OS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA AÇÃO ANTRÓPICA NA NASCENTE DO RIO PIAUÍ - RIACHÃO DO DANTAS/SE Elenaldo Fonseca de Oliva Júnior1 Orientador (a): Profª. Ma. Ítala Santana Souza RESUMO O estudo teve como enfoque analisar as relações do homem sobre o meio ambiente na área da nascente do Rio Piauí, localizada no município de Riachão do Dantas/SE. Para o embasamento do mesmo foram utilizadas a revisão bibliográfica e a visita in loco, como forma de levantar os problemas ambientais e a condição geral da área, além de registros fotográficos para documentação dos problemas ambientais. O trabalho exposto tem como objetivo expor os problemas ambientais da nascente, a fim de sensibilizar a comunidade e o poder público para buscar alternativas de recuperação da área degradada. Palavras-chave: Nascente. Meio ambiente. Piauí. ABSTRACT The study was to focus on analyzing the relationship of man on the environment in the area of the mouth of the River Piaui, located in the municipality of Riachão Dantas / SE. For the basis of this study we used the literature review and site visit as a way to raise environmental issues and the general condition of the area, and photographic records for documentation of environmental problems. The work exhibited aims to expose environmental problems at source in order to sensitize the community and government to seek alternatives for recovery of degraded areas. Keywords: East. Environment. Piauí. INTRODUÇÃO O uso insustentável dos recursos naturais tornou-se o alvo de estudo de pesquisadores nesses últimos anos. A poluição da água e da atmosfera, o desflorestamento, o uso incorreto da terra, a degradação dos recursos hídricos entre outros, caracterizam os problemas ambientais mais agravantes no mundo contemporâneo e estimulam a sensibilização da sociedade para que sejam tomadas providências 1 Graduado em Geografia pela Faculdade José Augusto Vieira – FJAV; Pós – Graduando em Território, desenvolvimento e Meio Ambiente pela mesma instituição. E-mail: [email protected]; imediatas, dando primazia à conservação dos recursos essenciais à qualidade de vida do planeta. Observa-se, hoje em dia, que a maioria dos pequenos municípios já apresenta sinais reais de destruição dos seus recursos naturais. Tendo-se em vista essa situação, procuraremos nesse trabalho mostrar os principais aspectos da nascente do rio Piauí, localizada no povoado Palmares, zona rural do município de Riachão do Dantas/SE, que devido ao descaso, a despreocupação e a falta de sensibilização para com o ambiente, por parte do poder público do município e principalmente da comunidade, vem sofrendo conseqüências degradatórias e intensa devido ao uso irracional dos seus recursos naturais. O trabalho em questão visa contribuir para com a preservação do meio ambiente, principalmente com relação às atividades e os impactos ambientais causados pela ação do homem na área de manancial. Nessa perspectiva há a necessidade imediata da preservação do local, diante disso surge o desejo de expor a problemática ambiental a fim de despertar os moradores daquela comunidade e de modo geral do município para que possam, não apenas agir corretamente no processo de preservação do meio natural, como também colaborar com o despertar dessa consciência junto às suas famílias e perante a comunidade. Em que não apenas contribuam para a diminuição do grau de degradação da nascente, mas serem cidadãos responsáveis e conscientes aptos a decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida, com a preservação e o equilíbrio daquele ecossistema local. DEGRADAÇÃO E IMPACTOS AMBIENTAIS A degradação ambiental, cada vez mais presente nos dias atuais, leva-nos a procurar formas, possíveis soluções que faça diminuir ou tentar estabilizar estes processos degradatórios, que causa uma série de danos muitas das vezes irreparáveis ao meio ambiente, devido à ação antrópica, e a exploração de forma erronia dos recursos naturais. Nos dias atuais o ser humano busca cada vez mais mecanismos para extrair da natureza seus bens naturais o que na maioria das vezes deixa um rastro impactante no local explorado, buscando atender apenas as suas necessidades sem a preocupação do dano causado ao ambiente. E como o homem já modificou todos os aspectos do seu habitat, utilizam-se dos recursos naturais e modificam constantemente o ambiente onde vivem, transformando cada vez mais o meio natural. O homem se torna cada vez mais o ator principal na transformação, e modificação no meio ambiente, a paisagem tornou-se resultado da intervenção humana, a partir das diversas relações estabelecidas com a natureza, com o passar dos anos essas relações se tornaram conflitantes a ponto de nos dias atuais se acentuar cada vez mais a necessidade de preservação do meio ambiente, diante dos problemas ambientais gerados dessa relação conflituosa ente o Homem X natureza se faz necessário uma breve abordagem. Os problemas ambientais começaram a ser sentidos com maior intensidade no século XXI, principalmente pela exploração dos recursos naturais, juntamente com crescimento demográfico que ocasiona o aumento na demanda dos recursos básicos do planeta para a sobrevivência humana. O grande dilema do mundo moderno é conciliar tal processo com a geração de um ambiente ecologicamente equilibrado. Os Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito à preservação meio ambiente aborda que: No entanto, valores e compreensão só não bastam. É preciso que as pessoas saibam como atuar, como adequar prática e valores, uma vez que o ambiente é também uma construção humana, sujeito a determinações de ordem não apenas naturais, mas também sociais. (BRASIL, 1997. p.201) Para modificarmos a presente situação em que nos encontramos em relação ao meio ambiente é preciso mudar o modo de agir, mas isso só conseguirá se mudarmos nosso pensamento, que nos levará a uma mudança de paradigmas, passará do paradigma econômico para o paradigma ambiental, buscando um presente e um futuro mais promissor; um dos objetivos desse novo paradigma é a sustentabilidade do planeta terra. Sendo que sua construção se dá a partir de novas relações entre o homem, a natureza e a sociedade. No entanto, um dos fatores mais preocupantes é o que diz respeito aos recursos hídricos. Problemas como a poluição, escassez e o uso indiscriminado da água estão sendo considerados como as questões mais graves do século XXI. É preciso que tomemos partido nesta luta contra os impactos ambientais, e para isso é importante sabermos alguns conceitos relacionados ao assunto. No tocante ao conceito de impacto ambiental, existem diferentes contextos, o que Consta na Resolução CONAMA nº 001 de 1986 a seguinte definição de impacto ambiental: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetem: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; IV - a qualidade dos recursos ambientais. A lei não evidencia se o causador da degradação é o ser humano em si, uma consequência de atividade antrópica ou até mesmo um fenômeno natural como um raio que atinge determinada floresta e acaba por destruir a mesma por meio de um incêndio. O que fica explícito neste conceito é que a degradação ambiental caracteriza-se como um impacto ambiental negativo. É necessário nos atermos primordialmente aos diversos fatores de apropriação da natureza tais como as atividades humanas que influenciaram nesse processo, as relações sociais que as produziram, observando as inter-relações que determinaram as mudanças ocorridas no espaço geográfico; como sendo produto da apropriação do trabalho humano. Em nosso país, a apropriação e a utilização dos recursos naturais, tem ocorrido de forma desordenada em que muito desses recursos estão hoje em situações comprometidas devido aos impactos causados pela ação antrópica sem nenhum tipo de planejamento e/ou comprometimento com o ambiente. Verifica-se em todo território brasileiro uma gama de problemas ambientais, sendo comum, a destruição das florestas, a degradação das águas, principalmente em áreas de mananciais, a deterioração do solo devido ao grande uso de produtos químicos utilizados em diversas atividades agrícolas afetando também toda a água subterrânea nos locais de nascentes, o que acarreta e torna uma água com baixa qualidade e inadequada para o consumo humano. Segundo OLIC (2003, P.6) “A degradação ambiental na região nordeste teve início já na época colonial com a derrubada indiscriminada da vegetação florestal nativa para a retirada do pau-brasil. Posteriormente, o processo de intensificou sendo que, em lugar da vegetação florestal derrubada, foram desenvolvidos os cultivos de cana de açúcar e cacau dentre outros, e com a utilização de madeira como combustível para os engenhos.” O que mais surpreende, é que o Brasil está entre os países com o maior número de leis de proteção ambiental. Apesar disso, nossas florestas perdem 1% de suas superfícies, a cada dois anos, por causa de queimadas e desmatamentos. Essas duas ações juntamente com a caça, estão provocando o desaparecimento de espécies inteiras, o que ameaça o equilíbrio dos ecossistemas. Sabe-se que numa sociedade capitalista e consumista tende-se a cada dia a crescer a demanda por suprimentos, seja ele água ou alimentos, tornando a principal fonte para o abastecimento dessas populações o meio natural, de onde é extraída toda a matéria para o consumo dessas sociedades, e com esse crescimento desordenado e acelerado da população o meio ambiente é quem sofre as conseqüências avassaladoras desse crescimento tornando cada vez mais escassos para a humanidade. A natureza vem sendo transformada pelo homem que destrói e contribui na maioria das vezes com a extinção de espécies animais e vegetais existentes no planeta, também colabora através de práticas inconseqüentes para a poluição do ar, do solo e principalmente da água. Com isso a preocupação com o meio ambiente deve fazer parte da vida de cada cidadão, e dos governantes. Todos devem tornar o ambiente em que vivemos um lugar prazeroso e saudável, que requer de todos nós um posicionamento relacionado no tocante a preservação do mesmo, pois é um assunto primordial para uma reflexão, pois atinge a todos nós de forma direta ou indireta. “Conservar o patrimônio natural herdado de nossos antepassados - sem dúvida, o maior do planeta - é compromisso de honra, que representa nossa identidade [...] e que precisam ser preservadas para as gerações futuras”. (BRASIL, 2002) É importante haver um processo participativo e sustentável, cada um fazendo a sua parte e respeitando o ciclo de cada ser existente no planeta. As técnicas adquiridas pelo homem devem servir para proteger o planeta, cuidar dos resíduos gerados, para se proteger de alguma transformação natural, e não para destruir a vida. Deve haver respeito à grandeza da natureza. AS RELAÇÕES HOMEM X NATUREZA No princípio as relações do homem com a natureza eram permeadas de mitos, rituais e magia, pois se tratava de relações divinas. Para cada fenômeno natural havia um deus, uma entidade responsável e organizadora da vida no planeta: o deus do sol, do mar, da Terra, dos ventos, das chuvas, dos rios, das pedras, das plantações, dos raios e trovões etc. O medo da vingança dos deuses era o moderador do comportamento dessas pessoas, impedindo uma intervenção desastrosa, ou, sem uma justificativa plausível ante a destruição natural. Para cortar uma árvore, por exemplo, havia a necessidade de uma justificativa que assegurasse, no mínimo, a sobrevivência – como a construção de uma casa ou de um barco. Rituais eram utilizados para “se desculpar” pelo ato tão cruel que estava sendo cometido. Natureza e homem era a mesma coisa. Com a evolução da espécie humana, o homem arrancou os deuses da natureza e passou a destruí-la como se ele próprio fosse divino, cheio de poderes absolutos. A partir de então, a natureza começou a perder o seu status de mãe da vida. O desejo desenfreado pelo poder e a busca incessante pelo capital, fez com que o homem mudasse sua concepção como parte do natural. Natureza e homem passaram a ser duas coisas distintas. No mundo contemporâneo as relações homem x natureza vem tendo um destaque importante no cenário mundial, isso por conta de uma relação conflitante, que com o passar dos anos o homem foi adquirindo habilidades das quais a maior parte destas ele usa para agredir seu próprio habitat, ou seja, o homem começou a evoluir no seu modo de vida, mas age para com a natureza de forma irracional, sem imaginar os danos que essa evolução lhe causará mais a frente. A Geografia, ciência que tem por objetivo estudar o espaço geográfico, leva-nos a refletir sobre a análise da dinâmica social, da natureza e da inter-relação entre ambas. O espaço geográfico é construído tendo como base, a inter relação entre sociedade e natureza, resultando no espaço produzido pelo homem através do seu trabalho, e que “o espaço geográfico, é o produto histórico e, por conseqüência, também deve ter um conteúdo histórico” (CASTROGIOVANNI, 2007, p.43) na medida em que o trabalho humano ao longo do tempo tem provocado mudanças e impactos ambientais de toda forma. Sabemos, no entanto, a Geografia, mais do que nunca, coloca os seres humanos no centro das preocupações, por isso pode ser considerada também como uma reflexão sobre a ação humana em todas as suas dimensões. “Ela preocupa-se com as inquietações do mundo atual buscando compreender a complexidade da forma como ocorre a ordem e a desordem no planeta”. (CASTROGIOVANNI, 2007, p.42). O homem usa o bem natural de tal forma que a cada dia que se passa vai ficando cada vez mais irreparáveis os danos causados à natureza pela interferência da ação antrópica. Este processo teve início principalmente nas revoluções industriais em que a natureza foi bastante modificada, esses tais processos vistos como gerador de desenvolvimento, conhecimento, geração de renda, etc. Porém o homem se afastou do mundo natural, como se não fizesse parte dele. Com a chegada da era tecnológica os problemas ambientais foram se intensificando e se expandindo cada vez mais em toda parte do planeta, a humanidade conseguiu contaminar o próprio ar que respira, a água que bebe, o solo que provem os alimentos, os rios, destruir as mais diversas formas de ecossistemas. Colocando em risco a sobrevivência de sua própria espécie. Os problemas ambientais vêm de longa data, desde a época das revoluções industriais em que se desenvolveu na Europa e depois se transferiu para a América do Norte, especificamente nos Estados Unidos aumentando cada vez mais a pressão sob o planeta. Recentemente, os problemas ambientais se agravam, devido ao crescimento desenfreado da população e suas vontades de viver num mundo industrial e tecnológico. Sendo que o homem deve conhecer o meio ambiente, antes de tomar qualquer atitude, a humanidade deve sair da cápsula industrial que a envolve, e mudar os seus comportamentos, valorizando e interagindo com o mundo natural o qual faz parte, respeitando as transformações do meio; sem interferir ou acelerá-las. Sabendo-se que o crescimento populacional quando associado ao processo de urbanização, não sendo caracterizado somente pela multiplicação das cidades, porém por sua ampliação territorial e pela intensa concentração humana, tem repercutido com profundas modificações no meio ambiente e nas condições, como também na qualidade de vida da população. Podemos contextualizar nesse sentido também os problemas causados pelo o desmatamento das encostas de rios e nascentes que acarretam a não infiltração total da água, provocando um grande volume de água a ser escoada, provocando inundações e enchentes, podendo assim, influenciar mudanças no ciclo hidrológico. De acordo com LIMA, (1986, p. 60) “a manutenção da vegetação em torno das nascentes e cursos d’água são muito importantes, pois a cobertura vegetal influi positivamente sobre a hidrologia do solo, melhorando os processos de infiltração, percolação e armazenamento de água pelos lençóis, diminuindo o processo de escoamento superficial e contribuindo para o processo de escoamento subsuperficial, influências estas que conduzem a diminuição do processo erosivo.” Portanto, essa intensa atividade humana ocasionou alterações drásticas no meio ambiente, causando a poluição. E como o homem faz parte do meio ambiente, será afetado pela própria poluição, com prejuízos à saúde, entre outros. Sabe-se que o desenvolvimento urbano provoca o aumento da demanda por água, e ao mesmo tempo, a degradação dos mananciais em decorrência da sua contaminação pelos resíduos urbanos. As principais causas da contaminação se originam no despejo de poluentes oriundos dos esgotos domésticos e industriais, além de outras substancias oriundas das culturas agrícolas em áreas próximas aos mananciais, é importante ressaltar que as substâncias agrotóxicas não agridem apenas a água superficial, mas os lençóis freáticos e o solo, causando inúmeros danos a esses recursos naturais, tornando-os inférteis e de baixa qualidade. Vale ressaltar que em nosso país a agricultura irrigada é a atividade que mais consome água, anualmente é responsável por 69% do consumo, como mostra o gráfico 1. 2% 7% 11% Agricultura Irrigada Abastecimento Urbano Abastecimento animal 11% Uso Industrial Abastecimento Rural 69% Gráfico 1: Uso da água no Brasil. Fonte: ANA – Agência Nacional de Águas – 2005. Adaptação: Elenaldo F. de Oliva Jr. A escassez de água no planeta já se mostra como um dos principais problemas agravante da relação sociedade x natureza. Existindo atualmente conflito armados entre as nações principalmente no caso do oriente médio em que israelenses, palestinos e jordanianos disputam o suprimento de vida que vem do rio Jordão. Essa batalha ilustra o potencial conflituoso das águas ao redor do mundo. Não esquecendo de algumas nações africanas em que alguns países seus habitantes andam cerca de oito horas para conseguir um balde de água muitas das vezes inadequadas para o consumo humano, conseqüentemente ao beber essa água contaminada adquirem doenças que em muitos casos levam a morte. Em sua nascente na serra dos palmares no município de Riachão do Dantas-Se, as águas do Rio Piauí iniciam-se seu percurso e que ao longo de seu trajeto encontra-se com seus principais afluentes: o rio Jacaré, rio Arauá, rio Fundo, rio Pagão e rio Piauítinga. A nascente do Rio Piauí nos dias atuais encontra-se comprometida devido ao mau uso da população para com os seus recursos naturais, vemos que grande parte da sua vegetação nativa não se encontra mais, o que acarreta o assoreamento da mesma, devido a não proteção do solo, tornando a uma área mais propícia a erosão; processo de desgaste do solo, desagregação, arranque, transporte e deposição de sedimentos, que no caso do Rio Piauí essas partículas com o desmatamento da mata ciliar da nascente, é transportada, gerando o acúmulo de sedimentos ao longo do seu curso fluvial, causando o assoreamento tanto da nascente do rio, e o implante de uma vegetação não apropriada para a proteção da nascente como mostra a (FIG. 1) na página seguinte. Fig. 1 - Processo de assoreamento da nascente devido à erosão do solo. Fonte: O Autor, 2011. Com a chuva, parte do solo é transportado, indo para o leito tanto da nascente, quanto do rio, os quais ficam assoreado, tendendo a ficar cada vez mais raso. Isso também diminui a qualidade da água, afetando os ecossistemas que habitam o rio, acarretando no desequilíbrio das relações ecológicas da região. Um dos impactos mais significativos da degradação de mananciais é a crescente escassez de água de qualidade, dificultando o abastecimento público, não só a qualidade, mas as possibilidades de uso destas águas ficam cada vez mais prejudicadas. Além disso, os recursos hídricos estão sendo comprometidos por desequilíbrios ambientais resultantes do desmatamento e uso indevido do solo. Um dos grandes problemas ecológicos dos nossos dias reside no fato de que o ritmo de exploração, degradação e destruição dos recursos naturais se tornou, em muitos domínios, mais acelerado do que a capacidade da natureza para repô-los. “Os mananciais são fontes de onde se retira a água para abastecimento e consumo da população e outros usos, seja para indústria, agricultura, etc. Para que se possa conservar as nascentes é preciso conhecer seus tipos, a legislação que rege sua proteção, o papel das florestas na infiltração e conservação da água subterrânea e quais os principais usos da terra que, a curto e longo prazo, são causadores de degradação das nascentes (PINTO, 2003)”. E Segundo a legislação, considera-se como manancial todo o corpo de água interior subterrânea, superficial, fluente, emergente ou em depósito, efetiva ou potencialmente utilizáveis para o abastecimento público. E por ser uma área de manancial, existe essa preocupação de preservação para com nascente. Segundo a Lei Federal 4.771/65, alterada pela Lei 7.803/89 e a Medida Provisória n.º 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, que passou a vigorar com o seguinte texto: Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; Segundo os Artigos 2º e 3º dessa Lei: § 2o Para os efeitos deste Código, entende-se por: II - área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; Desse modo, as áreas desprovidas de vegetação também podem ser consideradas de preservação permanente. A fim de regulamentar o Art. 2.o da Lei n.o 4.771/65, publicaram-se a Resolução nº 303 e a Resolução nº 302, de março de 2002 - a primeira revoga a Resolução CONAMA 004, de novembro de 1985, que se referia às Áreas de Preservação Permanente (APP) quanto ao tamanho das áreas adjacentes a recursos hídricos; a segunda refere-se às áreas de preservação permanente no entorno dos reservatórios artificiais, determinando que: As Áreas de Preservação Permanentes ao redor de nascente ou olho d’água, localizada em área rural, ainda que intermitente, ou seja, só aparece em alguns períodos (na estação chuvosa, por exemplo), deve ter raio mínimo de 50 metros de modo que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte. (CALHEIROS.2004. p. 18-19) Para as nascentes localizadas em áreas urbanas: [...] que permanecem sem qualquer interferência, por exemplo, de nenhuma construção em um raio de 50 metros, vale a mesma legislação da área rural. Para aquelas já modificadas por intervenções anteriores em seu raio de 50 m, por exemplo, com habitações anteriores consolidadas, na nova interferência, devem-se consultar os órgãos competentes. (Op.Cit. 2004. p.19) Na nascente do rio Piauí a degradação apresentada é preocupante, pois apesar de ser um desrespeito as leis ambientais e a aquele manancial é também uma falta de compromisso para com a preservação daquela área de nascente, pois a vegetação no entorno da mesma encontra-se antrópizada, devido à apropriação inadequada do homem naquele local, deixando sinais devastadores e fragilizando o ecossistema existente no entorno da nascente. A população que reside próximo a área da nascente tem como principal fonte de sobrevivência, a criação do gado e a agricultura de subsistência, sendo esses alguns dos fatores para a degradação do ambiente local. O que levou alguns moradores a colocar uma cerca de proteção na nascente, em decorrência do pisoteio constante do gado como mostra a (FIG. 2). Fig. 2. Cerca colocada por moradores para proteger a nascente contra o pisoteio do gado. Fonte: O Autor, 2011. Nota-se um grau de degradação assustador e intenso aos arredores da nascente, sendo o que, o que mais preocupa é o desmatamento ciliar. Apesar da reconhecida importância ecológica, ainda mais evidente nesta virada de século e de milênio, em que a água vem sendo considerada o recurso natural mais importante para a humanidade, as florestas ciliares continuam sendo eliminadas cedendo lugar para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo de produção. Uma das principais causas que leva a comunidade a destruir a mata ciliar e retirar a vegetação nativa que existia na área é sem sombra de dúvidas a cultivo da banana no local, como fonte de sobrevivência da comunidade, o que além de comprometer a vazão da nascente não é o tipo de vegetação adequada para reflorestar a área. Nota-se também que as bananeiras presente no local, plantadas por moradores da região como forma de conter o desmatamento e ao mesmo tempo por ser um local onde se torna mais fácil a irrigação da lavoura eles terminam ocupando para cultivar, prejudicando assim o equilíbrio da nascente, já que o caule da planta precisa de muita água para se desenvolver e acaba comprometendo a vazão da nascente como mostra a (FIG. 3). Vale ressaltar que o analfabetismo ambiental é uma característica negativa na comunidade. Fig. 3. A degradação na nascente do Rio Piauí. Fonte: O Autor, 2011. Observa-se também outro fator determinante na degradação da nascente do Rio Piauí é que quando os reservatórios artificiais (os tanques, poços etc.) da região apresentam um índice baixo de água, ou seja, nos períodos de seca; grande parte da população do povoado Palmares, vai retirar água na nascente, só que a forma que os moradores utilizam para retirar a água é assustadora, porque eles aterram horizontalmente uma faixa estreita do riacho, como se não bastasse coloca a bananeira no local além de utilizar rochas servindo como diques de contenção para represar a água e a partir daí retira – lá como mostra (FIG. 4). Fig. 4 - Represa criada por moradores para retirar a água da nascente. Fonte: O Autor, 2011. A degradação apresentada na nascente do Rio Piauí além de ser intensa é assustadora, por que várias são as formas que o homem utiliza para a apropriação do espaço como sendo individual, sem nenhuma preocupação com a preservação e o equilíbrio do ambiente de manancial sendo que é da área de nascente que a comunidade de beneficia para retirar o seu sustento e sobreviver. Para o melhor entendimento dessa relação conflituosa entre a comunidade e a nascente do Rio Piauí se fez necessário a aplicação de entrevistas aos moradores que residem próximos ao local e ao poder público do município, onde se constata um prévio conhecimento sobre o local, mas até o momento não foi mostrada algum tipo de solução para resolver o problema ambiental que a nascente vem passando. Nota-se que um dos fatores para que o poder público do município não tentasse resolver a situação é que a nascente do rio Piauí está localizada longe dos olhares da população riachãoense, situada na porção oeste do município e distante cerca de 40 km na sede municipal onde tem acesso não muito fácil devido à má qualidade da estrada vicinal que liga o povoado Palmares (Riachão do Dantas) a área da nascente. Portanto, nota-se o quanto o ambiente local encontra-se no processo acelerado de degradação, ocasionado pela a ação do homem, e o quanto o poder público se torna ausente nas questões ambientais do município, sem nenhum projeto ou fiscalização. Sendo que uma das formas mais pertinente era a iniciação de projetos de cunho ambiental voltado não somente para a comunidade escolar, mas para toda a população do município a fim de mostrar a importância daquele manancial para a sociedade, principalmente aqueles que residem próximos a área. O município dispõe de dispositivos legais para a preservação e o equilíbrio da área de nascente, além de fiscalizar e encaminhar os agressores aos órgãos competentes como aborda o Projeto de Lei Nº de 09/05 de 26 de agosto de 2005, de autoria do vereador Gilton Santos Freire: A lei municipal deixa clara a importância da preservação do local, mas como a maioria das leis do nosso país a mesma não é cumprida, deixando a nascente a cada dia que se passa a mercê dos governantes e principalmente da população local que vem destruindo, poluindo de maneira acelerada sem nenhum comprometimento com o ambiente natural. Sendo que, o que mais chama a atenção é que o município de Riachão do Dantas/SE não dispõe de uma secretaria do Meio Ambiente ou de órgãos competentes que possam resolver a problemática ambiental do local, o que torna a situação muito grave, pois a população não tem a quem recorrer diante dos problemas ambientais que afetam o município. CONSIDERAÇÕES FINAIS A degradação apresentada na área da nascente do Rio Piauí e um grave problema ambiental decorrente das relações conflitantes homem x natureza, que torna o ambiente cada vez mais fragilizado. Sendo a população que reside nas proximidades da área uma das maiores responsáveis pelos danos causados ao local, desde a ocupação inadequada da área até a supressão da vegetação nativa para a implantação de pastagens e para a prática da pecuária. Além da agricultura de subsistência que é praticada as margens do riacho. Sendo que os gestores do município não esboçam nenhum tipo de reação para tentar resolver ou combater o problema. Algumas das possíveis medidas para com a proteção e preservação daquele manancial estão sendo tomadas, através de iniciativas de comprometimento de algumas escolas do município que vem desenvolvendo pesquisas no local, a fim de tentar garantir a recuperação das áreas degradadas. Buscando soluções junto às secretárias estaduais que cuidam do meio ambiente por uma efetivação, fiscalização e aplicação de projetos de cunho ambiental a fim de conscientizar a população para a importância do ambiente preservado e equilibrado. Enfim, a busca pela qualidade de vida e pelo equilíbrio entre todos os setores da sociedade deve ser imediata, pensando no bem estar social e na qualidade ambiental, ou melhor, na recuperação do meio natural. Esta deve partir de dentro de cada um de nós, só assim será possível um equilíbrio socioambiental. Para isso preciso estimular as mudança nas práticas e atitudes e a formação de novos hábitos com relação à utilização dos recursos naturais favorecendo a reflexão sobre a responsabilidade ética de nossa espécie e o próprio planeta como um todo, auxiliando para que a sociedade possua um ambiente sustentável garantindo a vida do planeta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. 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