GAUGUIN
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Tradução: Birgith Guimarães
© Confidential Concepts, worldwide, USA
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ISBN 978-1-78042-581-8
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A
8 de Maio de 1903, depois de ter perdido uma batalha fútil e fatalmente esgotante
contra autoridades coloniais, ter sido ameaçado com uma multa ruinosa e uma pena
de prisão por alegadamente haver instigado os nativos à insurreição e ter caluniado
as autoridades, depois de uma semana de intensos e terríveis sofrimentos físicos passados na
maior solidão, um artista que se havia dedicado a glorificar a primitiva harmonia da natureza
tropical da Oceania e do seu povo, morreu. Existe uma ironia amarga no nome que Gauguin
deu à sua casa em Atuona – “Maison du Jouir” (“Casa do Prazer”) – assim como nas palavras
que gravou nas suas madeiras – “Soyez amoureuses et vous serez heureuses” (“Apaixonemse e serão felizes”) e “Soyez mystérieuses” (“Sejam misteriosas”).
No seu relatório habitual para Paris, o Bispo escreveu: “O único acontecimento digno de
menção por estas partes foi a morte repentina de um indivíduo desprezível de nome Gauguin;
um artista reconhecido, mas um inimigo de Deus e de tudo quanto envolva a decência.1”. Foi
apenas vinte anos mais tarde que o nome de Gauguin surgiu na pedra tumular e mesmo essa
honra ficou a dever-se a uma circunstância curiosa: a campa de Gauguin foi encontrada por
um pintor que fazia parte da Sociedade de Faquires Americanos.
Foi apenas devido à presença de alguns viajantes e colonos, que tinham alguma percepção
de arte, e à ambição mal disfarçada de alguns dos seus inimigos recentes que, apesar de todo
o seu ódio, não se inibiram minimamente de fazer dinheiro com as suas obras, que parte do
legado artístico de Gauguin escapou à destruição. Por exemplo, o polícia de Atuona, que tinha
supervisionado pessoalmente a venda e que, com as suas próprias mãos, havia destruído
alguns dos quadros do artista, os quais supostamente ofendiam o seu conceito de moral, não
se absteve de furtar alguns trabalhos e, mais tarde, após o seu regresso à Europa, abriu uma
espécie de Museu Gauguin. Como consequência destes seus actos, não permaneceu no Taiti
um único quadro de Gauguin.
A notícia da morte de Gauguin, que tardara quatro meses a chegar a França, fez brotar um
interesse sem precedentes, tanto sobre a sua vida como sobre a sua obra. Tornaram-se
realidade as próprias palavras do artista acerca da sua fama póstuma. Partilhou o destino de
muitos outros artistas, que se viram reconhecidos somente quando já não podiam desfrutar do
sucesso. Daniel de Monfreid previra-o numa sua carta, dirigida a Gauguin alguns meses antes
da morte deste: “Se regressar, incorre no risco de prejudicar aquele processo de incubação que
se está a formar na apreciação pública dos seus trabalhos.
Neste momento, você é aquele artista lendário, que dos distantes Mares do Sul envia as
suas obras perturbadoras e inimitáveis, definitivamente obras de um grande homem, que, tal
como se vê, é como se tivesse desaparecido do mundo. Os seus inimigos – e, à semelhança de
todos quantos agitaram a mediocridade, você tem muitos inimigos – remetem-se ao silêncio:
não ousam atacá-lo, nem sequer conseguem pensar em tal. Você está tão longe! Não deve
regressar. Não deve retirar aos seus inimigos o osso que têm na boca. Você já se tornou
inatingível como todos os outros a quem a morte premiou; você já pertence à história da arte.2”
1. Efeitos da Neve
(Neve na Rua Carcel),
1882-1883.
Óleo sobre tela,
60 x 50 cm.
Ny Carlsberg Glyptotek,
Copenhaga.
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2. A Praia de Dieppe, 1885.
Óleo sobre tela,
38 x 46 cm. National
Museum of occidental Art
Ocidental, Tóquio.
3. Banhistas em Dieppe,
1885. Óleo sobre tela,
71.5 x 71.5 cm. Ny Carlsberg
Glyptotek, Copenhaga.
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4. Auto-retrato “ao meu
amigo Carrière”, 1886.
Óleo sobre tela,
40.5 x 32.5 cm.
National Gallery
of Art, Washington.
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Nesse mesmo ano de 1903, Ambroise Vollard exibiu na sua galeria de Paris cerca de cem
pinturas e desenhos de Gauguin, alguns dos quais enviados da Oceania pelo próprio Gauguin,
ao passo que outros haviam sido adquiridos por diversos coleccionadores e negociantes de
arte. Em 1906, em Paris, foi organizada uma retrospectiva das obras de Gauguin no
recentemente inaugurado Salão de Outono. Duzentos e vinte e sete trabalhos (sem atentar aos
que não dispunham de número na lista do catálogo) foram exibidos ao público – pintura, arte
gráfica, cerâmica e gravação em madeira. Octave Maus, o maior crítico de arte belga, escreveu
nessa ocasião: “Paul Gauguin é um génio da cor, um excelente desenhador, um grande
decorador, um pintor versátil e auto-confiante.3”. Quando se chega à questão de aceitar ou
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rejeitar o seu credo artístico ou de determinar o seu lugar no campo das artes, os pontos de
vista reciprocamente exclusivos e até diversos, expressos por várias gerações de
investigadores com gostos estéticos diferentes, são justificados. Alguns peritos em arte vêem
em Gauguin um destruidor do realismo, que denunciou tradições e que abriu caminho para a
“arte livre”, seja o Fauvismo, o Expressionismo, o Surrealismo ou o Abstraccionismo. Outros,
pelo contrário, têm para si que Gauguin deu continuidade à tradição artística europeia. Alguns
dos seus contemporâneos reagiram à sua partida da Europa com desconfiança e suspeição,
dado que para esses um verdadeiro artista podia e devia trabalhar apenas na sua terra natal
em vez de ir em busca de inspiração numa qualquer cultura estranha e longínqua.
5. Auto-retrato no Gólgota,
1886. Óleo sobre tela,
74 x 64 cm.
Museu de Arte,
São Paulo.
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