalidade neonatal e neonatal precoce em 2002 de 17,4 e 13,5 por mil nascidos vivos, respectivamente. Ou seja, cerca de 50% das mortes de crianças até um ano de idade ocorrem neste período. Fato que preocupa e chama atenção, uma vez que são índices que se apresentam como indicador do nível sócio-econômico e da assistência obstétrica da população (BRASIL, 2004; LANSKY et al, 2006). Em 1923, já se observava a preocupação com os problemas de saúde relacionados ao recém-nascido, época em que surgiu o conceito de período perinatal como sendo aquele compreendido entre a 28º semana de gestação ou peso igual ou superior a 1.000g até sétimo dia de vida (LORENZI, 2001). Segundo Almeida et al (2006) a mortalidade perinatal foi criada para facilitar a identificação e comparação entre óbitos ocorridos mundialmente, nessa época. Atualmente, de acordo com a classificação internacional de doenças CID-10 o período perinatal é aquele que se inicia a partir da 22ª semana de gestação ou fetos com peso igual ou superior 500g ou estatura a partir de 25 cm até 6 dias completos de vida. Essa nova classificação da Organização Mundial de Saúde fez-se necessária uma vez que com incremento de novas tecnologias no campo da neonatologia observou-se um aumento da sobrevida de recém-nascidos prematuros e de baixo peso, principalmente a partir da década de 90 (LANSKY et al, 2002). Portanto o período perinatal refere-se às afecções e óbitos ocorridos antes, durante e logo após o parto, por isso é considerado como importante indicador da qualidade da assistência obstétrica e neonatal. A relação entre os óbitos neonatais e a qualidade da assistência nos serviços de saúde se 2726 Trabalho 286 24 evidencia à medida que aumenta a concentração de óbitos neonatais nas primeiras horas de vida, no final da gestação e durante o trabalho de parto (ALMEIDA et al, 2006; BRASIL, 2004; LANSKY et al, 2002; LORENZI, 2001). A qualidade dos sistemas de informações é importante e influencia no monitoramento da mortalidade perinatal. A ocorrência de erros, falta de padronização ou mesmo a falta de registros pode afetar a validade dos dados e também dificultar a comparação entre os índices de diferentes localidades (ALMEIDA et al, 2006). Estima-se que no Brasil cerca de 20% das crianças que nascem não são registradas até completar um ano de idade (UNICEF, 2005). Estudo realizado no Brasil em 2006, sobre a qualidade dos sistemas de informações de mortalidade perinatal mostrou que o Sistema de informação sobre mortalidade-SIM e o Sistema de informação de nascidos vivos-SINASC apresentam maior cobertura sobre nascidos vivos e o óbitos neonatais que o registro civil, porém para uma pesquisa mais abrangente e detalhada é necessário uma busca ativa nos locais onde ocorreram os eventos (ibidem, 2006). Lansky (2006) em seu estudo sobre mortalidade perinatal realizado na cidade de Belo Horizonte relata que o SIM e SINASC foram úteis na obtenção de informações além das que existiam nos prontuários médicos, porém mesmo correlacionando todas as fontes de dados algumas informações como a paridade e a realização de pré-natal não foram algumas vezes encontradas. Estudos recentes sobre as causas de mortalidade perinatal no Brasil mostram que a maioria das mortes pode ser prevenidas, sendo relativas ao acesso a serviços de saúde de qualidade e ao nível sócio econômico da população. Prevalecendo como causas a asfixia intra-uterina e intraparto (principal causa de morte fetal e neonatal), baixo peso ao nascer, afecções respiratórias, infecções e a prematuridade. Ao contrário, em países desenvolvidos, as principais causas de mortes no período perinatal não se podem prevenir como a prematuridade extrema e as malformações congênitas (LANSKY et al, 2002). Segundo Magalhães (p. 1) “a identificação das mortes por causas evitáveis é importante para a definição de prioridades na assistência à saúde”. O óbito por asfixia intraparto (apgar menor que 7 no 1º e 5º minuto de vida) tem sido considerado como importante indicador de qualidade da assistência durante o trabalho de parto (LANSKY et al, 2002, 2006). 2727 Trabalho 286 25 Estudo realizado na cidade de Belo Horizonte sobre a avaliação da assistência ao parto mostra que um número considerável de gestantes que perderam seus filhos por asfixia foi admitido no período expulsivo, outro dado interessante é a maior incidência de morte por esta causa ser observada durante a noite e nos fins de semana. O que faz com que a asfixia apresente grande potencial de prevenção (ibidem, 1999;2002). Dentre os fatores de risco materno-obstétrico para a mortalidade perinatal encontram-se a idade materna nos extremos da vida reprodutiva, idade gestacional menor que 37 semanas, infecção urinária, paridade, natimortos ou mortes neonatais prévias, ganho excessivo de peso durante a gravidez, síndrome hipertensiva, pré-natal com menos de 6 consultas, entre outras. As causas de morte de recém-nascido por asfixia, hipóxia, prematuridade estão intimamente ligadas a esses fatores (MAGALHÃES, 2003; NEVES, 2001). O peso ao nascer é um importante indicador da saúde da população. O hábito de fumar, a hipertensão arterial crônica, a idade gestacional, estão associados ao baixo peso ao nascer (ibidem, 2003;2001) Poucos estudos têm sido realizados no Brasil a respeito do resultado da assistência perinatal em Casa de Parto. Koiffman (2006) relata em seu estudo sobre “Fatores de risco para remoção neonatal na Casa de Parto de Sapopemba” um índice de mortalidade perinatal de 1/1000 nascidos vivos e remoção neonatal de 1,1% nascidos vivos no período selecionado. Campos (2007) ao avaliar o resultado da assistência prestada no Centro de Parto Normal “Dr. David Capistrano da Costa Filho”, em Belo Horizonte - MG, encontrou um índice de mortalidade neonatal de 2/1000 nascidos vivos e de remoção de recém-nascido de 3,3%. Com o objetivo de comparar os resultados encontrados ambos os autores recorreram à literatura internacional. Koiffman (2006) destaca os estudos realizados nos EUA em 84 centros de parto onde foi apontada uma taxa de mortalidade perinatal de 1,3/1000 nascidos vivos, na Inglaterra a taxa de mortalidade perinatal e remoção neonatal encontradas foram de 4,2/1000 nascidos vivos 2,7% respectivamente. A autora aponta ainda pesquisas realizada na Alemanha onde os autores concluíram não existir indício de maior risco de morte perinatal em CPN em relação a instituições convencionais “desde que os serviços utilizem um protocolo rigoroso para a 2728 Trabalho 286 26 seleção de parturientes, bem como estejam atentos para remoções precoces aos hospitais de referência” (p.15) e na Suécia onde foi realizada uma pesquisa comparando os resultados encontrados em CPN e hospitais em que “mostrou não existir diferença estatisticamente significativa nas taxas gerais de mortalidade perinatal entre os dois locais” (p.17). Cabe lembrar que índice de remoção neonatal pode servir para avaliar a morbidade em CPN. Como motivo para remoção neonatal, Koiffman (2006, p.94) encontrou o “desconforto respiratório seguido da suspeita de aspiração de mecônio de mecônio, hipotonia e asfixia neonatal”. Os fatores de risco para essas remoções foram: “intercorrências no trabalho de parto, a relação baixo peso ao nascer e idade gestacional inadequada, apgar menor ou igual a sete no primeiro minuto de vida, hábito de fumar durante a gestação, número de consultas de pré-natal menor”, entre outros (p. 61). Esse dado nos leva a ressaltar que os fatores de risco para morbimortalidade em CPN encontrados são semelhantes aos já citados em nosso estudo. 3.1- A prevenção da mortalidade perinatal: Lansky et al (2002) ao analisarem os critérios de evitabilidade para mortalidade perinatal aponta que a diminuição da mortalidade e a prevenção de seqüelas perinatais “dependem do pronto reconhecimento dos riscos da gravidez e do recém-nascido, além do acesso oportuno a serviços de saúde regionalizados e qualificados”. Ainda de acordo com esta idéia, Menezes (1998) afirma que para se alcançar a redução da mortalidade infantil é preciso que os fatores de risco sejam analisados de acordo com cada região do país. Em vários países desenvolvidos como França e Estados Unidos a regionalização é apontada como fator primordial para o alcance da diminuição da mortalidade perinatal (LANSKY, et al 2002). Vários estudos a respeito da mortalidade perinatal no Brasil apontam que a maioria das causas está vinculada a fatores que se pode prevenir (LANSKY et al, 2002). Giglio et al (2002) ao estudarem o baixo peso ao nascer como fator para morbimortalidade infantil em Goiânia destaca que em países desenvolvidos 2729 Trabalho 286 27 bebês com as mesmas características dos estudados teriam chances de duas vezes maiores de sobreviver. Apontam ainda que em nosso país o baixo peso ao nascer está associado a fatores ambientais e sócio-econômicos. Lansky et al (2006, p. 123) em seu estudo sobre “Mortes perinatais e avaliação da assistência ao parto” no município de Belo Horizonte observa a relação de grande número de mortes com a prematuridade, baixo peso ao nascer, não realização de pré-natal e asfixia intraparto, tendo esta última ocorrida em cerca de 50% dos casos. Enfatiza ainda que na maioria dos casos de asfixia neonatal “a avaliação fetal foi inadequada”. Em Montes Claros, entre 1997 e 1999,. Martins e Meléndez (2004) encontraram como fator associado à mortalidade neonatal a prematuridade e baixo peso ao nascer. O citado estudo apontou ainda, que estes fatores são ”passíveis de influências assistenciais e socioeconômicas”, sendo necessárias intervenções do governo para “evitar o nascimento em situação de risco” Neste contexto, Guinsburg (2005) aponta várias medidas que poderiam ser adotados no sentido de interferir no número de mortes perinatais como: a melhoria da assistência ante-parto, divulgação sobre o malefício do hábito de fumar e beber na gravidez e do benefício do parto normal. Conforme a autora essas práticas poderiam diminuir as “mortes de recém-nascido causadas por parto prematuro, baixo peso ao nascer e síndrome do desconforto respiratório”. Segundo Lansky et al (2002, p. 767) "para a diminuição da mortalidade perinatal “é fundamental a promoção do parto seguro, com um bom acompanhamento do trabalho de parto, além da assistência imediata a bebês asfixiados”. 3.3- A mortalidade perinatal em Juiz de Fora: A situação no município de Juiz de Fora não difere da realidade nacional. Segundo relatório de 2007 do SIM-Juiz de Fora cerca de 70% dos óbitos infantis do município ocorreram no período neonatal, sendo que as mortes por causas redutíveis representaram 58,7% dos óbitos em 2006 (MAGALHÃES, 2007). 2730 Trabalho 286 28 De acordo com o gráfico1, abaixo, as taxas de mortalidade no 1º ano de vida sofreram queda importante nos anos de 2001 a 2006. O coeficiente perinatal experimentou queda de 28 para 21,5/1000 nascidos vivos. Coeficiente de mortalidade infantil ( por 1000 nascidos vivos ) e seus componentes Juiz de Fora 2006 30,0 25,0 20,0 menores de 07 dias menores de 28 dias 28 dias a 01 ano óbito perinatais menores de 01 ano 15,0 10,0 5,0 0,0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: SIM No estudo de Magalhães (2003) realizado na cidade sobre “Atenção hospitalar perinatal e mortalidade neonatal”, a autora encontrou como principal causa de morbimortalidade o baixo peso ao nascer e o apgar no quinto minuto de vida. Cabe ressaltar que o citado estudo aponta ainda que “o grande número de óbitos de crianças de peso adequado e idade gestacional a termo reflete deficiências na qualidade da assistência pré-natal ou no parto” (p.74). Em relação ao apgar no quinto minuto de vida revela a “importância da vigilância adequada do trabalho de parto e parto e assistência adequada logo após o nascimento” (p.74). As doenças e intercorrências relacionadas com a gestação e o parto encontradas no referido estudo foram: hipertensão materna, desnutrição fetal, infecção neonatal e sífilis congênita. A autora comenta que devido “a grande concentração de consultas de pré-natal realizadas pelas mulheres e a assistência hospitalar ao parto, estas causas não deveriam levar ao óbito” (p. 179) por serem passíveis de diagnóstico durante o pré-natal e durante o trabalho de parto. 2731 Trabalho 286 29 CAPÍTULO 4 – CONHECENDO A EVOLUÇÃO CLÍNICA DOS BEBÊS REMOVIDOS DA CASA DE PARTO PARA O HOSPITAL Ao analisarmos os 20 prontuários em estudo representamos os resultados em tabelas, gráficos e figuras de acordo com as seguintes categorias: 1) Local e tempo de internação; 2) Exames realizados, 3) Procedimentos e tratamentos realizados; 4) Diagnóstico médico inicial e definitivo de cada bebê e 5) Condições da alta. De acordo com o gráfico 2, observamos que o local de internação dos referidos bebês variou entre enfermaria pediátrica, UTI e berçário. Gráfico 2 - Distribuição do local de internação dos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007. 1 2 UTI 17 ENFERMARIA PEDIÁTRICA BERÇARIO A maioria dos bebês, 75% foram admitidos na enfermaria pediátrica, local onde os bebês ficam internados na companhia do responsável. Somente um bebê foi admitido no berçário e dois (10%) dos bebês foram admitidos na Unidade de Terapia Intensiva neonatal-UTI. 2732 Trabalho 286 30 Dos 15 bebês admitidos na enfermaria pediátrica dois foram transferidos para a UTI neonatal, um deles no segundo dia de internação, ficando internado por quatro dias e depois transferido novamente para enfermaria e o outro no terceiro dia de internação permanecendo na UTI por cinco dias e em seguida transferido também para a enfermaria. Encontramos justificativa para a internação imediata na UTI de um dos bebês devido ao fato de ter ocorrido uma emergência obstétrica no trabalho de parto, descolamento prematuro de placenta e o bebê ter sido reanimado na Casa de Parto, conforme informações coletadas no impresso de encaminhamento do bebê da Casa de Parto ao hospital. O outro bebê ficou apenas 3 dias internado na UTI com o diagnóstico médico de icterícia, taquipnéia e hipóxia, recebendo alta hospitalar. A internação dos bebês em UTI é um dado preocupante, uma vez que há um excesso de manipulação e maior utilização de procedimentos invasivos. No estudo de Magalhães (2003, p.77) a autora comenta que a ocorrência de “50% dos óbitos ocorridos no hospital 1 devido à septicemia sugere infecção hospitalar, corroborado pelo tempo de permanência”. Os dados encontrados em nosso estudo coincidem com o estudo de Campos (2007) que encontrou um índice 0,9% de internação em UTI e de 2,4% de internação em unidade de cuidados intermediários nos bebês nascidos na Casa de Parto “Dr. David Capistrano da Costa Filho”, de Belo Horizonte - MG. Quanto à duração da internação em número de dias observamos no gráfico 3 que o tempo de internação dos bebês variou de 3 a 20 dias. 2733 Trabalho 286 31 Gráfico 3 - Duração da internação em números de dias dos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 maio de 2007. 1 6 a 2 0 dias 11 a 15 dias 6 a 10 dias 3 a 5 dias 0 2 4 6 8 A maioria dos bebês (65%) permaneceu menos que 10 dias internados, sendo que 30% ficaram internados de 3 a 5 dias e 35% de 6 a 10 dias. Quatro bebês (20%) ficaram internados de 11 a 15 dias e três bebês (15%) ficaram de 16 a 20 dias. Na classificação do tempo de 3 a 5 dias de internação, bebês que permaneceram por menos tempo internados, observamos algumas situações que nos levam a descrevê-las. Dois bebês ficaram apenas 3 dias internados, cabe ressaltar novamente que um deles foi o bebê admitido na UTI com o diagnóstico médico de icterícia, taquipnéia e hipóxia e o outro bebê, admitido na enfermaria teve o diagnóstico de insuficiência respiratória aguda. Uma outra situação que despertou atenção, refere-se ao caso do bebê que ficou 4 dias internado com suspeita de cardiopatia congênita, tendo recebido alta com o seguinte diagnóstico “criança eutrófica sem cardiopatia congênita”. Outro bebê também permaneceu no hospital por 4 dias com o diagnóstico de icterícia neonatal. Os dois bebês que ficaram internados por 5 dias foram com o diagnóstico de pneumonia e outro de insuficiência respiratória aguda. 2734 Trabalho 286 32 Apenas três bebês permaneceram por mais tempo internados e estão representados na categoria de tempo de internação de 16 a 20 dias. Um bebê ficou 20 dias internado na enfermaria com o diagnóstico de pneumonia, outro bebê permaneceu por 19 dias internado, sendo 4 dias na UTI e com o diagnóstico de insuficiência respiratória aguda e hipoglicemia e por último, um bebê permaneceu internado por 18 dias com diagnóstico de insuficiência respiratória aguda e síndrome da imunodeficiência adquirida, sendo que este foi um dos bebês que foi transferido da enfermaria para a UTI. Segundo Brasil (2006) o tempo prolongado de internação consiste em um dos fatores de risco em adquirir infecção hospitalar, principalmente no caso dos bebês internados em UTI pediátrica, sendo que “os principais sítios de infecção são as pneumonias e as infecções da corrente sanguínea” (p.29). Canato et al (2007) em seu estudo concluíram que a grande maioria das crianças internadas na unidade cenário da pesquisa entre 2001-2003, mais da metade das crianças internadas em UTI apresentaram potencial de desenvolver necessidades especiais de saúde devido ao longo tempo de permanência na unidade com maior tempo de exposição a procedimentos invasivos, agravos ambientais do hospital, complexidade diagnóstica, entre outras. Conforme descrito no gráfico 4, durante o tempo de internação todos os bebês foram submetidos a algum tipo de exame como: raio-x, exame de sangue e de urina, ecocardiograma, anti-HIV e ultra-sonografia. 20 15 10 5 0 18 20 4 4 1 3 Gráfico 4 - Exames realizados nos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de dezembro de 2001 a 31 maio de 2007. 2735 Trabalho 286 33 O exame de raio-x de tórax foi realizado em 90% dos bebês com o objetivo de confirmação diagnóstica de afecções do sistema respiratório como: a síndrome da aspiração de líquido amniótico e meconial, o pneumotórax também pode ser encontrado em cerca de 30% dos casos; a pneumonia caracterizada pela presença de infiltrado pulmonar, entre outras e também para confirmação de cardiopatias através da observação de cardiomegalia, posição dos vasos sangüíneos e fluxo de sangue (JÚNIOR, 1999). Em apenas dois casos não foram realizados o exame de raio-x de tórax, sendo que em um foi realizado o ecocardiograma por suspeita diagnóstica de cardiopatia congênita que foi descartada e o outro por não haver indicação, pois o diagnóstico era de icterícia. Os exames laboratoriais são úteis para auxiliar no diagnóstico e no tratamento adequado. Observamos neste estudo que o protocolo do hospital consiste na realização de exame de sangue em todos os bebês, sendo que o tipo de exame varia de acordo com a suspeita diagnóstica de cada caso. O hemograma foi realizado em todos os bebês com o objetivo de investigar ou confirmar a presença de infecções como pneumonia e ou infecções congênitas. A gasometria arterial foi realizada em 60% dos bebês para a detecção de cardiopatias, e a dosagem dos níveis séricos de bilirrubina total e frações foi realizada em 35% dos casos para a confirmação do diagnóstico de icterícia (JÚNIOR, 1999). O exame anti-HIV foi realizado em apenas um bebê com suspeita de síndrome da imunodeficiência adquirida e que foi transferido para a UTI, sendo confirmado o diagnóstico. O exame de urina foi realizado em 4 (20%) bebês, variando entre elementos anormais e sedimentos (EAS), cultura e antibiograma. Dentre os exames solicitados um foi referente ao bebê transferido para UTI e os outros 3 exames foram para os bebês que ficaram internados na enfermaria. O ecocardiograma foi realizado em 4 casos com o objetivo de detectar cardiopatias, porém não houve nenhum caso confirmado. O ecocardiograma tem sido considerado como instrumento de primeira linha para detectar cardiopatia em recém-nascido (JÚNIOR,1999). 2736 Trabalho 286 34 Quanto à realização de ultra-sonografia observamos que ocorreu em apenas dois casos. Destaca-se que em um dos casos foi o do bebê transferido da enfermaria para a UTI. Ao analisarmos este gráfico observamos que o exame de raio-x e o hemograma foram exames solicitados como um procedimento rotineiro da unidade e os demais exames foram solicitados de acordo com a suspeita diagnóstica. Além dos exames realizados, os bebês também foram submetidos a procedimentos (gráfico 5) de acordo com sua condição clínica. Gráfico 5 - Procedimentos realizados nos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 maio de 2007. OXIM ETRO DE PULSO 11 12 SONDA OROGASTRICA IN TU BAÇÃ O OROTRAQUEAL 2 DISSEC ÇÃO VENOSA 3 6 LA VAGEM GÁSTRICA A SPIRAÇÃO DA S VIAS AEREA S SUPER IORES 7 0 2 4 6 8 10 12 Ao analisarmos o gráfico 5, observamos que 11 (55%) bebês foram monitorados com oxímetro de pulso,considerado uma técnica não invasiva que faz a avaliação da saturação de oxigênio (JÚNIOR, 1999). A passagem da sonda gástrica está indicada na drenagem do conteúdo gástrico, na administração da nutrição e de medicamentos, 60% dos bebês foram submetidos a este procedimento (JÚNIOR, 1999). Dois bebês foram submetidos a intubação orotraqueal, ambos estavam internados na UTI. A via orotraqueal é a via de preferência para a intubação intratraqueal e está indicada nos casos de ventilação inefetiva com máscara, 2737 Trabalho 286 35 de necessidade de ventilação pulmonar prolongada, em obstrução das vias aéreas superiores, na diminuição do trabalho respiratório, na necessidade de aspiração traqueal de mecônio espesso, entre outros (GUINSBURG e ALMEIDA, 2001; JÚNIOR, 1999). A dissecção venosa foi necessária em 3 bebês (15%), sendo que dois bebês estiveram internados na UTI e permaneceram de 15 e 19 dias no hospital, o outro bebê permaneceu 11 dias no berçário. A dissecção venosa consiste num procedimento médico de acesso ao sistema venoso central, geralmente é feita quando não se tem a possibilidade de vias de acesso venoso periférico, com a finalidade de manutenção de acesso para administração de medicações, nutrição e hidratação venosa (JÚNIOR, 1999). Pode ser realizado no berçário, UTI ou centro cirúrgico. Este procedimento trás maior risco do bebê em adquirir infecção hospitalar, por representar uma porta de entrada direta no sistema venoso central (BRASIL, 2006). Cabe ressaltar que dos bebês submetidos a este procedimento, dois apresentaram diagnóstico de infecção, sendo um de pneumonia e o outro de infecção neonatal precoce. A aspiração das vias aéreas superiores consiste na remoção de secreções com objetivo de promover melhor ventilação e oxigenação (TAMEZ, 2002). Sete bebês (35%) foram submetidos a este procedimento. Uma categoria importante no estudo diz respeito ao tratamento realizado nos bebês. O gráfico 6 aponta os tratamentos, que foram realizados de acordo com a suspeita diagnóstica de cada bebê. 2738 Trabalho 286 36 Gráfico 6 - Tratamentos realizados nos bebês removidos da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 maio de 2007. 5 FOTOTERAPIA INCUBADORA AQUECIDA 18 HIDRATAÇÃO VENOSA 18 ANTIBIOTICOTERAPIA 18 OXIGENOTERAPIA 17 0 5 10 15 20 Cinco bebês (25%) foram submetidos à fototerapia que consiste na forma de tratamento da icterícia através da colocação do recém-nascido sob o efeito de uma fonte de luz que emite energia de 400 a 450 nm, correspondendo à faixa azul, que transforma a molécula da bilirrubina em formas hidrossolúveis, facilitando sua excreção (JÚNIOR, 1999). Destaca-se que dentre os bebês submetidos à fototerapia somente dois tiveram o diagnóstico de icterícia confirmado. A incubadora aquecida foi utilizada em 90% dos casos, com o objetivo de manter a temperatura e evitar a perda excessiva de calor. Para Tamez (2002, p.27) o controle da temperatura “é um dos fatores críticos na sobrevivência e estabilidade do recém-nascido”. A necessidade de utilização de incubadora aquecida deve-se a dificuldade apresentada pelo recém-nascido em manter a regulação térmica devido a fatores como “superfície corporal relativamente grande em comparação com o peso e capacidade metabólica limitada para a produção de calor” (ibidem, 2002. p.27). A hidratação venosa foi realizada como forma de tratamento em 90% dos bebês. medicamentos As vias em utilizadas para recém-nascidos hidratação e são: administração endovenosa, de intramuscular, subcutânea, enteral, e tópica. A via endovenosa é adotada como uma via 2739 Trabalho 286 37 preferencial para a hidratação e administração de medicações, pelo fato do medicamento ser injetado diretamente na corrente sangüínea o que produz uma ação imediata da medicação, sendo a via obrigatória na administração de antibiótico no caso de sepse (JÚNIOR, 1999; TAMEZ, 2002). Dentre os bebês em estudo 11 (90%) foram submetidos à antibioticoterapia, que está recomendada no tratamento de infecções (TAMEZ, 2002). O grande número de casos de uso de antibióticos corrobora com o estudo de Magalhães (2000) que apontou o uso de antibiótico em 96,8% dos casos no hospital 1. Este fato nos chama a atenção para indicação, motivo de uso e precauções que devem ser tomadas no uso de antibióticos. Conforme documento aprovado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2002), todo recém-nascido menor que 2 meses, estando hospitalizado por insuficiência respiratória aguda por pneumonia deve receber tratamento com antibióticos associados ou de terceira geração (CARVALHO, 2002). De acordo com Brasil (2006 p.58), “a indicação precisa do uso de antibióticos é fundamental para se evitar a indução de resistência bacteriana”, sendo recomendado seu uso profilático apenas nos casos de cirurgias com risco de contaminação. O uso prévio e ou prolongado de antibiótico “pode promover a microbiota do paciente aumentando o risco por microorganismos multirresistentes, de difícil tratamento” (p.79), estando “a utilização de antibiótico de a maneira abusiva e incorreta” diretamente associada ao aumento de infecções por organismos multirresistentes (BRASIL, 2006, p. 87). De acordo com Brasil (2006, p.87) “estima-se que dentro dos hospitais 50% dos antibióticos são prescritos incorretamente”. O uso incorreto de antibióticos pode estar associado ao desconhecimento correto do diagnóstico, e falta de “conhecimento da gravidade da resistência bacteriana”, entre outros (BRASIL, 2006, p.88). A oxigenioterapia consiste no tratamento de maior importância na insuficiência respiratória, 90% dos bebês foram submetidos a este tratamento. Apenas 2 bebês não fizeram uso da oxigenioterapia, sendo eles os bebês que permaneceram internados por 4 dias, com o diagnóstico de icterícia e o outro com suspeita não confirmada de cardiopatia congênita. 85% dos bebês foram submetidos à oxigenioterapia com pressão positiva que está indicada nos casos de apnéia e desmame do ventilador, entre outros (JÚNIOR, 1999). 2740 Trabalho 286 38 O quadro 2 nos mostra o diagnóstico médico inicial e definitivo dos bebês internados na instituição, de acordo com o registro no sumário de alta dos prontuários. Quadro 2 - Distribuição dos diagnósticos inicial e definitivo de cada bebê removido da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 maio de 2007. DIAGNÓSTICO INICIAL 1 Insuficiência respiratória DIAGNÓSTICO DEFINITIVO Insuficiência respiratória aguda. aguda e infecção precoce. 2 Cardiopatia congênita com Criança eutrófica sem cardiopatia congênita. insuficiência respiratória. 3 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda. aguda. 4 Afecções específicas originada Septicemia-Aspiração de mecônio. no período perinatal. 5 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda e hipoglicemia aguda. 6 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda. aguda. 7 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda. aguda. 8 Pneumopatia aguda. Infecção neonatal precoce. 9 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda por infecção aguda neonatal precoce. Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda e infecção aguda neonatal Insuficiência respiratória Pneumonia 10 11 aguda 12 Insuficiência respiratória Pneumonia e síndrome de aspiração meconial aguda 13 Insuficiência respiratória Pneumonia aguda 14 Taquipnéia transitória Hipóxia, taquipnéia e icterícia 15 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda e HIV aguda 2741 Trabalho 286 16 39 Insuficiência respiratória Pneumonia aguda 17 Icterícia neonatal Icterícia neonatal 18 Infecção perinatal Infecção perinatal 19 Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda e taquipnéia aguda transitória. Insuficiência respiratória Insuficiência respiratória aguda 20 aguda A insuficiência respiratória aguda foi o diagnóstico que mais se destacou entre as afecções que acometeram os recém-nascidos por ter sido o diagnóstico inicial de 70% dos bebês, sendo confirmado em 50% destes. A insuficiência respiratória aguda consiste na incapacidade do sistema respiratório em realizar as trocas gasosas de forma satisfatória. Os sinais e sintomas encontrados são: dispnéia intensa, cianose, alteração do nível de consciência (sonolência/torpor) e taquicardia. Estão caracterizadas como causas: a síndrome do desconforto respiratório, a pneumonia, a síndrome da aspiração meconial, taquipnéia transitória e apnéia, entre outros (JÚNIOR, 1999; MARBA, 1998; TAMEZ, 2002). Miayo (1999 p. 334) em estudo sobre “doenças agudas do trato inferior” detectou que a maioria das afecções que acometem crianças internadas é causada por vírus, diferentemente do que acontece na pneumonia que na maioria das vezes é causada por bactéria. Em relação à pneumonia, podemos dizer que foi diagnóstico inicial de somente um bebê, porém caracterizou-se como diagnóstico definitivo de 4 bebês (20%) e esteve associada a síndrome meconial em 1 caso. A pneumonia situa-se como a causa mais freqüente para a insuficiência respiratória aguda, sendo seus sinais normalmente encontrados juntamente com os sinais de sepse. As pneumonias em recém-nascido podem ser classificadas de acordo com o momento e forma de aquisição: pneumonias congênitas que são aquelas adquiridas por via placentária; pneumonia intra-uterina, geralmente associadas à anoxia perinatal ou infecção intra-uterina; pneumonias adquiridas durante o nascimento, proveniente de agentes que possam estar alojados no trato vaginal e por fim as pneumonias adquiridas após o nascimento, podendo ser causada por contactantes ou equipamentos contaminados (JÚNIOR, 1999). Cabe destacar que não encontramos nenhum registro nos prontuários 2742 Trabalho 286 40 associando a causa do diagnóstico, exceto o caso da síndrome meconial. A doença estreptocócica do grupo B (egb) é a causa mais comum de pneumonia no recém-nascido. A infecção geralmente é adquirida intra-útero. A triagem prénatal e a profilaxia intraparto, de mães colonizadas, com o uso de ampicilina intravascular diminuem a incidência (SÃO PAULO, 2002). As infecções perinatais estiveram presentes em 5 casos (25%), sendo diagnóstico inicial de dois deles. Um bebê teve o diagnóstico confirmado e o outro foi descartado. Porém, três bebês foram posteriormente diagnosticados como infecção perinatal precoce. A via mais freqüente pela qual o feto se torna infectado é a hematogênica transplacentária, após infecção materna. As infecções adquiridas pelo feto são denominadas de infecções congênitas (PINHATA, YAMAMOTO, 1999). O estado imunitário materno, as características do agente, a defesa placentária e a idade gestacional da aquisição da infecção materna determinarão se o feto será acometido e as conseqüências da infecção sobre o feto. Quanto mais próximo do término da gestação, apesar de ser mais freqüente o acometimento fetal, maior é a probabilidade de a infecção ser inaparente ou latente. Por outro lado, as infecções adquiridas durante o parto e no período pós-natal, ou seja, as infecções adquiridas no período periparto e até três semanas pós-natais são denominadas infecções perinatais (ibidem). A transmissão pode ocorrer durante o trabalho de parto, por transfusão materno–fetal; pela ascensão de microorganismos na cavidade amniótica e acometimento das membranas amnióticas, do cordão umbilical e da placenta; ou devido à aspiração de líquido amniótico contaminado; ou, ainda, pelo contato da pele e mucosas gástrica e ocular do recém-nascido com sangue e secreções microorganismos que genitais estejam ou se fezes maternas replicando. São que contenham exemplos de microorganismos que se transmitem por essas vias: VHB, HIV, Vírus Herpes Simplex, citomegalovírus, enterovírus. Além destes, uma grande variedade de microorganismos podem estar presentes no canal de parto (cocos grampositivos, cocos gram-negativos, bacilos entéricos, bactérias anaeróbicas, outros vírus, fungos, clamídias, micoplasmas e protozoários), sendo que alguns deles são significativamente associados à doença no recém-nascido, enquanto outros raramente o envolvem (ibidem, 1999). PINHATA, YAMAMOTO (1999), 2743 Trabalho 286 41 afirmam que dependendo das características do agente e do seu período de incubação, uma vez tendo ocorrido colonização e invasão pelo microorganismo, as infecções adquiridas durante o nascimento e no período pós-natal podem causar doença sistêmica aguda, infecção persistente com seqüelas tardias ou doença auto-limitada sem dano evidenciável ou, ainda, infecção assintomática. A septicemia foi encontrada em apenas um caso, sendo o bebê que teve o diagnóstico da síndrome da aspiração meconial. A sepse é uma síndrome clínica em que ocorre a resposta inflamatória sistêmica, juntamente com os sinais de infecção, caracteriza-se por manifestações inespecíficas como hiperemia, desconforto respiratório, vômito, diarréia, hipotermia, irritabilidade e anorexia. Como fatores de risco para esta patologia têm a imaturidade do sistema imunológico, a asfixia perinatal, o baixo peso ao nascer, a hospitalização e a assistência ventilatória (JÚNIOR, 1999; MARBA, 1998). Cabe ressaltar que todos os bebês que foram diagnosticados com algum tipo de doença infecciosa (infecção perinatal, pneumonia e sepse), foram submetidos a processos invasivos como hidratação venosa, dissecção venosa, intubação orotraqueal e lavagem gástrica. Fato que nos chama a atenção e leva a relembrar o conceito de infecção hospitalar, que consiste “no agravo de causa infecciosa adquirido pelo paciente depois de sua admissão no hospital”, esta representa juntamente com as infecções sanguíneas a maior causa de infecção em UTI pediátrica (BRASIL, 2006. p.13). Os bebês que apresentaram algum tipo de infecção permaneceram internados de 5 a 20 dias, sendo um deles o bebê que foi admitido na UTI. Como fatores de risco para infecção em recém-nascidos internados têm: tempo de permanência prolongado, superlotação de berçários, procedimentos invasivos, controle inadequado ou inapropriado de infecção, entre outros (MAGALHÃES, 2000). A síndrome da aspiração meconial, doença originada quando o feto aspira mecônio e caracterizada pela presença de insuficiência respiratória não foi suspeita diagnóstica inicial em nenhum bebê. Contudo dois bebês tiveram o diagnóstico final de síndrome de aspiração meconial. A incidência de impregnação meconial no líquido amniótico está descrita na literatura em aproximadamente 5 a 30% dos casos de nascimento e associada a fetos de 2744 Trabalho 286 42 termo e com peso adequado para a idade gestacional (JÚNIOR, 1999; MADI, 2002,). Madi (2003), em seu trabalho sobre síndrome meconial aponta que na maioria dos bebês em estudo (53,8%) não houve complicação decorrente da aspiração meconial, porém quando esteve presente foi por anóxia, sepse e convulsões. Cabe enfatizar que em nosso estudo um bebê teve o diagnóstico de síndrome de aspiração meconial associado à sepse e um outro à pneumonia. Alguns autores como por exemplo, Júnior (1999), considera a liberação de mecônio no líquido amniótico associada ao sofrimento fetal. Para Madi (2002) no estudo sobre síndrome meconial relata que em sua casuística quando houve detecção de sofrimento fetal intraparto, a incidência de mecônio variou de 42,9% a 57,1%. Ao contrário, quando não houve sofrimento fetal associado, o percentual foi de 75 a 25%. A prevenção da síndrome meconial pode ser feita em alguns casos através da assistência obstétrica adequada, principalmente em casos de asfixia fetal, aspiração das narinas e orofaringe (ibidem, 2002). A cardiopatia congênita foi suspeita diagnóstica em um bebê, entretanto não foi confirmada nenhuma patologia no referido bebê. A taquipnéia transitória apresentou-se como diagnóstico em dois bebês. Um dos bebês que apresentou o diagnóstico de taquipnéia foi diagnosticado também com hipóxia e icterícia. A taquipnéia apresenta-se na maioria das vezes como uma patologia leve, caracterizado por desconforto respiratório leve ou moderado (MARBA, 1998). A hipóxia foi diagnosticada apenas nesse caso. A icterícia é uma patologia comumente encontrada em recém-nascido, aproximadamente 65% dos bebês que nascem apresentam níveis de bilirrubina maior que 5mg/dl. Ela pode ser classificada como fisiológica que geralmente surge após 24 horas de vida e dura em média 1 semana ou ter como causa doença hemolítica, defeitos no metabolismo dos eritrócitos, hipotireoidismo congênito, entre outras (JÚNIOR, 1999; MARBA,1998). Esta patologia foi registrada em dois prontuários, sendo que em um caso foi devido ao aparecimento precoce da icterícia e o outro devido ao surgimento no decorrer da internação. A hipoglicemia foi detectada em um bebê. Entende-se por hipoglicemia o valor de glicemia no sangue abaixo de 40mg/dl, podendo ser classificada como 2745 Trabalho 286 43 persistente ou transitória, quando limitada ao período neonatal podendo ter como causa a administração de drogas e a infecção entre outras (JÚNIOR, 1999). No nosso estudo o bebê que apresentou hipoglicemia teve o diagnóstico definitivo de insuficiência respiratória aguda e necessitou de necessitou de internação na UTI, permanecendo internado por 19 dias . A síndrome da imunodeficiência adquirida foi encontrada como diagnóstico definitivo em um bebê. Cabe destacar neste caso a possibilidade de prevenção da transmissão vertical do vírus HIV, causador da síndrome da imunodeficiência adquirida, quando detectada a soropositividade materna. De acordo com o Ministério da Saúde (2003) o uso de anti-retrovirais na gestação, no trabalho de parto, parto e no recém-nascido têm diminuído significativamente a chance de transmissão entre mãe e filho. Portanto, esta situação fez surgir o questionamento sobre a realização do exame anti-HIV durante o pré-natal. Finalizando nossa análise o quadro 3 aponta as condições de alta hospitalar de cada recém-nascido. Analisando o quadro 3, percebemos que a maioria dos bebês (95%) recebeu alta em boas condições. Apenas o bebê com diagnóstico de HIV não recebeu alta curado. Cabe ressaltar que o bebê diagnosticado com septicemia e aspiração meconial recebeu alta como “curado”, porém com orientação de acompanhamento com neuropediatra. Ao analisar este caso percebemos que este bebê foi admitido com o diagnóstico inicial de “afecções específicas originadas no período perinatal” e apresentou convulsões durante o período de internação. 2746 Trabalho 286 44 Quadro 3 – Condição de alta de cada bebê removido da Casa de Parto da FACENF/UFJF para o Hospital, no período de 17 de dezembro de 2001 a 31 de maio de 2007. DIAGNÓSTICO DEFINITIVO CONDIÇÃO DE ALTA 1 Insuficiência respiratória aguda. Alta sem seqüela 2 Criança eutrófica sem cardiopatia Alta sem seqüela congênita. 3 Insuficiência respiratória aguda. Alta sem seqüela 4 Septicemia-Aspiração de mecônio. Curado-Acompanhamento com neuropediatra 5 Insuficiência respiratória aguda e Alta sem seqüela hipoglicemia 6 Insuficiência respiratória aguda. Alta sem seqüela 7 Insuficiência respiratória aguda. Alta sem seqüela 8 Infecção neonatal precoce. Alta sem seqüela 9 Insuficiência respiratória aguda por Alta sem seqüela infecção neonatal precoce. 10 Insuficiência respiratória aguda e Alta sem seqüela infecção neonatal 11 Pneumonia Alta sem seqüela 12 Pneumonia e síndrome de aspiração Alta sem seqüela meconial 13 Pneumonia Alta sem seqüela 14 Hipóxia, taquipnéia e icterícia Alta sem seqüela 15 Insuficiêcia respiratória aguda e HIV HIV 16 Pneumonia Alta sem seqüela 17 Icterícia neonatal Alta sem seqüela 18 Infecção perinatal Alta sem seqüela 19 Insuficiência respiratória aguda e Alta sem seqüela taquipnéia transitória. 20 Insuficiência respiratória aguda Alta sem seqüela 2747 Trabalho 286 45 Um dos objetivos do nosso estudo foi de identificar o coeficiente de mortalidade perinatal dos bebês removidos da Casa de Parto para o hospital e finalmente, ao analisarmos o quadro 3 encontramos um índice de mortalidade perinatal de 0%. Apesar de não ter atingido 1.000 nascidos vivos na instituição para o cálculo do coeficiente de mortalidade perinatal, até o momento deste estudo não ocorreu nenhum caso de óbito dos bebês removidos para o hospital. Este dado é de suma importância, uma vez que encontramos um índice de mortalidade perinatal de 1/1000 nascidos vivos e remoção neonatal de 1,1% nascidos vivos na Casa de Parto de Sapopemba (Koiffman, 2006) e no estudo de Campos (2007) ao avaliar o resultado da assistência prestada no Centro de Parto Normal “Dr. David Capistrano da Costa Filho”, de Belo Horizonte, encontrou um índice de mortalidade neonatal de 2/1000 nascidos vivos. 2748 Trabalho 286 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve a finalidade descrever e analisar a evolução clínica dos bebês removidos da Casa de Parto para o hospital e identificar o índice de mortalidade no período estudado. A metodologia escolhida mostrou-se adequada à análise e descrição da evolução clínica dos bebês, proporcionando o alcance dos objetivos do estudo. A coleta de dados nos prontuários apontou problemas que já conhecíamos, através de relatos em outros trabalhos científicos e na prática dentro dos hospitais, que é a presença de falhas nas anotações dos prontuários. Algumas informações foram difíceis de serem encontradas como por exemplo o prognóstico na alta. Houve a perda de 1 prontuário (4,6%), que não foi localizado pela instituição. Porém este fato não invalida o resultado do estudo, de acordo com Magalhães (2000, p.67) “qualquer investigação em serviços de saúde esbarra neste tipo de dificuldades, e mesmo assim se acumula conhecimento”. Como já foi ressaltada anteriormente a experiência dos centros de parto normal - CPN no Brasil é recente, data de 1998 a criação do primeiro CPN. Ainda existem poucos trabalhos que apontam e analisam os resultados da assistência prestada em CPN, dados importantíssimos para avaliação da assistência prestada em CPN, o que sugere que este tema deve ser objeto de estudo. Em 2005, no I Encontro das Casas de Parto, ocorrido na cidade de São Paulo o Fórum Permanente de Casas de Parto da Região Sudeste propõe a criação da Rede Informações sobre Assistência em Centro de Parto Normal Extra-Hospitalar no Brasil (CPNet-Brasil), frente o reconhecimento da importância dos registros do modelo extra-hospitalar para “atestar a segurança e qualidade do modelo e a comparação entre diferentes serviços no Brasil e em outros países” (KOIFFMAN, 2006, p.98). A insuficiência respiratória aguda foi o diagnóstico que mais se destacou entre as afecções que acometeram os recém-nascidos por ter sido o diagnóstico inicial de 70% dos bebês, sendo confirmado em 50% destes, seguido da infecção perinatal (25%). Fato que vem de encontro com as causas 2749 Trabalho 286 47 de morbidade descritas na literatura que são na maior parte dos casos afecções do sistema respiratório (FONSECA e COUTINHO, 2004). E também as principais causas de morbidades encontradas em CPN no Brasil que foram desconforto reparatório, infecção neonatal, aspiração de mecônio entre outras (KOIFFMAN, 2006; CAMPOS, 2007). Ao analisarmos o resultado do trabalho percebemos que não existe garantia de que se o parto dos bebês em estudo tivesse acontecido em instituição hospitalar o prolongamento da internação não teria acontecido. É fato que a intercorrência durante o trabalho de parto e no nascimento pode acontecer, sendo necessário o atendimento hospitalar, daí a importância de se ter uma instituição hospitalar estabelecida como referência no caso de necessidade de remoção tanto do bebê quanto da mãe. Koiffman (2006, p.12), aponta o resultado de uma pesquisa realizada nos EUA onde “70% das mulheres tiveram complicações leves ou nenhuma complicação durante o trabalho de parto”. Com nosso estudo conseguimos comprovar que a distância entre a Casa de Parto da FACENF/UFJF e a instituição hospitalar não foi fator de risco para a mortalidade perinatal. Em nosso estudo encontramos um índice de mortalidade perinatal de 0%, este dado demonstra a segurança e qualidade do atendimento prestado aos bebês nascidos na Casa de Parto da FACENF. Apesar de não ter atingido 1.000 nascidos vivos na instituição para o cálculo do coeficiente de mortalidade perinatal, até o momento deste estudo não ocorreu nenhum caso de óbito dos bebês removidos para o hospital. Os dados encontrados no estudo podem possibilitar a comparação da evolução clínica e do índice de mortalidade dos bebês nascidos em casa de parto ou em hospital no Brasil e no mundo. Possibilita ainda auxílio na criação de registro do trabalho desenvolvido em casa de parto e também levantar hipóteses para a realização de pesquisas que possibilitem o conhecimento dos fatores de risco para remoção de bebês em Casa de Parto. 2750 Trabalho 286 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. F. et al. Sistemas de informação e mortalidade perinatal: conceitos e condições de uso em estudo. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v.9, n.1, mar, 2006. ORIGINAL ARTICLES BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério. Assistência humanizada à mulher. Brasília (DF), 2001. ______ . Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Recomendações para profilaxia da transmissão vertical do HIV e terapia anti-retroviral em gestantes. Série Manuais, n. 46. Brasíla (DF). 2003. ______ . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 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As três metodologias, acadêmica da ciência e da pesquisa. 4.d. Belém:UNAMA, 2001. 2755 Trabalho 286 53 ANEXO 1 ROTEIRO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS 1-Iniciais da mãe do RN: 2- Data e hora da internação: 3- Local da admissão: ( ) berçário ( ) uti ( ) enfermaria pediátrica 4- Condições clínicas do RN na admissão: 5- Diagnóstico médico na admissão: 6-Tratamento realizado: 7- Exames realizados: 8- Diagnóstico médico definitivo: 9-Prognóstico: 10-Data e hora da alta: 11-Observação (orientações na alta, acompanhamento médico, etc): 2756