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PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE: CARACTERIZAÇÃO DAS
SÍNDROMES DOLOROSAS
PATIENTS GONE UNDER THE HEMODIALYSIS: CHARACTERIZATION OF PAIN
SYNDROMES
Amanda Almeida
Marcelle N. Eloy Macedo
RESUMO
Portadores de doença renal crônica sentem dor considerável, oriunda de
condições patológicas, lesões, intervenções terapêuticas, como a hemodiálise (HD),
e múltiplos procedimentos diagnósticos invasivos. A avaliação da experiência
dolorosa é fundamental para se compreender a origem e a magnitude da dor, para a
implementação de medidas analgésicas e verificação da eficácia das terapias
instituídas. Os métodos para a avaliação da dor são, basicamente, inferenciais e
estão baseados no autorelato (PIMENTA; 1999). O objetivo deste estudo é
caracterizar as síndromes dolorosas em clientes submetidos à hemodiálise,
analisando quais acometem aos pacientes durante as sessões, relacionando sua
ocorrência quanto a idade e ao gênero dos pacientes, através da classificação desta
de acordo com a Escala Visual Analógica de dor, o diagrama corporal e o
Questionário de Dor de McGill, versão brasileira. Foram entrevistados 87 pacientes
com questionário padronizado. Os dados foram tabulados no Excel 2007, e
analisados através de tabelas e gráficos. A maior incidência de dor encontrou-se na
faixa etária acima de 41 anos. Dos entrevistados, 49% referiram dor intensa. 81,69%
referiram cefaléia, 80,28% câimbra em membros inferiores e 42,25% lombalgia.
Através do McGill, 71,83% relataram o descritor “cansativa”, do grupo afetivomotivacional, que se sobrepôs aos outros. É possível concluir que portadores de IRC
em regime de HD apresentam um alto grau de impacto da dor em suas vidas.
2
PALAVRAS-CHAVE: Insuficiência renal crônica, hemodiálise, caracterização
da dor.
ABSTRACT
Patients who suffer from chronic renal failure (CDF) feel intense pain came
from diseases, lesions, therapeutic intervention, as hemodialysis (HD), and other
invasive diagnosis procedures. The assessment of painful experience it’s
fundamental to understand the origin and the magnitude of the pain, to the
implementation of analgesic measures and to the verification of the costeffectiveness of the applied therapies. The methods for the pain assessment are,
basically, inferential and based on self-report (PIMENTA, 1999). The aims of this
study is to qualify, classify and measure pain syndromes that are originated from
hemodialysis, by checking which ones take the patients during the sessions,
correlating its occurrence by age and gender, through Visual Analogic Scale of pain,
body diagram, and Brazilian version of the McGill Pain Questionnaire. 87 patients
were interviewed with standardized questionnaire. Data were tabulated in Excel
2007, analyzed through tables and graphs. The highest incidence of pain was found
in patients over the age of 41. 49% of the interviewed people reported severe pain.
81,69% reported headache, 80,28% reported cramps in their legs and 42,25% of
them reported back pain. Through McGill, 71,83%, people reported the descriptor as
"tiring", of the affective-motivational group, which overlapped the others. It was
concluded that patients with CRF under HD have a high degree of pain’s impact in
their lives.
KEYWORDS: Chronic renal failure, hemodialysis, assessment pain.
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INTRODUÇÃO
A Doença Renal Crônica (DRC) tem se apresentado com elevada morbidade
e mortalidade (SESSO e GORDAN; 2007). Conforme a Sociedade Brasileira de
Nefrologia (SBN), o censo de 2009 aponta um número equivalente a 77.589
pacientes em tratamento dialítico (SBN; 2009).
A DRC consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função
dos rins (glomerular, tubular e endócrina). Em sua fase mais avançada (chamada de
fase terminal de insuficiência renal crônica - IRC), os rins não conseguem mais
manter a normalidade do meio interno do paciente (JUNIOR; 2004). Este mesmo
autor afirma, ainda, que dados da literatura indicam que portadores de hipertensão
arterial, de diabetes mellitus, ou história familiar para doença renal crônica têm maior
probabilidade de desenvolverem esta lesão.
Esta condição traz consigo uma série de questões que marcam a vida do
indivíduo, a partir do diagnóstico, sendo comuns as manifestações psíquicas
acarretando alterações na interação social e desequilíbrios psicológicos, não
somente do paciente como também da família que o acompanha. A doença renal e
as complicações decorrentes do tratamento afetam as habilidades funcionais do
paciente, limitando suas atividades diárias, sendo que, freqüentemente, as
alterações não são captadas nas avaliações clínicas e biológicas convencionais
(BITTENCOURT; 2003).
O Comitê de Taxonomia da Associação Internacional para Estudos da Dor
(International Association for Study of Pain - IASP) define dor como uma experiência
sensorial e emocional desagradável, que é associada ou descrita em termos de
lesões teciduais.
Os pacientes criticamente enfermos, como é o caso do portador de doença
renal crônica, sentem dor considerável, oriunda de condições patológicas, lesões,
intervenções terapêuticas, como a hemodiálise (HD), e múltiplos procedimentos
diagnósticos invasivos. A experiência de dor é composta por medo, ansiedade e
barreiras de comunicação. Porém, o controle da dor tem pouca prioridade quando
justaposto à instabilidade respiratória e hemodinâmica. A presença de dor agrava
4
significativamente o estado deste paciente e contribui para o desencadeamento de
outros problemas, tais como confusão, ventilação inadequada, imobilidade, privação
do sono, depressão e imunossupressão (KEEN; SWEARINGEN; 2007).
O manejo da dor deve ser considerado uma prioridade no cuidado ao
paciente. Algumas formas pelas quais é possível torná-lo mais visível e prioritário
são: disponibilizar métodos de avaliação da dor; determinar a dor como quinto sinal
vital para valorizar a sua importância e incorporar a avaliação da dor aos formulários
de registro. A avaliação contínua e a documentação aumentam a consciência e a
eficácia da intervenção contra a dor (KEEN; SWEARINGEN; 2007).
A dor incapacita e angustia mais pessoas que qualquer doença isolada. Como
é o profissional enfermeiro que passa mais tempo com o paciente com dor que os
outros profissionais da saúde, eles precisam compreender a fisiopatologia da dor, as
conseqüências fisiológicas e psicológicas da dor aguda e crônica, e principalmente
os métodos usados para tratar a dor. Desta maneira, os enfermeiros devem ter o
conhecimento e as competências para avaliar a dor, implementar as estratégias de
alivio desta e avaliar a eficácia das estratégias a despeito do ambiente (SMELTZER;
BARE; 2006).
A avaliação da experiência dolorosa é fundamental para se compreender a
origem e a magnitude da dor, para a implementação de medidas analgésicas e
verificação da eficácia das terapias instituídas. Os métodos para a avaliação da dor
são, basicamente, inferenciais e estão baseados no auto-relato (PIMENTA; 1999).
A mesma autora enfatiza que para a avaliação da dor devem ser colhidos
dados sobre a instalação e duração da condição álgica, a localização, periodicidade
e duração dos episódios dolorosos, padrão evolutivo, fatores agravantes ou
atenuantes. Compreende, ainda, a avaliação dos fatores que concorrem para sua
manifestação, como o estado emocional do doente, aspectos do histórico familiar
relacionados à expressão e manejo da dor e das atitudes, crenças e valores do
doente e à família diante do quadro álgico.
Este trabalho tem como objetivo caracterizar as síndromes dolorosas em
clientes submetidos à hemodiálise, em uma instituição particular da cidade de
Aracaju/SE, analisando quais acometem aos pacientes durante as sessões de HD,
relacionando-as sobre sua ocorrência quanto à idade e ao gênero dos pacientes,
através da classificação desta de acordo com a Escala Visual Analógica de dor
5
(EVA), o diagrama corporal de dor e o Questionário de Dor de McGill, versão
brasileira (Br-MPQ).
Acredita-se que este estudo é de bastante relevância para os que portam a
Insuficiência Renal Crônica, os quais se utilizam da hemodiálise como forma de
tratamento e que, como consequência, possuem síndromes dolorosas como efeitos
colaterais, pois poderá servir como base para nortear as equipes de saúde na busca
de medidas para minimizar a dor gerada pelo tratamento e, além disso, servir como
fonte para novas pesquisas na área.
METODOLOGIA
A Clínica utilizada como local de estudo presta atendimento a 439 pacientes
atualmente, sendo que destes, 310 utilizam-se da hemodiálise (HD) como forma de
tratamento para a Insuficiência Renal Crônica (IRC).
Foram considerados como critérios de inclusão todos os pacientes que
apresentaram síndromes dolorosas durante as sessões de hemodiálise e que
possuíssem 3 meses ou mais de tratamento dialítico, sendo todos maiores de 18
anos. Como critérios de exclusão foram considerados o fato de o paciente estar
internado no momento da pesquisa ou não concordar com a mesma.
Os pacientes que se enquadraram nos critérios acima descritos foram
entrevistados individualmente pelos próprios pesquisadores durante as sessões de
HD. O questionário incluía, em sua primeira parte, perguntas abertas e de múltipla
escolha sobre os dados pessoais (idade, gênero, estado civil, estado empregatício,
escolaridade, naturalidade, etnia, hábitos de vida, anamnese, histórico e tempo de
tratamento), e, na segunda parte, os aspectos e a caracterização da dor (região
afetada e intensidade), além da incorporação do questionário de dor McGill
adaptado para a língua portuguesa. No item relativo à descrição da dor optou-se
pelo citado questionário (Br – McGill) por ser considerado o melhor e o mais utilizado
6
instrumento para obter informações quantitativas e qualitativas a partir de descrições
verbais. Este questionário é composto por 78 descritores, divididos em 20 subgrupos
originados de 4 grupos. O grupo sensorial-discriminativo (sub-grupo 1 a 10), o grupo
afetivo-motivacional (sub-grupo 11 a 15), o grupo cognitivo-avaliativo (sub-grupo 16)
e o grupo miscelânea (sub-grupos 17 a 20). Caso julgasse que nenhuma palavra se
adequasse à sua dor, o paciente também foi orientado a dizer “nenhuma”
(orientações próprias do questionário). Dessa forma, durante a entrevista foi
explicado ao paciente que algumas palavras seriam lidas, e ele deveria dizer qual
palavra melhor descrevia a sua dor, caso estivesse sentindo-a naquele momento ou
até mesmo num passado próximo, e deveria escolher apenas uma ou nenhuma
palavra de cada grupo (LEITE; GOMES; 2006). Quando o paciente não se queixava
de dor, a entrevista era encerrada após a coleta dos dados pessoais do paciente.
Na análise dos dados foi utilizado o Microsoft Office Excel 2007, e os
resultados foram organizados em tabelas e gráficos, expressos em forma de
frequência e percentual simples, e realizada análise descritiva dos dados com base
nos objetivos propostos no estudo.
A pesquisa foi aprovada e autorizada pela clínica de hemodiálise em questão
e foi obtido o consentimento prévio dos pacientes envolvidos na pesquisa (com
assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), respeitando os
aspectos éticos e legais da Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde,
que define as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres
humanos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por ser uma experiência subjetiva, a dor não pode ser objetivamente
determinada por instrumentos físicos que usualmente mensuram o peso corporal, a
temperatura, a altura, a pressão arterial e o pulso. Em outras palavras, não existe
7
um instrumento padrão que permita a um observador externo mensurar
objetivamente esta experiência interna, complexa e pessoal (SOUSA; HORTENSE;
2004). No entanto, nas últimas décadas houve avanços referentes à elaboração de
instrumentos, os quais facilitam a comunicação entre os pacientes e os profissionais
da área, possibilitando conhecer tanto a incidência, a duração e a intensidade da dor
sentida, quanto o alívio obtido mediante aplicação de diferentes técnicas analgésicas
(PEREIRA; SOUSA; 1998). Dentre os quais se podem citar: a Escala Visual
Analógica de dor (EVA), Diagrama Corporal de dor e o Questionário de dor de
McGill, versão brasileira (Br-MPQ), utilizados nesta pesquisa.
Para ROLLMAN (1992) apud SOUSA; HORTENSE (2004) uma medida eficaz
da dor possibilita examinar a natureza, as origens e os correlatos clínicos desta, em
função das características emocionais, motivacionais, cognitivas e de personalidade
do cliente. GRACELY (1977); STEVENS (1998) apud SOUSA; HORTENSE (2004)
lembram que, algumas vezes, apenas as medidas grosseiras, tais como dor
presente ou ausente, são necessárias para as intervenções clínicas, mas para
entendermos completamente o fenômeno e avaliar a eficácia destas intervenções,
necessitamos de medidas mais sofisticadas, tanto na intensidade quanto das
respostas afetivas associadas à dor.
Ao longo de quatro semanas foram entrevistados, de forma aleatória, um total
de 87 pacientes, todos portadores de IRC sob o tratamento de HD, maiores de
idade, independente de gênero ou etnia. Esta entrevista ocorreu sempre durante a
sessão. Além destes, foram abordados outros cinco, que se recusaram a responder
o questionário. Dos que concordaram, 16 referiram não sentir qualquer dor antes,
durante ou após a HD, sendo que 87,5% (14) eram do sexo masculino.
Aqueles que referiram a presença de síndromes dolorosas e tinham mais de 3
meses de tratamento formaram uma amostra composta, em sua maioria por
mulheres (37), 52,11%, e 47,89% de homens (34).
Segundo BERKLEY (1997), as mulheres não apenas reclamam mais de dor
durante suas vidas, como também sofrem de episódios com freqüência e duração
maiores e em mais áreas do corpo do que os homens. Novos estudos têm mostrado
que as mulheres experimentam um número de episódios de dor muito maior do que
os homens. Os motivos que causariam as discrepâncias entre os sexos em relação
8
à dor são desconhecidos. Enquanto alguns sugerem explicações concentradas em
mecanismos biológicos, como diferenças genéticas e hormonais, parece importante
levar em consideração também os fatores sociais e psicológicos. Um exemplo
estaria nas diferentes estratégias para lidar com dores. Enquanto as mulheres
tendem a focar os aspectos emocionais, os homens se concentram nas sensações
físicas. Além disso, por elas concentrarem nos aspectos emocionais da dor – que
são negativos –, o quadro se torna ainda mais grave
A partir desta amostra, percebeu-se que o grupo etário que mais referiu dor é
composto por pacientes com mais de 41 anos de idade, chegando a quase 69% da
amostra (49), assim como é demonstrado na figura 1, abaixo. A média de idade
destes pacientes configurou-se em 46 anos.
40,00%
33,80%
35,00%
35,21%
30,00%
25,00%
18,30%
20,00%
15,00%
9,85%
10,00%
5,00%
2,81%
0,00%
< 20
20 a 30
31 a 40
41 a 50
> 50
com dor
Figura 1: Frequência de dor com a faixa etária.
GUIMARÃES, 1999, relata que a idade do paciente também tem sido utilizada
na classificação didática para estudo da dor. A questão básica que norteia esse
critério pergunta se as pessoas percebem a dor da mesma forma nos diferentes
grupos etários. Como a experiência da dor é única e de caráter estritamente
subjetivo, as medidas são sempre indiretas e dependem da validade e fidedignidade
do instrumento utilizado para essa avaliação. Os instrumentos até agora disponíveis,
por sua vez, requerem algum tipo de comunicação verbal para colher informações
sobre a experiência da pessoa em sofrimento.
9
Esta mesma autora diz, ainda, que a dor no paciente com uma idade mais
avançada vem acompanhada de peculiaridades, como o efeito cumulativo da
progressão de doenças crônica dolorosas anteriormente experimentadas e o
aumento na incidência de condições associadas à dor. Além disso, é comum a
ocorrência de múltiplas complicações médicas e mais efeitos colaterais de diferentes
tratamentos durante o decorrer da vida. Todas essas variáveis são passíveis de
alterar a percepção da dor.
A intensidade é, sem dúvida, o aspecto mais saliente da dor. Foram
desenvolvidos diversos instrumentos confiáveis e com boa correlação entre si
(PIMENTA; 1999). Neste estudo foi utilizada a EVA, que, para SOUSA; HORTENSE
(2004), devido à facilidade do seu uso, tem alcançado uma grande popularidade
clínica e há constantes evidências na literatura de que suportam a fidedignidade e a
validade psicométrica, contrapondo-se à Escala Numérica.
Portanto, ao caracterizar a dor destes pacientes quanto a intensidade,
observou-se que, dos 71 entrevistados com dor, 35 relataram possuir dor
intensa/insuportável (49%), 31 dor moderada (44%) e somente cinco relataram dor
leve (7%) (figura 2).
Intensidade de dor - EVA
dor leve (0 a 2)
7%
dor intensa
(8 a 10)
49%
dor moderada
(3 a 7)
44%
Figura 2: Frequência da intensidade da dor segundo a EVA.
Quanto ao tipo/localização da dor, através do Diagrama Corporal em conjunto
com roteiro de entrevista, observou-se que 58 pacientes (81,69%) relataram sentir
cefaléia durante ou após o término da sessão, concomitante ou não a outros tipos de
10
dor (Tabela 1). Dado este, que consolida BANA (1972) apud ANTONIAZZI (2002),
quando afirma que cerca de 70% dos pacientes em regime dialítico queixam-se de
cefaléia. THOMÉ et al (1999) traz que este é um sintoma muito comum durante a
hemodiálise com múltiplas causas, desde hipovolemia, ansiedade, abstinência à
cafeína, até crise hipertensiva, sangramentos intracerebrais e síndrome do
desequilíbrio – causada por uma demora na transferência de uréia do cérebro para o
sangue, causando gradiente de concentração e levando a edema cerebral. Ocorre
em pacientes muito urêmicos na fase inicial do tratamento –. Usualmente, requer
apenas tratamento sintomático.
Tabela 1: indicativa dos tipos e locais de dor referidos pelos pacientes
entrevistados.
Tipos e locais de Dor
Quantidade
%
Cefaléia
58
81,69%
Cãimbra (MMII)
57
80,28%
Lombalgia
30
42,25%
Punção da fístula
20
28,16%
Cãimbra (abdominal)
13
18,30%
Cólica (abdominal)
9
12,67%
Renal (flancos)
5
7,04%
Cervicalgia
4
5,63%
Cãimbra (MMSS)
4
5,63%
Torácica
2
2,81%
Articular
2
2,81%
Referiram sentir câimbra em membros inferiores (MMII), 57 entrevistados
(80,28%). Estas, segundo THOMÉ et al (1999), acontecem quando há perda rápida,
intensa ou hiposmolar de líquidos (hiponatremia, hipopotassemia).
Seguido a estes, 30 pacientes relataram sofrer com lombalgia (42,25%), que,
como conceitua THOMÉ el al (1999), acontece devido à síndrome do desequilíbrio
ou à síndrome do primeiro uso – caracterizada como uma reação a dializadores
novos –, ou, ainda, em decorrência de uma má postura durante longo período no
assento, fato relatado por diversos entrevistados.
11
O Questionário para dor de McGill (MPQ), de autoria de MELZACK e
TORGERSON, em 1975, é um instrumento usado por pesquisadores e clínicos em
vários centros, e foi adaptado para a língua portuguesa por TEIXEIRA; PIMENTA
(1996). O MPQ compreende 78 palavras (descritores), algumas usadas em grupos
que descrevem os componentes sensorial (sub-grupos de 1 a 10), afetivo (11 a 15) e
avaliativo (sub-grupo 16) da dor, além do grupo miscelânea (17 a 20). Cada
subgrupo é composto por 2 a 6 descritores qualitativamente similares, mas com
nuances que os tornam diferentes em termos de magnitude. Discriminar estes
componentes é importante para elucidação diagnóstica, pois dores com etiologia
semelhante costumam ser relatadas de modo semelhante. Por exemplo, dores
neuropáticas frequentemente são descritas como em choque, queimação e
formigamento (PIMENTA, 1999).
Devido ao alto grau de concordância sobre as relações de intensidade, entre
os diferentes descritores de dor, para clientes oriundos de diferentes contextos
culturais, sócio-econômicos e culturais, este questionário tem sido frequentemente
empregado como um instrumento experimental para a análise dos efeitos de vários
procedimentos ou técnicas de manipulação ou alívio da dor. Esta generalidade de
aplicação tem sido tomada como um critério da validade do questionário (SOUSA;
HORTENSE; 2004).
Em virtude do exposto optou-se pela utilização de tal instrumento, em versão
brasileira (Br – McGill), para uma melhor caracterização das síndromes dolorosas
dos pacientes em questão.
Tabela 2: representativa de descritores mais referidos no Br – McGill, em
ordem decrescente.
Subgrupo
11
Descritores
%
Cansativa, exaustiva
71,83%
12
Enjoada, sufocante
56,33%
15
Miserável, enlouquecedora
43,66%
1
Vibração, tremor, pulsante, latejante, c/ batida, c/
42%
pancada
7
Calor, queima, fervente, em brasa
38,02%
12
13
Amedrontadora, apavorante, aterrorizante
36,61%
17
Espalha, irradia, penetra, atravessa
33,80%
2
Montada, choque, tiro
32,40%
18
Aperta, adormece, repuxa, espreme, rasga
32,39%
19
Fria, gelada, congelante
32,39%
8
Formigamento, coceira, ardor, ferroada
30,98%
3
Agulhada, perfurante, facada, punhalada, em lança
29,60%
4
Fina, cortante, estraçalha
29,60%
20
Aborrecida, dá náusea, agonizante, pavorosa, torturante
29,57%
6
Fisgada, puxão, em torção
28,16%
10
Sensível, esticada, esfolante, rachando
25,35%
16
Chata, que incomoda, desgastante, forte, insuportável
25,35%
9
Mal localizada, dolorida, machucada, doída, pesada
23,94%
14
Castigante, atormenta, cruel, maldita, mortal
23,94%
5
Beliscão, aperto, mordida, cólica, esmagamento
21,12%
Os descritores mais citados (Tabela 2) pertencem ao grupo Afetivomotivacional, que, segundo PIMENTA (1999), envolvem aspectos de tensão,
respostas neurovegetativas, medo e punição. A dimensão afetivo-motivacional é
processada pelas estruturas da formação reticular do tronco encefálico e límbico,
que sofrem influência dos sistemas nociceptivos de condução espinal lenta
(PIMENTA; TEIXEIRA, 1996). Os descritores mais utilizados neste grupo foram:
cansativo (71,83%); enjoada (56,33%) e enlouquecedora (43,66%), sendo estes os
mais citados dentre todos os 78 do Questionário de dor de McGill.
Dentro do grupo sensitivo-descriminativo, que, para PIMENTA e TEIXEIRA
(1996), é influenciada, primariamente, pelos sistemas espinais de condução rápida,
referindo-se às propriedades mecânicas, térmicas, de vividez e espaciais da dor,
obteve-se como descritores mais prevalentes: latejante (42%), calor (38,02%) e
amedrontadora (36,61%), que, segundo BERGSTROM (2002) apud TOSATO et al
(2006), pode indicar dor de origem principalmente física, porém, também, apresenta
influência de fatores emocionais.
13
O grupo miscelânea segundo PIMENTA; TEIXEIRA (1996) contém descritores
dos três grupos, os quais não se enquadram adequadamente, sendo, em sua
maioria, de caráter sensitivo. Na nossa pesquisa, obtiveram-se como palavras mais
citadas: espalha (33,8%), aperta e fria, ambas com 32,39% de incidência.
O que mais chamou atenção foi o fato de o descritor mais escolhido da
dimensão cognitivo-avaliativa estar entre os menos citados de todo o questionário,
sendo esta: “que incomoda”, atingindo 25,35%. LEITE; GOMES (2006) traz que este
grupo permite, ao doente, expressar a avaliação global da experiência dolorosa.
Para GUIMARÃES (1999), o estudo da dor requer um sistema consistente e
didático de categorização e o uso de uma terminologia técnica que facilite a
comunicação entre os pesquisadores, clínicos e pacientes. Alguns sistemas de
classificação já foram desenvolvidos, cada um tomando uma característica
específica da dor como critério de inclusão.
CONCLUSÃO
Ao final deste estudo pôde-se concluir que os pacientes submetidos à HD, em
sua maioria, sentem dor (81,6%). A maior parte deste é formado por mulheres,
52,11%. A faixa etária que mais refere dor é acima de 41 anos, atingindo 69% da
amostra pesquisada. Ao utilizar a Escala Visual Analógica, 49% destes pacientes
referiram sentir dor intensa, mais localizada em cabeça (cefaléia, 81,69%), membros
inferiores (câimbras, 80,28%) e lombalgia (42,25%). A partir do questionário de
McGill, percebeu-se maior sobrecarga da dor psicológica em relação à física, no que
concerne a qualificação da síndrome dolorosa verificada a partir da maior incidência,
entre todas as 78 palavras, de descritor componente do grupo afetivo-motivacional
(“cansativo”, 71,83%). Desta forma caracterizou-se a síndrome dolorosa deste grupo
estudado.
14
Concordamos com PIMENTA; TEIXEIRA (1996) quando estes afirmam que a
avaliação da dor, para fins clínicos e de pesquisa, depende da descrição verbal e da
experiência pessoal, não somente da intensidade, mas, também, das qualidades da
dor.
Nestas condições experimentais, percebeu-se que portadores de IRC em
regime de HD apresentam um alto grau de impacto da dor em suas vidas,
especialmente nas atividades do trabalho e escola. Fato observado na maior
incidência de descritores do grupo afetivo-motivacional, em detrimento dos outros 3
grupos, o que demonstra que a dor de caráter psicológico se sobrepõe à percepção
física e intensidade desta, mesmo se tendo encontrado um percentil de quase 50%
de dor intensa, segundo a EVA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo, observou-se que o Br-MPQ é um instrumento que
apresenta boa aplicabilidade para a amostra pesquisada. No entanto, foi constatado
que o nível de escolaridade influi diretamente na perfeita interpretação dos
descritores, exigindo que o pesquisador esclareça os respectivos significados para
que haja uma maior fidedignidade da pesquisa, o que demandou mais tempo para
sua aplicação, cerca de 10 a 15 minutos. Fato que confirma a citação de PIMENTA;
TEIXEIRA (1996) a respeito da difícil compreensão deste instrumento por indivíduos
com baixa escolaridade, idosos ou com dificuldade de concentração. Além disto,
observou-se a relação diretamente proporcional entre a intensidade/significância da
dor e a facilidade de entendimento independente do tempo transcorrido desde o
último episódio de dor.
Compreendendo o citado, era de se esperar que este mesmo instrumento,
assim como todo o roteiro de entrevista, tivesse restrições quanto a sua aplicação
em portadores de deficiências diversas, tais como auditiva e mental. O que de fato
15
foi questionado ao longo da pesquisa, supondo até mesmo em utilizar estes critérios
como forma de exclusão da pesquisa. No entanto, com a experiência deste estudo,
percebemos que, mesmo diante de tal situação, como foi vivenciada, no momento
em que se abordou uma paciente surda-muda ou um outro com dificuldade de
pronunciar as palavras e de entendê-las, os recursos da paciência, do tempo, e da
linguagem corporal, assim como o auxílio de pessoas próximas a estes pacientes
sanou quaisquer limitações possíveis quanto a caracterização da dor destes
pacientes. O que torna esta atividade necessária possível e útil em diversas
situações, não negando sua dificuldade.
Este estudo pretendeu, acima de qualquer outro objetivo citado acima,
despertar o interesse de estudantes e profissionais da saúde a respeito da área de
conhecimento da dor, servindo como base para muitos estudos que se fazem
necessários, visto que o estudo da dor, agora tratada como 5º sinal vital, ainda é
escasso e repleto de questionamentos, principalmente no que condiz à doença renal
crônica.
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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possíveis Fatores Desencadeantes e do Tratamento Empregado. Disponível em:
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PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE: CARACTERIZAÇÃO