A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO REGIÃO METROPOLITANA: APENAS UMA ESTRUTURA TERRITORIAL LEGALIZADA? DÉBORA FERREIRA DA CUNHA1 Resumo: Partindo do suposto que uma região metropolitana é uma estrutura territorial complexa, a princípio, formada pela concentração de população e de atividades econômicas, que geram oferta e demanda de bens e serviços, em geral, em uma grande cidade, consequência de decisões estratégicas. No Brasil, as regiões metropolitanas são instituídas pelos Estados, mediante lei complementar, seguindo um movimento resultante desta concentração e da aglomeração em torno da grande cidade, geralmente uma metrópole, formando unidades territoriais legalizadas. Assim sendo, o presente trabalho pretende refletir teoricamente sobre “região metropolitana”, utilizando a definição do termo estabelecida na legislação brasileira, mais especificamente pelo Estatuto da Metrópole, aprovado recentemente pela Lei nº. 13.089, de 13/01/2015. Palavras-chave: Região metropolitana, Brasil, legislação. Abstract: Assuming that the notion that a metropolitan area is a complex territorial structure, principle, formed the concentration of population and economic activities, which generate supply and demand of goods and services in general, in a big city, a result of strategic decisions. In Brazil, the metropolitan areas are established by the States through complementary law, following a resulting movement of this concentration and agglomeration around the big city, usually a metropolis, forming legalized units. Therefore, this study aims to theoretically reflect on the definition of "metropolitan area" from the definition of the term established by Brazilian legislation, specifically by the Metropolis Statute, recently approved by Law nº. 13.089, of 01.13.2015. Key-words: Metropolitan area, Brazil, legislation. 1 – Introdução As delimitações de regiões metropolitanas no Brasil iniciaram nos anos 1960, com base em um estudo realizado pelo IBGE, que à época constitui um Grupo de Áreas Metropolitanas, para identificação e delimitação de áreas metropolitanas no país, a partir da aplicação de critérios aos dados do Censo de 1970, orientada por métodos estatísticos e noções teóricas sobre a urbanização e a metropolização (FAISSOL et al. 1969). Na década de 1970, com base neste estudo desenvolvido pelo IBGE, foram criadas as nove primeiras Regiões Metropolitanas do Brasil. A Lei Complementar nº. 14/1973 criou oito regiões metropolitanas: São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás, Docente da Faculdade de Ciências Sociais/UFG, bolsista Fapeg. E-mail de contato: [email protected] 5944 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém. No ano seguinte, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro foi instituída pela Lei Complementar n. 20/1974. Na década de 1980, a Constituição Federal de 1988, facultou aos Estados, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Em janeiro de 2015 foi instituído pela Lei 13.089 (BRASIL, 2015), o Estatuto da Metrópole, que manteve os Estados como responsáveis pela instituição das “regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, constituídas por agrupamento de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum” (Art. 3º). Entre o final da década de 1980 e de 2010 foram criadas 27 regiões metropolitanas (RM) e 3 regiões integradas de desenvolvimento (RIDE). Depois de 2010, o número tem sido modificado constantemente, segundo levantamentos do Observatório das Metrópoles, há uma proliferação das RM´s nos Estados, em 2015, antes da aprovação do Estatuto da Metrópole já somam 73 RM´s. Neste trabalho é colocado o desafio de refletir teoricamente sobre região metropolitana, organizando alguns conceitos e questões que são fundamentais em relação à sua natureza. Para isto, utiliza-se a definição de região metropolitana estabelecida no Estatuto da Metrópole: “uma aglomeração urbana que configure uma metrópole” (BRASIL, 2015), para observar suas implicações teóricas metodológicas, considerando os seguintes elementos conceituais: região em sua noção de regere, estruturas urbanas e metrópole. Na primeira seção do trabalho parte-se de uma discussão do conceito de região, pois uma região metropolitana é um recorte político-espacial que resulta em uma região, que se denomina metropolitana em função de envolver uma metrópole (ou uma grande cidade) e distintos centros urbanos, formando uma aglomeração urbana – a região (metropolitana). Em seguida, na segunda seção são abordadas as estruturas urbanas mais frequentes nos sistemas de cidades. E na última seção discute-se o conceito de metrópole e de região metropolitana. Entre muitas definições, a metrópole é: 5945 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO corporativa e fragmentada; uma cidade que possui uma base econômica diversificada; polos de concentração de riquezas e do poder econômico; lugar de profundas transformações; trata-se de uma massa contínua de ocupação humana e de edificações contíguas sem paralelo no globo (Santos (2001), Pujadas e Font (1998), Ascher (1998), Carlos (2001), Moraes (2006)). E qual é o conceito de região metropolitana? 2 – O conceito de região – noção de regere Nesta seção do trabalho busca-se resgatar o conceito de região, a partir da noção de regere, como marco teórico e instrumental, pois a estrutura urbana – região metropolitana é resultado de um recorte político-espacial, de uma regionalização. Trata-se de uma discussão que é tradicional na Geografia, mas que requer novas perspectivas teórico-metodológicas que sejam capazes de compreender as configurações territoriais e as dinâmicas sociais. Assim, recuperando a origem da palavra região derivada do latim regio, sua raiz está no verbo regere, governar, comandar, o que atribui à região, em sua concepção original, uma conotação eminentemente política (CORRÊA, 2010). A origem etimológica do termo região faz alusão a recorte ou delimitação – área sob certo domínio. Entretanto, o conceito de região é pouco problematizado nos debates e pesquisas metropolitanas. Arrais (2012, p. 17) chama a atenção “a noção de regere é pouco referida nos estudos metropolitanos”. Nesse sentido, em que medida o conceito de região tem sido considerado nas pesquisas metropolitanas? O conceito de região foi amplamente utilizado para fins de ação e controle no decorrer da prática política e econômica da sociedade de classes. A Antiguidade fornece exemplos da criação de região em contexto de conquista territorial. No capitalismo, as regiões de planejamento são unidades territoriais pelas quais é aplicado um discurso da recuperação e desenvolvimento, que não expressa as desigualdades regionais constituídas pelo modo de produção capitalista. Em consequência, o processo de regionalização se desenvolveu a partir de referências variadas. Primeiramente, as regionalizações se identificaram com a administração territorial e política. Em seguida, foi o critério natural o mais relevante. 5946 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Com a percepção de que a natureza não seria o único determinante na conformação regional, buscava-se um critério considerado mais científico, assim, foram concebidas propostas a partir do critério econômico e de outros critérios. Depois, surgiram propostas que consideram a identidade entre região e espaço vivido e a compreensão da regionalização como produto da divisão territorial do trabalho. Contudo, a região é uma das mais tradicionais categorias de análise da ciência geográfica, que enfrenta desafios e adota novas formas em seus conceitos, respondendo às necessidades impostas pelo processo de globalização. Diante das inúmeras relações (a parte e o todo ... o global e o local ...) passíveis de serem trabalhadas para uma questão ou abordagem regional, torna-se um desafio estudálas em uma época de tão pouco consenso sobre a relação entre as partes (regional) e o todo (global). Gomes (1995) ao fazer uma breve reconstituição histórica do conceito de região percebeu três consequências principais: o conceito de região tem implicações fundadoras no campo da discussão política, da dinâmica do Estado, da organização da cultura e do estatuto da diversidade espacial; o debate sobre a região possui um evidente componente espacial, relacionado especificamente às projeções no espaço das noções de autonomia, soberania, direito(s) etc., e de suas representações; finalmente, entende-se que a geografia foi o campo privilegiado destas discussões ao abrigar a região como um dos seus conceitos-chave e ao tomar para si a tarefa de produzir uma reflexão sistemática sobre o tema. Questões relevantes como a urbanização, a industrialização e a centralização, impuseram novas referências na análise regional: fluxos, rede urbana, área de influência de uma cidade e polarização. O desenvolvimento dessa perspectiva na Geografia significou o abandono da ideia de região como síntese dos aspectos naturais e humanos para se vincular à de organização do espaço. Assim, as análises das funções urbanas e regionais, da hierarquia dos lugares, da concentração espacial das atividades e da divisão do trabalho, passaram a compor o estudo regional (LENCIONI, 2003, p. 141). 5947 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3 – Estruturas urbanas A recente história da urbanização é caracterizada pela consolidação de grandes aglomerações que transformam a escala e a configuração das cidades. Os processos metropolitanos alteram profundamente vários aspectos da vida social, de forma ampla, sejam políticos, culturais e econômicos. No entanto, a sua expressão territorial é uma das características mais visíveis e marcantes. Segundo Gaspar (2011, p. 68) “a urbanização brasileira seguiu um ritmo acelerado, concentrando pessoas e recursos em metrópoles e cidades médias, em faixas seletivas do território nacional, formando centralidades urbanas”. O processo de urbanização tem responsabilidades pela formação da estrutura urbana do espaço, gerador de alterações e transformações nas cidades, e em suas inter-relações funcionais e sociais. Deste modo, estrutura urbana e função são duas realidades de ordem e natureza distintas, porém fortemente inter-relacionadas. A complexidade funcional é distinta entre os centros urbanos e depende do grau de articulações entre eles. Uma estrutura urbana é formada a partir das diferentes posições, características, funções urbanas e inter-relações existentes entre as cidades do sistema urbano. Precedo (1990, p.88) apresentou algumas tipologias de estruturas urbanas mais frequentes, esquematizadas abaixo: Área Urbana É uma aglomeração simples, estrutura espacial e funcional monocêntrica Megalópolis É a extensão e intensidade espacial da urbanização, alcançando dimensões suprarregionais, com estrutura espacial e funcional polinuclear Área Metropolitana Estruturas Urbanas Um conjunto formado pela metrópole e centros urbanos integrados na cidade central. Um espaço monocêntrico e hierarquizado Precedo (1990) Região Urbana Conurbação É uma estrutura complexa inter-urbana, formada por uma rede de centro urbanos dispersos, funcionalmente constituída como um espaço unitário É uma área urbanizada contínua, formada pela junção de dois ou mais centros urbanos, separados e autônomos em sua fase inicial. 5948 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Algumas das tipologias de estruturas urbanas descritas por Precedo originamse de importantes contribuições conceituais, tais como: as conurbações (P. Geddes, 1915), área metropolitana/região metropolitana (U.S. Census Bureau, 1940), megalópole (J. Gotmann, 1964). Ascher (1998) propôs uma nova denominação “metápole”, para explicar os processos espaciais da metropolização “um fenômeno que ultrapassa as metrópoles”. Assim, Ascher define metápole como o conjunto de espaços em que a totalidade ou parte dos habitantes, das atividades econômicas, ou dos territórios, está integrada no funcionamento cotidiano de uma metrópole. 4 – Metrópole e Região Metropolitana O termo metrópole é utilizado tanto para designar o núcleo central e condutor de uma área metropolitana, como para indicar uma grande cidade que não formou ao seu redor uma estrutura espacial do tipo metropolitano. A literatura apresenta variadas definições de metrópole, como algumas no Quadro 1: Quadro 1 – Definições de Metrópole Sorre (1952) Hall (1966) Veltz (1993) Ascher (1998) Pujadas e Font (1998) Santos (2001) Moraes (2006) A metrópole é um lugar da mais alta expressão. Para definir a metrópole utilizou o conceito de cidade mundial. A metrópole é um lugar de diversidade e capacidade de renovação do ciclo de vida. As metrópoles são polos de concentração das riquezas e do poder econômico. As metrópoles concentram também atividades estratégicas e avançadas. Encontram-se nas metrópoles dos capitais, dos valores fundiários e imobiliários, dos níveis mais elevados do PIB, grandes proporções de população pobre, desempregada e “excluída”. Uma metrópole é por definição uma cidade que possui uma base econômica diversificada, bem dimensionada e com uma orientação preferencialmente para as atividades terciárias. A metrópole é corporativa e fragmentada, compõe-se de espaços luminosos, expressão máxima da modernização, e de espaços opacos – periferias, lugares da exclusão dessa modernização. A metrópole é uma forma histórica de organização do espaço geográfico. A forma pela qual expressa o maior nível de adensamento populacional existente na superfície terrestre. Trata-se de uma massa contínua de ocupação humana e de edificações contíguas sem paralelo no globo. Uma aglomeração de pessoas e de espaços socialmente construídos, de magnitude ímpar na história. O fato metropolitano é, portanto, temporal e especialmente singular, expressando uma particularidade do mundo contemporâneo. Fonte: Elaboração própria. 5949 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Sendo assim, percebe-se que metrópole é um conceito polissêmico, com vários significados. Lencione (2006) destacou alguns pontos comuns para o conceito, independente da interpretação: a ideia de que a metrópole se constitui numa forma urbana de tamanho expressivo, quer relativo ao número de sua população, quer em relação à sua extensão territorial; a metrópole tem uma gama diversa de atividades econômicas, destacando-se a concentração de serviços de ordem superior; consiste num lócus privilegiado de inovação; constitui um ponto de grande densidade de emissão e recepção dos fluxos de informação e comunicação, e, se constitui em nó significativo de redes, sejam de transporte, informação, comunicação, cultura, inovação, consumo, poder ou, mesmo, de cidades. Geralmente, as metrópoles representam o núcleo irradiador das novas dinâmicas urbanas – o setor de serviços produtivos e financeiros – é altamente especializado e globalmente conectado. Mesmo que sua localização espacial ocupe pequena dimensão territorial, é dele que emanam os padrões contemporâneos de estruturação social e produção do espaço. A polarização social, a segregação socioespacial, a dominação financeira da economia e os parâmetros comportamentais nele encontram sua referência central. No Brasil, destaca Gaspar (2011, p. 69) “as metrópoles experimentam mudanças profundas no seu tecido urbano e produtivo, que reforçam – em uma nova configuração – sua polaridade econômica e demográfica”. E a região metropolitana? Existem várias definições de área metropolitana2. Os precursores do conceito foram os EUA, que utilizaram primeiro o conceito de área metropolitana (cidade com mais de 200.000 habitantes), em 1910, com base nos dados do U.S. Census 2 - A noção de área metropolitana apareceu para fins estatísticos de organização nos Estados Unidos (1910) para delimitar uma área urbana de alta concentração de população (U.S. Census Bureau). 5950 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Bureau, por meio de critérios para sua definição. A partir do recenseamento de 1940 eles adotaram o conceito de Região Metropolitana, o conceito e sua respectiva delimitação territorial eram utilizados para fins estatísticos. Outros países adaptaram o conceito dos EUA para delimitar as suas áreas metropolitanas, como a Espanha e a França, que usam o termo para fins estatísticos. No Reino Unido, Portugal e Itália, utilizam-se o conceito para fins de gestão territorial. Já no Brasil, uma Região Metropolitana corresponde a uma unidade territorial definida institucionalmente, como as nove RMs institucionalizadas na década de 1970 por Lei Complementar ou as atuais definidas pelas legislações dos estados brasileiros, com finalidade, composição e limites determinados. Entretanto, apesar da existência de todo um arcabouço legal, as unidades territoriais existem legalmente, mas não existe gestão metropolitana. De acordo com Abrantes (2011), conceitualmente uma área metropolitana é a forma de organização territorial da metrópole que pode ser feita para fins administrativos, políticos, estatísticos (por exemplo, aplicações bacias de emprego) ou de gestão. Por isso, corresponde a uma regionalização, a delimitação do território da cidade e, consequentemente, o processo metropolização. Para Castells (1983), a região metropolitana, enquanto forma central de organização do espaço do capitalismo avançado diminui a importância do ambiente físico na determinação do sistema de relações funcionais e sociais, anula a distinção rural e urbana e coloca em primeiro plano da dinâmica espaço/sociedade, a conjuntura histórica das relações sociais que constituem sua base. Já Santos (2001, p. 75) compreende as regiões metropolitanas como: Áreas onde diversas cidades interagem com grande frequência e intensidade, a partir de uma interdependência funcional baseada na unidade das infraestruturas urbanas e nas possibilidades que esse fato acarreta para uma divisão do trabalho interna bem mais acentuada que em outras áreas. Braga (2005) chama a atenção que tanto a aglomeração urbana, como a região metropolitana, são elementos de gestão territorial, porém, com diferenciações e especificidades em seus instrumentos de gestão e suas atribuições. Sobre suas especificidades, Braga (2005, p. 2251) sintetiza: 5951 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A diferença essencial entre essas duas figuras de gestão territorial é o caráter executivo, presente na região metropolitana e inexistente na aglomeração urbana. Este caráter é conferido pela autarquia de planejamento metropolitano, que nas regiões metropolitanas exerce um papel fundamental, conferindo, ao menos em tese, agilidade e flexibilidade às ações de planejamento e execução das funções públicas, na medida em que torna possível arrecadar receitas próprias, executar e fiscalizar projetos, promover a desapropriação de bens de utilidade pública. Não tendo tais competências a aglomeração urbana torna-se uma entidade dotada de baixa resolução administrativa, pois o Conselho de Desenvolvimento não possui personalidade jurídica própria, nem autonomia para a execução das políticas públicas, ou mesmo arrecadar receitas próprias ou de transferência. As aglomerações urbanas, desse modo, não se constituem em autoridades públicas, seu papel é meramente consultivo, não vinculando os atos das administrações municipais, tampouco, os do governo estadual. Desse modo, a criação de uma aglomeração urbana não implicaria, concretamente, em ganho algum, no sentido de uma maior capacidade de gestão intermunicipal. O Estatuto da Metrópole (BRASIL, 2015), que considera: “aglomeração urbana” uma unidade territorial urbana constituída pelo agrupamento de dois ou mais municípios limítrofes, caracterizada por complementaridade funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e socioeconômicas. A “metrópole” um espaço urbano com continuidade territorial que, em razão de sua população e relevância política e socioeconômica, tem influência nacional ou sobre uma região que configure, no mínimo, a área de influência de uma capital regional, conforme os critérios adotados pelo IBGE. E a “região metropolitana” uma aglomeração urbana que configure uma metrópole. Tais expressões com significados diferentes, com poucos pressupostos metodológicos e ausência de autoridades/instituições político-administrativas para assumir novas realidades territoriais, supõe certa invisibilidade de suas características e processo, fatos que poderiam ser a base para uma adequada definição e delimitação. Como tornar o conceito de região metropolitana uma construção intelectual, uma referência para apreensão do real? 5952 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 5 – Considerações Finais Este trabalho teve por objetivo refletir teoricamente sobre região metropolitana, utilizando a definição estabelecida na legislação brasileira: “região metropolitana uma aglomeração urbana que configure uma metrópole” (BRASIL, 2015), organizando alguns conceitos e questões que são fundamentais em relação à natureza de região metropolitana, tais como: região em sua noção de regere, estruturas urbanas e metrópole. Do ponto de vista do método parte-se de um conceito mais geral, o de região – noção regere, que forma uma estrutura urbana complexa, a região metropolitana, até o conceito mais particular, o de metrópole, como desdobramento da definição legal. O conceito de região é enfocado a partir da noção de regere, que remete a comando, a domínio, a poder, ou, a governo, a influência, a atribuição, no caso de região metropolitana, de gestão compartilhada, denominada pelo Estatuto da Metrópole de “governança interfederativa” (BRASIL, 2015). Portanto, as regiões metropolitanas, enquanto regiões, não preexistem aos fatos que a fizeram surgir, elas são acontecimentos históricos, políticos, estratégicos, de disputas, de conflitos, de lutas, de vitórias e de derrotas. Assim, uma região metropolitana não é apenas uma realidade natural, econômica ou política; é uma construção histórica cultural que se faz a partir e levando em conta outras dimensões. Por isso, uma região metropolitana é uma estrutura territorial urbana complexa, um recorte político-espacial que envolve uma metrópole e distintos centros urbanos que requer institucionalização para seu funcionamento. Parecem evidentes os problemas destacados nestas áreas, mas elas não podem ser apenas vitrines, para serem expostas e observadas, tais estruturas territoriais legalizadas requer tratamento específico e ação, tal como exige o recorte regional. O trabalho buscou ser uma contribuição para a compreensão da definição de região metropolitana a partir destas questões e elementos conceituais de região, de estruturas urbanas e de metrópole, fundamentais para análise urbana metropolitana. 5953 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 6 – Referências Bibliográficas ABRANTES, Patrícia. La Métropolisation au Portugal: Processus et Politiques Spatiales. Lisboa: CEG-UL, 2011. ARRAIS, Tadeu A. A escala de análise metropolitana em questão: considerações sobre o processo de metropolização. Revista do Departamento de Geografia – USP, volume 24, p. 4-23, 2012. ASCHER, François. Metápolis. Acerca do futuro da cidade. Tradução de Álvaro Domingues. 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