n. 213, 9 de agosto de 2011. Ano V.
uma bomba
Depois de seguidas greves de fome, realizadas no último de seus vinte e quatro anos encarcerado numa prisão de
Barcelona, Amadeu, um anarquista pôde novamente circular pelas ruas. Contudo, pouco tempo depois de sua saída,
uma jovem libertária foi detida pela Guarda Civil e os chamados Mossos d´Esquadra, polícias catalãs, por seu
suposto envolvimento no envio de pacote explosivo com destino à direção da penitenciária em que o libertário estava
encerrado. Presa há quase seis meses, a jovem terá de responder a um tribunal catalão em menos de um mês. Os
anarquistas são alvos da ânsia da polícia e do governo, que pretende exterminá-los. Entretanto, resistências ainda
pulsam. E diante do governo e da polícia, de cada prisão, tribunal, uma bomba anônima afirma a vida.
democracia e tribunal
Nessa semana, teve início, na cidade do Cairo, o julgamento do ditador egípcio Hosni Mubarak. O ditador e seus
ministros, como as Brigadas Vermelhas na Itália e os prisioneiros em Guantânamo, foram levados a julgamento
dentro de uma gaiola. Comemora-se, com isso o início da consolidação das mudanças democráticas principiadas em
fevereiro desse ano no despertar da chamada primavera árabe. Por outro lado, integrantes do movimento egípcio
temem que o julgamento coloque fim às mudanças institucionais que almejam na política do Egito, como se o
julgamento selasse a vitória da primavera árabe egípcia. O teatro grotesco da justiça reitera a condição para
mudanças democráticas: o funcionamento de um tribunal para definir a nova face do justo, da forma e da ordem na
desigualdade.
efeito pedagógico
Os observadores internacionais veem com otimismo o fato de Mubarak ser o primeiro líder político a ser julgado em
território árabe. Pois, diferente do que se passou com Saddam Hussein, julgado em território estadunidense, e com
Ben Ali, o presidente tunisiano deposto e julgado a revelia, por estar exilado na Arábia Saudita, esse julgamento
mostra a possibilidade dos povos árabes serem governados sob os princípios dos direitos humanos universais.
Contudo, há sempre a possibilidade de acionar o Tribunal Penal Internacional, como indica a situação de Gadaffi,
caso a OTAN cumpra sua “missão de paz” e consiga dali retirar com vida o ditador líbio. Assim, as novas elites do
mundo árabe vão produzindo novos procedimentos para garantir sua dominação.
disciplina da felicidade
“Quando eu falar já, joga o bambolê no chão, dá um pulo e grita: ‘eu sou feliz!’” — ordena o educador maquiado e
vestido de palhaço. É mais uma instrução para o andamento das atividades da tarde — bambolê a céu aberto —
entre os muros do Centro Especializado de Atendimento à Dependência Química (CEADQ) Bezerra de Menezes,
dirigidas aos jovens recolhidos das ruas do Rio de Janeiro. “Está faltando sorriso no rosto de vocês: 1, 2 e já!” —
estimula o palhaço. Os programas de tratamento não treinam apenas para obedecer e cumprir as regras, agora,
exigem flexibilidade e sorriso na disciplina do “jogo de cintura”. Tanto faz a experiência de vida de cada recolhido.
Estão, ali, confinados por que se decidiu que “menores não tem querer” e que realmente a polícia os capturou quando
perambulavam pelas ruas cariocas, supostamente usando drogas e incomodando com sua miséria. Devem aprender
que se é feliz preso para “seu próprio bem”. Ou, ao menos, aprender a vestir um resiliente sorriso na cara ao recolherse sujeitado.
futebol ecofriendly
Não bastasse a aglutinação de direita e esquerda em torno da questão ambiental, agora também a rivalidade do
futebol deve ser esquecida em nome da salvação do meio ambiente. Segundo o site do projeto “Jogando pelo meio
ambiente”, o interesse é fazer da popularidade do esporte e da devoção dos torcedores uma maneira de educar um
grande número de pessoas para a cidadania e a responsabilidade ambiental. Trata-se de uma criação de uma
agência de marketing especializada na criação de programas ecologicamente corretos, para governos e empresas
privadas, — que abrange dois clubes de São Paulo, um banco que faz empréstimos a aposentados e um instituto
criado na Eco-92. O projeto inclui o plantio de mudas de árvores em número baseado no placar do jogo, visando a
neutralização das emissões de carbono da partida, e a participação de jogadores e membro de torcidas organizadas
em workshops de educação ambiental. No site, afirma-se o pioneirismo da ação do país do futebol em prol da
natureza. Para o torcedor-cidadão-ecofriendly, não importa o resultado do jogo: o meio ambiente sempre sai
ganhando! — e também o banco, os marketeiros...
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