ADEQUAÇÃO CLÍNICA DO MICROSCÓPIO CIRÚRGICO NA ODONTOLOGIA Clinic Adequation of Surgical Microscope on Dental Treatment Keyla Costa de Andrade Marques, Ary Gomes da Motta Júnior2 Rivail Antonio Sergio Fidel3, Sandra Rivera Fidel4 1. Especialista em Endodontia da UVA, Professora do Curso de Especialização de Endodontia da UVA. 2. TC Dent do Hospital Central do Exército, Doutorando em Odontologia FO-UERJ, Chefe da Seção de Odontologia do HCE. 3. Coordenador Geral dos Cursos de Doutorado da FO-UER. 4. Coordenadora do Curso de Mestrado da FO-UERJ. Endereço para correspondência: Keyla Costa de Andrade Marques HCE – Serviço de Odontologia. Rua Francisco Manoel, 126 – CEP.: 20911-270 – Triagem – Rio de Janeiro – RJ E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O microscópio tem sido utilizado na odontologia, especialmente na endodontia, quando se requer a visualização detalhada e ampliada do sistema de canais radiculares. No entanto, o cirurgião precisa trabalhar confortávelmente com esse aparelho a fim de evitar danos a sua saúde, em benefício de uma melhor qualidade de vida profissional. Neste estudo, abordaremos as posições de trabalho na odontologia que utiliza o microscópio cirúrgico. The microscope has been introduced in dentistry, especially in endodontic when it requires a detailed view and extended the system of root canals. However, the surgeon needs to adapt to use this device to prevent damage to their health for the benefit of a better quality of work. In this study we discuss the positions of dental work in using the surgical microscope. Keywords: operative microscope. Palavras-chave: microscópio operatório, adequação clinica. Revista Científica do HCE 70 revisão de Literatura INTRODUÇÃO De acordo com Rubinstein (997), o microscópio foi introduzido na medicina em meados de 940 e, desde então, as posições operacionais têm sido discutidas a fim de se aliar conforto à eficácia de trabalho. Segundo Djerassi (1971), a ergonomia atua no sentido de diminuir o estresse físico e mental, bem como previnir doenças relacionadas à prática odontológica. Porto (99), diz que os esforços desnecessários devem ser eliminados, e os movimentos supérfluos, como o deslocamento do corpo, devem ser delegados ao pessoal auxiliar. Movimentos corporais de menor tempo e amplitude devem ser preferidos. A produtividade do trabalho é diretamente relacionada à concentração na execução de tarefas que só podem ser realizadas pelo cirurgião dentista. Para Guay (998), quando o cirurgião passou da posição de pé ao lado da cadeira para uma posição sentada, houve uma grande mudança na filosofia de trabalho da odontologia. Já Marquart (980) diz que trabalhar em pé ou sentado não significa que não se esteja trabalhando racional ou ergonomicamente. O importante é se obter a postura correta, sentada ou em pé. Saquy e Pécora (994), concluíram que a postura ideal é a inclinação média da coluna vertebral no sentido antero-posterior, já que os músculos de sustentação são menos exigidos, causando menos fadiga muscular. Rubinstein (997), no entanto, diz que a posição operacional mais apropriada para o trabalho é uma combinação da posição da cadeira dental, do microscópio, do cirurgião, do assistente e dos dispositivos de observação do assistente. A dinâmica de cada uma dessas divisões deve ser entendida para se chegar a uma posição operacional confortável para todos. Fig. 1: Posição para maxila Fig. 2: Posição para maxila O plano oclusal deve estar paralelo ao chão no caso de trabalhos na mandíbula, e perpendicular quando na maxila (Fig. 3). Fig. 3: Posição para mandíbula A cadeira pode ser colocada em diversas posições. Os controles horizontal e vertical posicionam o encosto da cadeira e a distância da cabeça do paciente em relação ao microscópio. A posição vertical permite ao cirurgião e a seu assistente espaço para acomodar as pernas sob a cadeira. O apoio de cabeça ajustável pode posicionar a cabeça confortavelmente e manter o plano oclusal apropriado. A seleção correta dos binóculos é crítica pois determina a correta posição do microscópio. O cirurgião deve selecionar um binóculo que permita uma visão ideal do dente a ser tratado, mesmo que em alguns casos seja necessário o uso do espelho para se obter visão indireta em dentes da maxila. DISCUSSÃO O cirurgião-dentista deve se assegurar que o paciente se encontra em posição confortável e que os músculos do pescoço estão livres de tensão (Fig. 1). A cabeça deve estar centrada ou levemente virada em direção ao cirurgião ou em direção contrária (Fig. 2). 7 Ano III • Nº 02 aos pés da cadeira odontológica, voltado para o campo cirúrgico. A combinação da posição do microscópio e da cadeira odontológica num espaço tridimensional deve ser favorável para prover um acesso visual necessário enquanto confere conforto postural ao cirurgião e ao assistente. O cirurgião deve usar um mocho ajustável. As coxas devem estar paralelas ao chão com os grandes grupamentos musculares em repouso. Os braços devem estar relaxados e confortáveis e seu assistente deve se posicionar próximo ao cirurgião para facilitar a passagem de instrumentos. Se um sistema de entrega dianteiro for utilizado, o segundo assistente deve se posicionar em frente ao cirurgião e passar os instrumentos da bandeja sobre o paciente. Um terceiro assistente funciona como suporte para obter instrumentos adicionais, outros matérias, filmar ou fotografar a cirurgia. Uma boa comunicação é essencial entre o cirurgião e seus assistentes. O primeiro assistente deve anunciar caso não tenha visão do campo operatório. Ajustes de posição podem ser necessários para ambos durante o desenrolar da cirurgia, dependendo do dente que está sendo tratado. Na maioria das situações clínicas, o assistente pode escolher entre três dispositivos de observação: binóculos assistentes, tela de LCD e monitores de alta resolução. Apesar de fornecer melhor visualização do campo operatório, a mesma do cirurgião, o binóculo assistente tem a desvantagem de ter alto custo. Cabe ao cirurgião avaliar o custobenefício. Outra desvantagem é que, toda vez que o paciente movimenta a cabeça, o cirurgião e o assistente têm que interromper o procedimento e reposicionar o microscópio, o que torna o procedimento cansativo e lento. A tela de LCD pode ser alinhada com a filmadora no microscópio e montada em um braço do aparelho, em frente ao assistente. Tem como vantagem a orientação do assistente em direção ao campo cirúrgico. Como desvantagem, o custo e a falta de habilidade para visualizar a profundidade do campo. A utilização de monitores de alta resolução é mais acessível e prática, além de proporcionar acesso visual da cirurgia a todos da equipe. A única desvantagem é que o assistente precisa, eventualmente, desviar o olhar do campo operatório para visualizar o monitor. Rubinstein (997) sugere, para solucionar esse problema, que o aparelho pode ser colocado em um Carter móvel, Revista Científica do HCE CONCLUSÃO O microscópio cirúrgico tem sido utilizado, cada vez mais, como um instrumento de trabalho indispensável ao cirurgião que investe em qualidade e conforto. Para tanto, as adaptações ao instrumento, tanto no consultório como na prática clínica, são necessárias para que seu uso não se torne um fardo para uma equipe despreparada e sem treinamento adequado. As normas de ergonomia são fundamentais para a dinâmica do atendimento clínico e a otimização do tempo e do espaço de trabalho, além de proporcionarem à equipe conforto e bem-estar. Um trabalho executado de forma rápida e segura, sem desgastes físicos excessivos e desnecessários e com a equipe bem preparada gera ao paciente segurança em relação ao profissional. Este por sua vez, experimenta uma sensação de bem estar, por realizar um procedimento que não acarretou nenhum estresse físico e mental. Considerando que o microscópio é uma ferramenta de trabalho, o seu uso apropriado proporciona ao cirurgião uma posição de trabalho mais confortável e ergonômica, reduzindo o cansaço e o estresse e, conseqüentemente, aumentando a eficiência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 72 1. Barros OB. Ergonomia 1: a eficiência ou rendimento e a filosofia correta de trabalho em odontologia. São Paulo: Pancast, 1991. 2. Barros OB. Ergonomia 3: o ambiente físico de trabalho, a produtividade e a qualidade de vida em odontologia. São Paulo, Pancast, 993. 3. Djerassi, E. Some problems of the occupational diseases of dentists. Int. Dent. Journal, v.21, n.2, p. 252-59, jun.1971. 4. Guay AH. Commentary: Ergonomically related disordes in dental practs. Jada v.129, Feb., 1998. 5. Marquart E. Odontologia ergonômica a quatros mãos. Rio de Janeiro: Quitessência, 1980. 219p. 6. Porto FA. O consultório odontológico. São Paulo, Artes Médicas, 99. 7. Rubinstein R, Kim S. The anatomy of the surgical operating microscope and operating positions. Dent Clin North Am, v.4, p.391-413, January 1997. 8. Saquy PC, Pécora JD. A ergonomia e as doenças ocupacionais do cirurgião-dentista. Manual Dabi-Atlante. Ribeirão Preto, 1994. p.3 9. Wisner A. A inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. (Tradução de Roberto Leal Ferreira). São Paulo: Fundacentro, 1994. p.85-106.