IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL CALIBRAÇÃO DE TUBOS DE PITOT TIPO “COLE” Giovanni do Espírito Santo(1) Engenheiro Mecânico pela Escola de Federal de Engenharia de Itajubá. Pesquisador do Laboratório de Medição de Vazão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT. Graduado em Mecânica Plena. Cursando Pós-graduação em Engenharia Mecatrônica pela UERJ. Jorge Gomez Sanchez Engenheiro Mecânico formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pesquisador do Laboratório de Medição de Vazão do IPT, possui diversos trabalhos publicados na área de medição de fluidos, micromedição e sistemas de distribuição de água; sócio da ABES, da AWWA e da ISA. Coordena projeto IPT - SABESP de parametrização de consumidores de água na região metropolitana de São Paulo. Endereço(1): IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo Laboratório de Medição de Vazão - Caixa Postal 81 - Av. Prof. Almeida Prado, 532 Cidade Universitária - São Paulo - SP - CEP: 05508-901 - Tel: (011) 3767-4756 - e-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho descreve metodologias para calibração de tubos de Pitot tipo “Cole”, freqüentemente utilizados por empresas de saneamento para medição da velocidade e vazão em pontos ao longo de tubulações adutoras. São comparados os métodos tradicionais de calibração com água em tanques de carena ou em tubulações forçadas, notadamente dispendiosos e de execução demorada, com a calibração em túnel de vento com ar. PALAVRAS-CHAVE: Pitometria, Medição de Vazão, Calibração. INTRODUÇÃO Os tubos de Pitot tipo Cole, também conhecidos como tubos de Pitot do tipo reverso, são tubos de Pitot de desenho especial, desenvolvido para medições em sistemas de adução e distribuição de água, devido à sua sólida construção e possibilidade de introdução através de válvulas especiais (“tap”), sem interrupção no abastecimento de água. A principal diferença em relação a um tubo de Pitot tradicional está na tomada de pressão estática, que no Pitot tipo Cole é substituída por uma tomada reversa simétrica à tomada que mede a pressão total, além de outras diferenças construtivas que visam dar maior solidez e menor arrasto ao instrumento (figura 1). Tais instrumentos foram primeiramente descritos por Cole [1]. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2096 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Figura 1: Tubo de Pitot tipo Cole. Para manômetro diferencial Perfis hidrodinâmicos 3/8” 1 ½” ⇐ O formato das tomadas e a introdução de um perfil hidrodinâmico que diminui a força de arrasto na extremidade, provocam efeitos no escoamento próximos às tomadas imersas no fluido que fazem com que seja necessário aplicar um coeficiente de correção à formula teórica de cálculo da velocidade em função da diferença de pressão medida, normalmente expressa como na equação abaixo : Vo = Cd ( 2 ∆P / ρ )0,5 Onde : Vo Cd ∆P ρ (1) velocidade do fluido no ponto de medição, em m/s; coeficiente do medidor, obtido de calibração; pressão diferencial, em Pa; massa especifica do fluido medido, kg/m3. Como estudamos o tubo de Pitot Cole para seu uso em água, uma expressão simplificada é também utilizada: Vo = C . ∆H X Onde : Vo ∆H C, X (2) velocidade do fluido no ponto de medição, em m/s; pressão diferencial entre os “tips”, em metros de coluna de água; coeficientes do medidor, obtidos de calibração. Esta expressão é normalmente referida a escoamentos de água à 20ºC, sendo que bibliografias [2] citam que, para velocidades de escoamento entre 0,5 e 3 m/s, o coeficiente Cd da equação (1) normalmente varia entre 0,8 e 0,9, enquanto que os coeficientes C e X da equação (2) se aproximam de 3,8 e 0,5, respectivamente. Os fabricantes mais conhecidos de tubos de Pitot Cole no Brasil são pequenas indústrias metalúrgicas que produzem os instrumentos de forma semi-artesanal. Por tradição ou talvez pelas dificuldades de calibração desses instrumentos, eles raramente são calibrados rotineiramente ou mesmo após a fabricação, sendo habitualmente assumidos pelo usuário o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2097 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL (técnicos em Pitometria) coeficientes fornecidos pelo fabricante e obtidos de uma calibração obtida originalmente de um instrumento similar, ou mesmo os coeficientes genéricos de 3,8 e 0,5 citados, sem considerar possíveis diferenças construtivas e mesmo no sentido de instalação do instrumento, já que as extremidades (“tips”) não são totalmente simétricas e raramente identificadas. Esse uso genérico e a não calibração periódica do instrumento podem introduzir um erro adicional considerável na medição, principalmente quando em medições de velocidade mais baixas ou com tubos de Pitot que sofreram alguma avaria ou desgaste com o uso. METODOLOGIA DE TRABALHO Foram comparados três métodos de calibração: • com água, em conduto fechado de 200 mm de diâmetro; • com água, em canal aberto, no tanque de provas do Departamento de Hidrodinâmica do IPT; • com ar, no túnel de vento do laboratório de anemometria do IPT. Foi utilizado como parâmetro o número adimensional Reynolds, que relaciona as forças de inércia e as forças viscosas do fluido, dividido por um diâmetro unitário (Re/L). Por limitações no equipamento, a velocidade de ensaio no tanque e na tubulação forçada foram limitadas a cerca de 2,5 m/s com água. A velocidade do escoamento de ar no túnel para o número de Reynolds equivalente foi utilizada como limite nos ensaios no túnel de vento. Para o cálculo da velocidade no duto em relação à vazão, aplicaram-se as recomendações da norma CETESB L4.250 [3], inclusive quanto à correção de área devido à presença do instrumento na tubulação. Os ensaios foram executados em quatro tubos de Pitot de uso diário fornecidos pela SABESP, regional de São José dos Campos, e um tubo de Pitot novo cedido pela empresa Mecaltec de São Paulo. A seguir descrevemos as metodologias aplicadas. Ensaio em tanque O método mais tradicional de calibração de tubos de Pitot tipo Cole é o ensaio em canal aberto (tanque de carena), de modo similar ao aplicado em calibração de medidores tipo molinete [4]. Nesse método, um carro com velocidade controlada, no qual é instalado o equipamento, corre sobre um tanque longo e reto preenchido com água em repouso e a velocidade do carro é utilizada como padrão para o cálculo dos coeficientes do Pitot Cole, aplicando-se diretamente as expressões (1) e (2). Um alternativa similar é o uso de tanques circulares, sobre os quais o tubo de Pitot gira sobre um eixo central, conforme descrito por Pedrazzi [8]. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2098 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL O tanque disponível no departamento de hidrodinâmica do IPT, utilizado possui comprimento de 250 m e largura de 5 metros, sendo a velocidade máxima operacional do carro 2,5 m/s. Frente as dimensões do tanque e velocidades envolvidas, podemos desconsiderar o erro devido a existência de ondas formadas pela parede que poderiam influenciar na medição. Foram tomados pontos dentro da faixa de 0,25 m/s até 2,5m/s. A pressão diferencial foi medida com dois transdutores diferenciais de pressão tipo capacitivos de faixas de 0 a 500 mmH2O e 0 a 750 mmH2O. Todas as leituras foram tomadas com sistemas de aquisição de dados ligados a microcomputador, com intervalo entre as medições de 5s, de modo a se observar as flutuações e estabilização das leituras. Os valores considerados nos cálculos dos coeficientes de calibração, são médios de intervalos de cerca de 5 minutos de medições, consideradas como tomadas em regime permanente. Como forma de confirmarmos a velocidade do carro, medida com um velocímetro próprio, foi também instalado em paralelo ao tubo de Pitot Cole sob calibração, um tubo de Pitot padrão ISO [7]. Foram comparados a velocidade do carro, o resultado fornecido pelo Pitot padrão e a velocidade calculada a partir da diferença de pressão medida no Pitot Cole. Os principais problemas encontrados no ensaio foram a limitação no deslocamento de 250 metros e na velocidade de 2,5 m/s, a necessidade de espera para a estabilização da velocidade entre medições e a necessidade de montagem de um aparato consistindo de uma bomba de vácuo, mangueiras de silicone e presilhas visando a retirada de ar de dentro do transdutor, tubos e conexões entre os tubos de Pitot e o transdutor. Abaixo de 1m/s, onde as pressões medidas com o tubo de Pitot padrão se reduziam consideravelmente, foi verificada uma variação significativa entre a velocidade indicada pelo Pitot padrão e a indicada no carro de ensaio. Durante os ensaios diversos pontos tiveram que ser colocados em dúvida devido a impossibilidade de se garantir totalmente a inexistência de bolhas de ar no sistema. Ensaio em tubulação forçada Nesse método, o tubo de Pitot Cole é posicionado no centro de uma tubulação de teste onde procura-se manter um escoamento estável e sem perturbação utilizando-se um longo trecho reto e retificadores de fluxo. A vazão de ensaio é medida com um medidor de referência pré calibrado, no caso um medidor do tipo eletromagnético. A leitura no tubo de Pitot Cole em calibração foi feita para para oito vazões diferentes dentro da mesma faixa utilizada na calibração no tanque. Após as medições com o tubo de Pitot Cole, o mesmo foi substituído por um tubo de Pitot padrão (igual ao utilizado nos ensaios em tanque e túnel de vento) posicionado no mesmo ponto da tubulação, e o ensaio repetido para as mesmas vazões. A calibração é feita comparando-se a velocidade medida com o tubo de Pitot padrão com a leitura do tubo de Pitot Cole sob calibração, para as mesmas vazões de referência. Os testes foram executados na linha de testes do Laboratório de Vazão do IPT, de 200mm de diâmetro. Devido ao pequeno diâmetro relativo da seção de ensaio, foram também o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2099 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL consideradas correções na área da seção de medição devido à introdução dos tubos de Pitot na mesma, segundo recomendações das normas ASTM D3796 [6] e CETESB [2]. Os instrumentos utilizados (tubo de Pitot padrão, transdutores de pressão) foram os mesmos utilizados nos ensaios em canal aberto. Do mesmo modo que no ensaio em tanque, os valores foram lidos com sistema de aquisição de dados com intervalo de amostragem de 5s. Observou-se uma grande flutuação nas leituras em relação às obtidas no tanque ou no túnel de vento. Os principais problemas encontrados na calibração em condutos fechados foram a flutuação na pressão diferencial medida e a deformação no perfil de velocidades devido a introdução do Pitot Cole, o que faz com que haja uma diferença entre a velocidade no ponto de medição quando usado um Pitot padrão ou um tipo Cole. Esses problemas poderiam ser reduzidos com a utilização de uma linha de testes de diâmetro bem maior, de modo a tornar menos sensível a presença do instrumento na seção de testes, isso no entanto tornaria a instalação de testes muito mais onerosa e de difícil operação. Ensaio em túnel de vento Para o ensaio no túnel de vento, usamos procedimento semelhante a calibração de anemômetros, utilizando o túnel de vento do Laboratório de Vazão do IPT [5]. Esse túnel de vento foi projetado para que o perfil de velocidades em sua seção de testes (quadrada, de 0,5m de aresta) apresente um perfil de velocidades uniforme com baixa turbulência, para velocidades de ar de até 50 m/s. Devido à semelhança entre os instrumentos, a calibração dos tubos de Pitot Cole em túnel de vento foram executados utilizando o mesmo procedimento aplicado à calibração de tubos de Pitot tipo “S” [6]. A calibração é feita por comparação direta coma a velocidade de ar medida com um tubo de Pitot padrão posicionado na mesma seção, aplicando-se a expressão: Cd = Cp (∆Pc/∆Pp)0.5 (3) Onde : Cd coeficiente de calibração; Cp coeficiente de calibração do pitot padrão; ∆Pc pressão diferencial no tubo de Pitot Cole; ∆Pp pressão diferencial no tubo de padrão. O tubo de Pitot padrão utilizado no ensaio foi o mesmo utilizado nos outros ensaios, enquanto que a pressão diferencial foi medida com transdutores capacitivos e manômetros de coluna inclinada. O ensaio foi realizado para velocidade variando até 40 m/s com intervalos de aproximadamente 5 mm de coluna de água de pressão diferencial medida no Pitot padrão. Do mesmo modo que para os ensaios anteriores, a pressão diferencial no tubo de Pitot Cole foi tomada com o auxílio de um sistema de coleta de dados, durante intervalos de cerca de 5 minutos e leituras a cada 5 segundos, sendo considerada a média das leituras. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2100 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Devida a pequena flutuação observada nas leituras, a pressão no tubo de Pitot padrão foi medida com manômetro de coluna inclinada. RESULTADOS OBTIDOS Na tabela 1 apresentamos os coeficientes de calibração levantados para quatro tubos de Pitot Cole com alguns anos de uso: TABELA 1: coeficientes de calibração de tubos Pitot Cole. Pitot Lado Túnel de vento Tubulação Forçada Tanque de água C = 3,7387 C = 3,5321 -5,5% A C = 3,8292 2,4% X = 0,4640 X = 0,4919 X = 0,4943 EBE C = 3,7381 B C = 3,5581 -4,8% C = 3,8010 1,7% X = 0,4910 X = 0,4716 X = 0,4917 C = 3,7958 C = 3,5106 -7,5% C = 3,8297 0,9% A X = 0,4712 X = 0,4895 X = 0,4943 CEA B C = 3,7960 C = 3,5079 -7,5% C = 3,8966 2,6% X = 0,4950 X = 0,4652 X = 0.5064 C = 3,8001 A C = 3,5754 -5,9% C = 3,8241 0,6% X = 0,4966 X = 0,4655 X = 0,4966 DAF B C = 3,8595 C = 3,6657 -5,0% C = 3,8607 0,03% X = 0,4943 X = 0,4598 X = 0,4941 A C = 3,8038 C = 3,8323 0,7% EBJ X = 0,4957 X = 0,4944 B C = 3,8859 C = 3,8053 -2,07% X = 0,5099 X = 0,4931 Observações : V = C . ∆HX ; V em m/s e ∆H(mca). C e X são adimensionais. Equações são válidas para escoamento de água à 20°C. Esses instrumentos estavam sendo utilizados, antes da calibração, aplicando-se um C=3,799 e X=0,493, de acordo com recomendação fornecida originalmente pelo fabricante. A diferença percentual apresentada refere-se ao coeficiente C, adotando o túnel como referência. Verifica-se que, como esperado, X se aproxima de 0,5, e que as diferenças foram maiores para ensaios em tubulação. Isto é devido, conforme pode ser visto nos diagramas de Cd em função do número de Reynolds, a diferenças observadas na região de Reynolds mais baixo, onde o escoamento pode não estar bem estabelecido. Na figuras 2 e 3 apresentamos gráficos comparativos do coeficiente Cd em função do número de Reynolds para diâmetro unitário. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2101 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Figura 2: Comparação do ensaio dos três métodos para o tubo de Pitot DAF, com lado (“tip”) A frontal ao escoamento. Cd ( - ) Ensaio no tanque 1.25 1.2 1.15 1.1 1.05 1 0.95 0.9 0.85 0.8 0.00E+00 5.00E+05 Ensaio no túnel 1.00E+06 1.50E+06 2.00E+06 Ensaio na tubulação 2.50E+06 3.00E+06 3.50E+06 4.00E+06 Re/L ( 1/m ) Figura 3: Comparação do ensaio dos três métodos para o tubo de Pitot EBE, com lado (“tip”) B frontal ao escoamento. Cd ( - ) Ensaio no tanque Ensaio no túnel Ensaio na tubulação 1.25 1.2 1.15 1.1 1.05 1 0.95 0.9 0.85 0.8 0.00E+00 5.00E+05 1.00E+06 1.50E+06 2.00E+06 2.50E+06 3.00E+06 3.50E+06 4.00E+06 Re/l (1/m) Como pode se verificar com a tabela 1, o tubo de Pitot DAF foi o que apresentou resultados mais próximos entre as calibrações no túnel e no tanque, enquanto que o Pitot EBE foi o que apresentou maiores diferenças. Entretanto, podemos verificar que para o fluxo abaixo de velocidades médias inferiores a 1,5 m/s o coeficiente de calibração aumenta rapidamente quando ensaiado em tubulação forçada, chegando a atingir valores para Cd maiores que 1 para as vazões mais baixas. Em diversos outros Pitot Cole ensaiados também foi observado o mesmo comportamento de aumento do coeficiente de calibração em velocidades menores. Uma vez estabelecido o ensaio em túnel de vento, foi executada a calibração em um tubo de Pitot Cole novo, procurando-se coletar um número mais elevado de pontos e fazendo as tomadas com intervalos de medição maiores, processo que seria muito demorado e difícil se executado em tanque de carena, de modo a tentar caracterizar a curva típica de Cd em função de Reynolds. O resultado está apresentado na figura 4. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2102 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Cd ( - ) Figura 4: Comportamento de Pitot Cole em Túnel de Vento - Pitot Cole novo. 0.92 0.91 0.90 0.89 0.88 0.87 0.86 0.E+00 5.E+05 1.E+06 2.E+06 2.E+06 3.E+06 Re/L ( 1/m ) Pode ser verificado que o Cd apresenta uma grande estabilidade para Re/L acima de 5.105, mas que abaixo desse valor ocorre uma elevação repentina, de modo similar ao que ocorreu no ensaio em tubulação forçada. Considerando-se apenas a faixa de Re/L acima de 5.105, os resultados de calibração de tubos de Pitot novos e usados aparentando boas condições, apresentaram uma variação do Cd entre 0,85 e 0,89, sendo mais evidente quando comparado um Pitot novo com um com vários anos de uso. Em alguns tubos com anos de uso observou-se também uma diferença na calibração dependendo do tip que é colocado frontal ao escoamento foi considerável, como exemplificado na figura 5, para o tubo de Pitot DAF. Figura 5: Comparação entre os Cd, Pitot DAF, calibrado em posições diferentes. 0,92 0,90 Cd (-) Tip A frontal 0,88 0,86 Tip B frontal 0,84 0,82 0,0E+00 5,0E+05 1,0E+06 1,5E+06 2,0E+06 2,5E+06 Re/L (1/m) CONCLUSÕES A calibração de tubos de Pitot Cole em túnel de vento demonstrou ser uma boa opção de ensaio de calibração para este tipo de equipamento. As principais vantagens são : • • grande estabilidade para as medições; permitir uma regulagem da vazão mais fácil, sem necessidade de tempo de estabilização da velocidade; rapidez de ensaio (uma calibração pode ser feita em menos de duas horas, contra cerca de um dia nos ensaios em tanque); não há necessidade de purgas de ar nas linhas de medição; facilidade de montagem e posicionamento do medidor, pois ele é montado em posição de fácil acesso. • • • o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2103 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Das comparações com os métodos tradicionais, verificou-se que a flutuação nas leituras e as variações nas repetições são bem menores no ensaio no túnel de vento, permitindo se afirmar que a incerteza de calibração é também menor que nos métodos tradicionais. Dos resultados do coeficiente de calibração em função do número de Reynolds para diâmetro unitário (Re/L), verificou-se que para números menores o coeficiente começa a se elevar rapidamente, e que esse efeito é mais sensível em tubulações de menor diâmetro. Avalia-se que isso ocorre porque a hipótese de Cd constante só é válida para escoamentos totalmente desenvolvidos, e que na medida em que a velocidade diminui em escoamentos em tubulações o perfil de velocidades tende a se alterar. Os dados levantados indicam que a calibração em túnel de vento pode ser considerada adequada para Re/L superiores a 5.105 (equivalente a velocidades de aproximadamente 0,5m/s, com água). Avalia-se também que o tubo de Pitot tipo Cole deve ser usado com precaução para velocidades baixas, sendo que em tubulações de 200mm de diâmetro, os experimentos indicam que o instrumento não deve ser usado abaixo de Re/L = 1,5.106. Para velocidades mais baixas além de uma calibração especial, o instrumento deve ser usado com mais cuidado, pois a medição da velocidade passa a sofrer influência mais sensível da instalação e do diâmetro da tubulação. A experiência na calibração de uma amostra de tubos de Pitot Cole usados em relação aos novos indicam que a calibração periódica deste instrumento é importante, pois pequenas alterações na geometria podem alterar em até 5% os coeficientes de calibração do instrumento. Do mesmo modo recomenda-se sempre identificar os “tips” do instrumento e utilizá-lo sempre na mesma posição de calibração. Utilizando-se de uma curva ensaiada no túnel de vento obtém-se uma incerteza de 2% sobre o valor da velocidade medida, comparativamente ao que se encontraria com o Pitot Cole ensaiado em tanque aberto. As incertezas na calibração do instrumento ainda precisam ser melhor estudadas, mas avalia-se que, pela repetibilidade das leituras nas faixas de ensaio, pode se considerar que as incertezas de calibração em túnel de vento são inferiores a 1%. Os resultados de calibração em conduto fechado mostraram também que a influência da introdução do tubo de Pitot em tubulações menores não é completamente corrigida apenas considerando-se a redução de área provocada pelo instrumento, devendo ser considerado um aumento na incerteza quando em medições de tubulações de menor diâmetro. Um estudo específico seria necessário para caracterizar e quantificar essas influências. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer à SABESP, regional de São José dos Campos e a Mecaltec metalúrgica Ltda. pela colaboração na execução do presente trabalho. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2104 IV - 001 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. Cole, E.S., “The Pitot tube in Current Practice”, Civil Engineering, vol. 5, Apr. 1935, p. 220. L4.250 CETESB , “Medição de vazão de água por meio de tubo de Pitot” – Procedimento, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, 1990 ASME Report, “Fluid Meters Their theory and application”, 6th Ed, 1971, p. 104. ISO 3455, “Liquid flow measurement in open channels – Calibrating of rotating element current-meters in straight open channels”, ISO, 1976 N. M. Taira, N.M., “Túnel de vento para aferição de medidores de velocidade, 1º Simpósio Brasileiro de Medição de Vazão, IPT, Brasil, 1989, p.143 ASTM D3796, “Standard Pratice for Calibration of Type S Pitot Tubes”, ASTM, 1979 (reaproved in 1985) ISO 3966/77, “Measurement of fluid flow in closed conduits – Velocity area method using Pitot static tubes”, ISO, 1977 Pedrazzi, J.A., “Projeto para um novo tip de Pitot Cole”, São Paulo, 1992. Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Hidráulica - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1993. 3. 4. 5. 6. 7. 8. o 20 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2105