QUALIDADE DE SEMENTES DE MILHO APÓS O BENEFICIAMENTO
97
QUALIDADE FÍSICA E FISIOLÓGICA DAS SEMENTES DE MILHO
APÓS O BENEFICIAMENTO1
NILSON LEMOS DE MENEZES2, IVO LERSCH-JUNIOR3 E LINDOLFO STORCK2
RESUMO - O presente trabalho, conduzido na unidade de produção da empresa Sementes Pioneer
Ltda. e no Laboratório Didático e de Pesquisas em Sementes da Universidade Federal de Santa
Maria, teve como objetivo avaliar o efeito do beneficiamento na qualidade física e fisiológica das
sementes de milho. Foram utilizadas sementes do híbrido simples super precoce 32R21. As sementes
foram colhidas em espigas e submetidas às operações de secagem, debulha mecânica, pré-limpeza,
limpeza, classificação por largura, comprimento e peso. Foram coletadas amostras de sementes
em intervalos variáveis no ponto de descarga de cada máquina, totalizando 23 pontos de coleta,
que constituíram os tratamentos. A avaliação dos diferentes tratamentos foi realizada pelos testes
de pureza física, danos mecânicos, germinação e vigor (teste de frio e condutividade elétrica).
Concluiu-se que o beneficiamento afetou a qualidade física e fisiológica das sementes. Os danos
mecânicos são produzidos progressivamente, a partir da debulha mecânica e no final do
beneficiamento as sementes redondas apresentaram maior porcentagem de danos. A germinação
e o vigor das sementes são afetados pelas etapas do beneficiamento, quando estas estão associadas
a danos mecânicos severos.
Termos para indexação: Zea mays, beneficiamento de sementes, danos mecânicos, vigor de
sementes.
PHYSIC AND PHYSIOLOGICAL SEED QUALITY OF CORN AFTER PROCESSING
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the processing effect over the physic
and physiological quality of corn seeds. This research was conducted at the Pioneer Seeds, Santa
Cruz do Sul, and at the Federal University of Santa Maria, Brazil. Seeds of the single cross hybrid
32R21 harvested on ears were submitted to dry, mechanical sheller, pre-cleaner and cleaner
machines, width, length size and weight classifications. A total of 23 seed samples were collected
after each processing step in variable periods. Each sample was considered a treatment. The
evaluations were the following tests: purity, mechanical damage, germination and vigor (cold and
conductivity). Seed processing of the 32R21 hybrid affects the physic and physiological quality.
Mechanical damage is progressive and starts with mechanical sheller. Round seeds have higher
percentage of damage than flat seeds. Seed processing affects germination and vigor, when
associated with severe mechanical damage.
Index terms: Zea mays, seed processing, seed quality, mechanical damage.
INTRODUÇÃO
1
2
3
Aceito para publicação em 29.12.2001.
Engo Agro, Dr., Depto. de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria,
97105-900, Santa Maria-RS; bolsista do CNPq; autor para
correspondência; e-mail: [email protected]
Engo Agro, MSc., Sementes Pioneer Ltda, Cx. Postal 1009, 96810-970,
Santa Cruz do Sul-RS.
Na produção de sementes de milho, a preocupação constante com a qualidade do produto final determina que as práticas adotadas sejam as mais adequadas possíveis, para se alcançar a qualidade exigida pelo mercado.
Após a colheita, o conjunto de práticas que compõem o
beneficiamento, eliminam os materiais indesejáveis que acom-
Revista Brasileira de Sementes, vol. 24, nº 1, p.97-102, 2002
98
N.L. MENEZES et al.
panham as sementes e melhora a qualidade do lote. Essa etapa do processo produtivo é obrigatória para a obtenção de
sementes de alta qualidade.
O beneficiamento de sementes de milho é altamente especializado, se comparado com outras culturas. A semente
de milho, normalmente, é colhida em espiga, despalhada e
secada com o sabugo, para logo ser debulhada, limpa e classificada. A classificação é necessária, devido a grande variação de
tamanho, forma e qualidade das sementes na própria espiga.
Nas sementes de milho, a uniformidade de forma e tamanho é muito importante para facilitar tratamentos com
fungicidas e a semeadura. Para a uniformização são usadas
máquinas classificadoras, dotadas de peneiras com perfurações, que nem sempre estão perfeitamente adaptados a esse
trabalho, provocando danos mecânicos. Os danos mecânicos
podem atingir diferentes partes da semente, sendo capazes de
reduzir o vigor das mesmas, até aqueles por trincamento interno, quando as sementes apresentam grau de umidade elevado ou muito baixo (Borba et al., 1994 e Borges, 2001).
O dano mecânico é um dos principais fatores capazes de
reduzir drasticamente o potencial de armazenamento das sementes (Borba et al., 1995; Kikuti et al., 1999 e Alves et al.,
2001).
Cada dano mecânico que afeta a semente, por menor que
seja, é acumulativo e parte integral do dano da semente (Mason
et al., 1982), podendo reduzir seu poder germinativo, vigor
inicial e rendimento de produção (Carvalho et al., 1999). A
constatação do dano mecânico se dá pela observação de
fissuras internas e a presença de sementes quebradas,
trincadas, fragmentadas e arranhadas externamente. Mas, não
só o aspecto físico da semente é afetado, sementes mecanicamente danificadas são, também, mais difíceis de limpar, provocam maiores perdas no beneficiamento e apresentam menor vigor e germinação, são mais susceptíveis ao ataque de
microrganismos no solo (Delouche apud Baudet et al., 1978
e Borges, 2001).
Os fatores que controlam os danos mecânicos, de acordo com Carvalho & Nakagawa (1988), são a intensidade e
número de impactos, local do impacto, grau de umidade das
sementes e as características das sementes, tais como tamanho, forma, espessura do tegumento, tipo de tecido de reserva, posição do eixo embrionário, entre outros.
A susceptibilidade aos danos mecânicos é uma característica herdável, sendo que, em geral, as sementes mais compactas e duras são as menos susceptíveis aos danos climáticos e ao ataque de fungos (Cassini, 1992). A germinação das
sementes de milho dos cultivares BR 451 e BR 106 não é
Revista Brasileira de Sementes, vol. 24, nº 1, p.97-102, 2002
afetada, quando ocorrem danos mecânicos até 10,3 e 23,9%,
respectivamente, ou na cultivar BR 201 até 31,4%, porém o
vigor é significativamente reduzido (Borba et al., 1994 e
1995). Cerca de 40% dos danos mecânicos ocorrem durante
a colheita mecânica, 50% durante o beneficiamento, 4% durante o armazenamento, 2% durante o transporte e 4% na semeadura (Carvalho & Nakagawa, 1988).
Os danos mecânicos e outros problemas causados e/ou
não eliminados, durante o beneficiamento, podem ser identificados através da avaliação da qualidade das sementes. Em
sementes de milho, com até 40,0% de danos mecânicos, o
teste de germinação não avaliou efetivamente a qualidade das
sementes, porém o teste de frio foi o método mais eficiente
para predizer o efeito dos danos mecânicos no tempo potencial de armazenamento das sementes (Wortman & Rinke,
1951). Os lotes de sementes danificados mecanicamente, também, reduziram drasticamente o vigor e a viabilidade após
armazenamento, segundo Borba et al. (1994).
Estudando danos mecânicos em sementes de milho, ocorridos em diferentes estágios do processamento e seus efeitos
por meio do teste de frio, Wortman & Rinke (1951) verificaram que o avanço nas fases do processamento aumentou a
quantidade de danos mecânicos. Quanto maiores foram os
danos sobre o embrião e os danos totais, menor foi a germinação. Os mesmos autores observaram diferenças entre os
híbridos testados, quanto a susceptibilidade aos danos mecânicos. Todos os tipos de danos causaram decréscimo no
estande do Híbrido B e danos abertos no lado do embrião ou
sobre a coroa causaram maiores reduções do estande, enquanto
que os danos fechados tiveram efeitos menores, mas, significativos. A remoção dos pedicelos das sementes causou significativas reduções, mas dano sobre o lado contendo somente
endosperma pareceu menos prejudicial.
A resposta de cada cultivar ao manuseio pós-colheita é
distinta, necessitando ser estudada não só quanto aos seus
efeitos, mas, também, em suas causas, sob diferentes enfoques,
assim, identificando claramente o tipo, a intensidade e o momento da ação capaz de afetar a qualidade das sementes.
O trabalho teve por objetivo avaliar o efeito do beneficiamento na qualidade física e fisiológica de sementes de milho.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na Unidade de Beneficiamento
de Sementes (UBS) e no Laboratório de Sementes da empresa Pioneer Sementes Ltda. em Santa Cruz do Sul - RS e no
QUALIDADE DE SEMENTES DE MILHO APÓS O BENEFICIAMENTO
Laboratório de Didático e de Pesquisas em Sementes do Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa
Maria, em Santa Maria - RS.
Foram utilizadas sementes de um lote (12t) do híbrido
simples 32R21, super precoce, produzido na safra 1997/98
pela Pioneer Sementes Ltda. Foram colhidas as espigas, com
colhedoras automotrizes e transportadas para a UBS, onde
sofreram os processos de despalha (pré-limpeza) e secagem,
em secador de espigas. A seguir, as sementes foram beneficiadas de acordo com o fluxograma da empresa produtora das
sementes, no qual se utilizou as etapas de debulha; passagem
pelo elevador externo da torre de beneficiamento; classificação em forma (R para redonda e C para achatada) no Carter;
classificação em tamanho (1, 2 e 3) no trieur e mesa de gravidade, que resultou na seguinte classificação: R1 - sementes
com diâmetro entre 8,93 e 9,92mm e maiores que 16mm de
comprimento e 5,55mm de largura; R2 - sementes com diâmetro entre 8,13 e 8,93mm e maiores que 16mm de comprimento e 5,36mm de largura; R3 - sementes com diâmetro
entre 7,34 e 8,13mm e maiores que 16mm de comprimento e
4,76mm de largura; C1 - sementes com diâmetro entre 8,93 e
9,92mm e menores que 16mm de comprimento e 5,55mm de
largura; C2 - sementes com diâmetro entre 8,13 e 8,93mm e
menores que 16mm de comprimento e 5,36mm de largura;
C3 - sementes com diâmetro entre 7,34 e 8,13mm e menores
que 16mm de comprimento e 4,76mm de largura.
Amostras de sementes foram coletadas após a colheita e
em cada etapa do beneficiamento. Após a colheita, pré-limpeza e secagem foram coletadas 12 espigas aleatoriamente.
O método de secagem em espigas foi semelhante, tanto para
as amostras úmidas, quanto para o restante do lote. A partir
da debulha, foram coletadas seis amostras de sementes, de
aproximadamente 500g, na bica de saída de cada máquina. O
intervalo de coleta foi variável, visto que até a etapa de passagem pelo elevador da torre de beneficiamento todo lote foi
amostrado, porém nas etapas subseqüentes, embora o tamanho da amostra permanecesse o mesmo, as amostras foram
coletadas apenas da porção selecionada.
Antes da etapa de debulha mecânica, adotada na seqüência normal de beneficiamento da empresa produtora das sementes, as amostras de espigas foram debulhadas manualmente.
Logo após a coleta na última máquina, as sementes foram encaminhadas para a determinação de sua qualidade. Da
amostra composta obtida pela junção das amostras simples,
extraiu-se 700g, para a análise de pureza, conforme recomendação de Brasil (1992). O restante das sementes foram usadas para: grau de umidade - foi determinado, após a colhei-
99
ta e a secagem, pelo método da estufa a 105±3°C, durante 24
horas, com duas subamostras de 5g, de acordo com Brasil
(1992); danos mecânicos - foram determinados através do
teste verde rápido, com verde de malaquita a 1,0%, durante
três minutos. De acordo com a intensidade dos danos mecânicos no endosperma e embrião ele foi separado em dois tipos: danos médios, quando o dano afetou mais de 1/3 do
endosperma sem afetar o embrião e danos severos, quando o
dano afetou o embrião. Neste teste, a presença do dano foi
constatada pela formação da coloração verde-escura, resultante da reação do verde de malaquita com o amido
endospermático e expresso em porcentagem. Foram utilizadas quatro repetições de 50 sementes; teste de germinação foi realizado com o substrato papel toalha, em rolo, previamente umedecido com água na proporção de 2,5 vezes o peso
do papel, e colocado em uma câmara de germinação, regulada a 25ºC. Para cada etapa do beneficiamento foram utilizadas quatro repetições de 50 sementes. As avaliações foram
efetuadas sete dias após a semeadura e os resultados expressos em porcentagem de plântulas normais, segundo Brasil
(1992); teste de frio - foi realizado com sementes não tratadas semeadas em bandejas, cujo substrato foi uma mistura de
1:4 terra e areia. As bandejas foram colocadas em câmara a
10ºC, por sete dias e a seguir em câmara de germinação a
25ºC, por mais sete dias. Foram utilizadas quatro repetições
de 50 sementes e os resultados foram expressos em porcentagem de plântulas normais; teste de condutividade elétrica foi realizado com quatro repetições de 25 sementes, que foram colocadas em copos plásticos com 75ml de água destilada, em germinador a 20ºC, durante 24 horas. A leitura da
solução água mais exsudato não filtrada (AOSA, 1983) foi
realizada em um condutivímetro marca Digimed CD-21 e os
resultados foram expressos em µS/cm/g de semente.
A análise estatística constou da estimativa dos coeficientes de correlação linear e análise da variância, para as cinco variáveis (teste de pureza, danos mecânicos, testes de germinação, frio e condutividade elétrica), considerando os 23
pontos de amostragem (tratamentos), com quatro repetições,
segundo o delineamento inteiramente casualizado. Para comparação entre as médias, utilizou-se o teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O grau de umidade das sementes na colheita foi de 32,3%
e após a secagem na espiga a umidade foi de 12%. Essa umidade final das sementes foi uma das causas dos níveis de da-
Revista Brasileira de Sementes, vol. 24, nº 1, p.97-102, 2002
100
N.L. MENEZES et al.
nos mecânicos observados após as etapas do beneficiamento,
visto que vários autores (Carvalho & Nakagawa, 1988 e
Fancelli & Lima, s.d.), já haviam verificado aumentos de danos à medida que decresce a umidade e, por isto, recomendaram umidades entre 12 e 14%, para a realização da debulha e
outras operações durante o beneficiamento de sementes.
A pureza física após a debulha foi igual a 99,5%, em
todas as etapas, não podendo, então, interferir na qualidade
das sementes. Esse valor é adotado como padrão para a
comercialização pela empresa Pioneer Sementes Ltda.
O dano mecânico (Tabela 1), detectado pelo teste de verde
rápido, aumenta com a passagem pelas etapas do
beneficiamento, sendo que o dano mecânico mais severo foi
TABELA 1. Danos mecânicos (médio e severo) em sementes de milho híbrido do cultivar 32R21, após
as etapas do beneficiamento. Santa Cruz do
Sul, 1998.
Etapas do
beneficiamento
Colheita
Pré-limpeza
Secagem
Debulha
Elevador externo da torre
Sementes com dano mecânico (%)
Médio
Severo
0,25
0,50
0,00
1,25
2,25
e
e
e
de
c de
0,00
1,00
3,00
7,00
7,50
h
gh
fg
ef
de f
Forma e tamanho
Redonda 1
Redonda 2
Redonda 3
Achatada 1
Achatada 2
Achatada 3
.............. Após o cilíndro .................
9,75a b
15,50 bc d
4,50 bc d
15,00 bc de
4,00 c de
14,00 bc de
4,50 bc d
13,50 bc de
9,00a b
9,00
de f
6,25a bc
12,75 bc de
Redonda 1
Redonda 2
Redonda 3
Achatada 1
Achatada 2
Achatada 3
................Após o trieur ...................
8,75a b
15,25 bc d
8,75a b
21,25a b
8,50a b
31,00a
5,75a bc
10,75 c de
8,50a b
13,00 bc de
8,00a b
11,50 c de
Redonda 1
Redonda 2
Redonda 3
Achatada 1
Achatada 2
Achatada 3
..... Após a mesa de gravidade .........
7,00a bc
18,25 bc
7,25a b
17,00 bc
10,50a b
21,75a b
8,50a b
11,25 c de
9,50a b
12,50 bc de
12,00a
13,50 bc de
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem pelo teste de Tukey, a
5%.
Revista Brasileira de Sementes, vol. 24, nº 1, p.97-102, 2002
produzido após o elevador externo da torre, diferindo da colheita e da pré-limpeza, o que confirma as observações de
Wortman & Rinke (1951) e Hall & Johnson (1970). Os dados
obtidos sugerem que, os danos mecânicos, além de serem
características herdáveis, como ressaltou Cassini (1992), também, dependem da intensidade e do número de impactos, bem
como das características da semente, tais como tamanho, forma, tecido de reserva e teor de água na colheita (Carvalho &
Nakagawa, 1988 e Alves et al., 2001).
Na fase de classificação por forma e tamanho, quando
se comparou semente redonda de tamanhos diferentes, verificou-se que não houve diferenças, com exceção do dano mais
severo nas sementes R3, quando comparadas com as sementes R1 após trieur, o que confirmam as observações de Sader
et al. (1991), que estudaram sementes de amendoim. Esses
autores verificaram que sementes maiores apresentaram maiores índices de danos mecânicos, durante o beneficiamento.
As sementes achatadas, de diferentes tamanhos, não diferiram entre si. As sementes redondas não diferiram das sementes achatadas, para o mesmo tamanho, com exceção das sementes tamanho 3, após o trieur, onde o dano severo em sementes redondas foi maior do que em sementes achatadas,
provavelmente, o fato se deve a maior velocidade adquirida
pelas sementes durante a passagem pelo equipamento. A cada
impacto a semente se torna mais sensível ao dano mecânico,
produzindo, por fim, um aumento no número de danos nas
sementes (Mason et al., 1982). Resultado semelhante já haviam sido observados por Wortman & Rinke (1951).
As médias de germinação, teste de frio e condutividade
elétrica, nas diferentes etapas do beneficiamento, estão na Tabela 2. Não houve diferenças nas etapas que antecederam a
debulha.
Após o elevador houve variações na germinação, tal qual
haviam verificado Baudet et al. (1978), quando constataram
que os elevadores aumentam de forma significativa os danos
mecânicos nas sementes, durante o beneficiamento. Os danos nas sementes de milho tiveram efeitos na germinação,
principalmente, quando o dano foi na região do embrião, tal
qual observado por Carvalho et al. (1999).
Na fase de classificação por forma e tamanho, após o
cilindro, notou-se que as sementes classificadas como R2
apresentaram germinações mais elevadas, embora não diferindo das classificadas como R3. As sementes achatadas classificadas como C2 mostraram maiores germinações, sem diferirem das classificadas como C3. Após o trieur, as sementes classificadas como R1 diferiram das R2 e R3. Porém, as
sementes achatadas, classificadas como C2, apresentaram
QUALIDADE DE SEMENTES DE MILHO APÓS O BENEFICIAMENTO
101
as redondas 32,2%. Esses resultados são semelhantes aos observados por Borba et al. (1995),
que para a cultivar de milho BR 106, na faixa
de 5,6 a 23,9% de danos não verificaram efeiEtapas do
Germinação
Teste de frio
Condutividade
tos na germinação.
beneficiamento
(%)
(%)
elétrica
Quanto ao vigor das sementes, avaliado
pelo teste de frio, observou-se os efeitos das
Colheita
98a bc
86a bc
22,13a b
Pré-limpeza
99a b
93a
21,16a bc
etapas do beneficiamento sobre a qualidade fiSecagem
99a b
88a b
20,16 bc d
siológica. O melhor resultado foi obtido nas seDebulha
97a bc de
71
e f gh
17,08
de f g
mentes após a pré-limpeza (93% de plântulas
Elevador externo da torre 95 c de f
70
e f gh
17,07
de f g
normais), porém esse resultado não diferiu daForma e tamanho
............................ Após o cilíndro ............................ queles obtidos após a colheita e a secagem, com
Redonda 1
93
ef
55
i 17,49
de f g
sementes achatadas de tamanho 2 (após cilíndro)
55
i 15,40
fg
Redonda 2
97a bc d
e achatadas de tamanho 3 (após trieur). No enRedonda 3
95 bc de f
59
hi 18,50 bc de f
tanto, após a debulha houve redução do vigor
Achatada 1
95
de f
73
de f g
16,91
de f g
das sementes com diferenças entre a forma e o
Achatada 2
98a bc
80a bc de
19,83 bc de
tamanho das sementes, visto que a partir desse
Achatada 3
96a bc de f
59
hi 17,82 c de f
ponto houve aumento significativo dos danos
..............................Após o trieur .............................. mecânicos. Esses resultados concordam com
61
ghi 19,20 bc de
Redonda 1
97a bc de
aqueles obtidos por Wortman & Rinke (1951),
Redonda 2
93
f
61
ghi 24,09a
que constataram eficiência do teste de frio para
Redonda 3
88
g 73 c de f g
20,94 bc d
estratificar lotes de sementes com diferentes
Achatada 1
96a bc de f
68
f gh
16,84
de f g
níveis de danos mecânicos e Borba et al. (1994),
Achatada 2
99a
77 bc de f
21,33a bc
Achatada 3
95 bc de f
82a bc d
19,69 bc de
que nas sementes de milho híbrido da cultivar
....................Após a mesa de gravidade.................... BR 201 fêmea, observaram redução no vigor,
de forma imediata e significativa com o aumento
Redonda 1
93
f
51
i 14,40
g
dos danos mecânicos.
Redonda 2
93
f
68
f gh
19,60 bc de
Redonda 3
96a bc de
73 c de f g
15,30
fg
Quanto ao vigor das sementes, avaliado
Achatada 1
98a bc
61
ghi 16,27
ef g
pelo teste de condutividade elétrica, também se
de f g
21,17a bc
Achatada 2
99a b
73
observou efeitos das etapas do beneficiamento,
Achatada 3
96a bc de f
71
e f gh
19,95 bc d
sobre a qualidade fisiológica. Antes da classifiMédias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem pelo teste de Tukey, a 5%.
cação das sementes, o melhor resultado foi obtido após a colheita, porém esse resultado não
diferiu daqueles obtidos após a pré-limpeza ou
maiores porcentagens de germinação, mas não diferiram das
a secagem. No entanto, após a debulha houve variação no vigor
classificadas como C1. Após a mesa de gravidade, a compadas sementes em função do tamanho e da forma, visto que a
ração entre sementes redondas de mesmo peso, mas de tamapartir desse ponto houve aumento dos danos mecânicos.
nho diferente mostrou que, as sementes classificadas como
Após o trieur, notou-se que as sementes classificadas como
R3 diferiram das classificadas como R2, sendo que as seR1 mostraram-se mais vigorosas, mas não diferiram das R3.
mentes achatadas não diferiram entre si.
Entre as achatadas, o teste de condutividade elétrica mostrou
Comparando a germinação das sementes de tamanho 1,
que as classificadas como C1 foram as mais vigorosas. Ao se
a forma achatada foi melhor do que a redonda, após a mesa
comparar as sementes de formas diferentes, mas do mesmo
de gravidade; para sementes de tamanho 2, a forma achatada
tamanho, observou-se que elas não diferiram entre si.
após o trieur e mesa de gravidade teve melhor germinação do
Após a mesa de gravidade, o resultado da condutividade
que a forma redonda; para sementes de tamanho 3 a forma
elétrica das sementes redondas, classificadas como R1, apreachatada foi melhor após o trieur, embora as sementes achasentou maior vigor, sem diferir da R3. Quando foram compatadas tenham apresentado 25,5% de danos mecânicos totais e
radas as sementes achatadas, de tamanhos diferentes, obserTABELA 2. Percentagem de germinação e de plântulas normais pelo
teste de frio e condutividade elétrica (µS/cm/g) em sementes
de milho do cultivar 32R21, após as etapas do beneficiamento. Santa Cruz do Sul, 1998.
Revista Brasileira de Sementes, vol. 24, nº 1, p.97-102, 2002
102
N.L. MENEZES et al.
vou-se que aquelas classificadas como C1 foram mais vigorosas.
Foram significativos os coeficientes de correlação linear
entre dano mecânico severo e germinação (r =-0,754), teste
de frio (r=-0,535) e dano mecânico médio (r=0,677) e, entre
germinação e teste de frio (r=0,416) e entre teste de frio e
condutividade elétrica (r=0,512). Assim, o dano mecânico é,
em parte (quando severo), responsável pela perda de qualidade fisiológica das sementes e que a metodologia aplicada no
teste de condutividade elétrica não foi adequada para identificar a qualidade fisiológica das sementes. A falta de correlações pode justificar os resultados obtidos no teste de
condutividade elétrica, que foram discrepantes daqueles verificados no teste de frio. As sementes, no início do
beneficiamento, mostraram menor vigor do que após a passagem pela debulha ou trieur, onde aumentaram os danos mecânicos. Este teste não se mostrou eficiente para indicar o
vigor de sementes de milho, quando os tratamentos produzem variações nos danos mecânicos, pois as sementes com
danos visíveis foram eliminadas do teste.
CONCLUSÕES
! O beneficiamento das sementes de milho da cultivar 32R21
afetou a qualidade física e fisiológica, por aumentar os danos mecânicos;
! os danos mecânicos são produzidos progressivamente a partir da debulha mecânica e, no final do beneficiamento, as
sementes redondas apresentaram maior percentagem de danos do que as sementes achatadas;
! a separação das sementes de milho do híbrido super precoce 32R21 por forma e tamanho não afetou a germinação,
porém o vigor foi afetado pelas etapas do bene-ficiamento,
quando estas estão associadas a danos mecânicos severos;
! para o híbrido super precoce 32R21, a mistura de diferentes tamanhos nas sementes redondas apresentaram vigor
semelhante à mistura de diferentes tamanhos nas sementes
achatadas.
REFERÊNCIAS
BAUDET, L.; POPINIGIS, F. & PESKE, S.T. Danificações
mecânicas em sementes de soja (Glycine max (L.) Merrill)
transportadas por um sistema elevador-secador. Revista
Brasileira de Armazenamento, Viçosa, v.3, n.4, p.29-38, 1978.
BORBA, C.S.; ANDRADE, R.V.; AZEVEDO, J.T. & OLIVEIRA,
A.C. Efeito da debulha mecânica na qualidade de sementes de
milho (Zea mays L.). Revista Brasileira de Sementes, Brasília,
v.16, n.1, p.68-70, 1994.
BORBA, C.S.; ANDRADE, R.V.; ANDREOLI, C.; AZEVEDO, J.T.
& OLIVEIRA, A.C. Ocorrência de danos mecânicos e
qualidade fisiológica de sementes de milho (Zea mays L.). In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE SEMENTES, 9,
Florianópolis, 1995. Informativo ABRATES, Londrina, v.5,
n.2, p.51, 1995. (Resumos)
BORGES, J.W.M. Trincamento interno, tratamento fungicida e
qualidade de sementes de milho (Zea mays L.) no
armazenamento. Pelotas: UFPel/FAEM, 2001. 37p. (Tese
Doutorado).
BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para
análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 1992.
365p.
CARVALHO, M.L.M.; AELST, A.C.van; ECK, J.W.van &
HOEKSTRA, F.A. Pre-harvest stress cracks in maize (Zea mays
L.) kernels as characterized by visual, x-ray and low temperature
scanning eletron microscopical analysis: effect on kernel
quality. Seed Science Research, Wallingford, v.9, n.3, p.227235, 1999.
CARVALHO, N.M. & NAKAGAWA, J. Sementes: ciência,
tecnologia e produção. 3.ed. Campinas: Fundação Cargill,
1988. 424p.
CASSINI, C. Cosecha antecipada y secado. In: MAIZ - COSECHA,
SECADO Y ALMACENAMIENTO. Cuardeno de
actualization tecnica. Cordoba: INTA, 1992. n.10, 40p.
FANCELLI, A.L. & LIMA, U.A. Milho: produção, préprocessamento e transformação agroindustrial. São Paulo:
Secretaria da Indústria, Comércio e Tecnologia/FEALQ, s.d.
112p. (Série extensão agroindustrial, 5).
HALL, E.G. & JOHNSON, W.H. Kernel crackage induced by
mechanical shelling. Transaction of the ASAE, St. Joseph,
v.3, n.1, p.51-55, 1970
KIKUTI, A. L.P.; VON PINHO, E.V.R. & REZENDE, M.L. Estudos
de metodologias para condução do teste de frio em sementes
de milho. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.21, n.2,
p.175-179, 1999.
MASON, S.C.; VORST, J.J.; HANKINS, B.J. & HOLT, D.A.
Standard, cold and tetrazolium germination tests as estimators
of field emergence of mechanical damage soybeans seed.
Agronomy Journal, Madison, v.74, n.3, p.546-550, 1982.
ALVES, W.M.; FARONI, L.D.; CORRÊA, P.C.; QUEIROZ, D.M.
& TEIXEIRA, M.M. Influência dos teores de umidade de
colheita na qualidade do milho (Zea mays L.) durante o
armazenamento. Revista Brasileira de Armazenamento,
Viçosa, v.26, n.2, 40-45, 2001.
SADER, R.; CHALITA, C. & TEIXEIRA, L.G. Influência do
tamanho e do beneficiamento na injúria mecânica de sementes
de amendoim. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.13,
n.1, p.45-51, 1991.
AOSA - ASSOCIATION OF OFFICIAL SEED ANALYSIS. Seed
vigor testing handbook, East Lasing, 1983. 88p. (Contribuition, 32).
WORTMAN, L.S. & RINKE, E.H. Seed corn injury at various stages
of processing and its effect upon cold test performance.
Agronomy Journal, Madison, v.43, n.7, p.299-305, 1951.
Revista Brasileira de Sementes, vol. 24, nº 1, p.97-102, 2002
Download

qualidade física e fisiológica das sementes de milho após