Missão: Formar Empreendedores
Autoria: Luiz Carlos Jacob Perera, Vânia Maria Jorge Nassif, Alexandre Cabral Monte Negro,
Laércio Bento, Higor Sandro Pramio, Leandro Ono
Resumo: Este artigo discute, a partir das habilidades ou capacitações dos empreendedores, a
formação profissional na universidade, em outras palavras, busca identificar se as Instituições
de Ensino Superior (IES), em particular as Faculdades de Administração, têm cumprido a
missão de formar empreendedores, no sentido lato da palavra. A pesquisa de natureza
exploratória foi desenvolvida a partir de uma das principais IES do Brasil, responsável,
anualmente, pela formação de cerca de quinhentos profissionais da área de administração e
comércio exterior na cidade de São Paulo. Foram entrevistados noventa e cinco (95) exalunos e oitenta e seis (86) chefes diretos dos entrevistados. O grupo dos chefes diretos serviu
como controle da avaliação dos ex-alunos, dando maior credibilidade à informação básica da
pesquisa. Para análise dos dados, foram utilizadas técnicas de análise estatística descritiva e
análise multivariada - correlação e análise fatorial. Os principais resultados revelaram que (1)
a avaliação dos atributos dos ex-alunos e chefes imediatos não evidenciou diferenças
significativas; (2) a instituição de ensino tem alcançado seus objetivos de formar gestores com
espírito empreendedor; (3) os atributos dos ex-alunos empresários são diferenciados; (4)
indicou estruturas de análise que podem aprimorar a qualidade do ensino.
1. INTRODUÇÃO
Da sociedade, historicamente, surgem clamores de transformação. O ensino,
considerado como elemento técnico-profissional na formação do cidadão não pode ser
dissociado das grandes questões sociais. Fujita (2003), em revista técnica de ensino, comenta
as colocações de especialistas e consultores que tratam da lacuna existente entre a sala de aula
e o mercado de trabalho. Aborda ainda, considerando lamentável, o fato de as Instituições de
Ensino Superior (IES), não fazerem um acompanhamento sistemático do desempenho dos
profissionais graduados frente os desafios impostos pela sociedade, onde desempenharão as
atividades para as quais foram supostamente preparados.
Emergem questões do tipo: Qual a influência que o “novo” cidadão provoca na
sociedade para a qual ele foi preparado? Ele passou a ser um agente transformador, ou
não?
Quadro 1. Perfil do Administrador
QUE ADMINISTRADOR QUEREMOS FORMAR ?
“Um gestor de negócios empreendedor”
Entende-se por esta definição que o foco do profissional é em negócio e não em empresa
envolvendo a burocracia organizacional.
Por negócio deve ser entendido todo produto ou serviço entregue a um cliente, externo ou interno
que implique em resultado eficaz (satisfação, fidelização, etc...). O gestor de um negócio é um
profissional que pode estar em qualquer posição na organização, independentemente de ser uma
área fim ou de apoio.
Assim, tanto são gestores de negócio o dono de uma empresa, um diretor superintendente, quanto
um gerente de RH ou supervisor de produção.
................
Fonte: Instituição de Ensino Superior, 2004
1
A Instituição de Ensino Superior (IES), em seu site na Internet, assume de forma clara
– como os tempos modernos exigem – o perfil do profissional que pretende formar, vide
Quadro 1.
Maia (2003), descreve o dilema de Jasmim, uma jovem cheia de motivação e dúvidas,
ao fazer escolhas para realizar seus projetos de vida. A importância do diploma e a qualidade
do curso escolhido, no sucesso de seu futuro profissional, são claras. Também fica clara a
falta de autoconfiança e adequada orientação de Jasmim, para definir seu rumo em termos
profissionais, através da melhor escolha entre as opções de cursos universitários.
Nicolini (2003), descreve o drama das dificuldades de interação entre a academia, a
pesquisa e a realidade empresarial. O problema persiste há décadas. Não é exclusividade
brasileira, onde o aluno, via de regra, posiciona-se como um receptáculo pronto para ser
preenchido. E, assim, como um produto do meio, adapta-se a ele, ao invés de transformar-se.
Diante dessas colocações, procurá-se através desta pesquisa ajudar a compreensão de
problema tão complexo. Inicialmente, buscá-se entender os propósitos da formação
profissional da faculdade, identificando o que seria o problema de pesquisa: Estaria a IES
atingindo seu objetivo de formar Um gestor de negócios empreendedor?
Entende-se que, ao mostrar se e como a IES está atingindo seus objetivos, de formação
profissional, o pesquisador estará contribuindo significativamente para a decisão de jovens
que, como Jasmim, pretendem escolher uma carreira e uma instituição de ensino. Também,
estará contribuindo para mostrar à direção da instituição como os profissionais recentemente
formados estão posicionados no mercado como empreendedores; quais os aspectos mais
relevantes de sua formação e como estão sendo avaliados. No mínimo, questões instigantes.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Aspectos Econômicos Ligados ao Empreendedorismo
Este artigo entende empreendedorismo como o principal gerador da atividade
econômica de um país. Discute empreendedorismo a partir da visão carismática de
Schumpeter no início do século vinte, quando a humanidade desenvolvia aceleradamente a
saga industrial, passando por intensas mudanças do artesanato produtivo para a
industrialização capitalista.
Empreendedorismo é um conceito que está ligado a empreendedor, empresa,
empresário, no sentido de criação e desenvolvimento de negócios, sejam eles novos ou
revigorados, no sentido de adquirirem um novo ímpeto de crescimento, qualitativo ou
quantitativo, significativamente acima de seu crescimento vegetativo. O crescimento agregado
dos negócios reverte-se no crescimento da economia de um país, daí a relevância de serem
entendidos, com maior profundidade, alguns fundamentos econômicos de crescimento.
Schumpeter (1997), em sua Teoria do Desenvolvimento Econômico, considera que o
desenvolvimento ocorre de duas formas distintas: mudanças nos fatores de capital e trabalho,
decorrentes do crescimento vegetativo contínuo, impulsionadas pelos fatores externos de
acomodação ao mundo à sua volta, o que chamou de fluxo circular ou análise estática, e;
mudanças que ocorrem internamente por sua própria iniciativa e de forma descontínua,
alcançando uma nova posição de equilíbrio, o que chamou de revolucionária ou dinâmica.
Nas palavras de Schumpeter: É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo,
perturbação do equilíbrio que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio
previamente existente.
Ainda segundo Schumpeter (1997), é o produtor que inicia a mudança econômica, e os
consumidores são ensinados a querer coisas novas ou diferentes. A sua distinção entre
crescimento estático e dinâmico acaba se fundamentando no conceito de destruição criadora,
ou seja a substituição de produtos e serviços existentes por novos hábitos de consumir.
Schumpeter, reconhecidamente, um cientista e pesquisador avançado para seu tempo foi um
dos primeiros a centralizar o papel do empreendedor, destacando ainda a importância da
liderança, do risco, do crédito e da estratégia ajustada à visão empresarial, como propulsores
do desenvolvimento econômico em qualquer instância. Schumpeter (1997), ao definir
empresário e empreendedor o fez numa conceituação moderna e atual distinguindo os
empresários, homens de negócio, dos executivos de empresas e dos controladores (maioria
2
das ações). Conceituando a todos como empreendedores desde que se voltassem para a
realização de novas combinações, caracterizando-os como inovadores. Deve-se considerar
que as idéias de Schumpeter constantes em suas obras remetem aos anos de 1907 a 1909
(formulação), 1911 (publicação) e 1926 (revisão).
Schumpeter enfatiza que alguém só é um empresário quando efetivamente levar a
cabo novas combinações, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio, quando
dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios. Assim, é raro alguém permanecer muito
tempo como empresário, como é raro um homem de negócios nunca passar pela experiência
de ser empresário em algum momento. Schumpeter destaca ainda o papel da estratégia: “A
realização de novas combinações não pode ser mais uma vocação do que a tomada e a
execução de decisões estratégicas, embora seja essa função e não o seu trabalho de rotina, o
que caracteriza o líder milita” (grifo nosso).
Quadro 2. De Schumpeter a Michael Porter – Uma visão estratégica.
Desenvolvimento em Função de Novas
Combinações ou “Estratégias” de Schumpeter
Forças Competitivas Que Moldam a
Estratégia, segundo Porter.
Introdução de novos bens / serviços – com o qual os
consumidores não estejam familiarizados ou com
uma nova qualidade.
Ameaça de Novos Entrantes – novos entrantes
trazem novas capacidades, diferenciação de
produto, escala, etc.
Introdução de novos métodos de produção – que
ainda não tenham sido testados pela experiência no
setor (não necessariamente uma nova descoberta), ou
uma nova forma de comercializar uma mercadoria.
Ameaça de Produtos /Serviços Substitutos –
quanto mais atrativo for o trade-off
preço/desempenho oferecido pelo produto
substituto, mais afetará o potencial de lucros do
setor.
O Setor Competindo por Uma Posição Entre os
Concorrentes Existentes – o equilíbrio de
mercado é constantemente ameaçado.
Fornecedores e Compradores Poderosos –
dominam o setor para o qual fornecem, daí a
necessidade de alternativas.
Condições de Mudança – decisões estratégicas
envolvendo um grande segmento exercem um
grande impacto nas condições determinantes
Abertura de novos mercados – no qual ainda não
tenha penetrado, quer tenha existido antes, ou não.
Conquista de novas fontes de matérias-primas –
independentemente de já existir ou ser criada.
Estabelecimento de novas organizações, como a
criação de posição de monopólio, ou a fragmentação
de uma posição monopolística.
Fonte: Os autores, a partir dos textos de Schumpeter, 1998 e Porter, 1998.
Michael Porter, de Harvard, guru da estratégia moderna, deve ter reconhecido no
texto uma identidade de princípios. Se for comparado desenvolvimento, no sentido
Schumpeteriano de novas combinações (estratégias), com os princípios da formulação
estratégica, na visão de Porter, teremos uma linha de contato bastante estreita, como pode ser
acompanhado no Quadro 2.
2.2. Características do Empreendedor
Drucker (2002) discute a o pensamento econômico a respeito dos empreendedores,
afirma que todo o economista sabe que o empreendedor é importante e provoca impacto.
Entretanto, para os economistas, empreender é um evento meta-econômico; algo que
influencia profundamente e molda a economia, sem fazer parte dela. Economistas, em outras
palavras, não têm como explicar porque o espírito empreendedor emerge, como aconteceu no
final do século XIX, e parece estar emergindo hoje, e nem porque ele se limita a um
determinado país, ou a uma cultura. Realmente, os eventos que explicam porque o
empreendimento se torna eficaz, provavelmente, não são, em si, eventos econômicos. As
causas, possivelmente, estariam nas mudanças em valores, percepções, atitudes, talvez
mudanças demográficas, em instituições (tais como a criação de bancos empreendedores na
Alemanha e nos Estados Unidos, por volta de 1870) e talvez em mudanças na educação.
3
Drucker (2002), afirma:
“Alguma coisa, com toda certeza aconteceu aos jovens americanos, e, para um
número razoavelmente grande deles, às suas atitudes, aos seus valores e às
suas ambições nos últimos vinte a vinte e cinco anos... Como explicar, por
exemplo, que, de um momento para outro, surja tanta gente disposta a
trabalhar como doida por longos anos e a enfrentar sérios riscos, em vez de
ter a segurança das grandes organizações. Onde estão os hedonistas, os que
buscam status, os eu também, os conformistas?”
Mais adiante, Drucker ensina que o veículo dessa profunda mudança em atitudes,
valores e acima de tudo, em comportamento é uma tecnologia. Ela se chama Administração.
Suas amplas e novas aplicações provocaram o aparecimento da economia empreendedora nos
Estados Unidos.
Os autores identificados como pioneiros no campo – Cantillon (1755) e Say (1803;
1815; 1816; 1839) não estavam interessados somente em economia, mas também em
empresas, criação de novos empreendimentos, desenvolvimento e gerenciamento de negócios.
Cantillon e Say consideravam os empreendedores como pessoas que corriam riscos,
basicamente porque investiam seu próprio dinheiro. Schumpeter (1954) admitia que a parte
mais importante de seu trabalho era transmitir aos anglo-saxões o universo dos
empreendedores como descrito por Say. Como Say foi o primeiro a lançar os alicerces desse
campo de estudo, pode-se considerá-lo o pai do empreendedorismo. Entretanto, foi
Schumpeter (1928) quem realmente lançou o campo do empreendedorismo, associando-o
claramente à inovação: A essência do empreendedorismo está na percepção e no
aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios (...) sempre tem a ver com
criar uma nova forma de uso dos recursos naturais, em que eles sejam deslocados de seu
emprego tradicional e sujeitos a novas combinações (FILION, 1999).
Em Birley e Muzyka (2001), encontra-se uma descrição cuidadosa do que consideram
características comuns a todos os empreendedores: orientados para realizações, gostam de
assumir a responsabilidade por suas decisões e não gostam de trabalho repetitivo e rotineiro;
são criativos, possuem altos níveis de energia, altos graus de perseverança e imaginação,
aliados a disposição para correr riscos moderados e calculados. Complementam as
características dos empreendedores, acrescentando: entusiasmo contagiante, senso de
propósito e determinação que podem se traduzir em capacidade de sedução, habilidade
política ou carisma. Os empreendedores sabem como liderar uma organização e dar-lhe
impulso, freqüentemente começam com uma idéia muito simples e mal definida que
conseguem transformar em algo concreto. Finalizam, afirmando que os empreendedores são a
força motriz da economia de qualquer país. Eles representam a riqueza de uma nação e seu
potencial para gerar empregos (BIRLEY e MUZYKA, 2001).
Inovação
Liderança
Criatividade
Independência
Energia
Tenacidade
Originalidade
Riscos moderados
Quadro 3. Características dos Empreendedores.
Otimismo
Tolerância à ambigüidade e à incerteza
Orientação para resultados
Iniciativa
Flexibilidade
Capacidade de aprendizagem
Necessidade de realização
Sensibilidade a outros
Autoconsciência
Agressividade
Autoconfiança
Tendência a confiar nas pessoas
Envolvimento a longo prazo
Dinheiro como medida de desempenho
Habilidade para conduzir situações Habilidade na utilização de recursos
Fonte: Hornaday et al, apud, Trevisan, 2000
4
Dornelas (2001), alinha um grande número de características dos empreendedores de sucesso,
entre elas destacam-se: são visionários, no sentido de terem habilidade para planejar o futuro e
implementar seus sonhos; sabem tomar decisões; fazem a diferença, no sentido de transformar
o que é possível em realidade; são independentes, no sentido de construírem seu próprio
destino; são bem relacionados, constroem um networking funcional mantendo contatos
proveitosos junto a fornecedores, clientes, entidades de classe e congêneres; possuem e
desenvolvem conhecimento necessário a implementação do negócio; sabem agregar valor
para si e para a sociedade.
2.3. A Quem Compete o Papel de Formar Empreendedores
Pesquisas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, SEBRAE
(2001) – um serviço social autônomo administrado, predominantemente, pela iniciativa
privada – indicam que 70% da população brasileira gostariam de montar seu próprio negócio.
A mesma fonte, baseada em uma amostra de 1.750 empresas paulistas, constituídas a partir da
segunda metade dos anos noventa, evidencia que em 2000, 71% dessas empresas havia
encerrado suas atividades – antes mesmo de completarem cinco anos de vida.
As principais causas apontadas foram: tempo e qualidade do planejamento feito antes
da abertura da empresa, dedicação à empresa no primeiro ano e gestão do negócio.
Demonstrando a falta de preparo dos pretensos empresários.
Maranhão (2002), presidente da ANACEU – Associação Nacional dos Centros
Universitários, afirma que seria ingenuidade acreditar que apenas com uma pedagogia
empreendedora, teríamos uma geração de empresários de sucesso, já que a sobrevivência de
um negócio depende também de fatores externos que não podemos prever ou controlar, assim
como de medidas do governo para desburocratizar e facilitar a vida dos pequenos
empreendedores – facilitando o crédito e reduzindo os impostos, por exemplo. Opina ainda,
que ações na direção de uma pedagogia empreendedora teriam o mérito de, além de preparálo adequadamente para o desempenho profissional, fortalecer a confiança do indivíduo,
favorecendo o seu desenvolvimento pleno e, em conseqüência, o do país.
Ferreira e Mattos (2003), em recente trabalho, discutem: Podem os cursos de
graduação em administração ser celeiro de novas empresas e empreendedores? O que eles
fazem ou até impedem que se faça nesse sentido? As principais conclusões indicam que as
práticas didático-pedagógicas que têm o caráter de simulação do empreendimento tendem a
ser as que mais incentivam o empreendedorismo. Podem ser citadas: desenvolvimento de um
produto, desenvolvimento de uma empresa (os mais relevantes), disciplina sobre
empreendedorismo e elaboração de um plano de negócio. Como práticas que não estimulam
ou mesmo inibem a postura empreendedora, podem ser citadas: adoção de livro texto e
exigência de ficha leitura / resumo sobre conteúdo da aula.
A importância do conhecimento, como ferramenta capaz de organizar a interação entre
os recursos disponíveis e as decisões decorrentes de pressões globais é destacada pela maioria
dos autores modernos. Trevisan (2000), analisa a importância do conhecimento, lembrando
que nesta fase de desenvolvimento acelerado, o conhecimento não se esgota e é preciso
reciclá-lo ao longo da vida. O mundo mudou, o aprendizado não é mais estanque, datado, é
contínuo porque as técnicas, os métodos e os processos alteram-se sistematicamente. Esta
realidade passa a fazer parte da vida. Por isso as escolas estão mudando”.
2.4. A Formação dos Alunos à Luz das Diretrizes Curriculares e do Perfil
Traçado e Desejado pela IES Pesquisada.
Durante a Conferência Mundial da UNESCO (1998), o então Primeiro Ministro da
França Lionel Jospin fez a seguinte declaração: A universidade, uma vez que ela se
transformou numa torre de marfim, falhou em sua missão. Esta lição não deve ser esquecida.
5
A liberdade acadêmica e a autonomia das instituições são inseparáveis de sua
responsabilidade diante da sociedade.
Esta posição foi um marco para que as instituições repensassem seu papel e as
condições que estavam oferecendo no processo de formação de seus alunos. Dois anos antes
deste evento, o Brasil regulamentava a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
incumbindo as instituições de reverem a sua estrutura pedagógica, a definição do perfil
profissiográfico, as competências e as habilidades a serem desenvolvidas, os campos de
conhecimentos, duração dos cursos, estágio supervisionado, o reconhecimento de habilidades
e competências extracurriculares, a organização curricular, práticas e projeto pedagógico e da
interface do curso com a pós-graduação.
Além disso, a Conferência da UNESCO chamava atenção para uma posição
estratégica da Instituição de Educação Superior tendo em vista a sua importância numa
sociedade contemporânea em constante transformação. Ela propõe novos desafios voltados
para a pertinência (variedade de serviços à sociedade) a qualidade (conceito
multidimensional, pois contém as três funções clássicas: docência, pesquisa e extensão) e
internacionalização (parceria com outras entidades educacionais). Em face dos múltiplos
desafios, a educação de maneira geral, e a praticada nas instituições de ensino superior, surge
como um trunfo indispensável à humanidade na construção dos ideais da paz, da liberdade e
da justiça social.
Foi neste contexto que houve a necessidade de renovar o quadro de dirigentes para
modernizar o projeto de formação de alunos nesta área do conhecimento. Surge assim a
proposta de traçar o perfil do aluno a que se pretendia formar, alinhando as estratégias e ações
para viabilizar uma formação compatível com aquela exigida pelos órgãos oficiais e pelo
mercado de trabalho exigente.
Entrevistado o diretor da Faculdade (2004) ele afirma que foi preciso fazer uma
revisão geral nos cursos a começar pela grade curricular, planos de ensino, aprofundando até
o quadro de docentes que estavam atuando no curso. A biblioteca foi outro foco de mudança
e a instalação da cultura da pesquisa, tendo sido desenvolvido uma política de trabalho de
conclusão de curso que agregasse valor à formação do aluno e impulso de pesquisa aos
professores. Algumas atividades proporcionadas ao corpo docente, como por exemplo,
seminários de metodologia e de didática do ensino superior, contribuíram para a melhoria dos
procedimentos metodológicos em sala de aula, criando assim, ambiente de desenvolvimento
de atividades de pesquisa e atividades que estimularam os alunos em alguns princípios do
empreendedorismo. As atividades implantadas extra-sala – palestras e visitas a empresas,
entre outras, contribuíram com a instalação da iniciação científica e desenvolvimento de uma
central de casos de empresas. Destaque especial à Empresa Junior como um espaço efetivo de
desenvolvimento das características empreendedoras.
Para o Chefe do Departamento de Administração, também entrevistado (2004) a
formação do aluno para desenvolver as características de empreendedor deve ser direcionada
para contextos em que propicie o olhar para as oportunidades e aprender a buscar meios para
transformá-las em resultados. Estas transformações provocaram um repensar na própria
formação do Administrador. O processo prossegue em desenvolvimento contínuo, com ampla
participação e discussão do corpo docente e discente sempre em busca de iniciativas voltadas
para o seu aperfeiçoamento.
3.
METODOLOGIA DA PESQUISA: OBJETIVOS, VARIÁVEIS, AMOSTRA E
TRATAMENTO DE DADOS
Para responder ao problema de pesquisa formulado, definiu-se como objetivo principal
verificar se a IES está formando Gestores de negócios empreendedores. Como gestor de
negócios podemos interpretar o indivíduo que faz a gestão de uma atividade lucrativa ou não,
6
tendo autoridade para tomar decisões e assumindo a responsabilidade pelos possíveis
resultados decorrentes de sua decisão. Um gestor de negócios empreendedor alia à atividade
sua capacidade empreendedora, ou seja, a busca de oportunidades e a agregação de valor ao
negócio (BIRLEY e MUZYKA, 2001).
A hipótese formulada a partir do problema de pesquisa, pode ser descrita:
HA = A IES está formando Gestores de Negócio Empreendedores
A partir desta hipótese, foram definidos como objetivos específicos:
(1) Identificar os principais atributos (variáveis) que estariam ligados à definição do conceito
de gestor empreendedor;
(2) Verificar a coerência dessas variáveis com os conceitos emitidos pela instituição de ensino
em análise;
(3) Verificar o grau de aderência dessas variáveis aos profissionais formados recentemente
pela IES – tanto na avaliação dos profissionais (ex-alunos), quanto na avaliação das
empresas, através do grupo de controle – chefes diretos dos entrevistados;
(4) Explicar o comportamento das variáveis através de fatores ajustados à realidade
educacional;
(5) Sugerir possíveis estruturas de análise que possam aprimorar a qualidade do ensino
refinando a formação dos profissionais.
A pesquisa foi de natureza exploratória, uma vez que foi adotada uma IES para
discutir-se um problema que interessa à toda coletividade. O horizonte da amostra restringiuse a um período de oito semestres ou quatro anos (de 1999 a 2002), considerando que os
Planos de Ensino atualizam-se com freqüência e a expansão do período poderia misturar
diferentes programas e mesmo incluir complementações de ensino dentro ou fora da área
acadêmica, fugindo dos propósitos da pesquisa. Devido às restrições impostas, as inferências
devem ser ressalvadas como adequadas para a população em análise. No entanto,
considerando que as IES de São Paulo e mesmo de outras capitais seguem padrões
semelhantes, os resultados encontrados podem ser expandidos, com os devidos cuidados em
sua interpretação.
•
Identificação das variáveis
As variáveis foram definidas com base em uma matriz de conteúdo, formatada a partir da
análise dos autores citados no item 2.2. Características do Empreendedor e das características
explícitas consideradas relevantes pela IES. Basicamente, foi desenvolvido o seguinte
raciocínio de análise: se a IES destaca os atributos necessários para a formação do
empreendedor, estes atributos devem estar contemplados em seus planos de ensino e
logicamente estarão incorporados na formação do profissional. Logo importa verificar como
estes atributos são avaliados e reconhecidos pelos profissionais formados e pelas empresas
onde atuam.
A matriz de conteúdo colocou em destaque oito variáveis descritas a seguir:
1) Aceitar Riscos (RISCOAC)– significando que o empreendedor aceita correr riscos
(reconhecer a possibilidade de ocorrer prejuízo) para obter melhores resultados.
2) Determinado (DETERMINADO) – o indivíduo que, sem medir esforços empenha a
energia necessária para atingir seus objetivos, não se deixando abater pelas dificuldades e
procurando superar todos os desafios.
3) Liderança (LIDERANÇA) – ou líder, alguém que sabe formar e conduzir equipes, uma
pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de
7
outras.
4) Identificar Oportunidades (OPORTUNIDADE) – considerado como o fato de estar
sempre atento à geração de valor para a empresa, seja criando novos negócios, seja pela
redução de custos.
5) Criatividade (CRIATIVIDADE) – o fato de estar sempre aberto a novas experiências, ser
altamente adaptável, saber conceituar e usar a imaginação para resolver problemas,
traduzindo idéias em soluções práticas.
6) Conhecimento (CONHECIMENTO)– dominar a sua área de atuação, através do
desenvolvimento teórico e prático constante (reciclagem, atualização, etc.), que o habilite
a fazer uso das ferramentas adequadas nas diversas situações e cenários, atingindo com
eficácia seus objetivos.
7) Visão – (VISÃO) basear-se em realidades presentes, conseguir imaginar cenários e traçar
planos e estratégias para o seu futuro, ou de sua organização. Poder anteceder fatos com o
objetivo de inovar ou recriar produtos, soluções e serviços.
8) Tomada de Decisão (TOMADOR DEC.) – a capacidade e habilidade em definir a melhor
escolha e agir no momento necessário, tendo segurança em suas iniciativas,
•
Da população e amostra
A população alvo da pesquisa foi composta por ex-alunos dos cursos de Administração e
de Comércio Exterior da IES – relação fornecida pelo Centro de Processamento de Dados. O
número de formandos no período foi de cerca de 1500 profissionais, dos quais foi extraída
uma amostra estratificada e probabilística (dentro de cada extrato), foram sorteados 95 exalunos. Da amostra de ex-alunos, 86 trabalhavam em diversas instituições (PROFIS), tendo
uma chefia imediata (CHEFEDI), a qual também foi entrevistada – servindo como grupo de
controle; 8 possuíam negócio próprio (EMPRES) e um estava desempregado (DESEMP). O
tamanho da amostra, n = 86, é suficiente para gerar resultados com 95% de confiança e 0,2 de
erro – o que satisfaz plenamente os objetivos da pesquisa. A Tabela 1. mostra a composição e
percentuais da amostra.
Tabela 1. Amostra da Pesquisa
ESTRATO
PROFIS
EMPRES
DESEMP
IES-SUBTOT
CHEFEDI
IDENTIFICAÇÃO
Profissional formados pela IES
Empresários formados pelo IES
Desempregado formado pelo IES
SUBTOTAL IES
Chefe Direto Prof. formado pela IES
TOTAL DA AMOSTRA
No.
PERC.
86
8
1
95
86
47,5%
4,4%
0,6%
52,5%
47,5%
181
100,0%
•
Do Questionário
O questionário foi do tipo compacto composto por oito questões relacionadas às oito
variáveis focadas na identificação dos atributos de gestores empreendedores. A escala
utilizada foi do tipo Likert, com definição conceitual do atributo e escala de cinco pontos, do
tipo Discordo Totalmente – Concordo Plenamente, com o ponto intermediário significando
indiferença. As quatro primeiras questões tiveram sua escala invertida para evitar vieses de
medição. A escolha do entrevistado (valor da escala) significa identificar no profissional, com
maior ou menor intensidade, o atributo empreendedor. Pereira (2001) afirma que o sucesso
da escala intervalar de Likert deve residir no fato de que ela tem a sensibilidade de recuperar
conceitos aristotélicos da manifestação de qualidade: reconhece a oposição entre contrários,
reconhece gradiente e reconhece situação intermediária. Além disso, ela tem uma relação
8
adequada entre a precisão e a acerácia da mensuração.
Os questionários foram respondidos através de entrevista face a face, o que, no
entendimento de Schober e Conrad (2002), melhora a acurácia das respostas provendo
substantiva clarificação através de ajuda solicitada ou não. A extensão geográfica foi restrita à
região da Grande São Paulo. O período de realização da pesquisa estendeu-se de julho a
outubro de 2003.
•
Tratamento e Análise dos dados
Os dados primários foram transpostos a partir de uma planilha desenvolvida no
Microsoft® Excel 2002 e analisados com o auxílio do Social Package for Social Science,
SPSS for Windows, versão 11.0 de setembro de 2001. As análises feitas são descritas a seguir,
com destaque para a análise fatorial.
Inicialmente, foram calculadas médias, desvios padrão e coeficientes de correlação de todas
as variáveis. Os resultados, distribuídos por estratos são apresentados na Tabela 2. Na análise
das médias, interessa ao pesquisador a acurácia da medida. Na falta de um gold standard foi
adotado um grupo de controle: os chefes diretos dos ex-alunos, que será utilizado para com
firmar as medições do grupo de análise. O Grupo de controle emparelhado, segundo Cozby
(2003) deve ter a garantia de equivalência em alguma característica – no caso, a subordinação
hierárquica direta. O grupo de controle objetiva detectar possíveis vieses de medição quando
os valores mostram-se discrepantes – garantindo assim maior confiabilidade ao processo de
amostragem.
Tabela 2. Média, Desvio Padrão e Coeficientes de Variação dos Atributos
86
3,74
1,01
0,27
Número Casos:
Média:
Desvio Padrão:
Coeficiente Variação:
8
4,50
0,53
0,12
CRIATIVO
ID.OPORT.
LIDER.
TOM.DEC.
Número Casos:
Média:
Desvio Padrão:
Coeficiente Variação:
EXECUTIVO FORMADO PELA IES
86
86
86
86
4,23
3,92
3,87
3,65
0,89
0,93
0,89
1,12
0,21
0,24
0,23
0,31
CHEFE DIRETO DO EXECUTIVO FORMADO PELA IES
86
86
86
86
4,20
3,98
3,76
3,71
0,94
0,97
0,94
1,14
0,22
0,24
0,25
0,31
EMPRESÁRIO FORMADO PELA IES
8
8
8
8
4,63
4,63
4,38
4,00
0,52
0,74
0,52
0,93
0,11
0,16
0,12
0,23
VISÃO
86
3,76
0,95
0,25
CONHEC.
Número Casos:
Média:
Desvio Padrão:
Coeficiente Variação:
DETERMIN.
VARIÁVEIS/
ESTRATOS
RISCOAC
(Considerados por Estratos)
86
3,81
1,06
0,28
86
3,67
0,88
0,24
86
3,99
0,98
0,25
86
4,03
0,94
0,23
86
3,83
0,80
0,21
86
3,99
1,00
0,25
8
3,88
0,99
0,26
8
4,38
0,74
0,17
8
4,75
0,46
0,10
Observação: deixa de constar como estrato o único caso de ex-aluno desempregado por não servir como
como base de análise estatística - consta como referência da pesquisa
Quando comparada, a avaliação dos ex-alunos e chefes diretos revela pequenas
diferenças nas variáveis conhecimento e visão, indicando que os ex-alunos podem ter
subestimado suas qualificações, o que pode ser justificável numa avaliação rigorosa; já na
variável identificar oportunidades os ex-alunos, na visão de seus chefes diretos,
superestimaram suas qualificações o que pode ser explicado pela consideração de uma maior
experiência na avaliação de situações peculiares à empresa. As demais variáveis foram
avaliadas, praticamente, com os mesmos valores. De uma forma geral, pode-se dizer que as
medidas apresentam acurácia quando comparadas ao grupo de controle.
A precisão das medidas pode ser verificada pela sua variabilidade, no caso optamos
9
por uma medida relativa, o coeficiente de variação (desvio padrão/média). O coeficiente de
variação pode ser avaliado pelo grupo de controle, o que mostra a sua acurácia. No entanto a
variável criatidade é a que revela o coeficiente de variação mais elevado nos dois estratos.
Isto pode revelar que esta variável, por ser um conceito mais abstrato e subjetivo, foi a que
teve maiores problemas de ser contextualizada – apesar da descrição conceitual. No entanto,
deve ser ressalvado que os coeficientes de variação revelados em ambos os estratos têm média
de 0,25, o que é aceito com uma variação pouco significativa em análises de ciências sociais,
o que revela a precisão da medida.
O estrato dos ex-alunos que se tornaram empresários merece um destaque especial,
pois os valores das médias mostraram-se muito superiores ao do estrato dos profissionais –
que estão empregados e têm chefe direto. Isto nos levou a fazer um teste de diferença de
médias:
H0 :
Empresários -
Profissionais =
0
O resultado mostrou que H0 foi rejeitada ao nível de significância de 1% para as
variáveis, aceitar riscos, liderança, visão e tomada de decisão, e ao nível de significância de
95% para identificar oportunidades. O resultado parece evidenciar que os fatores que levam
um empreendedor a abrir a sua própria empresa estão menos ligados à determinação,
criatividade e conhecimento e mais à ousadia: o empresário tem visão, está disposto a correr
riscos em busca de oportunidades, possui liderança e sabe tomar decisões
5
Escala de Likert
4
3
2
Profis.
Empres.
.
EC
.D
TO
M
V
IS
Ã
O
T.
RI
A
TI
V
O
C
O
N
H
EC
.
C
.O
PO
R
LI
D
ER
.
ID
R
IS
C
O
A
C
D
ET
ER
M
IN
.
1
Figura 1. Avaliação Ex-Alunos Formados IES
A Figura 1. coloca em destaque esta realidade, mostrando que os ex-alunos que se
tornaram empresários diferenciam-se, superando os outros ex-alunos em quase todos os
atributos, menos em conhecimento. Esta situação apenas confirma o conceito de
empreendedorismo voltado para a criação de empresas, sobejamente mencionado na literatura
como em Dornelas, 2001, cuja discussão está além do escopo do presente trabalho.
Na seqüência, foi aplicado o teste Alpha de Cronbach que é um teste de confiança que
permite estudar a propriedade de medida e a adequação das questões que fizeram parte do
questionário. O coeficiente verificado foi r = 0,66. Com base nesta estatística, pode-se
afirmar que o conjunto de questões é consistente com o objetivo da pesquisa, ou seja, mede os
atributos de empreendedor dos respondentes.
Considerando o número de atributos e a variabilidade destes, ao longo dos semestres
10
analisados, foram feitos dois testes de consistência. O teste qui quadrado e o de análise de
variância (ANOVA), para verificar a igualdade de médias de cada variável (aceita risco,
liderança, etc.) entre as avaliações feitas pelos ex-alunos (auto avaliação) e a avaliação feita
pelos chefes diretos – o grupo de controle. O teste qui quadrado compara as médias
observadas com a média esperada, enquanto o da ANOVA (análise de variância) é um teste
de variância que compara os resíduos entre e inter grupos. Em ambos os casos, a igualdade de
médias foi confirmada com 99% de nível de confiança.
Tabela 3. Teste de Diferença de Médias - Bi-Caudal
VARIÁVEIS
RISCOAC
DETERMINADO
LIDERANÇA
OPORTUNIDADE
CRIATIVO
CONHECIMENTO
VISÃO
TOMADOR DEC.
Profis. (86)
3,69
4,20
3,84
3,84
3,60
3,81
3,60
3,92
MÉDIA
Ex-Aluno (95)
3,76
4,23
3,92
3,87
3,65
3,81
3,67
3,99
ChefeDir
3,74
4,20
3,98
3,76
3,71
4,03
3,83
3,99
Profis. (86)
95% (1,96)
-0,39
0,00
-0,97
0,58
-0,61
-1,44
-1,74
-0,46
Ex-Aluno (95)
99% (2,576)
0,09
0,25
-0,43
0,86
-0,34
-1,50
-1,21
0,01
Foi feito ainda um teste de diferença de médias. A Tabela 3. mostra as médias das
variáveis para o período total de análise, considerando os ex-alunos formados pela IES que
possuem chefe direto (Profis), e o grupo total de análise (Ex-Aluno), incluindo um
desempregado e oito empresários; mostra ainda a média do grupo de controle, constituído
pelos chefes diretos dos ex-alunos (ChefeDir). Aplicado o teste “t” de diferença de médias
(Profissional e Ex-Aluno x Chefe Direto) verifica-se que as hipóteses nulas de igualdade de
média não são rejeitadas ao nível de significância 5%, nem ao nível de 1% - o que implica
reconhecer que os valores expressos pelo grupo de controle validam os do grupo de análise.
•
Análise Fatorial
O ensino no Brasil é regulamentado a partir da Lei nº 9.394, Lei de Diretrizes e Bases, de
20 de dezembro de 1996, e do Plano Nacional de Educação, sancionado em 9 de janeiro de
2001. Ao governo entre outras cabe a tarefa de avaliar as condições do ensino superior. As
Avaliações das Condições de Ensino e Institucional são realizadas no próprio local de
funcionamento do estabelecimento educacional. A primeira é centrada na qualidade do curso
e a outra focaliza a instituição de forma geral. Elas levam em conta três dimensões:
organização didático-pedagógica ou institucional, corpo docente e instalações físicas. (INEP,
2004). Do tripé que sustenta o ensino público e privado, nos interessa discutir a dimensão
básica didático-pedagógica, que norteia o fornecimento do ensino, enquanto prestação de
serviço.
Discutidas as variáveis, ou atributos que contemplam a formação do administrador, resta
um aspecto maior, que é como qualificar essa informação. Para que serve uma pesquisa, senão
para aperfeiçoar o sistema social. Ao serem analisados os atributos individualmente pode-se
concluir sobre vários aspectos importantes ex-ante, o que foi feito e quais suas conseqüências.
Mais importante, o ex-post, o que pode ser feito para aprimorarmos o sistema? Considerando
o processo didático pedagógico cuja orientação é competência legal da IES, percebe-se a sua
fundamental importância no processo. Variáveis são o objeto de análise, mas entender e
aperfeiçoar processo é o que importa.
Objetivando interpretar o significado das variáveis, a pesquisa foi aprofundada no sentido
de, através da condensação dessas variáveis, criarmos fatores que dessem um melhor sentido
interpretativo, objetivando o aperfeiçoamento do processo didático-pedagógico. A técnica
11
utilizada foi análise fatorial, na qual se busca a redução de dimensionalidades, ou seja após ter
observado o objeto em toda a sua complexidade por meio de diferentes medidas, interessa ao
pesquisador ter medidas mais gerais que permitam uma conclusão para seu estudo
(PEREIRA, 2001). Os principais resultados são expostos a seguir.
1,00
**
0,43
**
0,45
1,00
**
0,46
TOM.DEC.
1,00
0,17
**
0,38
*
0,229
VISÃO
CONHEC.
1,00
0,19
*
0,26
**
0,31
0,08
CRIATIVO
RISCO ACEITA
1,00
**
DETERMINADO
0,35
1,00
**
LIDERANÇA
0,08
0,27
1,00
*
*
*
OPORTUNIDADE
0,23
0,21
0,24
**
CRIATIVO
0,08
0,02
0,41
CONHECIMENTO
0,02
-0,01
0,01
*
VISÃO
0,03
-0,05
0,23
TOMADOR DEC.
0,12
0,20
0,19
** Correlação significante ao nível de 99%
* Correlação significante ao nível de 95%
OPORT.
LIDER.
DETERM.
ATRIBUTOS
RISCOAC
Tabela 4. Correlações Entre os Atributos de Empreendedor
1,00
Inicialmente foi calculada a matriz de correlações, fundamento de todo instrumento de
análise multivariada. Os principais resultados encontram-se na Tabela 4., a seguir. Percebe-se
que as relações mais significativas (aos níveis de 95 e 99%) ocorrem: (1) entre Visão e outras
cinco variáveis sendo quatro com 99% de significância (Tomador de Decisão, Conhecimento,
Criativo e Oportunidade) e uma com 95% de significância (Liderança); (2) Liderança com
duas variáveis significativas ao nível de 99% (Criativo e Determinado) e duas com 95%
(Oportunidade e Visão), e; (3) Determinado com duas variáveis ao nível de 99% (Risco e
Liderança) e uma com 95% (Oportunidade). A existência de uma teia de correlações, permite
antecipar não só a possibilidade de ajuste adequado para a Fatorial, como a possível
composição dos fatores.
O teste Alpha de Cronbach com o valor de 0,6656 – um modelo de consistência
interna, baseado na correlação inter-variáveis – indica um bom ajuste das variáveis ao
objetivo da pesquisa, isto é, as questões formuladas centram-se no problema de pesquisa. O
teste KMO, Kaiser-Meyer-Olkin e Bartlett’s com o valor de 0,677, também é um teste
baseado nas correlações. Quanto mais próximo de 1.0, maior a probabilidade de relações
significantes entre as variáveis. O valor encontrado corresponde a um intervalo de confiança
de 99,5%. Um nível de significância maior do que 10% (confiança inferior a 90%) indicaria
que os dados não se adéquam ao procedimento de análise fatorial). O conjunto de indicadores
revela que o processo de análise fatorial é indicado e terá um resultado adequado quanto à
seleção dos fatores.
A Tabela 5 apresenta os eigenvalues que correspondem aos fatores e são a medida de
quanto da variância total das medidas realizadas pode ser explicada pelo fator, ou seja, o
eigenvalue avalia a contribuição do fator ao modelo construído pela análise fatorial. Um valor
pequeno sugere pequena contribuição do fator na explicação das variações das variáveis
originais (PEREIRA, 2001). Os eigenvalues relacionam-se aos fatores e indicam o percentual
da variância total que é explicada por cada fator. Por exemplo, o primeiro fator corresponde a
30,9 % da variância do conjunto de variáveis. Os três fatores, em conjunto, respondem por
63,2% da variância.
12
Tabela 5 : Extração dos Componentes Principais
Fatores
1
2
3
4
5
6
7
8
Eigenvalue
Acumulado
Variância
Acumulada
2,4708
2,4708
30,8851
30,8851
1,4645
3,9354
18,3068
49,1919
1,1186
5,0540
13,9827
63,1746
0,8894
5,9434
11,1179
74,2925
0,7222
6,6656
9,0279
83,3204
0,5156
7,1812
6,4446
89,7650
0,4514
7,6326
5,6422
95,4072
0,3674
8,0000
4,5928
100,0000
Extraction Method: Principal Component Analysis.
O procedimento seguinte está em estabelecer o número de fatores que serão extraídos
do modelo. Este procedimento depende de algum critério do pesquisador, levando em
consideração subjacente a explicação de um e percentual significativo da variância. Os
critérios adotam uma stopping rule, que tanto pode considerar um referencial teórico
(indicação a priori do número de fatores) quanto aos aspectos práticos como a regra de Kaiser
(1960) que extrai os fatores de acordo com o eigenvalue de no mínimo igual a um –
equivalente à variância de uma única variável padronizada. Cattel (1966) propôs um
procedimento gráfico baseado no mesmo princípio, conhecido como scree test. Usando tal
procedimento e considerando o referencial teórico optamos por extrair três fatores.
Outro aspecto relevante a considerar na análise é a forma de extração dos fatores,
inicialmente os fatores foram extraídos pelo processo dos componentes principais (PCA Principal Component Analysis). Em muitos casos o PCA não permite uma boa interpretação
dos componentes do fator. O procedimento normal nesses casos é fazer uma rotação arbitrária
dos eixos para simplificar a tarefa de interpretação. Nesta pesquisa o procedimento de rotação
adotado foi o método Varimax com a normalização de Kaiser. Uma tentativa de extrair um
quarto fator mostrou que daria destaque apenas à variável oportunidade, não acrescentando
informação relevante à análise.
Para facilitar a análise dos fatores, convém explicar o significado das cargas ou
loadings. Por exemplo, o loading da primeira variável do primeiro fator significa que
conhecimento correlaciona-se com r = 0,85 com os demais escores deste fator. Logo,
percebe-se que as variáveis - conhecimento, visão e tomador de decisão são os drivers deste
fator. Considerando os aspectos teóricos envolvendo este conjunto de variáveis podemos
denominar este fator de Visão Estratégica, considerando que estratégia implica em definir
(tomar decisões) a melhor utilização de recursos internos para interagir com o meio externo
(exige conhecimento), na busca de um posicionamento futuro da empresa (visão).
Obedecendo ao mesmo critério, o fator número dois pode ser denominado Fator Inovação (no
sentido Schumpeteriano), implica em ser inovador (criativo) e possuir liderança para
conduzir o processo. O terceiro fator identificado como Eficiência Administrativa, considera
que o empreendedor aceita riscos, buscando agregar valor (oportunidade) e empenha-se com
vigor (determinado) nesta consecução. A Tabela 6. mostra a Matriz de Componentes
Principais e a Matriz com Rotação, separando os fatores como estratos. A variável
oportunidade poderia ter sido considerada como um quarto fator com uma carga significante e
uma variância explicada de 11%. No entanto, optamos por considerá-la como relevante para a
composição do terceiro fator, uma vez que sua carga ( r = 0,41) é relevante considerando o
tamanho da amostra com noventa e cinco observações.
13
Tabela 6 - Fatores Carga x Análise dos Fatores
FATOR EXPLICADO
--------------VARIÁVEIS
VISÃO ESTRATÉGICA
Conhecimento
Visão
Tomador Decisão
FATOR INOVAÇÃO
Liderança
Criativo
EFICIÊNCIA ADM.
Determinado
Aceita Risco
Oportunidade
Eigenvalue :
Eigenvalue Acumulado :
Variância Explicada :
Variância Acumulada :
Matriz Componentes Princiapais
(sem rotação)
Fator 1
Fator 2
Fator 3
Comunalidades
Matriz com Rotação
(Varimax Normalizada)
Fator 1
Fator 2
Fator 3
0,5854
0,7331
0,6672
-0,4412
-0,3908
-0,2028
0,4265
-0,0185
0,3082
0,6024
0,6809
0,7388
0,8454
0,7330
0,7318
-0,0678
0,3829
0,1075
0,0007
-0,0811
0,1848
0,5337
0,6014
0,3213
-0,0647
-0,5923
-0,5570
0,3646
0,6762
-0,0307
0,2323
0,8289
0,7862
0,2254
-0,0642
0,3164
0,3030
0,5542
4,2943
4,2943
0,3088
0,3088
0,7277
0,6200
0,2336
0,8031
5,0975
0,1831
0,4919
0,2264
0,3552
0,0543
0,2028
5,3003
0,1398
0,6317
0,7193
0,6905
0,5813
-0,0391
0,0627
0,3136
2,8490
2,8490
0,2432
0,2432
0,1001
-0,0263
0,3074
2,4189
5,2680
0,1966
0,4398
0,8181
0,7732
0,4145
2,2714
7,5394
0,1918
0,6316
Extraction Method: Principal Component Analysis.
Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.
Analisando as informações constantes da Tabela 6, verifica-se que as comunalidades
permanecem constantes quando da rotação dos eixos – as correlações entre as variáveis não
foram alteradas -, no entanto a carga das variáveis redistribuiu-se de forma diferente nos eixos
ou fatores. A matriz com rotação coloca em evidencia as variáveis que influenciam (têm mais
peso) em cada fator. Isto facilita a análise como fica evidenciado no destaque em negrito.
Com relação à variância, percebe-se que se distribui de maneira mais uniforme na matriz com
rotação, no entanto, os fatores rotados continuam explicando a mesma parcela da variância
total, cerca de 63%.
Conclusão
Esta pesquisa discutiu a intensidade do espírito empreendedor em função de um
conjunto de variáveis descritas na literatura acadêmica. Os testes realizados consideraram o
conjunto de variáveis e amostragem realizados como consistentes, acurados e precisos. Em
conseqüência, os atributos de empreendedor ficaram identificados, atingindo o Objetivo 1; o
perfil profissiográfico da IES mostrou-se coerente com o conjunto de variáveis levantados
pela matriz de conteúdo, atingindo o Objetivo 2, e; foi verificado o grau de aderência das
variáveis analisadas ao conjunto de ex-alunos, fato confirmado pelo grupo de controle –
chefes diretos, atingindo o objetivo 3 da pesquisa.
A análise fatorial colocou em destaque os vetores, que podem orientar o conjunto de
métodos e disciplinas: Fator 1, Visão Estratégica (Conhecimento, Visão e Tomador de
Decisão) – cujo desenvolvimento pode ser representado por um conjunto de disciplinas
voltada para o Planejamento Estratégico como instrumento do Tomador de Decisões,
considerando a Visão empresarial; Fator 2, Inovação (Liderança e Criativo) – cujo
desenvolvimento pode ser orientado por um conjunto de disciplinas, tecnologias e métodos
que estimulem a inovação e dêem liberdade criativa c mo o desenvolvimento de novos
produtos e a criação de empresas (FERREIRA E MATTOS, 2003); finalmente, o Fator 3,
Eficiência Administrativa (aceita riscos, oportunidade e determinado) que indica a
necessidade de um conjunto de disciplinas técnicas voltadas para a avaliação de ativos /
passivos (asset liability management), análise de risco e com uma dose adequada de
aplicação. Relevante destacar que esta é apenas uma pequena digressão sobre o aspecto mais
relevante levantado nesta pesquisa. Desta forma atingimos os objetivos 4 e 5 da pesquisa.
14
Finalmente, com relação à hipótese de pesquisa pode-se afirmar que a IES está
formando Gestores de Negócio Empreendedores, esta afirmação está validada por uma média
de 71,5%, com uma margem de erro de 5% e um intervalo de confiança de 95%. Esta
afirmação fundamentá-se na normalização da escala de Likert e tamanho da amostra.
A discussão teórica deixa clara a mudança no ensino, um novo nível de exigência em
termos de conteúdo e a relevância de uma pedagogia empreendedora. A partir dessa
fundamentação, pode-se pensar não em ensinar o aluno a ser empreendedor, mas em
desenvolver condições de ensino que propiciem o desenvolvimento de um espírito
empreendedor. Surpreende, no entanto, a falta de orientação de um pedagogo na organização
da grade curricular das Instituições de Ensino Superior e no papel que o professor deve
desempenhar na sala de aula.
Vale lembrar que a escola moderna presta serviço para uma clientela bem informada e
deve estar voltada para um conteúdo denso e didática dinâmica conduzida por professores
ágeis no domínio da parafernália eletrônica. Papel fundamental na formação do aluno é
desempenhado pela interação com o conhecimento, através da iniciação científica e
participação continuada em órgãos institucionais, onde pode iniciar o exercício da cidadania.
Capítulo a parte é desempenhado pelo suporte das bibliotecas, com lançamentos continuados
de obras de diversas origens, atendendo conteúdos variados e autores sendo descobertos
diariamente. Alie-se a isto uma ampla disponibilidade de bases de dados criativas e
dinâmicas, disponibilizando conteúdo global e teremos uma idéia do domínio dinâmico da
educação moderna. O desafio é integrar. A missão das escolas: formar empreendedores para o
século XXI.
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Missão: Formar Empreendedores Autoria: Luiz Carlos