OS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA AÇÃO ANTRÓPICA NA NASCENTE
DO RIO PIAUÍ - RIACHÃO DO DANTAS/SE
Elenaldo Fonseca de Oliva Júnior1
Orientador (a): Profª. Ma. Ítala Santana Souza
RESUMO
O estudo teve como enfoque analisar as relações do homem sobre o meio ambiente na
área da nascente do Rio Piauí, localizada no município de Riachão do Dantas/SE. Para o
embasamento do mesmo foram utilizadas a revisão bibliográfica e a visita in loco, como
forma de levantar os problemas ambientais e a condição geral da área, além de registros
fotográficos para documentação dos problemas ambientais. O trabalho exposto tem como
objetivo expor os problemas ambientais da nascente, a fim de sensibilizar a comunidade e
o poder público para buscar alternativas de recuperação da área degradada.
Palavras-chave: Nascente. Meio ambiente. Piauí.
ABSTRACT
The study was to focus on analyzing the relationship of man on the environment in the
area of the mouth of the River Piaui, located in the municipality of Riachão Dantas / SE.
For the basis of this study we used the literature review and site visit as a way to raise
environmental issues and the general condition of the area, and photographic records for
documentation of environmental problems. The work exhibited aims to expose
environmental problems at source in order to sensitize the community and government to
seek alternatives for recovery of degraded areas.
Keywords: East. Environment. Piauí.
INTRODUÇÃO
O uso insustentável dos recursos naturais tornou-se o alvo de estudo de
pesquisadores nesses últimos anos. A poluição da água e da atmosfera, o
desflorestamento, o uso incorreto da terra, a degradação dos recursos hídricos entre
outros, caracterizam os problemas ambientais mais agravantes no mundo contemporâneo
e estimulam a sensibilização da sociedade para que sejam tomadas providências
1
Graduado em Geografia pela Faculdade José Augusto Vieira – FJAV; Pós – Graduando em Território,
desenvolvimento e Meio Ambiente pela mesma instituição. E-mail: [email protected];
imediatas, dando primazia à conservação dos recursos essenciais à qualidade de vida do
planeta.
Observa-se, hoje em dia, que a maioria dos pequenos municípios já apresenta
sinais reais de destruição dos seus recursos naturais. Tendo-se em vista essa situação,
procuraremos nesse trabalho mostrar os principais aspectos da nascente do rio Piauí,
localizada no povoado Palmares, zona rural do município de Riachão do Dantas/SE, que
devido ao descaso, a despreocupação e a falta de sensibilização para com o ambiente,
por parte do poder público do município e principalmente da comunidade, vem sofrendo
conseqüências degradatórias e intensa devido ao uso irracional dos seus recursos
naturais.
O trabalho em questão visa contribuir para com a preservação do meio ambiente,
principalmente com relação às atividades e os impactos ambientais causados pela ação
do homem na área de manancial. Nessa perspectiva há a necessidade imediata da
preservação do local, diante disso surge o desejo de expor a problemática ambiental a fim
de despertar os moradores daquela comunidade e de modo geral do município para que
possam, não apenas agir corretamente no processo de preservação do meio natural,
como também colaborar com o despertar dessa consciência junto às suas famílias e
perante a comunidade. Em que não apenas contribuam para a diminuição do grau de
degradação da nascente, mas serem cidadãos responsáveis e conscientes aptos a
decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida,
com a preservação e o equilíbrio daquele ecossistema local.
DEGRADAÇÃO E IMPACTOS AMBIENTAIS
A degradação ambiental, cada vez mais presente nos dias atuais, leva-nos a
procurar formas, possíveis soluções que faça diminuir ou tentar estabilizar estes
processos degradatórios, que causa uma série de danos muitas das vezes irreparáveis ao
meio ambiente, devido à ação antrópica, e a exploração de forma erronia dos recursos
naturais. Nos dias atuais o ser humano busca cada vez mais mecanismos para extrair da
natureza seus bens naturais o que na maioria das vezes deixa um rastro impactante no
local explorado, buscando atender apenas as suas necessidades sem a preocupação do
dano causado ao ambiente. E como o homem já modificou todos os aspectos do seu
habitat, utilizam-se dos recursos naturais e modificam constantemente o ambiente onde
vivem, transformando cada vez mais o meio natural.
O homem se torna cada vez mais o ator principal na transformação, e modificação
no meio ambiente, a paisagem tornou-se resultado da intervenção humana, a partir das
diversas relações estabelecidas com a natureza, com o passar dos anos essas relações
se tornaram conflitantes a ponto de nos dias atuais se acentuar cada vez mais a
necessidade de preservação do meio ambiente, diante dos problemas ambientais gerados
dessa relação conflituosa ente o Homem X natureza se faz necessário uma breve
abordagem.
Os problemas ambientais começaram a ser sentidos com maior intensidade no
século XXI, principalmente pela exploração dos recursos naturais, juntamente com
crescimento demográfico que ocasiona o aumento na demanda dos recursos básicos do
planeta para a sobrevivência humana. O grande dilema do mundo moderno é conciliar tal
processo com a geração de um ambiente ecologicamente equilibrado. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais no que diz respeito à preservação meio ambiente aborda que:
No entanto, valores e compreensão só não bastam. É preciso que as
pessoas saibam como atuar, como adequar prática e valores, uma vez que
o ambiente é também uma construção humana, sujeito a determinações de
ordem não apenas naturais, mas também sociais. (BRASIL, 1997. p.201)
Para modificarmos a presente situação em que nos encontramos em relação ao
meio ambiente é preciso mudar o modo de agir, mas isso só conseguirá se mudarmos
nosso pensamento, que nos levará a uma mudança de paradigmas, passará do
paradigma econômico para o paradigma ambiental, buscando um presente e um futuro
mais promissor; um dos objetivos desse novo paradigma é a sustentabilidade do planeta
terra. Sendo que sua construção se dá a partir de novas relações entre o homem, a
natureza e a sociedade.
No entanto, um dos fatores mais preocupantes é o que diz respeito aos recursos
hídricos. Problemas como a poluição, escassez e o uso indiscriminado da água estão
sendo considerados como as questões mais graves do século XXI. É preciso que
tomemos partido nesta luta contra os impactos ambientais, e para isso é importante
sabermos alguns conceitos relacionados ao assunto.
No tocante ao conceito de impacto ambiental, existem diferentes contextos, o que
Consta na Resolução CONAMA nº 001 de 1986 a seguinte definição de impacto
ambiental:
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetem:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
IV - a qualidade dos recursos ambientais.
A lei não evidencia se o causador da degradação é o ser humano em si, uma
consequência de atividade antrópica ou até mesmo um fenômeno natural como um raio
que atinge determinada floresta e acaba por destruir a mesma por meio de um incêndio.
O que fica explícito neste conceito é que a degradação ambiental caracteriza-se como um
impacto ambiental negativo.
É necessário nos atermos primordialmente aos diversos fatores de apropriação da
natureza tais como as atividades humanas que influenciaram nesse processo, as relações
sociais que as produziram, observando as inter-relações que determinaram as mudanças
ocorridas no espaço geográfico; como sendo produto da apropriação do trabalho humano.
Em nosso país, a apropriação e a utilização dos recursos naturais, tem ocorrido de
forma desordenada em que muito desses recursos estão hoje em situações
comprometidas devido aos impactos causados pela ação antrópica sem nenhum tipo de
planejamento e/ou comprometimento com o ambiente.
Verifica-se em todo território brasileiro uma gama de problemas ambientais, sendo
comum, a destruição das florestas, a degradação das águas, principalmente em áreas de
mananciais, a deterioração do solo devido ao grande uso de produtos químicos utilizados
em diversas atividades agrícolas afetando também toda a água subterrânea nos locais de
nascentes, o que acarreta e torna uma água com baixa qualidade e inadequada para o
consumo humano.
Segundo OLIC (2003, P.6) “A degradação ambiental na região nordeste teve início
já na época colonial com a derrubada indiscriminada da vegetação florestal nativa para a
retirada do pau-brasil. Posteriormente, o processo de intensificou sendo que, em lugar da
vegetação florestal derrubada, foram desenvolvidos os cultivos de cana de açúcar e
cacau dentre outros, e com a utilização de madeira como combustível para os engenhos.”
O que mais surpreende, é que o Brasil está entre os países com o maior número
de leis de proteção ambiental. Apesar disso, nossas florestas perdem 1% de suas
superfícies, a cada dois anos, por causa de queimadas e desmatamentos. Essas duas
ações juntamente com a caça, estão provocando o desaparecimento de espécies inteiras,
o que ameaça o equilíbrio dos ecossistemas.
Sabe-se que numa sociedade capitalista e consumista tende-se a cada dia a
crescer a demanda por suprimentos, seja ele água ou alimentos, tornando a principal
fonte para o abastecimento dessas populações o meio natural, de onde é extraída toda a
matéria para o consumo dessas sociedades, e com esse crescimento desordenado e
acelerado da população o meio ambiente é quem sofre as conseqüências avassaladoras
desse crescimento tornando cada vez mais escassos para a humanidade.
A natureza vem sendo transformada pelo homem que destrói e contribui na maioria
das vezes com a extinção de espécies animais e vegetais existentes no planeta, também
colabora através de práticas inconseqüentes para a poluição do ar, do solo e
principalmente da água. Com isso a preocupação com o meio ambiente deve fazer parte
da vida de cada cidadão, e dos governantes. Todos devem tornar o ambiente em que
vivemos um lugar prazeroso e saudável, que requer de todos nós um posicionamento
relacionado no tocante a preservação do mesmo, pois é um assunto primordial para uma
reflexão, pois atinge a todos nós de forma direta ou indireta. “Conservar o patrimônio
natural herdado de nossos antepassados - sem dúvida, o maior do planeta - é
compromisso de honra, que representa nossa identidade [...] e que precisam ser
preservadas para as gerações futuras”. (BRASIL, 2002)
É importante haver um processo participativo e sustentável, cada um fazendo a sua
parte e respeitando o ciclo de cada ser existente no planeta. As técnicas adquiridas pelo
homem devem servir para proteger o planeta, cuidar dos resíduos gerados, para se
proteger de alguma transformação natural, e não para destruir a vida. Deve haver respeito
à grandeza da natureza.
AS RELAÇÕES HOMEM X NATUREZA
No princípio as relações do homem com a natureza eram permeadas de mitos,
rituais e magia, pois se tratava de relações divinas. Para cada fenômeno natural havia um
deus, uma entidade responsável e organizadora da vida no planeta: o deus do sol, do
mar, da Terra, dos ventos, das chuvas, dos rios, das pedras, das plantações, dos raios e
trovões etc. O medo da vingança dos deuses era o moderador do comportamento dessas
pessoas, impedindo uma intervenção desastrosa, ou, sem uma justificativa plausível ante
a destruição natural.
Para cortar uma árvore, por exemplo, havia a necessidade de uma justificativa que
assegurasse, no mínimo, a sobrevivência – como a construção de uma casa ou de um
barco. Rituais eram utilizados para “se desculpar” pelo ato tão cruel que estava sendo
cometido. Natureza e homem era a mesma coisa. Com a evolução da espécie humana, o
homem arrancou os deuses da natureza e passou a destruí-la como se ele próprio fosse
divino, cheio de poderes absolutos. A partir de então, a natureza começou a perder o seu
status de mãe da vida. O desejo desenfreado pelo poder e a busca incessante pelo
capital, fez com que o homem mudasse sua concepção como parte do natural. Natureza e
homem passaram a ser duas coisas distintas.
No mundo contemporâneo as relações homem x natureza vem tendo um destaque
importante no cenário mundial, isso por conta de uma relação conflitante, que com o
passar dos anos o homem foi adquirindo habilidades das quais a maior parte destas ele
usa para agredir seu próprio habitat, ou seja, o homem começou a evoluir no seu modo
de vida, mas age para com a natureza de forma irracional, sem imaginar os danos que
essa evolução lhe causará mais a frente.
A Geografia, ciência que tem por objetivo estudar o espaço geográfico, leva-nos a
refletir sobre a análise da dinâmica social, da natureza e da inter-relação entre ambas. O
espaço geográfico é construído tendo como base, a inter relação entre sociedade e
natureza, resultando no espaço produzido pelo homem através do seu trabalho, e que “o
espaço geográfico, é o produto histórico e, por conseqüência, também deve ter um
conteúdo histórico” (CASTROGIOVANNI, 2007, p.43) na medida em que o trabalho
humano ao longo do tempo tem provocado mudanças e impactos ambientais de toda
forma. Sabemos, no entanto, a Geografia, mais do que nunca, coloca os seres humanos
no centro das preocupações, por isso pode ser considerada também como uma reflexão
sobre a ação humana em todas as suas dimensões. “Ela preocupa-se com as
inquietações do mundo atual buscando compreender a complexidade da forma como
ocorre a ordem e a desordem no planeta”. (CASTROGIOVANNI, 2007, p.42).
O homem usa o bem natural de tal forma que a cada dia que se passa vai ficando
cada vez mais irreparáveis os danos causados à natureza pela interferência da ação
antrópica. Este processo teve início principalmente nas revoluções industriais em que a
natureza foi bastante modificada, esses tais processos vistos como gerador de
desenvolvimento, conhecimento, geração de renda, etc. Porém o homem se afastou do
mundo natural, como se não fizesse parte dele.
Com a chegada da era tecnológica os problemas ambientais foram se
intensificando e se expandindo cada vez mais em toda parte do planeta, a humanidade
conseguiu contaminar o próprio ar que respira, a água que bebe, o solo que provem os
alimentos, os rios, destruir as mais diversas formas de ecossistemas. Colocando em risco
a sobrevivência de sua própria espécie.
Os problemas ambientais vêm de longa data, desde a época das revoluções
industriais em que se desenvolveu na Europa e depois se transferiu para a América do
Norte, especificamente nos Estados Unidos aumentando cada vez mais a pressão sob o
planeta. Recentemente, os problemas ambientais se agravam, devido ao crescimento
desenfreado da população e suas vontades de viver num mundo industrial e tecnológico.
Sendo que o homem deve conhecer o meio ambiente, antes de tomar qualquer atitude, a
humanidade deve sair da cápsula industrial que a envolve, e mudar os seus
comportamentos, valorizando e interagindo com o mundo natural o qual faz parte,
respeitando as transformações do meio; sem interferir ou acelerá-las.
Sabendo-se que o crescimento populacional quando associado ao processo de
urbanização, não sendo caracterizado somente pela multiplicação das cidades, porém por
sua ampliação territorial e pela intensa concentração humana, tem repercutido com
profundas modificações no meio ambiente e nas condições, como também na qualidade
de vida da população.
Podemos contextualizar nesse sentido também os problemas causados pelo o
desmatamento das encostas de rios e nascentes que acarretam a não infiltração total da
água, provocando um grande volume de água a ser escoada, provocando inundações e
enchentes, podendo assim, influenciar mudanças no ciclo hidrológico.
De acordo com LIMA, (1986, p. 60) “a manutenção da vegetação em torno das
nascentes e cursos d’água são muito importantes, pois a cobertura vegetal influi
positivamente sobre a hidrologia do solo, melhorando os processos de infiltração,
percolação e armazenamento de água pelos lençóis, diminuindo o processo de
escoamento superficial e contribuindo para o processo de escoamento subsuperficial,
influências estas que conduzem a diminuição do processo erosivo.”
Portanto, essa intensa atividade humana ocasionou alterações drásticas no meio
ambiente, causando a poluição. E como o homem faz parte do meio ambiente, será
afetado pela própria poluição, com prejuízos à saúde, entre outros.
Sabe-se que o desenvolvimento urbano provoca o aumento da demanda por
água, e ao mesmo tempo, a degradação dos mananciais em decorrência da sua
contaminação pelos resíduos urbanos. As principais causas da contaminação se originam
no despejo de poluentes oriundos dos esgotos domésticos e industriais, além de outras
substancias oriundas das culturas agrícolas em áreas próximas aos mananciais, é
importante ressaltar que as substâncias agrotóxicas não agridem apenas a água
superficial, mas os lençóis freáticos e o solo, causando inúmeros danos a esses recursos
naturais, tornando-os inférteis e de baixa qualidade. Vale ressaltar que em nosso país a
agricultura irrigada é a atividade que mais consome água, anualmente é responsável por
69% do consumo, como mostra o gráfico 1.
2%
7%
11%
Agricultura Irrigada
Abastecimento Urbano
Abastecimento animal
11%
Uso Industrial
Abastecimento Rural
69%
Gráfico 1: Uso da água no Brasil.
Fonte: ANA – Agência Nacional de Águas – 2005.
Adaptação: Elenaldo F. de Oliva Jr.
A escassez de água no planeta já se mostra como um dos principais problemas
agravante da relação sociedade x natureza. Existindo atualmente conflito armados entre
as nações principalmente no caso do oriente médio em que israelenses, palestinos e
jordanianos disputam o suprimento de vida que vem do rio Jordão. Essa batalha ilustra o
potencial conflituoso das águas ao redor do mundo. Não esquecendo de algumas nações
africanas em que alguns países seus habitantes andam cerca de oito horas para
conseguir um balde de água muitas das vezes inadequadas para o consumo humano,
conseqüentemente ao beber essa água contaminada adquirem doenças que em muitos
casos levam a morte.
Em sua nascente na serra dos palmares no município de Riachão do Dantas-Se,
as águas do Rio Piauí iniciam-se seu percurso e que ao longo de seu trajeto encontra-se
com seus principais afluentes: o rio Jacaré, rio Arauá, rio Fundo, rio Pagão e rio
Piauítinga.
A nascente do Rio Piauí nos dias atuais encontra-se comprometida devido ao
mau uso da população para com os seus recursos naturais, vemos que grande parte da
sua vegetação nativa não se encontra mais, o que acarreta o assoreamento da mesma,
devido a não proteção do solo, tornando a uma área mais propícia a erosão; processo de
desgaste do solo, desagregação, arranque, transporte e deposição de sedimentos, que no
caso do Rio Piauí essas partículas com o desmatamento da mata ciliar da nascente, é
transportada, gerando o acúmulo de sedimentos ao longo do seu curso fluvial, causando
o assoreamento tanto da nascente do rio, e o implante de uma vegetação não apropriada
para a proteção da nascente como mostra a (FIG. 1) na página seguinte.
Fig. 1 - Processo de assoreamento da nascente devido à erosão do solo.
Fonte: O Autor, 2011.
Com a chuva, parte do solo é transportado, indo para o leito tanto da nascente,
quanto do rio, os quais ficam assoreado, tendendo a ficar cada vez mais raso. Isso
também diminui a qualidade da água, afetando os ecossistemas que habitam o rio,
acarretando no desequilíbrio das relações ecológicas da região.
Um dos impactos mais significativos da degradação de mananciais é a crescente
escassez de água de qualidade, dificultando o abastecimento público, não só a qualidade,
mas as possibilidades de uso destas águas ficam cada vez mais prejudicadas. Além
disso, os recursos hídricos estão sendo comprometidos por desequilíbrios ambientais
resultantes do desmatamento e uso indevido do solo. Um dos grandes problemas
ecológicos dos nossos dias reside no fato de que o ritmo de exploração, degradação e
destruição dos recursos naturais se tornou, em muitos domínios, mais acelerado do que a
capacidade da natureza para repô-los.
“Os mananciais são fontes de onde se retira a água para abastecimento e consumo
da população e outros usos, seja para indústria, agricultura, etc. Para que se possa
conservar as nascentes é preciso conhecer seus tipos, a legislação que rege sua
proteção, o papel das florestas na infiltração e conservação da água subterrânea e quais
os principais usos da terra que, a curto e longo prazo, são causadores de degradação das
nascentes (PINTO, 2003)”. E Segundo a legislação, considera-se como manancial todo o
corpo de água interior subterrânea, superficial, fluente, emergente ou em depósito, efetiva
ou potencialmente utilizáveis para o abastecimento público. E por ser uma área de
manancial, existe essa preocupação de preservação para com nascente.
Segundo a Lei Federal 4.771/65, alterada pela Lei 7.803/89 e a Medida Provisória
n.º 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, que passou a vigorar com o seguinte texto:
Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta
Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água",
qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50
(cinqüenta) metros de largura;
Segundo os Artigos 2º e 3º dessa Lei:
§ 2o Para os efeitos deste Código, entende-se por:
II - área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts.
2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo
e assegurar o bem-estar das populações humanas;
Desse modo, as áreas desprovidas de vegetação também podem ser consideradas
de preservação permanente. A fim de regulamentar o Art. 2.o da Lei n.o 4.771/65,
publicaram-se a Resolução nº 303 e a Resolução nº 302, de março de 2002 - a primeira
revoga a Resolução CONAMA 004, de novembro de 1985, que se referia às Áreas de
Preservação Permanente (APP) quanto ao tamanho das áreas adjacentes a recursos
hídricos; a segunda refere-se às áreas de preservação permanente no entorno dos
reservatórios artificiais, determinando que:
As Áreas de Preservação Permanentes ao redor de nascente ou olho
d’água, localizada em área rural, ainda que intermitente, ou seja, só
aparece em alguns períodos (na estação chuvosa, por exemplo), deve ter
raio mínimo de 50 metros de modo que proteja, em cada caso, a bacia
hidrográfica contribuinte. (CALHEIROS.2004. p. 18-19)
Para as nascentes localizadas em áreas urbanas:
[...] que permanecem sem qualquer interferência, por exemplo, de
nenhuma construção em um raio de 50 metros, vale a mesma legislação
da área rural. Para aquelas já modificadas por intervenções anteriores em
seu raio de 50 m, por exemplo, com habitações anteriores consolidadas,
na nova interferência, devem-se consultar os órgãos competentes. (Op.Cit.
2004. p.19)
Na nascente do rio Piauí a degradação apresentada é preocupante, pois apesar de
ser um desrespeito as leis ambientais e a aquele manancial é também uma falta de
compromisso para com a preservação daquela área de nascente, pois a vegetação no
entorno da mesma encontra-se antrópizada, devido à apropriação inadequada do homem
naquele local, deixando sinais devastadores e fragilizando o ecossistema existente no
entorno da nascente. A população que reside próximo a área da nascente tem como
principal fonte de sobrevivência, a criação do gado e a agricultura de subsistência, sendo
esses alguns dos fatores para a degradação do ambiente local. O que levou alguns
moradores a colocar uma cerca de proteção na nascente, em decorrência do pisoteio
constante do gado como mostra a (FIG. 2).
Fig. 2. Cerca colocada por moradores para proteger a nascente contra o pisoteio do gado.
Fonte: O Autor, 2011.
Nota-se um grau de degradação assustador e intenso aos arredores da nascente,
sendo o que, o que mais preocupa é o desmatamento ciliar. Apesar da reconhecida
importância ecológica, ainda mais evidente nesta virada de século e de milênio, em que a
água vem sendo considerada o recurso natural mais importante para a humanidade, as
florestas ciliares continuam sendo eliminadas cedendo lugar para a agricultura e a
pecuária e, na maioria dos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas,
sem qualquer tipo de produção.
Uma das principais causas que leva a comunidade a destruir a mata ciliar e retirar
a vegetação nativa que existia na área é sem sombra de dúvidas a cultivo da banana no
local, como fonte de sobrevivência da comunidade, o que além de comprometer a vazão
da nascente não é o tipo de vegetação adequada para reflorestar a área.
Nota-se também que as bananeiras presente no local, plantadas por moradores da
região como forma de conter o desmatamento e ao mesmo tempo por ser um local onde
se torna mais fácil a irrigação da lavoura eles terminam ocupando para cultivar,
prejudicando assim o equilíbrio da nascente, já que o caule da planta precisa de muita
água para se desenvolver e acaba comprometendo a vazão da nascente como mostra a
(FIG. 3). Vale ressaltar que o analfabetismo ambiental é uma característica negativa na
comunidade.
Fig. 3. A degradação na nascente do Rio Piauí.
Fonte: O Autor, 2011.
Observa-se também outro fator determinante na degradação da nascente do Rio
Piauí é que quando os reservatórios artificiais (os tanques, poços etc.) da região
apresentam um índice baixo de água, ou seja, nos períodos de seca; grande parte da
população do povoado Palmares, vai retirar água na nascente, só que a forma que os
moradores utilizam para retirar a água é assustadora, porque eles aterram
horizontalmente uma faixa estreita do riacho, como se não bastasse coloca a bananeira
no local além de utilizar rochas servindo como diques de contenção para represar a água
e a partir daí retira – lá como mostra (FIG. 4).
Fig. 4 - Represa criada por moradores para retirar a água da nascente.
Fonte: O Autor, 2011.
A degradação apresentada na nascente do Rio Piauí além de ser intensa é
assustadora, por que várias são as formas que o homem utiliza para a apropriação do
espaço como sendo individual, sem nenhuma preocupação com a preservação e o
equilíbrio do ambiente de manancial sendo que é da área de nascente que a comunidade
de beneficia para retirar o seu sustento e sobreviver.
Para o melhor entendimento dessa relação conflituosa entre a comunidade e a
nascente do Rio Piauí se fez necessário a aplicação de entrevistas aos moradores que
residem próximos ao local e ao poder público do município, onde se constata um prévio
conhecimento sobre o local, mas até o momento não foi mostrada algum tipo de solução
para resolver o problema ambiental que a nascente vem passando. Nota-se que um dos
fatores para que o poder público do município não tentasse resolver a situação é que a
nascente do rio Piauí está localizada longe dos olhares da população riachãoense,
situada na porção oeste do município e distante cerca de 40 km na sede municipal onde
tem acesso não muito fácil devido à má qualidade da estrada vicinal que liga o povoado
Palmares (Riachão do Dantas) a área da nascente.
Portanto, nota-se o quanto o ambiente local encontra-se no processo acelerado de
degradação, ocasionado pela a ação do homem, e o quanto o poder público se torna
ausente nas questões ambientais do município, sem nenhum projeto ou fiscalização.
Sendo que uma das formas mais pertinente era a iniciação de projetos de cunho
ambiental voltado não somente para a comunidade escolar, mas para toda a população
do município a fim de mostrar a importância daquele manancial para a sociedade,
principalmente aqueles que residem próximos a área. O município dispõe de dispositivos
legais para a preservação e o equilíbrio da área de nascente, além de fiscalizar e
encaminhar os agressores aos órgãos competentes como aborda o Projeto de Lei Nº de
09/05 de 26 de agosto de 2005, de autoria do vereador Gilton Santos Freire:
A lei municipal deixa clara a importância da preservação do local, mas como a
maioria das leis do nosso país a mesma não é cumprida, deixando a nascente a cada dia
que se passa a mercê dos governantes e principalmente da população local que vem
destruindo, poluindo de maneira acelerada sem nenhum comprometimento com o
ambiente natural.
Sendo que, o que mais chama a atenção é que o município de Riachão do
Dantas/SE não dispõe de uma secretaria do Meio Ambiente ou de órgãos competentes
que possam resolver a problemática ambiental do local, o que torna a situação muito
grave, pois a população não tem a quem recorrer diante dos problemas ambientais que
afetam o município.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A degradação apresentada na área da nascente do Rio Piauí e um grave problema
ambiental decorrente das relações conflitantes homem x natureza, que torna o ambiente
cada vez mais fragilizado. Sendo a população que reside nas proximidades da área uma
das maiores responsáveis pelos danos causados ao local, desde a ocupação inadequada
da área até a supressão da vegetação nativa para a implantação de pastagens e para a
prática da pecuária. Além da agricultura de subsistência que é praticada as margens do
riacho. Sendo que os gestores do município não esboçam nenhum tipo de reação para
tentar resolver ou combater o problema.
Algumas das possíveis medidas para com a proteção e preservação daquele
manancial estão sendo tomadas, através de iniciativas de comprometimento de algumas
escolas do município que vem desenvolvendo pesquisas no local, a fim de tentar garantir
a recuperação das áreas degradadas. Buscando soluções junto às secretárias estaduais
que cuidam do meio ambiente por uma efetivação, fiscalização e aplicação de projetos de
cunho ambiental a fim de conscientizar a população para a importância do ambiente
preservado e equilibrado.
Enfim, a busca pela qualidade de vida e pelo equilíbrio entre todos os setores da
sociedade deve ser imediata, pensando no bem estar social e na qualidade ambiental, ou
melhor, na recuperação do meio natural. Esta deve partir de dentro de cada um de nós,
só assim será possível um equilíbrio socioambiental. Para isso preciso estimular as
mudança nas práticas e atitudes e a formação de novos hábitos com relação à utilização
dos recursos naturais favorecendo a reflexão sobre a responsabilidade ética de nossa
espécie e o próprio planeta como um todo, auxiliando para que a sociedade possua um
ambiente sustentável garantindo a vida do planeta.
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