Argumento de
Penthesilea de Heinrich
von Kleist
para Penthesilia, dança solitária
de uma heroína apaixonada
de Martim Pedroso criação 2012
Pentesileia, a rainha das mais fortes guerreiras gregas, junta o seu exército para, ao que
primeiramente se julgou, participar na guerra de Tróia. Rapidamente se percebe que este
feroz exército não desceu ao campo de batalha para combater lado a lado com os gregos
mas para capturá-los como a antiga tradição lhes ensinara. A sua intenção é fazê-los
arrebatar pelos seus virgens encantos para que, no alvorar da primavera, as amazonas junto
dos seus homens possam festejar com coroas de rosas a união sagrada do amor.
Pentesileia, ao escolher o mais forte e corajoso guerreiro grego, Aquiles filho de Peleu, para
seu senhor e rei, não olha a meios para atingir o seu desejo ardente. Possuída pela crescente
força de Dionísio, a rainha organiza insistentes emboscadas solitárias contra ele com o
objectivo de o fazer cativo da sua lança e, perdendo o juízo no delírio da sua obsessão,
deixa-se ferir pelo amado que já aí adivinhara os intentos das secretas batalhas.
Aquiles, que até então se tinha rendido aos encantos da estranha guerreira, dirige-se a ela
para lhe confessar o seu amor no momento em que, ferida pelo golpe, era persuadida por
Prótoe, sua fiel companheira, que teria sido ela a vencer o filho de Peleu. Calma e
convencida pela versão contrária dos acontecimentos, Pentesileia troca as mais belas
palavras com o filho de Peleu contando-lhe entretanto toda a tradição da sua particular
tribo.
No fim desta extensa e curiosa narrativa, Aquiles é forçado a contar a verdade dos
acontecimentos e dizer-lhe que, devido ao destino, terá ela de ser levada pelo grego.
Pentesileia, incrédula, revolta-se com a confissão e é logo pressionada pela ferocidade das
Amazonas a cumprir a sua tradição voltando à sua terra natal em vez de seguir o filho de
Peleu, pois o destino reservara para ela e para as restantes amazonas, a perda dos homens.
Face ao dilema de Pentesileia, que já tinha até aí exibido a mais perigosa loucura do seu
amor, a Grande-Sacerdotisa das Amazonas profere, invocando as leis da tradição, uma
comunicação em que, compreensiva pela dor da rainha, permite que esta abdique do seu
estatuto e se junte ao seu guerreiro se assim lhe aprouver. Ao mesmo tempo, indica que, ao
fazê-lo, se comporta de forma contrária à sua natureza de Amazona.
Entretanto, um mensageiro dos gregos interrompe o momento de dor de Pentesileia ao
proferir uma comunicação de Aquiles que convida, numa última tentativa, a rainha das
flores à derradeira batalha que deverá decidir o destino dos dois amantes. Esta, possuída
pela esperança de voltar a reunir todos os prisioneiros gregos na grande Festa das Rosas,
reúne as suas últimas forças e aceita o desafio apesar da desaprovação das suas
companheiras. O que a apaixonada rainha e as suas virgens desconheciam era o plano de
Aquiles ao convidá-la para uma batalha onde não teria de convocar o arco e as flechas para,
numa luta dissimulada, ela o pudesse facilmente deter. Ignorando este plano, Pentesileia
convoca as Fúrias para o combate e desce ao campo de batalha.
Num estado de perfeita loucura e força caninas, como é descrito no monólogo de Méroe,
Pentesileia transformada numa verdadeira bacante sanguinária, não só o vence arrastandoo pelo pó como o dilacera brutalmente arrancando-lhe, num último golpe, o seu coração. A
rainha vitoriosa e delirante, mais parecida com uma loba saciada, regressa para junto das
virgens e, quando se apercebe do seu infortúnio à força da razão que se lhe apodera
lentamente, mata-se com a força do seu punhal.
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