SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DE CURSOS (SGC)
INOVAÇÕES E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Leonardo Humberto Soares1
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Resumo: O presente artigo teve como objetivo colaborar com o debate acerca da eficácia na
utilização dos Sistemas de Gerenciamento de Cursos (SGC) como recurso de aprendizagem a
distância. Verifica-se que grande parte das instituições que se utilizam dessa modalidade de
ensino investe uma quantia considerável na aquisição, implementação e manutenção dessas
ferramentas. Todavia, percebe-se que as mídias tradicionais, o contato presencial e a relação
entre aluno e preceptor ainda superam a utilização dos recursos autônomos e interativos vistos
no SGC, mesmo onde os fatores tecnológicos não são empecilhos para o aluno. Acredita-se
que na ânsia em se disponibilizar o ambiente virtual e o conteúdo on-line, constantemente se
ignora dimensões importantes que complementam ou vão além do próprio recurso
tecnológico, sendo que a interface e o material didático são geralmente subestimados. Fica
subentendido que o principal problema desse recurso está no planejamento de suas atividades.
Está ação é realizada pela equipe responsável pela construção do curso, sendo então um
problema de ordem pedagógica, administrativa e econômica.
Palavras-Chave: Tecnologia Educacional, Ambiente Virtual de Aprendizagem, Gestão e
Educação.
Introdução
O processo de desenvolvimento tecnológico sempre esteve arraigado ao próprio
processo de desenvolvimento do ser humano. Desde o período Paleolítico, com a confecção
de utensílios e materiais construídos a partir da pedra lascada, até a fissão nuclear vista na
contemporaneidade, percebe-se como a tecnologia (nas suas mais diversas manifestações)
atua como catalisador de transformações sociais.
Três grandes mudanças na sociedade podem exemplificar essas transformações: o
advento da fase agropastoril, quando as relações entre o homem e o ambiente, a vida social, os
bens de riqueza, a cultura e a educação se vinculavam diretamente a propriedade da terra
(evento esse que se deu por milhares de anos); a fase industrial, quando a relação existente
anteriormente migrou-se para o estabelecimento de um vínculo homem/máquina, de forma
que a força produtiva do homem se viu multiplicada e de onde resultou o atual modelo de
educação visto em nossas instituições (fase esta que durou cerca de 250 anos); e a atual fase
da gestão do conhecimento, onde se verifica novamente a mudança das relações sociais, agora
potencializadas pela interação do homem com o conhecimento, a inovação, a virtualidade e a
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aprendizagem. Percebe-se que esse parâmetro é bem mais rápido do que os anteriores. Quanto
mais rápido cresce o valor do conhecimento, menor é o valor da terra e da indústria
(CASTELLS, 1999).
Soma-se a isso a crescente globalização, vista aqui como a quebra dos paradigmas
tradicionais de espaço/tempo e, consequentemente, da maior flexibilidade e agilidade
comunicacional (VIRGÍLIO, 1996). A sociedade vê-se encaminhada para uma mudança de
paradigmas em todos os âmbitos relacionados ao conhecimento. Essa nova realidade cria
laços extremamente dependentes dos contextos comunicacionais e tecnológicos, enquanto se
integra ao cotidiano contemporâneo.
Nesse cenário, a Educação a Distância (EAD) aparece cada vez mais como uma
modalidade de ensino apta para atender as novas demandas educacionais decorrentes dos
modelos emergentes. Enquanto proposta, a EAD figura como um instrumento de
mediatização das relações de aprendizagem existentes entre professores e alunos, de modo a
complementar a assistência regular à aula com uma proposta na qual os docentes ensinam e os
discentes aprendem mediante situações não convencionais e em espaços e tempos não
compartilhados (LITWIN, 2001).
Os instrumentos de mediação entre professor e aluno sempre foram fomentadores de
discussões importantes para o processo de ensino. Em toda sua trajetória, a história da
Educação fora considerada um processo complexo que envolve algum meio de comunicação
como complemento ou apoio à atividade do professor em sua interação com o aluno. Belloni
(2003) afirma que estes meios (ou mídias) são vários e em determinados momentos não
percebidos, como, por exemplo, a sala de aula, o giz, o quadro negro, o livro e outros
materiais que são considerados como ferramentas tecnológicas. Percebe-se que o processo de
interação entre professor e aluno na EAD é realizado de maneira indireta, o que ocasiona uma
necessidade explícita de instrumentos de mediatização baseados em suportes técnicos de
comunicação, de onde decorre a grande importância dos meios tecnológicos na EAD.
Mas, o que vem a ser tecnologia em educação? Pode-se considerar tecnologia como
“um conjunto de discursos, práticas, valores e efeitos sociais ligados a uma técnica particular
num campo particular” (LINARD, 1996, p.199 apud BELLONI, 2003, p.53). Neste contexto,
verifica-se que desde o surgimento da EAD foram incorporadas diferentes tecnologias que
definiram os suportes do modelo em seus distintos momentos: livros e cartilhas específicas
em seu início; TV e rádio na década de 70, áudios e vídeos na década de 80; redes de satélite,
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Internet e e-mail nas décadas de 90 (LITWIN, 2001). Nas décadas advindas a partir daí,
aumentam as controvérsias a respeito do papel e da relação destes suportes no processo de
aprendizagem.
Partindo do que foi exposto, o presente artigo tem como objetivo colaborar com a
reflexão acerca da utilidade e uso das ferramentas on-line2 (especificamente dos Sistemas de
Gerenciamento de Cursos - SGC), com o processo de ensino-aprendizagem vivenciado pelo
aluno.
Internet e Sistemas de Gerenciamento de Cursos (SGC)
Grande potencializadora do processo de EAD, a tecnologia baseada na microeletrônica
foi acusada em vários momentos de se sobrepor ao homem no processo de formação do aluno,
principalmente quando coloca como foco a relação conteúdo/método à frente das demais
preocupações no processo de aprendizagem.
Nesta situação, verificam-se questionamentos sobre a supremacia do material em
relação ao educador, tanto que “se um programa não produz os resultados esperados, a
tendência é investir na capacitação do professor”. Ou ainda, “[...] não são levantadas dúvidas
acerca da qualidade dos materiais, das condições de recepção, dos modos de apropriação, ou
mesmo dos efeitos do estatuto de modelo de que estão investidos” (BARRETO, 2003, p. 24).
A despeito das discussões sobre a efetividade das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) no processo de construção cognitiva, é certo que a EAD cresce de forma
significativa, registrando um índice de desenvolvimento acumulado de 140% entre os anos de
2002 e 2010, sendo que somente no ano de 2010 houve um crescimento de 14,6% (ABMES,
2011).
Nesse cenário, a Internet assume papel de destaque devido às possibilidades de troca
entre professor/aluno em ambientes virtuais que podem simular o mundo real. Essas
possibilidades acabaram por lançar ao mercado uma série de soluções educacionais que se
fundamentaram nas práticas de construção de instrumentos que se baseiam na estrutura de
sítios3 comerciais da web4.
A partir da experiência adquirida na construção dessas soluções e levando-se em
consideração as particularidades e restrições tecnológicas encontradas na mídia on-line, foi
verificada a necessidade de se criar padrões e conceitos de arquitetura da informação,
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marcação e aproveitamento de conteúdo que interagisse com os instrumentos administrativos
utilizados dentro de um projeto de EAD (LUCENA, 2007). Como resultado dessas reflexões,
foram concebidas ferramentas de uso específico dentro do contexto, como SCORM5,
Learning Objects e Learning Management System (LMS), mais conhecido no Brasil como
Sistemas de Gerenciamento de Cursos (SGC) ou ainda com Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA).
Seguindo as tendências de disseminação da tecnologia, verificou-se o rápido
crescimento da utilização de soluções baseadas na estratégia de SGC, principalmente nas
Instituições de Ensino Superior (IES). Ferramentas como Blackboard, WebCT, ECollege,
Moodle, e outras foram apresentadas como soluções viáveis para os problemas de interação
vistos na EAD tradicional.
Todavia, a prática está demonstrando que a integração do processo de aprendizagem
com o SGC não se mostra tão simples ou efetivo como a maioria dos especialistas da área de
tecnologia da informação prega. Problemas relacionados à integração entre os recursos
pedagógicos e administrativos, o alto custo, o método de avaliação e a interação entre a
ferramenta e o tutor geram questionamentos e discussões que podem dificultar a sua
utilização.
Esses questionamentos ganham força quando se verifica alguns indícios de que as
instituições de ensino ainda se apoiam na estratégia dos estudos independentes, nos encontros
presenciais e na relação aluno com preceptor nos cursos de EAD, e não na TIC como
principal instrumento de intervenção. Esses indícios podem ser levantados pelos dados
apresentados pelo Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância
(ABRAEAD) que apresenta os resultados coletados para o ano de 2007. Segundo esta
publicação, a mídia mais utilizada em cursos a distância no país para aquele ano foi o material
impresso (utilizado em 86% das instituições pesquisadas), seguida pelo e-learning (utilizado
em 56% das instituições pesquisadas) e logo após o cd-rom (utilizado em 42,9% das
instituições pesquisadas). Também se verificou que na maioria das instituições os paradigmas
presenciais ainda resistem na EAD, como o professor (72%) e a reunião presencial (58%). A
avaliação escrita presencial ainda se apresentou como a forma mais utilizada pelas instituições
de EAD (64,3%) e o e-mail foi o apoio tutorial mais comum (86,75%), seguido pelo telefone
(82,7%), o professor on-line (78,6%) e o professor presencial (70,4%) (SANCHEZ, 2007).
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Esse quadro pode indicar dissonâncias entre os discursos presentes na EAD e a prática
encontrada nas instituições de ensino que implementaram a sua utilização.
Os
questionamentos se convergem, principalmente, sobre o processo de mediatização virtual e o
método de interação professor/aluno, considerado como um dos pilares da proposta de ensino
a distância baseada na Internet.
O discurso geralmente empregado para defender o SGC se utiliza da literatura clássica
para dar suporte à utilização desses recursos. Baseando-se em Vygotsky, por exemplo,
argumenta-se que a produção do conhecimento é fundamentada na interação do indivíduo
com a sua realidade e com os outros. Empregando Piaget, afirma-se que o grupo é o ambiente
ideal para que o indivíduo interaja com os objetos e com o mundo para construir o seu
conhecimento. Esses conceitos evidenciariam a eficácia da EAD apoiada por plataformas
virtuais como o SGC, visto que essas favoreceriam a construção de grandes grupos
colaborativos e interativos.
Todavia, se esse discurso fortalece o valor das plataformas virtuais como instrumento
de construção cognitiva, dadas as suas possibilidades de interação, por que então os ambientes
de Sistemas de Gerenciamento de Cursos (SGC) ainda não conseguiram sobrepor-se às mídias
tradicionais (e não interativas) mesmo onde os fatores tecnológicos não são empecilhos?
Respeitando as suas limitações, a compreensão desse questionamento auxiliaria no
entendimento do papel das ferramentas tradicionais em um ambiente onde o sujeito
contemporâneo já incorpora a tecnologia em seu cotidiano. E, ainda, permitiria definir com
mais clareza se a ferramenta on-line é fundamental para o processo de aprendizagem ou atua
somente como um instrumento de apoio.
Tecnologia, Mídia e Material Didático
Tratar sobre Sistemas de Gerenciamento de Curso (SGC) envolve uma série de
variáveis que impactam em sua utilização. Questões técnicas (aquisição de hardware e
software, escolha da plataforma virtual, disponibilização de links exclusivos de banda larga),
questões administrativas (interação com o sistema administrativo e financeiro da instituição,
construção de relatórios de acompanhamento administrativo e feedback estratégico) e
questões pedagógicas (elaboração de material didático, construção de conteúdo on-line,
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escolha das mídias utilizadas) convergem e interagem para o seu sucesso (MOORE;
KEARSLEY, 2005).
O cenário exposto, anteriormente, tem relação com todas as dimensões apresentadas. A
inadequação técnica pode, por exemplo, levar o aluno a preferir o material impresso ao
ambiente virtual, devido à ineficiência ou lentidão desse último. Uma análise administrativa
equivocada pode conduzir o gestor a oferecer o atendimento on-line para um público que
prefere o atendimento via telefone. Uma mídia imprecisa ou um material didático inadequado
pode potencializar o desinteresse ou abandono do aluno em relação à plataforma virtual.
Apesar de todos os aspectos apresentados serem relevantes, a discussão sobre a
relação entre tecnologia, mídia e material didático apresenta indícios mais tangíveis sobre os
problemas identificados na utilização do SGC.
Segundo Moore e Kearsley (2005), o emprego do termo “tecnologia” como sinônimo
para “mídia” é comum no cotidiano. Entretanto, essa relação se apresenta como equivocada.
Quando se utiliza do termo “tecnologia” não se refere especificamente aos recursos oriundos
da microinformática, mas sim, as dimensões do processo de comunicação e interação
existentes em dado contexto. Para Moore e Kearsley (2005), as tecnologias podem ser
compreendidas como um veículo para a transmissão de mensagens a um receptor. Essas
mensagens são acondicionadas em mídias (ou meios) que possuem capacidades e funções
distintas: texto, imagem, sons e dispositivos.
A mídia de texto é disseminada por meio de livros, material impresso, dispositivos
eletrônicos estáticos e dinâmicos (on-line). A mídia sonora é distribuída por meio de fitas,
CD’s, telefone, dispositivos eletrônicos e on-line. As imagens podem ser manuseadas por
meio de material impresso, dispositivos eletrônicos e on-line. O grande atrativo da tecnologia
on-line se dá pelo fato de atuar com todos os tipos de mídia existentes.
Ao mencionar os aspectos tecnológicos, Moore e Kearsley (2005) compreendem que a
sua influência está presente em vários momentos: na construção do curso, nos processos
administrativos, na interação da organização com o professor e na virtualização da relação
entre o docente e o aluno.
Ensino a Distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em
um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais de criação
do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e
disposições organizacionais e administrativas especiais (MOORE;
KEARSLEY, 2005, p. 2).
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Na contemporaneidade, o ambiente tecnológico que mais se aproxima dessa possível
convergência sistêmica de instrumentalização é a Internet. Isso porque a sua estrutura permite
a desconstrução dos paradigmas de tempo e espaço percebidos no processo de ensino
tradicional, além comportar o suporte de todos os tipos de mídia existentes por meio de sua
estrutura on-line. Esta funcionalidade foi identificada e implementada pelas instituições de
ensino por meio dos SGC.
O aluno, enquanto sujeito participante desse processo, também acompanha as
mudanças tecnológicas inseridas em seu cotidiano, mas em uma velocidade diferente da vista
na instituição de ensino. Respeitando o contexto social e cultural, percebe-se que alunos mais
jovens tendem a superar as propostas tecnológicas institucionais devido à sua imersão e
assimilação aos conceitos comunicacionais presentes em sua formação. Já os adultos ou
pessoas de mais idade tendem a ter dificuldades em acompanhar essas mesmas mudanças,
visto que a sua formação não os preparou adequadamente para a assimilação de tamanha
quantidade de recursos que agora se apresenta.
A forma pela qual o aluno se relaciona com as ferramentas oferecidas pela instituição
repercute no êxito da sua formação em um curso a distância. Isso porque, segundo Belloni
(2003), a aprendizagem autônoma se destaca como um dos fatores básicos nessa modalidade
de ensino. A experiência do aluno se torna condutora do processo, transformando o ambiente,
o conteúdo, os instrumentos tecnológicos e o tutor em recursos de aprendizagem. O aluno é
considerado, então, como “um ser autônomo, gestor de seu processo de aprendizagem, capaz
de autodirigir e autorregular este processo” (BELLONI, 2003, p. 40).
Mas, apesar das expectativas em relação a um perfil autodidata nos cursos de EAD,
não se diminui o papel do professor (ou tutor) enquanto catalisador do processo de interação
entre o aluno e as ferramentas já citadas. Segundo Santos (2003), faz-se necessária a
compreensão da natureza dos processos interativos estabelecidos com o conteúdo, de forma
que os tutores criem uma interação dialógica com os instrumentos oferecidos. Santos (2003)
indica que diferentes autores/leitores de hipertextos6 interligados negociam sentidos e
constroem conhecimentos coletivamente.
Para auxiliar o tutor nessa tarefa, o SGC propõe a utilização de interfaces que devem
auxiliar o processo interação entre aluno/ambiente. A interface se apresenta como um dos
principais elementos de mediação na EAD. Segundo Maddix (1990, apud BARROS, 2003), a
interface deve ser vista como um dos elementos do sistema que permite o contato do usuário
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por meio do plano físico, perceptivo e cognitivo. Para tanto, Barros (2003) aponta três
características importantes que a interface deve possuir: facilidade de aprendizagem,
simplicidade de uso e clareza. Almeida (2003) já chama a atenção para a flexibilidade
necessária à interface, uma vez que esta permite a integração de várias mídias e meios de
comunicação, além de socializar o conhecimento.
Apesar do seu relevante papel, a interface não age sozinha no processo de
mediatização. Ao seu lado, encontra-se as estratégias vistas no material didático construído
para o curso. Belloni (2003) reflete sobre a importância do material didático para a realização
de um curso a distância, defendendo que o sucesso do mesmo é definido pelo seu
planejamento, realização e distribuição. Assim, o material didático seria, em essência, um
meio mediatizante em que o aluno teria acesso ao conhecimento, sendo que o tutor
manipularia este material em vários momentos do processo de ensino aprendizagem, agindo,
também, como base para os métodos de avaliação. Para tanto, Neder e Possari (2001, p.160
apud SANTOS et all, 2006, p.3) citam algumas expectativas em função do material didático:
privilegiar o diálogo permanente e a orientação ao aluno; motivar para a aprendizagem e
ampliação do conhecimento; viabilizar a compreensão crítica dos conteúdos; instigar a
pesquisa; e possibilitar o acompanhamento e avaliação do processo de aprendizagem.
Enfim, percebe-se que a escolha da tecnologia (enquanto recurso de veiculação), da
mídia (enquanto repositório da mensagem) e a construção do material didático interferem
diretamente na relação entre o aluno e a ferramenta virtual. Entre um instrumento limitado,
mas de fácil assimilação e um ambiente avançado, mas confuso ou de difícil manuseio, o
aluno tende a optar pela primeira opção.
Os Desafios dos Sistemas de Gerenciamento de Cursos (SGC)
Como dito anteriormente, a utilização eficaz do SCG, nas instituições de ensino a
distância, depende de uma série de variáveis as quais se reúnem em questões técnicas,
administrativas e pedagógicas. Especificamente na questão pedagógica, percebe-se ainda a
necessidade de amadurecimento entre a integração do processo de aprendizagem com os
recursos tecnológicos vistos nas plataformas virtuais.
Rodrigues (2002) reflete sobre essa questão ao afirmar que faltam percepção e foco na
utilização dos recursos baseados na Internet. Ainda não se entende que a atividade fim para
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essa modalidade é o aprendizado, não a tecnologia. Segundo Rodrigues (2002), muitos
gestores educacionais continuam a cometer o erro de tentar repetir os procedimentos
presenciais para as plataformas virtuais de EAD. A linguagem é outra, a imagem é outra, e o
papel do tutor é completamente diferente. O autor também pondera que o fator cultural
repercute na utilização das ferramentas. Ainda não existem fórmulas definitivas e a transição
da mídia tradicional para a mídia on-line se dará em seu tempo, de maneira similar ao que
ocorreu quando da passagem do rádio para a televisão.
Além desses fatores, Litto e Formiga (2009) debatem sobre questões críticas a respeito
das atividades do SGC. Segundo os autores, o ambiente virtual deve utilizar-se de forma mais
eficaz do seu grande potencial motivador, devido à quantidade de instrumentos que podem ser
disponibilizados para sensibilizar o aluno. Da mesma maneira, a utilização dos recursos online deve ser pertinente à disciplina, conteúdo, habilidades e competências trabalhadas. Os
sujeitos envolvidos no processo (tutor e aluno) devem conhecer profundamente os recursos do
ambiente a fim de potencializar a sua utilização, enquanto a utilização de soluções digitais
(mídias, vídeos ou softwares em geral) deve ser utilizada com parcimônia e levando-se em
conta a capacidade de assimilação do aluno.
Todavia, deve-se lembrar de que mesmo em uma situação ideal onde todas as
questões apresentadas forem implementadas e controladas, o ambiente em si e a sua utilização
pelo aluno dependerá de fatores muitas vezes não controláveis.
Por fim, Belloni (2003, p. 104) apresenta um importante pressuposto em relação à
utilização dos recursos tecnológicos: “[...] as tecnologias não são boas (ou más) em si, podem
trazer grandes contribuições para a educação, se forem usadas adequadamente, ou apenas
fornecer um revestimento moderno a um ensino antigo e antiquado”. Talvez esse seja o maior
desafio para a utilização do SGC.
Considerações Finais
A discussão existente sobre a eficácia na utilização dos Sistemas de Gerenciamento de
Curso (SGC) é relativamente nova, já que a sua própria concepção ainda não se apresenta
totalmente amadurecida.
Contudo, as reflexões que se consolidam na literatura concordam com uma premissa
cada vez mais aceita: a integração da tecnologia na educação já não é mais uma opção, e sim,
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um fato. Citando Belloni (2003), “[...] cabe ao campo educacional integrá-las e tirar de suas
potencialidades comunicacionais e pedagógicas o melhor proveito”.
Percebe-se que as instituições que optaram por atuar no ensino a distância tentam se
adaptar e usufruir desses benefícios tecnológicos. Contudo, questiona-se a validade da
estratégia utilizada para tanto. Na ânsia de se construir um ambiente efetivo, verifica-se que,
por vezes, se ignora dimensões importantes que complementam ou vão além do próprio
recurso tecnológico. Situações onde a interface e o material didático são subestimados
exemplificam essa situação.
Enquanto recurso tecnológico, o SGC tende a evoluir e a se aperfeiçoar ao longo do
tempo. Novas ferramentas e tecnologias serão agregadas a partir do momento em que forem
surgindo. Possivelmente, não se terá uma solução totalmente acabada, mas sim uma
ferramenta melhor adaptada a um momento em específico. Os indícios verificados apontam
que a causa da superação das mídias on-line pelas mídias tradicionais não se justifica
puramente pelas questões técnicas. As possibilidades existentes nas plataformas de SCG se
mostram factíveis na medida em que se entendam as suas características essenciais e os seus
limites.
Fica subentendido que o principal problema desse recurso está no planejamento de
suas atividades. Esta ação pode ser realizada pela equipe responsável pela construção do
curso, sendo então um problema de ordem pedagógica, administrativa e econômica. A questão
pedagógica foi discutida ao longo do artigo. A questão administrativa fica latente no momento
em que o gestor valida ações equivocadas devido ao fato de não compreender claramente as
necessidades específicas do mercado em que atua. E as questões econômicas são observadas
quando a instituição espera um retorno rápido de seus investimentos em EAD não
considerando, ou considerando equivocamente, as questões de complexidade e custos desta
modalidade.
LEARNING MANAGEMENT SYSTEM (LMS)
INNOVATIONS AND CHALLENGES IN DISTANCE EDUCATION
Abstract: This paper aims to contribute to the debate about the effective use of Learning
Management Systems (LMS) as a resource for distance learning. It appears that most
institutions that use this type of education invests a considerable amount in the acquisition,
implementation and maintenance of these tools. However, it is clear that the traditional
media, the contact face and the relationship between student and tutor still outweigh the use
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of autonomous and interactive features seen in the LMS, even where technological factors are
not obstacles for the student. It is believed that in the eagerness to make the virtual
environment and online content, constantly ignoring important dimensions that complement
and go beyond the actual technological resource, and the interface and the textbooks are
usually underestimated. It is understood that the main problem of this resource is in the
planning of their activities. It's action is performed by the team responsible for building the
course, and then a problem of educational, administrative and economic.
Keywords: Educational Technology, Virtual Learning Environment, Management and
Education.
Notas:
1. Doutorando em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Mestre em Educação pela mesma
instituição – Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) - SEPN 707/907 - Campus do UniCEUB - Asa Norte Bloco 1, Sala 1014 – Brasília/DF - CEP: 70790-075.
2. Anglicismo da gíria dos internautas que se popularizou com a Internet. "Ao vivo", "Conectado" ou "Ligado".
3. Ou site: um conjunto de páginas contendo hipertextos, acessíveis geralmente pelo protocolo HTTP na Internet.
4. Ou World Wide Web: rede de alcance mundial, também conhecida como Web e WWW.
5. Sharable Content Object Reference Model (SCORM): coleção de padrões e especificações para e-learning.
6. Hipertexto: termo que remete a um texto em formato digital, ao qual se agrega outros conjuntos de informação
na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas
denominadas hiperlinks.
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