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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 12 de junho de 2011
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O nascimento e o desenvolvimento de uma empresa demandam muito cuidado de seus proprietários. As incubadoras auxiliam
nesse processo e ajudam a evitar a morte precoce de empreendimentos inovadores. No DF, existem três delas
A
sobrevivência de uma empresa depende da capacidade que ela tem de se adaptar
a mudanças. Para isso, conhecimento é essencial. E não basta
entender apenas do que se vende. É
necessário saber o que o cliente procura, como promover o produto e
como medir os resultados, enfim, ter
uma visão de mercado. É justamente
esse o objetivo das incubadoras de
empresas: ajudar quem tem uma
ideia nova e impedir que o empreendimento seja um dos 25% que fecham as portas até dois anos depois
de terem começado a atuar — esse
número é divulgado pelo Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
A incubadora é um mecanismo
que estimula o surgimento e o amadurecimento de novas empresas. O
presidente da Associação Nacional
de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias
Avançadas (Anprotec), Guilherme
Plonky, explica que ela é “uma solução para o empreendedorismo inovador e reduz a perda de bons negócios”. Para isso, elas oferecem vários
serviços e muitas vezes espaço físico
para as empresas selecionadas. Mas
não basta querer para entrar em um
desses organismos. O empenho é
obrigatório, pois há um processo seletivo e a concorrência costuma ser
grande. As especificidades de cada
um variam de acordo com a incubadora, mas todas pedem que o candidato traga algo novo. “Não faz sentido incubar uma padaria, por exemplo, que faz tudo como as outras. Seria concorrência desleal, já que há
dinheiro público”, explica Plonky.
De acordo com a Anprotec, 85%
das incubadoras estão ligadas a universidades ou centros de pesquisa,
muitos deles públicos. Essa situação
é especialmente brasileira, já que esse não é o cenário mundial do movimento. A explicação está na raiz da
incubação no Brasil. O mecanismo
surgiu em 1984, na esteira da criação
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) do programa brasileiro de
parques tecnológicos. Ele visava melhorar a cooperação entre o mercado
e as universidades para aumentar o
aproveitamento do saber que elas
desenvolvem. Assim, a inovação e o
empreendedorismo começaram a
ser disseminados a partir desses polos de conhecimento.
Movimento na capital
O Distrito Federal conta com três
incubadoras, todas ligadas a universidades. A mais antiga delas é a
do Centro de DesenvolvimentoTec-
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
Proprietários e equipe da Mux Tecnologia: antes de ser incubada, empresa foi preparada no “hotel de projetos”
85%
das incubadoras estão ligadas a
universidades ou centros de
pesquisa, muitos deles públicos
Viabilidade
Plano de negócio é um documento
que mostra se o empreendimento
é viável. Para isso, ele analisa
todos os aspectos da criação
da empresa.
nológico (CDT) da Universidade de
Brasília. Ela foi criada em 1989 e demorou para ver surgir uma companheira. Apenas 13 anos depois, em
2002, a Universidade Católica de
Brasília (UCB) montou a Incubadora Tecnológica de Empresas e Cooperativas (Itec). Logo depois veio a
Casulo, vinculada ao Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
Juntas, as três já graduaram 81 em-
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presas e contam com 27 outras em
incubação. O número de instituições, porém, é baixo diante das
mais de 400 existentes no Brasil.
O gestor da Itec, Clodoaldo Pereira, é otimista quanto ao futuro
da incubação em Brasília. “O DF
tem um grande potencial de crescimento. Aqui há várias instituições
de ensino superior interessadas”,
afirma. Diferentemente das empresas, as incubadoras não são concorrentes entre si. Pereira acredita
que quanto mais, melhor. Para ele,
a pressão para que o governo ofereça mais ajuda só acontecerá quando o número delas engrossar.
As três também têm um funcionamento parecido. Elas lançam um edital contendo os requisitos e o que é
necessário fazer para participar. Eles
são abertos para qualquer pessoa.
Não é necessário que o inscrito estude ou tenha estudado na universidade vinculada à incubadora pleiteada.
O melhor é que os interessados tenham o projeto da empresa consolidado, mas o plano de negócio, caso
não exista, pode ser concebido com a
ajuda do órgão, que oferece capacitação nesse sentido para os inscritos.
Depois de aprovadas, as empresas ganham espaço físico e capacitação em áreas como marketing,
conhecimentos jurídicos, contabilidade. Todas servem para mostrar
o outro lado de se ter uma empresa
para o selecionado. Segundo Tatyana Aranda, funcionária da Gerência de Desenvolvimento Empresa-
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rial do CDT, isso é necessário poque os empreededores chegam ao
CDT com muito conhecimento
técnico sobre a área de atuação da
empresa, mas nenhuma ou pouca
experiência de mercado. As instituições também oferecem ajuda
para a participação em projetos de
fomento e feiras empresariais. Mas
esse auxílio não é de graça. Nas três
possibilidades, é necessário pagar
uma taxa de condomínio abaixo
dos preços de mercado.
Receita
As empresas incubadas têm despesas, logo, também precisam de
receitas. Por isso, já atuam no mercado e contam com clientes que pagam pelo serviço. Esse é o caso da
Mux Tecnologia. Ela já existe formalmente desde 2007. Antes disso,
os três sócios, Luis Antônio Barbosa, 39 anos, Vagner dos Santos, 25, e
Edson Hung, 31, já tinham o projeto
e a ideia central do empreendimento, mas não faziam parte do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
(CNPJ). Isso porque eles participaram de uma outra parte da incubadora do CDT que é única no DF: o
hotel de projetos. Ele funciona como um preparatório para a incubação e dura um ano. Após o término do prazo, a empresa deve tirar um CNPJ e possuir um plano de
negócios. Para ajudar, o CDT fornece uma estação de apoio, composta por um espaço com compu-
tador em um sala dividida por todos os hóspedes. Em 2008, a Mux
passou pela banca que avalia os
projetos e foi para a próxima etapa.
Desde então, eles ocupam uma
sala na sede do CDT, onde otimizam
o sistema de telefonia de seus clientes e reduzem custos com a tecnologia que desenvolvem ali. O plano,
até o fim do ano, é continuar no
câmpus da UnB, onde fica o CDT.
“Depois, vamos reavaliar e planejar
os próximos passos. Aí decidiremos
se vamos para uma sede própria ou
não”, conta Luis. E planejamento é
essencial dentro de uma incubadora. Isso porque periodicamente a
empresa é avaliada. O objetivo é ver
se a empresa pode se graduar, ou seja, deixar para trás a instituição e caminhar com as próprias pernas. As
outras opções são continuar na incubação, caso percebam que a empresa ainda não está madura o suficiente para o mundo exterior, ou pedir o desligamento, se concluírem
que o empreendimento é inviável.
Não há tempo máximo de permanência para uma empresa em
uma incubadora. Cada uma avalia
o tempo ideal, que costuma variar
entre dois e três anos para as instituições do DF. Enquanto essa hora
não chega, a Mux continua os planos para o futuro. Seus proprietários contam com um funcionário
remunerado e estão à procura de
um estagiário. Além disso, a Mux já
fornece equipamento para que outra empresa revenda. Em relação à
incubação, eles não se arrependem:
“ Vir para cá foi o caminho natural,
nem imaginamos outra opção”.
A Wise Indústria de Telecomunicação foi fundada em 1989, mas só
entrou na incubadora do CDT em
1991. Ela passou três anos lá, período
de grande aprendizado para a fundadora Suely Silva, 54 anos.“A experiência foi muito boa. Saímos mais capacitados e aprendemos a reduzir os
custos da empresa”, lembra. O que
mais a marcou foi a ajuda na participação de editais de fomento que colaboraram com o desenvolvimento
financeiro da companhia. Hoje, ela já
conta com mais de 50 funcionários.
Os números comprovam a eficácia do mecanismo. Segundo o presidente da Anprotec, Guilherme
Plonks, 90% das empresas que se
graduam em uma incubadora continuam atuantes depois dos dois primeiros anos de voo solitário. A estimativa é que mais 10 mil empresas
cheguem ao mercado nos próximos
nove anos. E ele é só otimismo:
“Quando começou tudo isso, o tema
da inovação era muito distante da
sociedade. Hoje, está muito presente
e a tendência é só melhorar”.
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