COLETA DE SECREÇÃO NA FERIDA: COMO PROCEDER? Enf. Isabel Cussi Feridas Agudas o o o o Lesões que podem ser definidas como feridas de início repentino e de curta duração. Feridas cirúrgicas Staphylococcus aureus: principal causador de infecção de sítio cirúrgico, altamente patogênica, com grande poder de invasão e produção de toxinas. Bactérias gram-negativas não-fermentatoras (como a Pseudomonas aeruginosa) foram mais frequentes em situações de longo período de internação, uso prévio de antimicrobianos e maior gravidade clínica (MARTINS et al, 2012). FERIDAS COMPLEXAS O controle da infecção e da colonização crítica nas feridas crônicas tem papel vital no processo de cicatrização. O microambiente das feridas crônicas é complexo e geralmente apresenta mais do que uma espécie de bactérias e fungos. As bactérias podem formar estruturas complexas chamadas biofilmes. (ABBADE, 2011) BIOFILMES São comunidades de micro-organismos envoltos por matriz de polissacarídeos extracelulares. Bactérias com biofilmes são melhor protegidas e mais resistentes às defesas do organismo, antissépticos e antibióticos, tanto tópicos como sistêmicos (SIBBALD et al, 2003) CLASSIFICAÇÃO RELACIONADA A PRESENÇA DE MICRORGANISMOS 1. Contaminação: presença de bactérias não replicantes no tecido. 2. Colonização: presença de bactérias replicantes no tecido, mas com patogenicidade e número insuficiente para inibir o processo de cicatrização normal. 3. Colonização crítica: presença de bactérias replicantes no tecido, com maior carga microbiana (bioburden) e patogenicidade capazes de inibir o processo de cicatrização (competem por nutrientes e oxigênio e aumentam os níveis inflamatórios), além da liberação de toxinas pelas bactérias. 4. Infecção: quando há penetração e proliferação de bactérias de modo profundo nos tecidos ao redor da úlcera. (SIBBALD et al, 2003) Grande desafio: determinar tanto clinicamente quanto laboratorialmente quando há colonização, colonização crítica e infecção - Ressaltando que o número aumentado de bactérias na superfície da ferida significa que há colonização e não necessariamente infecção (SIBBALD et al, 2003). Sinais clínicos de infecção: Eritema Edema Dor e Calor local dos tecidos ao redor da úlcera Sinais sistêmicos (podem acompanhar o quadro): Febre Leucocitose Taquicardia Hipotensão A ocorrência do quadro infeccioso está relacionada com o agente da infecção, as condições do ambiente e a susceptibilidade do hospedeiro (KINGSLEY, 2003). COMPONENTE MICROBIANO DA FERIDA CRÔNICA Comumente são contaminadas provenientes da pele. Dentre as espécies mais frequentemente encontradas, temos: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Proteus vulgaris, Proteus mirabilis, Citrobacter sp., Streptococcus hemolíticos do grupo A, B, C e G, Eschericia coli, Klebsiella sp., diferentes espécies de anaeróbios e raramente, fungos, como Candida sp. (BOWLER et al., 2001; BOWLER, 2003) por bactérias RECOMENDAÇÕES PARA COLETA DE SECREÇÃO DE FERIDA ANVISA (2004) orienta: • Descrever o sítio anatômico da ferida e outras informações (material superficial ou profundo). • Proceder à limpeza com soro fisiológico. • Coletar o material purulento localizado na parte mais profunda da ferida, utilizando-se, de preferência, aspirado com seringa e agulha. • Swabs (menos recomendados), serão utilizados quando os procedimento acima citado não for possível. • Não coletar o pus emergente. O material das margens da lesão e a parte mais profunda são mais representativos e possuem maior viabilidade de microrganismos. • A cultura de secreções secas e crostas não é recomendada. • A coleta de ferida de queimadura deve ser realizada após extensa limpeza e debridamento da lesão. Biópsia da pele é a técnica mais recomendada. • Cultura para anaeróbicos de feridas e abscessos: aspirar com seringa e agulha após descontaminação da superfície. COLETA DE MATERIAL: “SWAB” • Há consenso que é o mais utilizado, apesar de suscitar questionamentos, críticas e controvérsias da sua fidedignidade e forma de coleta. Muitos não reconhecem esta técnica como padrão para análise microbiológica de feridas (FERREIRA, 2003). • Considerado um procedimento simples, de baixo custo e não invasivo (BOWLER et al, 2001). • O swab utilizado deve ser esterilizado e composto de alginato de cálcio (Bill et al, 2001), acompanhado de um recipiente que contém meio de transporte. • Manusear o material com técnica asséptica. • Optar pelo tecido aparentemente limpo e viável (granulação), pois é o local onde a infecção ocorre (CUZZEL, 1993). • Se a ferida apresentar excesso de esfacelos e tecido necrótico, eles deverão ser removidos previamente à coleta de swab. • Pode ser colhido na técnica Z (Zig-zag), atingindo pelo menos dez pontos, com o cuidado de não encostar nas margens da ferida (COOPER et al, 1996). • Outra técnica de coleta, de Levine (1976), consiste em pressionar e rodar o swab em seu próprio eixo, sobre 1cm² do tecido de granulação durante cinco segundos, a fim de expressar o fluído do tecido que provavelmente abriga os microrganismos. • A pressão exercida no tecido com a haste do swab é de extrema relevância para a coleta de material, uma vez que as bactérias se alojam tanto dentro das células como entre as membranas celulares (FERREIRA, 2003). BIÓPSIA COM CULTURA • • • Padrão ouro para feridas, principalmente no paciente queimado. Muitos experimentos e estudos clínicos têm demonstrado que um valor maior ou igual que 10⁵UFC/grama de tecido diagnosticam infecção (DANILLA et al, 2005). Procedimento médico, coletar 3 a 4 mm de amostra, colocar em recipiente estéril, sem formalina (ANVISA, 2004). Swab versus biopsy for the diagnosis of chronic infected wounds. RONDAS AA, SCHOLS JM, HALFENS RJ, STOBBERINGH EE. OBJECTIVE: The goal of this review was to investigate the usefulness of a wound swab (using the Levine or Z technique) in comparison with a biopsy as a reliable method for the diagnosis of a chronic wound infection. METHOD: A literature review using the electronic databases PubMed, CINAHL, and MEDLINE were searched by strategy. A total of 6 articles fulfilled the inclusion criteria. MAIN RESULTS: The Levine technique detects more organisms in acute wounds, as well as in chronic wounds, than the Z technique. Comparing both with the biopsy as criterion standard, the diagnostic accuracy to diagnose a chronic wound infection by the Levine technique was higher in comparison to the Z technique. DISCUSSION: Only a few studies in the literature compare wound swabs with biopsies for the diagnosis of chronic infected wounds. Until now, the Levine technique has been considered as the most reliable and valid method, but there is an urgent need for a well-designed study with a sufficient number of patients to optimize the diagnostic accuracy of chronic infected wounds. CONCLUSION: The best sampling technique for taking a swab has not yet been identified and validated. Until then, the authors recommend the Levine technique. Adv Skin Wound Care. 2013 May;26(5):211-9 The clinical efficacy of two semi-quantitative woundswabbing techniques in identifying the causative organism(s) in infected cutaneous wounds ANGEL DE, LLOYD P, CARVILLE K, SANTAMARIA N. Abstract A prospective randomised controlled trial of two paired wound-swabbing techniques (Levine versus Z) was conducted to establish which method was more effective in determining the presence of bacteria in clinically infected wounds. The Levine technique involves rotating the wound swab over a 1-cm(2) area of the wound; the Z technique involves rotating the swab between the fingers in a zigzag fashion across the wound without touching the wound edge. Fifty patients were recruited into the study with acute (42%) and chronic wounds (58%). Overall, the Levine technique detected significantly more organisms than the Z technique (P≤ 0· 001). When acute and chronic wounds were analysed separately, the Levine technique again detected more organisms in both acute (P≤ 0· 001) and chronic wounds (P≤ 0· 001). We conclude that the Levine technique is superior to the Z technique and this result may be because of the Levine technique's ability to express fluid from the wound bed and thereby sampling a greater concentration of microorganisms from both the surface and slightly below the surface of the wound. Int Wound J. 2011 Apr;8(2):176-85. Diagnostic validity of three swab techniques for identifying chronic wound infection Sue E. Gardner PhD, Rita A. Frantz PhD, Charles L. Saltzman MD, Stephen L. Hillis PhD, Heeok Park MSN, Melody Scherubel BSN ABSTRACT This study examined the diagnostic validity of three different swab techniques in identifying chronic wound infection. Concurrent swab specimens of chronic wounds were obtained using wound exudate, the Z-technique, and the Levine technique, along with a specimen of viable wound tissue. Swab and tissue specimens were cultured using quantitative and qualitative laboratory procedures. Infected wounds were defined as those containing 1 × 106 or more organisms per gram of tissue. Accuracy was determined by associating the quantitative cultures of swab specimens with the cultures from tissue specimens using receiver operating characteristic curves. Of the 83 study wounds, 30 (36%) were infected. Accuracy was the highest for swab specimens obtained using Levine's technique at 0.80. Based on Levine's technique, a critical threshold of 37,000 organisms per swab provided a sensitivity of 90% and a specificity of 57%. The mean concordance between swab specimens obtained using Levine's technique and tissue specimens was 78%. The findings suggest that swab specimens collected using Levine's technique provide a reasonably accurate measure of wound bioburden, given that they are more widely applicable than tissue cultures. The diagnostic validity of Levine's technique needs further study using an alternative reference standard, such as the development of infection-related complications. Wound Repair and Regeneration, 4(5),pages 548–557, Sep–Oct, 2006. Feridas infectadas: método diagnóstico e condutas de enfermagem Ferreira AM A coleta de material microbiológico de feridas constitui um cuidado de enfermagem que contribui para diagnosticar e conduzir a terapêutica no tratamento de clientes com feridas infectadas. A divergência de técnicas de coleta por swab foi objeto de estudo desta pesquisa descritiva exploratória realizada em hospitais públicos do Rio de Janeiro e Espírito Santo, em 2003. O objetivo foi identificar os procedimentos utilizados por 40 profissionais de enfermagem na realização da coleta. Os resultados mostraram que entre os investigadores, 74 por cento se previnem durante a coleta; 67 por cento não limpam a ferida infectada; 47 por cento coletam o material na região purulenta e 95 por cento aplicam o swab na ferida em zig zag. Baseando-se em autores tais como Bates-Jensen, Levine e Cuzzell, concluiu-se haver inadequação na aplicação da técnica investigada. Tal fato conduz os clientes a riscos e exposições a terapêuticas inapropriadas, sugerindo a necessidade de atualização e treinamento do pessoal de enfermagem nesta prática profissional. Acta paul. enferm;17(2):189-194, abr.-jun. 2004. Estudo comparativo entre o exame de cultura da biópsia e do “swab” cutâneo para o diagnóstico de infecção em pacientes queimados do HPSPorto Alegre LAITANO, FF et al A infecção de pele é a complicação mais comum no paciente queimado. O padrão-ouro para o seu diagnóstico é a biópsia de pele, porém o método mais utilizado nos centros de queimados é o swab. Objetivo: Comparar os resultados obtidos pela cultura entre a biópsia e o “swab” da escara, para o diagnóstico de infecção de pele nos pacientes internados na Unidade de Tratamento de Queimados do HPS de Porto Alegre; além disto, detectou-se a taxa de infecção das escaras e identificaram-se os tipos de germes encontrados nas culturas. Método: Realizou-se um estudo clínico prospectivo entre junho e outubro de 2007, em que foi realizada a coleta de “swab” e biópsia de pele em 25 pacientes, entre a primeira e a terceira semanas de internação. Resultados: Foram coletados 74 exames (37 “swab” e 37 biópsias). A sensibilidade do “swab” foi de 100% e sua especificidade de 77,4%. Vinte por cento dos pacientes apresentaram infecção de pele, sendo o germe mais encontrado nas culturas (26,6%) o S. aureus. Conclusão: O “swab”, quando for negativo, é um excelente exame para excluir a hipótese de infecção de pele. Rev. Bras. Cir. Plást. 2008; 23(3): 162-6 CONSIDERAÇÕES FINAIS • Existem outros métodos de coleta de secreção, como a “irrigaçãoaspiração”, coleta do exsudato, dentre outras formas de proceder. • Exames bacteriológicos usando swabs e culturas de bactérias não devem ser feitos de maneira sistemática para feridas crônicas, pois não conseguem diferenciar se há colonização ou infecção. • O quadro clínico é o que mais auxilia na diferenciação entre colonização crítica e infecção. • Pesquisas necessitam ser conduzidas, com incorporação de tecnologias apropriadas para que se possa padronizar a técnica de coleta de material de feridas. • Desta forma haverá consistência na escolha da coleta e execução do método proposto, com a fidedignidade esperada para o resultado microbiológico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bowler PG, Duerden BI, Amstrong DG. Wound microbiology and associated approaches to wound management. Clin Microbiol Rev.2001; 14:244-69. Bowler PG. 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