UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
COORDENADORIA DE CONCURSOS – CCV
Evento: Concurso Público para Provimento de Cargo Técnico-Administrativo em Educação
Edital N° 192/2015
PARECER
A Comissão Examinadora da Prova de Conhecimentos Específicos de Revisor de Texto efetuou
a análise do recurso administrativo e emitiu seu parecer nos termos a seguir.
Questão 11
A questão 11 trata de compreensão leitora. É correta a alternativa (A). A expressão “de
barato” significa no contexto “sem discussão”, conforme atesta o dicionário Michaelis Online:
“Dar de barato: admitir sem discussão; supor como verdade o que outro afirma.”. As demais
alternativas são falsas. A alternativa (E), por exemplo, é falsa porque a expressão não atribui ao
conteúdo admitido um valor de verdade incontestável, mas uma espécie de suposição, de
possibilidade. Isto é corroborado pelo uso do verbo “poder” que reforça o valor de possibilidade
e nega o caráter de verdade incontestável: “Pode ser, admite ele, de barato – que o
pensamento seja um domínio natural, separado do domínio artificial da fala”; (linhas 08-09). O
escopo da expressão é a admissão (de algo), o ato de fala, e não o conteúdo admitido. Uma
pessoa que admite “de barato” algo, admite sem discussão, sem questionar, mas pode admitir
algo que não seja uma verdade incontestável, como é o caso, em que Sapir admite, sem
discussão, a hipótese de que o pensamento pode ser um domínio natural.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 19
A questão 19 avalia tanto interpretação de texto como conhecimento da norma padrão
da língua portuguesa. A alternativa correta é o item (E), que parafraseia o texto original, de
modo coeso e coerente, sem alteração de sentido e em conformidade com a norma padrão.
Assim como o trecho original, o item (E) expressa corretamente a relação de sequencialidade
entre a aquisição e a abertura do hiato intransponível entre homens e animais e de causalidade
entre a) o desenvolvimento psíquico da criança como ser humano e b) a circunstância de ela
crescer no meio humano provido de um sistema de linguagem e a aquisição da linguagem. Os
demais itens estão errados por não parafrasearem corretamente o trecho exigido, provocando
alteração de sentido, e/ou por não estarem em conformidade com a norma padrão. O item (A),
por exemplo, está errado por não atender à norma padrão, pois foi omitida a preposição “em”,
obrigatória na expressão “na medida em que”, e por distorcer o sentido original, ao atribuir
finalidade na captação e utilização do sistema de linguagem pela criança: “para abrir o hiato
intransponível…”. O item (D) também está errado tanto por não atender à norma padrão como
por distorcer o sentido original. Quanto à norma, há desvio gramatical no uso do artigo com o
relativo “cuja”: “cuja a captação e utilização ela faz”. No que concerne ao sentido, o item (D)
expressa a ideia de que crescer em um meio provido de linguagem é causa de a criança abrir o
hiato intransponível entre homens e animais, quando originalmente a circunstância de a criança
crescer no meio humano provido de um sistema de linguagem é uma das causa da aquisição da
linguagem, e não da abertura do hiato intransponível entre homens e animais.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito
oficial.
Questão 22
A questão 22 trata de concordância verbal. É correta a alternativa (E), pois com sujeitos
unidos pela preposição com o verbo pode ficar no singular ou no plural: “Se o sujeito no singular
é seguido imediatamente de outro no singular ou no plural mediante a preposição com, ou
locução equivalente pode o verbo ficar no singular, ou ir ao plural, para realçar a participação
simultânea na ação” (BECHARA, 1999, p.556). O emprego da vírgula serviria para dar maior
destaque ao primeiro elemento, mas nem é exclusiva do uso do verbo no plural (confiram-se os
exemplos: “Estas explicações não evitaram que o desembargador, com os velhos amigos,
prognosticassem o derrancamento do morgado da Agra…” (Exemplo de BECHARA (1999,
p.556), “À mesma porta por onde saíra a mulher com a filha, chegava outros pretendentes”
(Exemplo de CEGALLA, 1993, p.404), nem é obrigatória quando o verbo estiver no singular.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 24
A questão 24 trata de normalização técnica, de acordo com a ABNT. É correta a alternativa
(E), que distribui as informações na ordem recomendada, atribuindo o destaque à obra, conforme
reza a norma NBR 6023:2002. As demais alternativas são falsas, porque dão destaque ao capítulo
(alternativas A e B), ou porque organizam os elementos de forma inadequada (alternativa C), ou
porque usam pontuação inadequada (alternativa D). A alternativa (E), por lapso de digitação, omite
um espaço entre os dois-pontos e o nome seguinte, o que contraria a norma de pontuação e
digitação em geral, mas não exatamente a norma NBR 6023, que não se refere a essa questão, mas
apenas trata dos elementos a serem incluídos, ordem dos elementos das referências e “convenções
para transcrição e apresentação da informação originada do documento e/ou outras fontes de
informação”. Considerando-se que, no contexto da prova, apenas uma alternativa poderia ser
correta; que se testava conhecimento a respeito da norma de apresentação da referência
bibliográfica e não formatação; que as demais alternativas apresentavam desvios da norma bastante
evidentes, a ausência de espaço após o sinal de pontuação não invalidaria a alternativa correta.
Entretanto, como se trata de prova muito específica, destinada a selecionar um profissional que
deverá estar atento a detalhes como esse, a ausência de espaço após um sinal de pontuação, nessa
circunstância poderia, de fato, confundir um candidato mais meticuloso.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão defere o recurso e anula a questão.
Questão 26
A questão 26 trata do uso dos artigos definidos e indefinidos. É solicitado que o
candidato assinale a alternativa em que a troca de artigos não altera a coerência textual. No
gabarito oficial foi equivocadamente indicado como correto o item (C), entretanto a alternativa
correta é o item (A), uma vez que, no contexto de que trata a questão, a alteração de “uma
neurose” para “a neurose” não afetaria a coerência textual. No trecho “Sigmund Freud, o pai da
psicanálise, dividiu as patologias mentais em dois grupos: as psicoses, de origem orgânica,
distorcem o senso de realidade a ponto de levar o paciente a ser classificado como louco; e as
neuroses, de natureza emocional, causam transtornos e infelicidade, mas não afetam a
percepção da realidade. Segundo Freud, o que causa uma neurose não é o fato em si…”
(linhas 01-04), o uso do artigo definido seria perfeitamente justificável, visto que alude a um
referente que já havia sido definido anteriormente.
O item (C) não se justifica, porque a troca de “uma tragédia” por “a tragédia”
ocasionaria prejuízo à coerência textual, já que tragédia é um referente novo, que ainda não
havia sido mencionado. O uso do artigo definido indicaria uma tragédia específica e
desconhecida do leitor, o que afetaria o entendimento do texto. O item (D) também está
incorreto, pois a alteração de “no mundo real” por “num mundo real” também afetaria a
coerência textual, como se pode perceber pela observação do trecho original: “Isso reforça a
ideia, surpreendente para muitos, de que não vivemos no mundo real, mas numa realidade
virtual criada por nossos próprios símbolos”. Se o artigo indefinido fosse usado nesse contexto,
ficaria pressuposta a existência de mais de um mundo real, o que não condiz com o texto. Com
o artigo definido, o autor alude ao mundo real, concreto.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão defere o recurso e retifica o
gabarito oficial que passa a ser (A).
Questão 27
A questão 27 trata de paráfrase. É correta a alternativa (B). A frase ““há pobres e
anônimos felizes ao mesmo tempo que celebridades milionárias se afundam no álcool e nas
drogas” (linhas 12-13) pode ser reescreita, sem alteração de sentido, “Há pobres e anônimos
felizes enquanto celebridades milionárias se afundam no álcool e nas drogas”, por haver uma
relação de simultaneidade entre o que é afirmado nas duas orações. As demais alternativas são
falsas, ou por atribuírem uma relação diversa da original (alternativas A, C e D) ou por
desobedecerem à norma padrão (alternativa E). Na alternativa (E), a locução “ao mesmo tempo
em que” apresenta desvio da norma, pelo emprego indevido da preposição em.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 29
A questão 29 trata do emprego da voz passiva. É correta a alternativa (D). No contexto,
a passiva foi empregada para manter a progressão textual, colocando como tema “O impacto
ambiental…”, informação presente no contexto prévio. A construção ativa, nesse contexto,
quebraria o fluxo do texto, ao colocar como tema os órgãos oficiais: “Os orgãos oficiais
divulgam pouco o impacto ambiental…”. As demais alternativas são falsas por não apresentar a
motivação discursiva da construção passiva no contexto. A alternativa (C) , por exemplo, é
falsa, porque a motivação da construção não foi “criticar o impacto ambiental”, em primeiro
lugar, porque a frase em análise não apresenta uma crítica ao impacto, mas uma afirmação de
que é pouco divulgado oficialmente. Portanto, se se percebe alguma crítica velada é ao fato de
os órgãos oficiais divulgarem pouco o impacto e não ao impacto em si. Em segundo lugar, a
alternativa é falsa, porque a crítica ao impacto poderia ser feita empregando-se a construção
ativa. A passiva foi usada para topicalizar o impacto ambiental, como argumenta o candidato,
“a topicalização do uso da voz passiva analítica, para dar destaque ao impacto ambiental (que
na voz ativa seria o objeto direto do verbo)”. A topicalização do paciente na passiva pode servir,
entre outras funções, ao propósito de manter a progressão textual.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 34
A questão 34 trata de fatores de textualidade. É correta a alternativa (C), uma vez que
é a única alternativa que aponta corretamente o problema de textualidade e sua causa. Ao dizer
que a Lac recolhe o leite puro da fazenda, que nasce nas montanhas das Minas Gerais”, o texto
incorre em inconsistência, pois contradiz o conhecimento de mundo do leitor, segundo o qual,
leite não nasce. A metáfora de nascimento é comum para água: “água pura que nasce nas
montanhas”, que traduz a ideia de origem de uma fonte, a fonte de água nasce nas montanhas.
No caso do leite, um produto extraído de seres vivos, essa interpretação é estranha ao senso
comum. A interpretação de fazenda como antecedente do que não resolveria o problema de
inconsistência, uma vez que também contradiz o senso comum dizer que uma fazenda nasce
nas montanhas das Minas Gerais. Mesmo metaforicamente, no sentido de “partir de”, se usado
para propriedade, pelo sentido de extensão, exigiria um complemento: “a fazenda nasce nas
montanhas e se estende até…”, o que não é o caso, além, de no contexto, o tema ser o leite e
não a fazenda.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 36
A questão 36 aborda compreensão leitora. É correta a alternativa (A), uma vez que a
expressão “o legítimo sabor da qualidade” realmente retoma metonimicamente “leite”. As
demais alternativas são falsas. O item (B), por exemplo, é falso porque a preposição até não
introduz um adjunto adverbial de lugar, mas sim um complemento do verbo transitivo direto e
indireto levar.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 37
A questão 37 trata do uso do artigo antes de nomes próprios. É correta a alternativa (D),
visto que, segundo o Manual do Senado, “antes de Alagoas e Minas Gerais, o artigo é
facultativo”. Como o uso do artigo não está em desacordo com a norma culta, os itens (B) e (E)
são falsos. O item (A) também é falso porque “das Minas Gerais” não é complemento nominal, e
sim adjunto adnominal. Por fim, o item (C) está incorreto por não justificar corretamente o uso
do artigo.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 41
A questão 41 trata de aspectos léxico-gramaticais do texto. É correta a alternativa (B).
No texto “A Energisa se orgulha em orientar suas operações de forma ambientalmente
responsável, seja oferecendo novas perspectivas de consumo de energia para clientes em todo
o Brasil ou mesmo reduzindo o impacto ambiental de nossas ações e iniciativas”, constitui
inadequação a mistura da conjunção “seja” com “ou”. As demais alternativas são falsas por não
apresentarem inadequações do texto. A alternativa (C), por exemplo, é falsa, porque o emprego
do pronome “suas” não causa ambiguidade no contexto, uma vez que as orações posteriores,
ao mostrar como a empresa “orienta suas operações de forma ambientalmente responsável”,
deixam claro que as operações são da empresa e não dos clientes: “oferecendo novas
perspectivas de consumo de energia para clientes”, “reduzindo o impacto ambiental de nossas
ações e iniciativas”. Acrescente-se que o texto é uma apresentação no site da empresa, o que
reforça a compreensão e retira qualquer ambiguidade.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 43
A questão 43 trata de regência verbal. É correta a alternativa (E). O verbo assistir,
segundo a norma gramatical, pode assumir regências diferentes conforme o sentido. Segundo a
regra gramatical, no sentido de “presenciar”, o verbo assistir é transitivo indireto e não admite
voz passiva. No sentido de “prestar auxílio, ajudar”, o verbo é transitivo direto e admite passiva.
Todavia, a despeito da regência indireta, o verbo assistir, mesmo no sentido de presenciar, é
frequentemente empregado na passiva, o que leva alguns autores, como Celso Pedro Luft, no
seu Dicionário de Regência Verbal, a admitirem a regência direta. Portanto, o uso do verbo
assistir na passiva ilustra a distância entre os usos e as normas gramaticais, mesmo em registro
culto, como na linguagem usada pelos jornais em manchetes de notícias e em outros gêneros
jornalísticos. Destaque-se que a expressão “registro culto”, no sentido empregado na
alternativa, é fartamente empregada em obras que tratam de variação linguística, como “O
Discurso Oral Culto” de Dino Pretti, entre outros.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Questão 48
A questão 48 trata de formatação. É correta a alternativa (C) . Segundo a norma ABNT
NBR 10520, “As citações diretas, no texto, com mais de três linhas, devem ser destacadas com
recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas”.
Para atender a essa recomendação, o recurso de formatação de parágrafo que deve ser
utilizado é o recuo esquerdo + 4 cm, o que significa que o texto estará afastado da margem
esquerda 4 cm. Nos programas de edição de texto, os recuos funcionam como margens de cada
parágrafo. Um recuo esquerdo controla a distância entre o texto e a margem esquerda da
página e pode ser negativo (maior distância à esquerda da margem esquerda) ou positivo
(maior distância à direita da margem esquerda), como se pode ver nos exemplos a seguir:
Recuo esquerdo – 2 cm: o texto ultrapassa a margem esquerda 2 cm.
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Recuo esquerdo + 2 cm: o texto se distancia da margem esquerda 2 cm na direção da
direita.
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As demais alternativas são falsas porque apresentam recursos que não teriam como
resultado o que exige a norma. A alternativa (A), por exemplo, é falsa, porque o recurso do
deslocamento controla o recuo à esquerda em relação à primeira linha e não em relação à
margem esquerda. Assim, um deslocamento de 4 cm à esquerda deixaria a primeira linha sem
recuo e as demais afastadas 4 cm em relação à primeira linha, como se vê no exemplo abaixo:
Deslocamento de 4 cm à esquerda.
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Questão 49
A questão 49 trata de conversão e gravação de documentos de texto. É correta a
alternativa (C). Na situação descrita no enunciado, o formato mais adequado é o PDF, por
preservar fontes e símbolos. As demais alternativas são falsas por apresentarem formatos
menos adequados à situação. A alternativa (B), por exemplo, é falsa porque o formato RTF,
embora possa ser lido por vários softwares, não é formato de fechamento de arquivo, o que
poderia levar à perda de dados, como fontes ou símbolos ausentes em outra máquina. Cumpre
destacar que a questão trata de conversão e gravação de arquivos e não de Redação Oficial. De
fato, o Manual de Redação da Presidência recomenda que o formato dos arquivos dos
documentos oficiais seja RTF, provavelmente devido à característica de ser compatível com
vários processadores de texto. Não há, todavia, nenhum impedimento, mesmo em caso de
documentos oficiais, de se usar o formato PDF para fechamento e posterior impressão do
arquivo, com o fim de manter formatação, fontes e símbolos originais. A questão, portanto, não
trata meramente de formatos adequados ou inadequados, mas de formato mais adequado para
a versão final de um documento que precisa ser impresso em máquina distinta daquela em foi
produzido.
Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o
gabarito oficial.
Fortaleza, 07 de dezembro de 2015.
Profa. Maria de Jesus de Sá Correia
Presidente da Coordenadoria de Concursos – CCV
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parecer revisor de texto - CCV