CUIDADO DE ENFERMAGEM AO CLIENTE ACOMETIDO POR ÚLCERA VENOSA
Jonathan Cordeiro de Morais - FCM1
Cintia Ananda Leite Salviano - FCM2
Alana Tamar Oliveira de Sousa - UFPB3
Carlos Eduardo Guedes da Silva - FCM4
Cristiani Garrido de Andrade - UFPB5
RESUMO
A úlcera venosa é considerada um problema de saúde pública em todo mundo. O estudo teve
como objetivo: identificar os motivos que dificultam o cliente acometido por úlcera venosa a
aceitar a sua situação de vida. Trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa,
realizada no ambulatório de curativos da FCMPB. Sendo coletado os dados no período de
março e abril de 2013, analisados através da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo destacando
2(duas) ideias centrais. Portanto é de forma humanizada, conhecendo e respeitando cada
sensação do cliente que se pretende colaborar com o tratamento visando a cicatrização da ferida.
Palavras-chave: Ferida, Úlcera varicosa, Enfermagem.
ABSTRACT
A venous ulcer is considered a public health problem worldwide. The study aimed to identify
the reasons that hinder the client affected by venous ulcers to accept their life situation. It is a
field research with a qualitative approach, performed in the outpatient curative FCMPB. The
data being collected between March and April 2013, analyzed using the technique of the
Collective Subject Discourse highlighting two (2) core ideas. Therefore it is a humane way,
knowing and respecting each customer feel that if you want to collaborate with treatment aimed
at healing the wound.
Keywords: Wound, Varicose ulcer, Nursing.
1- Introdução
A úlcera de perna pode ser conceituada como uma ulceração em qualquer parte da perna
abaixo do joelho, incluindo o pé, sendo caracterizada como uma ferida crônica, ou seja, uma
ferida que permanece estagnada em qualquer uma das fases do processo de cicatrização por um
1
Graduando em Enfermagem pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – FCMPB. Monitor do módulo de
Práticas do Cuidar do Indivíduo e da Família. Extencionista do projeto intitulado cuidado interdisciplinar ao portador
de lesão cutânea. Extencionista do projeto intitulado a prática do assedio moral no âmbito da atenção básica:
implicações éticas e legais. E-mail: [email protected].
2
Graduanda em enfermagem de Enfermagem pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba– FCMPB.
Extencionista do projeto intitulado cuidado interdisciplinar ao portador de lesão cutânea. E-mail:
[email protected].
3
Enfermeira. Doutoranda e Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Docente do Curso
de Graduação em Enfermagem pela FCM. Coordenadora do Ambulatório de Feridas da Fundação Otacílio Gama. Email: [email protected].
4
Enfermeiro. Graduando em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – FCMPB. Especialista em
Terapia Intensiva. Instrutor do BLS Provider. E-mail: [email protected].
5
Enfermeira. Fonoaudióloga. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Especialista em Saúde Coletiva com Ênfase na
ESF. Pós-graduanda em Cuidados Paliativos. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem pela FCMPB.
Membro e Pesquisadora do NEPB/UFPB. E-mail: [email protected].
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período de seis semanas ou mais, o que demanda uma estruturada intervenção de cuidados
(ABBADE; LASTÓRIA; 2006).
É notório destacar que existem várias etiologias conhecidas da úlcera de perna, sendo as
de origem venosa as mais comuns com 70% dos casos, seguidas as de origem arterial com 10 a
20% dos casos e as de etiologia mista com 10 a 15% dos casos (SALOMÉ; FERREIRA; 2007).
A úlcera venosa é uma solução de continuidade, aguda ou crônica, de uma superfície dérmica
ou mucosa, a qual é associada por um processo inflamatório podendo ser de vários tipos. Dentre
estes, destaca-se a úlcera de perna (WERCHEK, 2010).
Tal patologia ocorre devido à insuficiência venosa crônica, que se caracteriza por
hipertensão persistente nos membros inferiores devido ao refluxo venoso, à oclusão venosa ou
falha no músculo da panturrilha em bombear o sangue (SILVA, et al., 2009).
A úlcera venosa é uma ferida complexa de difícil cicatrização, com caráter recidivante,
que acomete diferentes faixas etárias, com prevalência acima de 65 anos, o que provoca
sofrimento tanto ao cliente como à sua família porque ocasiona perda parcial da capacidade
funcional do membro afetado, baixa autoestima, sentimento de inutilidade, isolamento social,
aposentadoria precoce ou afastamento do emprego, e, consequentemente, altera a rotina e
hábitos de vida do indivíduo (COSTA, et al., 2011).
Dessa forma, a úlcera venosa necessita de um manejo adequado, sendo necessário que
ocorra a abordagem correta, que inclui, dentre outras, a limpeza da ferida com a aplicação de
uma cobertura adequada, repouso, alimentação balanceada e orientações acerca do autocuidado
(SILVA, et al., 2009).
Desse modo, o cuidado ao ser doente não se limita a ferida, sendo necessário envolver o
indivíduo em sua totalidade e complexidade. Diante do exposto, considerando a relevância da
temática para a prática dos profissionais da Saúde. O estudo objetivou identificar os motivos
que dificultam o cliente acometido por úlcera venosa a aceitar a sua situação de vida.
2 - Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa, cujo cenário foi o
ambulatório de curativos da Fundação Otacílio Gama pertencente à Faculdade de Ciências
Médicas da Paraíba - FCMPB, da cidade de João Pessoa – PB. Este é considerado referência no
tratamento de pessoas com úlcera venosa.
A população do estudo foi composta por dez pacientes da referida unidade que são
atendidos semanalmente de acordo com seu tipo de curativo. Para seleção dos participantes,
foram adotados os seguintes critérios de inclusão: estar em atendimento frequente, não faltar às
trocas de curativo, ter disponibilidade para responder aos instrumentos propostos e aceitar
participar da pesquisa, confirmando sua concordância através da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Atenderam a esses critérios e compuseram a
amostragem deste estudo, sete clientes.
Ressalte-se que o estudo foi realizado considerando-se a Resolução nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde, no que concerne às Normas e às Diretrizes regulamentadoras da
pesquisa envolvendo seres humanos, sob a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, conforme protocolo nº 042/2011.
A coleta de dados ocorreu nos meses de março e abril de 2013, por meio da entrevista
gravada, com questionamento direcionado ao foco do estudo proposto para a pesquisa. Os dados
foram coletados no próprio local, em ambiente privativo, no horário dedicado a troca de
curativo.
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Os dados obtidos, por meio do instrumento proposto, foram agrupados e analisados
através da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposto por Lefèvre, Lefèvre e
Teixeira. Nessa técnica, a fala de todos os participantes constitui discurso de um único sujeito,
denominado sujeito coletivo, com a finalidade de tornar mais nítida sua fala, uma dada
representação social e o conjunto das representações que conforma o dado imaginário.
Convém enfatizar que a operacionalização da referida técnica obedeceu aos seguintes
passos: agrupamento dos discursos individuais relacionados a cada pergunta/tema; seleção das
ECHs (expressões-chave) de cada discurso particular; identificação da IC (ideia central) de cada
uma das ECHs; identificação das ideias/discursos centrais semelhantes ou complementares;
reunião das ECHs referentes às ideias centrais, semelhantes ou complementares, em um
discurso síntese, que é o DSC.
3 - Resultados e discussão
Os seguintes discursos foram coletados através da entrevista dos sete clientes, onde os
mesmos apresentam faixa etária de idade entre 31 a 70 anos, sendo quatro do sexo feminino e
apenas três do sexo masculino. Quanto ao período de convivência com a úlcera teve como
mínimo de 7(sete) meses e máximo de 19(dezenove) anos, sendo todos portadores de úlcera
venosa de perna. Foi constatado que dos sete, apenas três trabalham, os quatro que não exercem
tal função, explicou o fato através do acometimento pela úlcera venosa, uma vez que esta
dificulta qualquer tipo de esforço que venha a ser executado.
A seguir, serão apresentadas as ideias centrais e o DSC, construídos a partir das questões
propostas pelos autores para o estudo.
O aspecto inicial analisado no DSC a seguir diz respeito à relação que existe entre a sua
vivência antes e depois do surgimento da ferida (Quadro 1).
IDEIA CENTRAL:
Coexistindo com a úlcera venosa: a vivência com os sintomas
DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO:
[...] Não, porque dói muito e me incomoda pra dormir. [...] sempre tenho que estar
posicionando a perna, e também tem a questão da medicação. A dor me incomoda muito [...].
Quadro I - Ideia central I e DSC dos clientes participantes da pesquisa em resposta a questão
norteadora: Você já se acostumou com a lesão? João Pessoa, PB, 2013.
O DSC dos clientes envolvidos no estudo destaca que a ferida interfere na convivência do
dia a dia, justificando o fato de não ter boa aceitação mesmo a longos períodos de convivência.
Autores como COSTA, et al., (2011) evidenciam que o cliente frente à úlcera venosa
apresenta diversos sentimentos negativos relacionados a si mesmo, como a insatisfação pessoal
frente a sensações corporais, sendo as mesmas relacionadas a uma baixa autovalorização, a
dificuldade e a falta de adaptação com a doença causada pela alteração corporal.
No DSC explicitado, evidenciou-se também que os sintomas dificultam a boa aceitação
da lesão, exemplificado pelo DSC como a dor e o incômodo. Pesquisas corroboram com o
DSC, ao relatarem que a dor e o incômodo são fatores que devem ser considerados, uma vez
que, muitas vezes, está relacionado a não aceitação da ferida pelo cliente (ABBADE;
LASTÓRIA; 2006).
Nessa perspectiva, percebe-se que para estas pessoas a dor é crônica, impossibilitando até
mesmo o sono. A dor é uma experiência desagradável, subjetiva, localizada em uma parte do
corpo que está relacionada à lesão tecidual. Em contraste, dor persistente de um ferimento
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(crônica) é um sintoma que existe em repouso e entre procedimentos relacionados ao ferimento,
incluindo limpeza e mudanças de curativo e tem um efeito devastador sobre a qualidade de vida
da pessoa (WOO et al., 2008).
No entanto, esse sintoma, muitas vezes é negligenciado por crenças errôneas de que a dor
é inofensiva, ou é uma consequência inevitável ao cliente que tem a lesão, ou mesmo atribuir a
dor ao exagero do cliente ou ainda, caso não exista queixa, que a dor está ausente (HOFMAN,
2006). A dor já é considerada o quinto sinal vital e, como tal, é um sintoma que deve ser tratado
para a humanização do cuidar.
Além do impacto na qualidade de vida, a dor afeta negativamente o processo de
cicatrização pela dificuldade de manter a terapia compressiva, dificuldade na mobilidade e
ativação da bomba muscular da panturrilha, aumento da atividade inflamatória, aumento da
infecção e atraso da cicatrização (HOFMAN, 2006).
Portanto, a dor vai além de uma doença crônica, fragilizando e muitas vezes
incapacitando o indivíduo em diversas atividades corriqueiras como caminhar e o dormir, até as
mais complexas como a convivência com o meio em que o mesmo já estava inserido
(SALOMÉ; FERREIRA; 2007).
Frente ao exposto, é nítida a ideia de que a úlcera venosa não acomete apenas o membro
do cliente, mas também a sua vida com um todo e cabe ao enfermeiro que cuida curar não só a
ferida do corpo, mas também as feridas da alma que são adquiridas com as experiências
insatisfatórias com o tratamento errado durante a convivência com a lesão.
O aspecto analisado no DSC a seguir diz respeito à relação ao apoio da família diante da
convivência da pessoa com a lesão (Quadro 2).
IDEIA CENTRAL:
A família como obstáculo diante do tratamento da úlcera venosa
DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO:
[...] A minha família não acreditava na melhora da minha ferida, mas como eu tinha esperança
e acreditava na cura, continuei realizando o tratamento e hoje em dia a lesão já está bem
melhor que antes [...] Houve preconceito por parte do meu marido, pois ele não acreditava na
minha recuperação [...].
Quadro II - Ideia central II e DSC dos clientes participantes da pesquisa em resposta a questão
norteadora: Qual a relação entre o surgimento da ferida no trabalho e nas atividades diárias?
João Pessoa, PB, 2013.
O DSC destaca o preconceito e a descrença da família na recuperação. No entanto, por
meio do discurso, percebe-se que os participantes acreditavam no tratamento e conseguiram
perpassar esses sentimentos negativos, de modo que essa crença foi a força que os motivaram a
persistir no cuidado com a lesão.
Foi possível compreender, a dificuldade do cliente acometido por úlcera venosa em
conviver com a sua família, tendo como um dos principais obstáculos a falta de esperança dos
seus familiares. O apoio da família no tratamento do cliente portador de úlcera é muito
importante, porque quando a família se torna presente, amparando durante todo o processo de
tratamento, torna-se mais fácil o enfrentamento das dificuldades que a lesão crônica impõe.
O apoio de entes queridos auxilia na recuperação porque o isolamento dos laços
familiares aumenta o índice de depressão, uma vez que há sobrecarga psicológica pela
dificuldade de ter alguém para dividir os medos, angústias e frustrações (MARTINS; SOUZA,
2007).
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A pessoa que apresenta uma úlcera venosa, por vezes, carrega o sentimento de vergonha
o que ocasiona isolamento devido ao nojo e à estranheza sentidos não só pela sociedade e
familiares, como também pela própria pessoa. Os familiares podem perder o controle e domínio
do enfrentamento uma vez que não observa a melhora da ferida e a pessoa se isola porque
percebe os odores advindos da úlcera e julga que se é desagradável para si, acredita que sua
presença, também, é desagradável para os outros (CARVALHO; SADIGURSKY; VIANA,
2006).
Outrossim, a maioria dos clientes acometidos por úlcera venosa não tem o apoio da
família durante o surgimento e o tratamento da lesão, sendo discriminados por parte dos
mesmos. Dessa forma, o cliente torna-se dependente por conta da lesão e ao mesmo tempo
forçado a se tornar independente por falta de apoio de sua família, necessitando, sobretudo, de
um apoio maior e orientações por parte dos profissionais envolvidos com o cuidado
(WAIDMAN, et al., 2011).
4 – Conclusão
Diante do exposto, foi possível compreender que o cliente portador de úlcera venosa
vivencia vários sofrimentos relacionados à patologia e ao apoio dos familiares. Assim, os
profissionais da Saúde, no tratamento das úlceras venosas, devem ir além da técnica correta,
valorizando o respeito e a humanização para com o cliente. Portanto espera-se que este estudo
possa contribuir com a busca de novos saberes acerca do indivíduo acometido por úlcera
venosa.
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