CAPÍTULO 2
CARACTERIZAÇÃO ENQUANTO REGIÃO
Mariângela Alice Pieruccini1
Ronaldo Bulhões 2
1
Docente do Curso de Ciência Econômicas – UNIOESTE – Campus de Cascavel
2
Docente do Curso de Ciências Econômicas – UNIOESTE – Campus de Cascavel (Organizador)
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2.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo tem como objetivo uma discussão acerca da evolução da Mesorregião
Oeste do Paraná enquanto região, isto é, busca-se o entendimento das implicações desta
região em relação à organização do espaço local,3 .
Portanto, admitindo ser a região “um espaço organizado”,4 faz-se necessário, antes do
início da discussão acerca da evolução do Oeste do Paraná, enquanto região, uma breve
exposição sobre espaço e organização do espaço.
As especificidades que resultam da combinação entre homem e natureza, organizam
um espaço e definem, portanto, uma região, podendo a mesma ser analisada sob diferentes
conceitos e critérios. A observação mais atenta destes critérios é de extrema importância,
porque proporciona, nestes termos, uma descrição mais completa das características mais
relevantes em cada território.
Também, a partir da análise da evolução da região Oeste do Paraná, obtém-se o
entendimento sobre a configuração atual deste espaço econômico,5 no qual estão inseridas as
atividades agroindustriais. Justifica-se, assim, a importância do estudo da evolução do Oeste,
enquanto região, visto que, segundo ROLIM (1995, p.50): “A estruturação territorial de uma
sociedade decorre das grandes transformações que ela sofre”.
Toma-se, também, como referência para as necessárias observações deste item, o
artigo de MUNIZ FILHO (1996, p.149-173) sobre a divisão regional do Paraná. Este autor
aborda os diferentes critérios pelos quais passou este Estado, em termos de planejamento
territorial, até 1989.
Dentre estes critérios, o autor relaciona, também, o aspecto da
polarização, ou seja, a existência
dos centros regionais por excelência. Cidades como
3
De acordo com MORO (1990, p.8): “[...] a organização do espaço envolve o estudo das relações, das
combinações, das interações, das conexões, das localizações que se processam de forma dinâmica no quadro
de uma unidade espacial, entre os diversos elementos que as constituem, bem como as que se verificam entre
as unidades espaciais.”
4
Esta definição de CHOLEY foi apresentada por MORO, em 04/03/97, quando da discussão de questões
relativas ao espaço, região e regionalização.
5
Por espaço econômico considera-se importante atentar para a definição dada por PERROUX (1967). A mesma
é apresentada de forma mais detalhada na seqüência deste item.
50
Cascavel, Toledo, Marechal Cândido Rondon e Foz do Iguaçu, apresentam esta característica
em relação à região Oeste. Caberia a menção de alguns pontos que tratam do fenômeno da
polarização mencionados por autores como PERROUX (1967).
Através destas caracterizações, apresenta-se a região Oeste, resgatando-se,
inicialmente, algumas definições acerca de espaço e organização do mesmo.
2.2 O CONCEITO DE REGIÃO: DIFERENTES PERSPECTIVAS DE ANÁLISE
No trabalho de PONTES (1987, p.324), entende-se que a região e a regionalização
relacionam-se ao “conceito de espaço como um produto da sociedade.” A autora subjuga a
questão do espaço e da região à hegemonia do capital, aos diferentes estágios do
desenvolvimento capitalista e procede sua análise nestes termos.
Deste modo, o espaço geográfico pode ser definido também, segundo essa autora
como “o suporte de uma sociedade e de uma economia, e como tal, o referido é objeto de
apropriação e lugar onde se desenvolvem as estratégias dos grupos sociais.”
Nesta interpretação admite-se que “os espaços e suas sociedades podem ser
conceituados como regiões.” (PONTES, 1987, p. 324).
Também ANDRADE (1973, p.31) aborda em seu trabalho esta questão, afirmando
“que o homem costuma dividir o espaço de acordo com as características que apresenta em
suas várias porções, levando em conta, sobretudo, as características oriundas da influência das
condições naturais e do aproveitamento do espaço.”
É através destas características que ocorre a diferenciação das paisagens, tornando-se
possível o estudo da organização do espaço.
A primeira justificativa para a inserção dos aspectos relacionados à organização do
espaço, pode ser encontrada em ANDRADE, citado por MORO (1990, p.2) onde o autor
menciona a contínua transformação da realidade, afirmando que: “no momento histórico em
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que vivemos, de vez que as definições e os objetos das ciências não são imutáveis, sofrem
transformações com as mudanças que se operam na sociedade e na natureza, ou melhor, a
forma como a sociedade organiza o espaço terrestre, visando melhor explorar e dispor dos
recursos da natureza”.
Nesta definição, cabe, também, lembrar que nas transformações, sofridas pela região
Oeste do Paraná, a sociedade que ali se organizou e continua a fazê-lo de forma contínua,
proporcionou, mediante a utilização dos recursos naturais, uma ampla dinamização na
produção agrícola, relacionada em grande parte à agroindústria local.
À esta organização RITTER citado por MORO (1990, p.6) define a “existência de uma
multiplicidade de fenômenos heterogêneos que, quando em combinação dão unidade e
coerência a uma área.”
Ainda em relação aos diferentes conceitos que se apresentam a partir da definição de
espaço, dois merecem especial consideração: o próprio conceito de organização do espaço e
também a organização espacial. CHRISTOFOLETTI citado por MORO (1990, p.8), define
esta questão de semântica:
A organização espacial indica a existência de uma unidade resultante, de um produto
terminal, possível de ser delimitado na superfície terrestre. A organização do espaço
refere-se à dinâmica e aos processos que promovem a organização do espaço,
denunciando mecanismos geradores para atingir um produto. Obviamente, o estudo da
organização espacial automaticamente inclui a análise dos processos e mecanismos
responsáveis pela organização do espaço. (CHRISTOFOLETTI apud MORO, 1990,
p.8)
A análise deste trabalho recai, portanto, nas questões relativas à organização do espaço
do Oeste do Paraná, no que tange às modificações proporcionadas pelos diferentes padrões
agroindustriais que ali são verificados. Para LABASSE, citado por MORO (1990, p.10) estas
questões voltam-se, especificamente, ao controle da evolução das paisagens rurais e urbanas.
De um modo mais estrito, é relevante a verificação da existência de correlação entre as
atividades agrícolas da região e a agroindústria local. Isto interessa na medida em que
contribui para a formação de uma dinâmica própria, responsável pela atual configuração da
região Oeste, voltada, economicamente, à atividade agrícola, com um setor industrial em
muito atrelado ao processamento dos produtos gerados por esta agricultura. É esta a dinâmica
52
responsável pela formação desta região, isto é, através da organização deste espaço, concebese a região Oeste. “A expressão organização do espaço, por outro lado, só adquire sentido
quando expressa o resultado da ação do homem organizando o espaço.” (CHOLLEY, apud
MORO 1990, p.12).
Acrescenta-se, também, que o espaço, enquanto organização, é um processo e, como
tal, está em permanente transformação. MORO (1990, p.13), a este respeito, descreve o
pensamento de ANDRADE: “[...] refletir levando em conta que o espaço nunca está
organizado de forma definitiva, que ele não é estático, ao contrário, é profundamente
dinâmico e vai se modificando dialeticamente de forma permanente.”
Portanto, é dentro do contexto de espaço organizado que se apresenta uma região, e
mais, é através da combinação do potencial natural e humano que pode ser resgatada a um
dos aspectos da evolução do Oeste, enquanto região, pois isto reflete a ação do homem sobre
o meio, gerando especificidades próprias no espaço local.
Assim, inicialmente o conceito de região pode ser considerado flexível, segundo
FRIEDMANN (1960, p.33), podendo corresponder a grande variedade de significações. Este
autor continua sua análise, afirmando: “ [...] nossa definição de região terá de ser
extremamente geral, podemos dizer que uma região é uma área delimitada de acordo com
certos critérios; teremos regiões diferentes, segundo os critérios que decidirmos utilizar.[...]
Não se pode falar numa região melhor6 nem numa melhor definição de certa região.”
FRIEDMANN (1960, p.33) propõe, em virtude da flexibilidade do conceito, que a
própria delimitação regional pode ser modificada à medida em que se definam novas
finalidades e circunstâncias
diversas. Complementando este conceito, pode-se afirmar,
também, que o conceito de região é “dinâmico e subjetivo”. (GUIMARÃES apud ANDRADE
1973, p.37).
Uma das conceituações sobre região que, também, merece ser destacada, é a que
apresenta a divisão espacial do trabalho como um dos fatores que podem determinar uma
6
grifo do autor.
53
região. A este respeito ROLIM (1995, p.50) afirma que esta espacialidade relaciona-se “com a
formação de sub-unidades de produção com uma certa especialização, em âmbitos territoriais
restritos e diferenciáveis, pertencentes a um sistema de produção social.”
Para a questão relativa à espacialidade das atividades econômicas, este autor considera
importante a noção conceitual de região, mesmo sabendo das dificuldades relativas à
construção deste conceito.
Também HESPANHOL (1996, p.14), utilizando-se da análise de LIPIETZ, menciona
as diferenciações que decorrem da formação de sub-unidades de produção. Afirma, deste
modo que “a estruturação do espaço, como produto da articulação dos modos de produção,
depois como produto do desdobramento do capital monopolista baseado no desenvolvimento
desigual, aparece [...] como produto das leis imanentes do materialismo histórico e, mais
particularmente da acumulação do capital.”
Em sua análise, ROLIM (1995, p.50) citando CORAGGIO, conclui: “[...] uma vez
decifrados os processos gerais de espacialidade de uma determinada sociedade, é possível
delimitar concretamente as suas regiões, já que a entendemos como o locus de um
determinado sub-processo social ou como uma área onde determinadas características tenham
uma relativa homogeneidade.”
Esta homogeneidade, tratada pelo autor, traduz-se na prática, como um dos critérios
utilizados para a definição de uma região, sendo denominada região homogênea7. Ao outro
aspecto, relacionado aos sub-processos sociais, apresenta-se a definição dada por SANTOS,
no trabalho de PONTES (1987, p.325), onde este autor coloca a região como “o locus de
determinadas funções da sociedade total em um momento dado.” A autora complementa esta
observação afirmando que “a cada momento histórico, a região ou um subespaço do espaço
nacional total, aparece como o melhor lugar para a realização de um certo número de
atividades.”
7
o entendimento sobre o critério homogêneo é visto na seqüência deste item.
54
PONTES (1987, p.325) apresenta ainda a definição estabelecida por DUARTE, onde a
região é vista como “uma dimensão espacial das especificidades sociais em uma totalidade
espaço-social.”
Caracteriza-se, deste modo, que a construção do todo contém inúmeras características
que são responsáveis pela não homogeneização de um espaço maior. A autora, afirma,
também, que muitos espaços podem não constituir-se em regiões se sofrerem influência de
sociedades ditas exógenas àquele local.
Através destas definições, podem então ser estabelecidos critérios para uma divisão
regional, e estes critérios obedecem a finalidades específicas. Procura-se assim, apresentá-los
em relação às diferenças existentes, quando da adoção de cada um em especial. Vale lembrar
neste sentido que: “A região é um todo orgânico e como tal deve ser planejada”.
(FRIEDMANN, 1961, p.55).
2.3 CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DAS DIVISÕES REGIONAIS
Ainda em FRIEDMANN (1961, p.34), existem dois tipos de critérios que podem ser
utilizados em uma análise regional, a saber: critérios de homogeneidade e critérios de
interação. Quanto ao primeiro, o autor destaca a região concebida de acordo com uma de suas
características, podendo ser, clima, vegetação, topografia, solos, hidrografia, tipo de
agricultura, cultura, entre outros aspectos. Como crítica a este critério, o autor assim a expõe:
“Embora, na verdade muitas características de uma mesma região se apresentem interrelacionadas, [...] muitas dessas tentativas falham em conseguir razoável harmonia de
opiniões sobre as linhas exatas por onde deveriam passar os limites regionais.”
Já no que concerne às regiões de interação, o autor as delimita como na base da ação
recíproca das atividades sociais e econômicas. Na visão de FRIEDMANN (1961, p.34), isto
ocorre porque “estas atividades sociais e econômicas se orientam rumo a centros de atividades
(cidades) e que algumas áreas são orientadas de modo mais intenso na direção de um centro
do que na de outro.”
55
Portanto, neste critério incluem-se: mercadorias e serviços, tráfego, investimentos de
capitais, além de outros aspectos.
Especificamente, para as regiões homogêneas, têm-se as bacias hidrográficas; estas
caracterizadas pelo autor como um tipo de região cada vez mais comum, sendo porém um
conceito tido como ambíguo8. A este respeito, ANDRADE (1973, p.33) afirma que a “idéia
de se estabelecerem os limites regionais a partir das bacias fluviais deveu-se em muito, ao fato
de serem os rios ainda, as principais vias de penetração.”
Outro tipo de região, inserida no critério de homogeneidade, é a região que se baseia
no solo, vegetação e/ou clima e, geralmente, objetiva a organização de dados básicos para
facilitação de análises posteriores. Baseia-se, portanto, no critério que define a região por
área de extensão de um elemento natural. Além destes dois tipos de região, o critério de
regiões homogêneas contém, também, as regiões culturais, absorvendo gostos, valores e
costumes de determinada sociedade.
Quanto ao critério de interação, algumas regiões podem ser estabelecidas. Entre estas,
destaca-se a região urbana9. Para FRIEDMANN (1961, p.37) a mesma não passa de uma
extensão da cidade propriamente dita, podendo incluir também áreas predominantemente
rurais. O importante nesta caracterização é que “[...] a economia da área que circunda a cidade
é sempre estreitamente ligada à da própria cidade.”
O que o autor descreve é que, para as regiões urbanas, o que interessa são as interações
das atividades sociais e econômicas, não, necessariamente, levando-se em conta as fronteiras
políticas.
Outra região de interação que pode ser estabelecida refere-se às regiões de
interdependência. Esta caracteriza-se à medida em que certos fluxos são eliminados e outros
ganham importância. O que FRIEDMANN (1961, p.38) afirma a este respeito é que:
8
Neste aspecto, a bacia hidrográfica pode compreender um rio de grandes proporções, como um pequeno rio
afluente de um outro maior. O interessante é que os projetos de desenvolvimento regional podem ser
elaborados a partir das bacias hidrográficas.
9
A região urbana em muito se assemelha ao conceito de região polarizada descrito por PERROUX (1967)
abordado na seqüência deste sub-item.
56
[...] à medida em que nos afastamos da cidade central, as relações sociais e comerciais
entre as áreas por nós atingidas e a referida cidade se tornam progressivamente mais
fracas, enquanto já se vai sentindo a influência de uma outra cidade. [...] Será
importante indicar que as cidades e regiões urbanas se nos apresentam como que em
ordem hierárquica, as cidades maiores ‘dominando’ as menores, por prestarem um
número maior de serviços a uma área mais ampla.10
Outra caracterização acerca dos diferentes critérios de regiões que merece ser
destacada é apresentada por ANDRADE (1973). Dentre os inúmeros aspectos que
possibilitam a diferenciação dos espaços, a saber, contingências históricas e políticas,
fronteiras, destaca-se a divisão político-administrativa, inserida no critério histórico-político.
Segundo este autor, “[...] a divisão político administrativa, colocando áreas de maior ou
menor expressão territorial sob a influência de um centro de decisões, vem contribuir para
caracterizar certas porções, provocando novas delimitações quanto à organização do espaço,
adoção de língua, costumes e de organização política, etc.” (ANDRADE, 1973, p. 31).
A crítica, estabelecida pelo autor, refere-se ao fato de que, neste critério,
desconsideram-se fatores importantes, tais como, as condições naturais, demográficas e
econômicas que implicam, também, na formação da paisagem.
Sobre as regiões naturais, inseridas no critério geográfico, ANDRADE (1973, p.34)
destaca o trabalho elaborado por RICCHIERI, como contribuição à evolução do pensamento
geográfico. Para este geógrafo, as regiões podem ser divididas em três regiões, a saber:
elementar, calcada, geralmente, em apenas um fenômeno, região geográfica complexa, que
compreende áreas sobre as quais se superpunham várias regiões elementares, e a região
integral, definida como um conjunto de regiões complexas. Destaca-se que as três regiões
definidas, têm caráter basicamente natural, conforme propõe ANDRADE (1973, p.35), dando
grande importância aos elementos físicos e quase desconhecendo a influência dos fatores
humanos.
Quanto à definição de região geográfica, ANDRADE (1973, p.37) apresenta o
trabalho realizado por CHOLLEY ,onde a região é conceituada como: “[...] primeiro, o
resultado de uma organização, conseqüente da presença do homem e segundo, a circunstância
10
Em função disto FRIEDMANN (1961) conclui que na análise regional buscam-se identificar a capital regional
e depois as cidades subsidiárias com suas ‘áreas tributárias’.
57
de ser o conceito eminentemente dinâmico, não podendo ser confundido, quer quanto à sua
escala, quer quanto suas características.”
Em sua visão, (ANDRADE, 1981) afirma que a região implica em um princípio de
organização. As regiões geográficas congregam, a partir desta definição, tanto a organização
do espaço, que surge de acordo com as necessidades humanas, quanto os aspectos relativos ao
domínio físico. A diversificação no tempo e no espaço está implícita nestes pontos.
A noção de espaço, volta a ser destacada quando se identifica um outro tipo de região,
chamada região econômica, inserida no contexto da Nova Geografia11.
HESPANHOL (1996, p.10) observa este tipo de região, inserindo-a na perspectiva da
Escola da Centralização12, citando autores como PERROUX (1967) e HIRSCHMAN (1958).
PERROUX (1967)13 afirma que os espaços econômicos definem-se em função da
polarização, planificação ou homogeneidade de suas estruturas, ou seja, definem-se pelas
relações econômicas entre elementos econômicos. Deste modo encara o conceito sob três
diferentes visões, a saber: o espaço econômico como conteúdo de um plano, o espaço
econômico como um campo de forças e o espaço econômico como um conjunto homogêneo,
surgindo, assim, três tipos de regiões econômicas, região plano, região polarizada e região
homogênea.
Interessa, portanto, uma breve discussão acerca do entendimento dos três diferentes
tipos de espaço. PERROUX (1967, p.150) em relação ao espaço como conteúdo de um plano,
o descreve como “[...] o conjunto das relações estabelecidas entre a empresa e, por um lado,
11
12
13
A Nova Geografia apresenta-se como parte da Moderna Geografia. A região é definida pela classe de área e o
conceito é estabelecido como o conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são
menores que as existentes entre eles e qualquer elemento do outro conjunto de lugares. (Texto discutido na
disciplina Espaço, região e regionalização, durante o cumprimento dos créditos do mestrado)
Para a Escola da Centralização, o desenvolvimento é visto com um processo de desequilíbrios.
A definição de espaço econômico está inserida no prefácio de PERROUX (1967). O autor dedica os capítulos
um e dois deste livro para a descrição dos espaços econômicos e conceito de pólos de crescimento,
constituindo-se em excelente referencial para o estudo das regiões econômicas. É interessante ressaltar
também que a noção de espaço econômico é relativa à empresa como unidade de produção elementar e
entendida como um conjunto de meios materiais e pessoais sujeitos a um mesmo poder de disposição
econômica.
58
os fornecedores de input (matéria-prima, mão-de-obra, capitais) e, por outro lado, os
compradores de output (compradores intermediários, compradores finais.”
Não existe, portanto, para o autor, condições de representação cartográfica deste
espaço, nem tampouco a um quadro específico de características. ROCHEFORT, citado por
ANDRADE (1973, p.40), descreve este plano como resultado direto do arbítrio humano, uma
vez que, “[...] é um espaço submetido a uma decisão.”
PERROUX (1967, p.151) apresenta ainda o espaço definido como campo de forças,
caracterizado “ por centro (pólos ou sedes) de emanação de forças centrífugas e recepção de
forças centrípetas.”
Esta relação de forças, descrita pelo autor, passa pela empresa, atraindo ou expulsando
os elementos econômicos. Através disto, delimita-se uma zona de influência econômica, que
se sobrepõe à influência topográfica.
ANDRADE (1973, p.40) descreve a região concernente a este espaço como região
polarizada que “[...] resulta da observação da interdependência existente entre várias áreas, às
vezes pertencentes a regiões homogêneas diversas, devido à irradiação da influência
comercial das aglomerações urbanas.” O autor continua a interessante análise sobre a região
polarizada, afirmando, ainda, que: “O poder de atração que uma cidade exerce em torno da
área que a cerca, conseqüente das transações comerciais que realiza com as áreas rurais,
provoca a formação de áreas de influência e, em conseqüência, regiões polarizadas.”
(ANDRADE, 1973, p.40).
O pensamento de HIRSCHMAN, descrito por HESPANHOL (1996, p.10) vem somar
neste sentido. Afirma-se assim que,
uma economia, para atingir níveis de renda mais elevados, precisa promover - e assim
o fará - primeiro, no seu próprio âmbito interno, um ou vários centros regionais
de força dinâmica. A necessidade da emergência de pontos de desenvolvimento ou
pólos de desenvolvimento14, no curso do processo desenvolvimentista, indica que a
desigualdade internacional e inter-regional do crescimento é condição concomitante e
inevitável do próprio desenvolvimento.
14
grifo do autor.
59
Finalmente, descreve-se o espaço como um conjunto homogêneo, ocupado pela
empresa. As relações econômicas neste espaço referem-se às unidades e sua estrutura ou às
relações entre estas unidades. Este conjunto homogêneo traduz-se em estruturas de produção e
preço que tendem a aproximar-se em um regime de concorrência, num mesmo espaço
econômico. Assim, a região que traduz este espaço homogêneo é entendida por
BOUDEVILLE, citado por ANDRADE (1973, p.40) como “o espaço contínuo em que cada
uma das partes que o constituem apresenta características que a aproximam uma das outras.”
Ainda em ANDRADE (1973, p.41), entre as diferentes conceituações de região,
destaca-se também à que se refere a região organizada, descrita através do trabalho de
KAYSER, aplicada, através de uma classificação das formas de utilização do espaço,
fornecendo assim um critério geo-econômico.
Em se tratando de países desenvolvidos, a região pode ser caracterizada por três
aspectos fundamentais. Primeiramente, pela solidariedade entre seus habitantes, pela
organização em torno de um centro e pela participação em um conjunto. Este conjunto de
características, laços, de acordo com KAYSER, citado por ANDRADE (1973, p.42),
“imprimem ao espaço uma certa homogeneidade, mas só têm condições para produzir uma
região se são capazes de criar uma organização econômica e social.”
Esta organização em torno de um centro, é denominada então de “pólo”ou “nó”. Tal
centro, na visão deste autor é sempre uma cidade. Além disso, a região é definida como sendo
parte de um todo maior, sendo considerada, deste modo, um quadro territorial, no qual se
inserem os planos de ação e aonde se aplicam as decisões. O trabalho deste autor agrega,
portanto, ao conceito de região, a influência do homem modificando o quadro natural,
apresentando, também, uma visão
acerca dos problemas relativos ao espaço do mundo
subdesenvolvido, caracterizando sua preocupação com as questões do desenvolvimento15.
Para HESPANHOL (1996, p.13), citando KAYSER, “[...] as condições naturais e
humanas diferentes [...] são os primeiros
15
fatores
de
uma
inevitável
diferenciação
Para uma apreciação mais detalhada das questões relativas ao subdesenvolvimento em relação à organização
do espaço, ver ANDRADE (1973).
60
geográfica no progresso. Esta representa, em teoria, o resultado de uma seleção espontânea na
divisão e especialização do trabalho.”
Além das definições sobre região, apresentadas até aqui, existem, também, abordagens
mais recentes, as quais privilegiam as transformações derivadas da expansão do capitalismo
mundial. Neste aspecto, HESPANHOL (1996, p.58) cita alguns autores que abordam estas
transformações, entre estes IANNI, assim, considerando a homogeneização do espaço e a
globalização, “[...] os processos de concentração e centralização do capital adquirem mais
força, envergadura, alcance. Invadem cidades, nações e continentes.[...]Muitas coisas
desenraízam-se, parecendo flutuar pelos espaços e tempos do presente.”
Contrariando este processo de homogeneização do espaço, SANTOS, citado por
HESPANHOL (1996, p.59), afirma que: “[...] se o espaço se torna uno para atender às
necessidades de uma produção globalizada, as regiões aparecem como as distintas versões da
mundialização. Esta não garante a homogeneidade, mas ao contrário, instiga diferenças,
reforça-as e até mesmo depende delas. Quanto mais os lugares se mundializam, mais se
tornam singulares e específicos, isto é, únicos.”
É nesta ótica de diferenciação proporcionada pela dinâmica capitalista que, também se
pode definir região:
[...] a categoria regional deve representar unidades espaciais que se diferenciam e que
podem estar referidas em diferentes níveis de análise. Pode-se utilizar a categoria
regional para se tratar de questões que se dão em nível de estado, município ou parte
de quaisquer desses níveis como regiões urbanas, rurais, agrícolas ou industriais (...).
A especialização da divisão social do trabalho e, por conseguinte, o movimento do
capital no espaço define região. (CARLEIAL, apud HESPANHOL, 1996, p.60-1).
Considera-se neste trabalho portanto, que o conceito de espaço e região é bastante
diverso, dependendo em muito do processo no qual está inserido. As diferentes visões,
sucintamente apresentadas, são válidas para que se entenda como os critérios para o
estabelecimento de uma região podem divergir, quando são consideradas as conceituações
que lhes dão sustentação teórica e justificam as alternativas para o planejamento regional.
61
2.4
O ENQUADRAMENTO DA REGIÃO OESTE DO PARANÁ NAS
REGIONALIZAÇÕES PROPOSTAS PARA O TERRITÓRIO PARANAENSE
DIFERENTES
Entendendo-se que a região Oeste do Paraná resulta das transformações gerais que se
verificam, através dos inúmeros critérios adotados para a definição de região, torna-se
possível, então, o conhecimento da sua evolução. Esta era vista, até a década de vinte, como
uma porção do território brasileiro desconhecida, atrelada, principalmente, aos interesses do
capital estrangeiro. Sua integração junto ao Paraná, somente se efetivou com a vinda, em
grande parte, de imigrantes sulistas ocupando o Sudoeste e Oeste paranaense. Porém a
preocupação com uma divisão regional no Estado inicia-se apenas na década de sessenta.
Para melhor compreensão deste processo, tomam-se como referência as diferentes
divisões feitas neste período para a economia paranaense, descritas no trabalho de MUNIZ
FILHO (1996). Este autor descreve a necessidade da divisão racional do território paranaense,
visando a, inicialmente, a descentralização da administração pública, proposta elaborada pela
administração estadual daquele período. Em um segundo momento, a divisão do território
privilegiou os aspectos da polarização para, posteriormente adotar o critério de
homogeneização sob a forma de microrregiões com identidades geo-econômicas, ambos os
critérios formulados pelo IBGE (1967).
Quando o governo do Estado16 iniciou esta análise, relativa ao planejamento da
economia paranaense, privilegiou, em grande parte, a questão administrativa. MUNIZ FILHO
(1996, p.150) descreve que, neste momento, década de sessenta, três objetivos eram
vislumbrados na descentralização administrativa: transferência para o interior de certos
serviços ou atividades executivas, concentração departamental, no que concerne à reunião em
um só local dos departamentos e, também, a simplificação burocrática. Para a consecução
destes objetivos, o critério adotado foi o fisiográfico, e o Paraná foi dividido em três grandes
regiões, sendo que a região Oeste, compreendia “ [...] as terras que descem da Serra da
Esperança até o rio Paraná.”17 Dentro dessa região, segundo características culturais comuns
foram estabelecidas zonas. Deste modo a região Oeste congregava: Terceiro Planalto, sete
16
17
O estudo era proposto pela Comissão de Coordenação do Plano de Desenvolvimento Econômico do Estado.
PLADEP, (1961).
Idem, nota anterior.
62
municípios, Zona de Pitanga, seis municípios, Faixa Sul da Fronteira, com vinte e seis
municípios e Faixa da Fronteira, somando dezessete municípios. (Figura 2.1) .
Em 1963, foi elaborado o I Plano de Desenvolvimento do Estado, trabalho realizado
em conjunto por órgãos de planejamento18. Segundo MUNIZ FILHO (1996, p.152): “[...] a
ótica territorial influiu decididamente nas conclusões adotadas.”
Surgem assim sete regiões de planejamento que, para o Plano de Desenvolvimento do
Paraná, citado pelo autor eram, “[...] unidades sócio-econômicas complexas e integradas,
capazes de manter uma dinâmica de desenvolvimento deliberadamente aceita e impulsionada
pela própria população.” (MUNIZ FILHO, 1996, p.152).
FIGURA 2.1. DIVISÃO REGIONAL DO PARANÁ – PLADEP (1961)
FONTE: MUNIZ FILHO (1996)
18
Este conjunto integrava o escritório de planejamento SAGMACS ( Sociedade de Análises Gráficas e
Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais), CODEPAR ( Companhia de Desenvolvimento do Estado
do Paraná) e PLADEP (Plano de Desenvolvimento do Estado do Paraná).
63
Novamente
era
privilegiada
a
descentralização
da
administração
pública,
acrescentando-se o objetivo da integração política e econômica no Estado. Para MUNIZ
FILHO (1996, p.152), estas regiões seriam “[...] áreas de produção especializada com
organizações homogêneas facilitando os processos de intercâmbio econômico e social e
coordenação administrativa por parte dos órgãos de planejamento.”
Os critérios que derivam desta divisão voltam-se a quatro pontos básicos, a saber:
integração social e econômica dos habitantes da região, capacidade para atingir relativa autosuficiência em relação às demais regiões, homogeneidade relativa com semelhança de
características e organização vertical e horizontal do serviço público.
MUNIZ FILHO (1996, p.153) descreve, ainda, que a questão demográfica e territorial,
foram adotadas como princípio geral. Assim, “[...] as regiões deveriam estar em 1960 dentro
de uma faixa de 320.000 e 1.020.000 habitantes, e com previsões para 1970 entre 700.000 e
1.500.000 habitantes. Do ponto de vista territorial, as regiões não deveriam ter acima de
30.000 km2 e não exceder o círculo de 100 km de raio.”
Buscava-se deste modo, manter a coesão da região e não fragmentá-la em número
exagerado de unidades territoriais.
Através deste critério, formaram-se dezesseis sub-regiões com o objetivo de
maximizar a utilização dos equipamentos urbanos, estando implícita a análise da
polarização19. De acordo com o autor, considerou-se, naquele momento, a evolução da
ocupação territorial e as tendências da economia, tendo, como resultado, sete grandes regiões,
nominadas pelos respectivos centros principais, considerados pólos. Este trabalho considerou
ampla coleta de dados e pesquisas locais. Interessa ressaltar que, naquele momento, os
municípios de Cascavel e Toledo, cada um com onze anos de emancipação política,
encontravam-se em fase de expansão das atividades econômicas, relacionada principalmente à
atividade madeireira, porém ainda não possuiam contingente demográfico expressivo. Sendo
assim, na divisão regional de 1963, a sede da região estabeleceu-se em Guarapuava, em
virtude das condições históricas de ocupação daquele município, estando o município de
19
Uma análise mais detalhada destes dois aspectos encontra-se no Plano de Desenvolvimento do Paraná.
Curitiba: CODEPAR, 1963, citado por MUNIZ FILHO (1996, p.153).
64
Cascavel, caracterizado como sede de zona. MUNIZ FILHO (1996, p.154) afirma: “Com a
superação do fraco contingente demográfico e a baixa densidade de ocupação do território, as
sub-regiões de Cascavel e Campo Mourão deveriam, no futuro, ser desmembradas de
Guarapuava e Maringá respectivamente, tornando-se igualmente regiões de planejamento.”
Em função destas e de outras subdivisões, surgiram dezesseis sub-regiões com uma
escala de autonomia e dependência do pólo principal. Isto, em muito, deveu-se ao crescimento
da população em inúmeras regiões do Paraná, que acabou por exigir a descentralização de
inúmeros serviços, promovendo uma dinamização das regiões, através da atuação dos pólos.
Para o governo do Estado, no Plano de Desenvolvimento do Paraná, citado por MUNIZ
FILHO (1996, p.155) subentendia-se “a criação de atividades estratégicas, motrizes do
progresso econômico e desenvolvimento social.”
O fato relevante, entretanto, foi a ausência de mecanismos administrativos e órgãos
executivos20 que acabou impedindo maior utilização do critério da polarização como sistema
regional a ser adotado21.
Para a região Oeste, a divisão em pólos e sub-pólos foi estabelecida conforme o
quadro na seqüência: Situação do quarto pólo regional proposto pela divisão do PLADEP
(1963).
QUADRO 2.1. – PÓLOS REGIONAIS, MICRORREGIÕES E HIPÓTESES DE TRABALHO PARA PARANÁ.
Pólos regionais - 1963
IV Guarapuava
Sub-pólos
1960
População
Área (km2)
Guarapuava
189.000
21.000
Cascavel
137.700
23.700
Total
326.700
45.600
FONTE: adaptação PLADEP (1963) – MUNIZ FILHO (1996).
20
Para MUNIZ FILHO (1996, p.155) já existiam para diversos órgãos públicos subdivisões regionais. Sendo
assim, estas divisões eram estabelecidas em função da necessidade de cada instituição. A nova divisão, aceita
por todos veio para contemplar a real atração dos pólos sobre os municípios e à hierarquia dos centros mais
autônomos.”
21
A expressão ‘a ser adotado’ está relacionada ao fato de que o Plano de Desenvolvimento do Paraná, não
efetivou-se, sendo que o PLADEP, órgão responsável pela sua criação, muda suas funções em 1962.
65
Neste quadro, percebe-se que o município de Cascavel possuía na década de sessenta,
população significativa, com área superior ao então município-pólo Guarapuava. Ressalta-se
assim que, mesmo com poucos anos de emancipação política, o município de Cascavel já
despontava como ‘cabeça de zona’ que, aos poucos, começava a exercer as funções relativas a
um pólo regional. A quarta região, definida pelo plano, agregava vinte e seis municípios.
(Figura 2.2).
FIGURA 2.2. – REGIÕES DE PLANEJAMENTO – CODEPAR (1963).
FONTE: MUNIZ FILHO (1996)
Além dos estudos de regionalização elaborados pelo Estado do Paraná em 1961 e
1963, surgiu em 1966, a nível nacional, um processo de estudo para a regionalização do País,
com a participação dos Estados. MUNIZ FILHO (1996) a define como a primeira divisão
regional da FIBGE22, caracterizada, sobretudo, pela noção dos espaços polarizados. Esta
divisão objetivava, devido ao seu caráter preliminar, indicar os centro de polarização e as
22
O trabalho realizado pelo IBGE refere-se ao Esboço preliminar de divisão do Brasil em espaços polarizados.
Fundação IBGE. Conselho Nacional de Geografia, 1967.
66
respectivas áreas de influência, do que diferenciar as especificidades das relações regionais. O
autor ressalta, ainda, os aspectos relacionados aos centros urbanos com pouca idade neste
contexto de particularidades, mencionando que,“[...] a pouca idade de alguns centros e a
atualidade do processo de ocupação do território fazem com que o vínculo de dependência
não se tenha consolidado na maioria das regiões do País.” (MUNIZ FILHO, 1996, p.157).
De acordo com HESPANHOL (1996, p.63), esta regionalização tomava como base,
“áreas de influência urbana (regiões polarizadas) para fins de descentralização administrativa
e a regionalização, visando ao planejamento do desenvolvimento regional [...] uma vez que
para a Nova Geografia, a região não tem existência concreta (logo não pode haver apenas uma
divisão regional) sendo que a divisão regional deve ser efetuada visando ao atendimento de
fins específicos.”
Mesmo diante das inúmeras dificuldades para a identificação do centros de polarização
e de suas áreas de influência, buscou-se a classificação dos mesmos, atendo-se às
possibilidades de polarização de cada um, bem como a influência destes centros e os
respectivos fluxos ali existentes. A crítica formulada por BOISIER citado por HESPANHOL
(1996, p.33) acerca da utilização dos pólos de crescimento, enquanto instrumento, para o
planejamento regional afirma que:
O emprego de um instrumento como pólos de crescimento chegou a produzir, em
muitos casos, resultados ambíguos, principalmente devido a uma aplicação
mecanicista dos mesmos, com descuido evidente das condições particulares das
regiões onde foram inseridos. [...] os fracassos, aparentes ou reais, se apresentam com
freqüência muito maior quando este instrumento se aplica em regiões com escassa
base industrial.
Na prática, como critério, usou-se o equipamento terciário em relação ao tipo de
serviço e quantidade dos mesmos, comparando, quando necessário o nível de industrialização
destes centros23. A divisão que dali resultou, apontava, em relação ao Paraná, três diferentes
níveis relativos à polarização: a metrópole Curitiba, com área de influência que se estendia
quase que por todo o Paraná e, também, para Santa Catarina; em um segundo nível, surge a
cidade de Londrina com influência sobre o Norte Novo e Novíssimo e, em terceiro nível, os
23
Os elementos que participam desta classificação estão descritos no trabalho de MUNIZ FILHO (1996, p.1589 ).
67
centros de polarização de regiões menores, incluindo-se cinco no Paraná. Nesta polarização,
o Sudoeste vincula-se a Pato Branco, em virtude da influência deste município sobre outros
municípios, incluindo-se aqui àqueles pertencentes a Santa Catarina, e Ponta Grossa, que de
acordo com o critério utilizado tinha sua área de influência delimitada pela fronteira de São
Paulo até a fronteira do Paraguai, no sentido Leste-Oeste, abrangendo todo o centro do
Estado, de acordo com MUNIZ FILHO (1996, p.159). Através da Figura 3 visualiza-se esta
divisão que privilegiava os centros de polarização.
FIGURA 2.3. – DIVISÃO REGIONAL EM ESPAÇOS POLARIZADOS – CNG/IBGE (1967)
FONTE: MUNIZ FILHO (1996)
Além do critério relativo à polarização, o IBGE esboçou também uma divisão baseada
em espaços homogêneos24, buscando a combinação de elementos geográficos, necessitando-
24
Os critérios relativos aos espaços homogêneos surgem em substituição às zonas fisiográficas, criadas nos anos
quarenta. Segundo este critério o IBGE procedeu a divisão do território brasileiro em cinco grandes regiões
(Norte, Sul, Leste, Centro e Nordeste), com base nos aspectos naturais e as zonas fisiográficas com base nos
aspectos econômicos. As mesmas foram perdendo a atualidade, apresentado áreas despovoadas e mudanças
econômicas, tornando-se assim, inadequadas para os estudos estatísticos. Ver HESPANHOL (1996, p.63).
68
se, assim, ainda segundo o autor, “um conhecimento melhor da hierarquia desses fenômenos
geográficos e do papel mais ou menos dinâmico de cada um, na estrutura regional”. O
parâmetro utilizado para a metodologia desta divisão observava o quadro natural que, segundo
MUNIZ FILHO (1996, p.161), relacionava-se às atividades humanas, o potencial humano,
atendo-se à semelhança de características populacionais, além da produção agrícola,
industrial, infra-estrutura dos transportes e atividades terciárias não polarizadoras.
Segundo GALVÃO e FAISSOL, citados por HESPANHOL (1996, p.63),
[...] na Divisão Regional do Brasil para fins estatísticos, o espaço homogêneo definido
como forma de organização, em torno da produção, foi expresso por combinações de
fatos físicos sociais e econômicos e permitiu a individualização destes fatos dentro de
determinado nível de generalização. Quando ocorria substancial mudança de um dos
elementos geográficos considerados, a modificação da combinação dava origem a
outra unidade diferente. Naturalmente, dentro de cada Estado, quanto menor o grau de
generalização e maior o número de elementos geográficos considerados, menores e
mais numerosos foram os espaços diferenciados.
Ressaltando neste aspecto que a identificação das microrregiões homogêneas,
vinculava-se aos postulados da Nova Geografia, segundo HESPANHOL (1996, p.63).
Vale lembrar que este esboço não se constituiu em região, em virtude da falta de
organicidade em termos de significado.
Diante destes parâmetros, os órgãos estaduais de planejamento, aliando-se ao
Conselho Nacional de Geografia, constataram a existência de oito zonas polarizadas de
acordo com metodologia que considerava o equipamento terciário, a saber:
1 Curitiba
2 Ponta Grossa
3 Pato Branco
4 Guarapuava
5 Jacarezinho
6 Londrina
7 Maringá
8 Cascavel
69
Especificamente, em relação à região de Cascavel, sob sua influência, totalizavam
dezenove municípios, sendo que já, a partir de 1967, Cascavel era considerada pólo de
desenvolvimento. (Figura 2.4).
FIGURA 2.4. REGIÕES DE PLANEJAMENTO – PLADEP (1967)
FONTE: MUNIZ FILHO (1996)
MUNIZ FILHO (1996, p.164) também descreve que, “em função das inúmeras
dificuldades na obtenção dos elementos que configuram o estabelecimento de um critério na
divisão por zonas homogêneas, utilizaram-se alguns indicadores, dos quais se tinha melhores
informações, entre estes a vegetação, geologia, carta de solos entre outros. Subdividiu-se o
território paranaense em vinte e duas pequenas unidades homogêneas, agrupadas em
microrregiões.” Deste modo, a região Oeste agregava duas microrregiões de acordo com os
critérios adotados. (Figura 2.5).
70
FIGURA 2.5. – REGIÕES HOMOGÊNEAS – PLADEP (1967)
FONTE: MUNIZ FILHO (1996)
O IBGE procurou também alterar o critério das divisões homogêneas, anteriormente
formulado, considerando a existência das Regiões de Planejamento esboçadas em 1963. Para
MUNIZ FILHO (1996, p.167), “[...] existe assim compatibilidade entre as microrregiões
homogêneas e aquelas regiões polarizadas, de tal forma que as primeiras sempre estão
compreendidas nos limites das últimas”.
Pela Figura 2.6 observa-se a caracterização da região Oeste, de acordo com este
critério. Compreendendo vinte e um municípios, Cascavel estabeleceu-se, então, como sede
regional, agregando inúmeras atividades no comércio e prestação de serviços.
71
FIGURA 2.6. MICRORREGIÕES HOMOGÊNEAS - IBGE (1967)
FONTE: MUNIZ FILHO (1996)
De acordo com HESPANHOL (1996, p.64), descrevendo o trabalho do IBGE, em
1989 foi realizada revisão da regionalização, realizada em 1968, caracterizando as
microrregiões geográficas, neste sentido:
a revisão das microrregiões, definidas em 1968 decorre das mudanças verificadas na
organização sócio-econômica e institucional do país. As profundas modificações na
conjuntura sócio-econômica tenderam a transformar ou mesmo reorientar a estrutura
produtiva nos vários segmentos do território nacional refletindo-se na organização do
espaço geográfico. Vale dizer que o modelo definido em 1968 apresenta-se anacrônico
em relação às atuais formas de organização do espaço, não correspondendo mais à
atual realidade brasileira.” (FIBGE, citada por HESPANHOL, 1996, p.64).
A justificativa dada por HESPANHOL (1996, p.67) para esta mudança, em termos de
metodologia, volta-se às profundas mudanças, ocorridas no espaço brasileiro, principalmente,
no que concerne à industrialização e urbanização, bem como da modernização da agricultura
em diversas regiões do País. O autor também relaciona as mudanças infra-estruturais como
um dos fatores causadores de “reflexos diferenciados sobre o espaço nacional.”
72
De acordo com o IBGE (1991, p.26-7), no Paraná, verificavam-se dez mesorregiões
geográficas, entre estas a Mesorregião do Oeste Paranaense, que compreendia três
microrregiões, a saber, de Toledo, Cascavel e Foz do Iguaçu.
Outro aspecto interessante em relação à mudança na metodologia é que, nestas
modificações, os conceitos de mesorregião geográfica e microrregião geográfica respondem à
dinâmica territorial recente. Segundo o IBGE, citada por HESPANHOL (1996, p.67) o
conceito de mesorregião geográfica pode ser assim definido:
[...]uma área individualizada, em uma unidade da Federação, que apresente formas
de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o processo social,
como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicação
e de lugares, como elemento de articulação espacial. Estas três dimensões deverão
possibilitar que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional.
Esta identidade é uma realidade constituída ao longo do tempo pela sociedade que aí
se formou.(IBGE, citado por HESPANHOL, 1996, p.67).
Já o conceito de microrregião geográfica , define-se ainda como:
[...] partes das mesorregiões que apresentam especificidades quanto à organização
do espaço. Estas especificidades não significam uniformidade de atributos, nem
conferem às microrregiões auto-suficiência e tampouco caráter de serem únicas,
devido à sua articulação a espaços maiores, quer à mesorregião, à unidade da
Federação, quer à totalidade nacional. Estas especificidades refletem-se à estrutura de
produção, agropecuária, industrial, extrativismo mineral, ou pesca. Estas estruturas de
produção diferenciadas podem resultar da presença da presença de elementos do
quadro natural ou de relações sociais e econômicas particulares. (...) A organização do
espaço microrregional é identificada, também, pela vida de relações ao nível local, isto
é, pela interação entre as áreas de produção local de beneficiamento e pela distribuição
de bens e serviços de consumo freqüente. Assim, a estrutura da produção para
identificação das microrregiões é considerada em sentido totalizante, constituindo-se
pela produção propriamente dita, distribuição, troca e consumo, incluindo atividades
urbanas e rurais.”(IBGE citado por HESPANHOL, 1996, p.67-8).
Portanto os critérios, considerados para a análise de região, tornam-se mais amplos em
virtude da inserção da estrutura produtiva, com todas as inter-relações ali embutidas. Isto
possibilita definir com maior segurança a região Oeste do Paraná, identificando-a com o
território da Mesorregião Geográfica do Oeste do Estado do Paraná. (Figura 2.7).
73
FIGURA 2.7 – MICRORREGIÕES QUE COMPÕEM A MESORREGIÃO OESTE DO PARANÁ
FONTE: INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ (IAP), 1997.
MICRORREGIÃO DE CASCAVEL
MICRORREGIÃO DE FOZ DO IGUAÇU
MICRORREGIÃO DE TOLEDO
Além da divisão proposta pelo IBGE (1997), outra divisão territorial é elaborada pela
25
AMOP . O município que se insere na região Oeste do Paraná nesta divisão, está Laranjeiras
do Sul. Considerando-se a divisão feita pelo IBGE (1997), o município de Laranjeiras do Sul,
compõe a Microrregião Geográfica de Guarapuava, inserida na Mesorregião Centro-Sul
25
Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. É órgão representativo no contexto regional e suas ações
incluem o planejamento e ações conjuntas entre os municípios a ela integrados.
74
paranaense, e não se inclui na região Oeste do Paraná o município de Brasilândia do Sul26 o
qual pertence à Mesorregião Geográfica de Umuarama.
Sendo assim, a Mesorregião Oeste, compreende um conjunto de 50 municípios que
abrangem uma área territorial de aproximadamente 22.811.242 km2 , (11,5 % da área
estadual). De acordo com o IBGE (1996) [contagem da população] as três microrregiões
detém uma população estimada em 1.083.121 de habitantes, sendo que estes se subdividiam
em:
Microrregião Geográfica de Foz do Iguaçu: 368.454 habitantes;
Microrregião Geográfica de Cascavel: 378.471 habitantes;
Microrregião Geográfica de Toledo: 336.196 habitantes;
A grosso modo, a região é confinada pelos rios Piquiri, Iguaçu e Paraná. O relevo
regional é pouco acidentado, num plano inclinado, com altitudes variando entre 900 metros no
município de Guaraniaçu e 180 metros no município de Foz do Iguaçu.(FUNDETEC –
PLANO DIRETOR,1995, p.18).
Quanto ao clima, NIMER (1977, p.72-3), descreve:
Genericamente na microrregião de Toledo e nas áreas baixas lindeiras ao rio Paraná,
próximas a Foz do Iguaçu, predomina o clima tropical, sub-quente, superúmido com
sub-seca, enquanto que na microrregião de Cascavel e demais áreas da micro de Foz
do Iguaçu, predomina o clima temperado brando, superúmido, sem estação seca.
Os aspectos relativos à infra-estrutura viária da região também são importantes e a
região Oeste é servida pelas seguintes rodovias e ferrovias:
Federais: BR 277 ligando Foz do Iguaçu a Curitiba;
BR 467 ligando Toledo, Marechal Cândido Rondon ao MS;
BR 369 ligando Cascavel ao Norte do Estado do Paraná;
Estaduais: PR 180 ligando Cascavel a Nova Aurora;
PR 182 ligando Cascavel ao Sudoeste do Paraná e Sul do País.
26
Informação obtida através do Sr. Usias Marcelino, Chefe do Escritório Regional do IBGE em Cascavel, em
5/2/98.
75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M.C., Espaço, polarização e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense,
1ªEdição (125p.)1973.
FRIEDMANN, J.R.P., Introdução ao planejamento regional. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1960.
FUNDETEC – PLANO DIRETOR. Parque Tecnológico Agroindustrial do Oeste.
Coordenação de Mario José Bracht. Cascavel, Tuicial, 1995.
HESPANHOL, N.A., Dinâmica agroindustrial, intervenção estatal e a questão do
desenvolvimento na região de Andradina – Tese de doutorado em Organização do Espaço:
Rio Claro IGCE – CP. de Rio Claro – UNESP, 1996.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem Parcial da População
(1996).
MORO, D.A., A organização do espaço como objeto da geografia. Geografia, Rio Claro,
15(1):1-19, Abril 1990.
MUNIZ FILHO, C., Divisão regional do Paraná. Revista Paranaense de Desenvolvimento,
Curitiba, n.87, jan./abr., 1996, p.149-173.
NIMER, E., Clima. In: Geografia do Brasil – Região Sul, volume 5. IBGE, Rio de Janeiro,
1977.
PERROUX, F., A economia do século XX. Lisboa: Herder, 1967.
PONTES, B.M.S., A contribuição do pensamento geográfico brasileiro à região e à
regionalização vistas como processo. Boletim de Geografia Teorética, 16-1 (31-34):324327,1986-1987.
ROLIM, C.F.C., O Paraná urbano e o Paraná do agrobussiness: as dificuldades para um
projeto político. Revista Paranaense de Desenvolvimento, n.86,set/dez,1995,p.4 99.
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CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO ENQUANTO REGIÃO