EFEITO DO PREPARO DA AMOSTRA NA ANÁLISE DO ÂNGULO DE CONTATO DE FILMES BIODEGRADÁVEIS OBTIDOS A PARTIR DE AMIDO DE MANDIOCA Pricila G. Veiga1*, J. Sinézio C Carvalho2*, Adilson, J. Alvez3, Marney P. Cereda4, Adilma R. P. Scamparini1 1 * Departamento de Ciência de Alimentos da UNICAMP, cx postal 6121, Campinas/SP – [email protected]; *Departamento de Tecnologia de Polímeros da UNICAMP - [email protected] ;3 3M do Brasil, Sumaré/SP - [email protected]; 4Centro de Raízes e Amidos Tropicais da UNESP, Botucatu/SP – [email protected] 2 Effect of sample preparation on contact angle analyzes of cassava starch biodegradable films. The greatest disadvantage in substituting conventional packages for starch films is their hyyidrophilicity behavior. Such characteristic makes them highly susceptible to water interactions. Although contact angle measurement, which allows evaluating material hyidrophilicity, has already been extensively utilized for characterizing traditional petroleum films, little was investigated for biodegradable materials. Also, the sample preparing procedure utilized is the same for both kinds of packages. Due to the great difference between these two materials, utilizing the same preparing procedure can result in lecture and interpretation mistakes. With the aim to investigate the effect of sample preparing procedures in the final results of contact angle measurements, cassava starch biodegradable films were prepared by different procedures. 1. Introdução Embora a utilização de amidos na produção de biofilmes tenha sido bastante estudada (KUTTI et al., 1998; BILIADERIS et al., 1999; ARVANITOYANNIS & BILIADERIS, 1999; FISHMAN et al., 2000 e GAUDIN et al., 2000), poucos enfocaram amidos de fontes tropicais como a mandioca. Para o Brasil, que é o segundo maior produtor mundial de raiz de mandioca, sua utilização em filmes biodegradáveis agregaria valor a uma importante matéria prima nacional. A análise de biofilmes através do ângulo de contato avalia a polaridade e o caráter hidrofílico do material, possibilitando averiguar sua molhabilidade (AVÉROUS & FRINGANT, 2001). Embora tal análise já tenha sido extensamente utilizada para avaliação dos filmes convencionais, sua investigação em biofilmes ainda foi pouco estudada (AVEROUS et al., 2000 e DEMIRGÖZ et al., 2000), e o procedimento utilizado para a preparação das amostras é o mesmo. Devido à grande diferença entre os componentes dos biofilmes em comparação aos filmes convencionais, utilizar o mesmo procedimento para ambos os materiais pode acarretar em erros; tanto de leitura quanto de interpretação dos resultados. Com o objetivo de investigar o efeito da preparação da amostra no resultado final, biofilmes obtidos através de amido de mandioca (3%) foram preparadas de diferentes maneiras e analisadas quanto ao ângulo de contato através do ângulo inicial e da cinética da absorção pelo tempo (5 minutos). 2. Experimental 2.1. Obtenção dos biofilmes de amido de mandioca 3% (w/w) de solução de fécula de mandioca (doada pelo CERAT, UNESP-Botucatu, BR) foram aquecidos a 75°C, sob agitação constante. A solução gelatinizada e desaerada (em banho com ultrason), foi pesada em placas de petri e secada (30°± 2°C/24 hs). 2.2Preparo da amostra para análise do ângulo de contato O ângulo de contato formado entre uma gota de água (0,3-1,0µL) depositada na superfície do biofilme e sua cinética de absorção em função do tempo foram relacionados a hidrofilicidade e molhabilidade do material. A medição do ângulo de contato foi determinada através de equipamento VCA optima, AST products. Foi avaliado o efeito da maneira com que a amostra foi fixada sobre o equipamento, na leitura do ângulo formado. Foram observadas amostras livres, presas pelas extremidades com durex, presas com fita adesiva dupla face, ou presas com fita adesiva dupla face com perfurações (2,5 mm de diâmetro, de modo que a gota depositada não ficasse sobreposta à fita adesiva dupla face), sobre papel absorvente (para garantir que toda água que passasse através do filme não interferisse na leitura do ângulo de contato). A evolução do formato da gota foi registrada por 5 minutos, e as imagens geradas, foram utilizadas para determinar a evolução do ângulo de contato. 3. Resultados e Discussão As amostras de filmes obtidos a partir de amido de mandioca mostraram um comportamento Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 905 bastante hidrofílico, absorvendo a gota de água ao longo do tempo. A Figura 1 apresenta o ângulo de contato das amostras preparadas de diferentes maneiras. Figura 1 – Medidas de ângulo de contato de amostras de filmes biodegradáveis obtidos a partir de amido de mandioca, preparadas de diferentes maneiras. 90 ÂNGULO DECONTATO (LADO ESQUERDO) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 10seg 30seg 1min 2min 3min 4min 5min TEMPO amostra livre (1uL) amostra+fita mágica (1uL) amostra + dup.face (1uL) amostra + dupface + pap.Hig (1uL) amostra livre (0,3uL) amostra+fita mágica (0,3uL) amostra + dup.face (0,3uL) amostra + dupface + pap.Hig (0,3uL) Amostras que foram analisadas livremente sobre a superfície do equipamento, demonstraram grande atração pela gota de água, independentemente do volume de gota utilizado. Tal comportamento deslocou o filme dificultando a leitura do ângulo de contato. Também o fato de estar sobre a superfície de alumínio, que é impermeável à gota de água, dificultou a leitura do ângulo de contato, uma vez que a gota perfurou o filme mas , apoiada sobre a superfície metálica, dava a impressão de ainda estar sobre o filme de amido. Amostras fixadas com fita mágica pelas extremidades, apresentaram os mesmos problemas relatados para as amostras avaliadas livremente, no entanto, a dificuldade na leitura do ângulo de contato foi menos acentuada. Amostras presas pela fita adesiva dupla face não foram atraídas pela gota de água a ponto e apresentarem distorção na leitura do ângulo de contato. No entanto, para as amostras fixadas diretamente sobre a fita adesiva, pode ter sido registrada a absorção da gota pela fita adesiva, que quando avaliada separadamente, demonstrou possuir hidrofilicidade inferior à apresentada pelos filmes de amido. Já para as amostras fixadas sobre fita adesiva dupla face contendo pequenos furos, de forma que a amostra fique presa pela fita adesiva, mas contendo papel absorvente entre o filme e a superfície metálica, toda a água da gota absorvida pelo filme foi imediatamente absorvida pelo papel absorvente, parecendo ter havido uma real avaliação da cinética de absorção da gota ao longo do tempo. Embora o volume de água utilizado não tenha influenciado grandemente o comportamento de absorção do material, houve influência no tempo de absorção da gota, e conseqüentemente, no ângulo de contato medido após 5minutos de leitura. 906 4. Conclusões A forma de preparo da amostra tem grande influência sobre as medidas de ângulo de contato para o material analisado. Amostras analisadas sem estarem fixadas ao equipamento de leitura, como é procedimento padrão para análise de filmes convencionais, apresentaram grande atração pela gota de água, o que causou dificuldade em medir o ângulo formado entre a gota e o biofilme. Entre as amostras fixadas, as analisadas diretamente somente as fixadas com fita adesiva com pequenos furos e sobre papel absorvente pareceu ter mostrado uma real avaliação do comportamento da interação entre a gota de água e o biofilme. 5. Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer às agências brasileiras CNPq e FAEP-UNICAMP pelo apoio financeiro e à 3M do Brasil pelo empréstimo do equipamento e doação das fitas adesivas dupla face e durex Referências Bibliográficas I. Arvanitoyannis & C. G. Biliaderis. Physical properties of polyol-plasticized edible blends made of methyl cellulose and soluble starch. Carbohydrate Polymers. 1999, 39, 47-58. 1. L. Averous; L. Moro; P. Dole & Fringant, C. Properties of thermoplastic blends: starchpolycaprolactone. Polymer. 2000, 41, 4157-4167. 2. L. Averous, & C. Fringan. Association between plasticized starch and polyesters: processing and performances of injected biodegradable systems. Polymer Engineering and Science. 2001, 41, 5, 727 – 734. 3. C. G. Biliaderis; A. Lazaridou, & I. Arvanitoyannis. Glass transition and physical properties of polyolplasticised pullulan-starch blends at low moisture. Carbohydrate Polymers. 1999, 40, 29-47. 4. D. Demirgöz; C. Elvira; J. F. Mano; A. M. Cunha; E. Piskin, & R. L. Reis. Chemical modification of starch based biodegradable polymeric blens: effects on water uptake, degradation behaviour and mechanical properties. Polymer Degradation and Stability. 2000, 70, 167-170. 5. M. L. Fishman; D. R. Coffin; R. P. Konstance & C. I. Onwulata. Extrusion of pectin/starch blends plasticized with glycerol. Carbohydrate Polymers. 2000, 41, 317-325. 6. S. Gaudin; D. Lourdin; P. M. Forssell & P. Colonna. Antiplasticisation and oxygen permeability of starchsorbitol films. Carbohydrate Polymers. 2000, 43, 1, 33-37. 7. L. Kuutti; J. Peltonen; P. Myllärinen; O. Teleman & P. Forssell. AFM in studies of thermoplastic starches during ageing. Carbohydrate Polymers. 1998, 37, 7-12. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros