Tudo o que aconteceu no seminário
A
aqui
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
xx
PERFIl
formato
de arena
facilitou a
participação
da plateia
durante
o evento
Com todo o
conforto
Em seu primeiro seminário, Casa e Jardim arma um
cenário aconchegante, com atmosfera de casa, para
juntar convidados notáveis e pensar o tema decoração
Texto Rosana Ferreira Fotos Cleiby Trevisan e Marcelo Magnani
O
seminário A felicidade mora aqui, realizado no dia 30 de
setembro pela revista Casa e Jardim, reuniu arquitetos,
decoradores, designers e paisagistas em torno dos caminhos
que convergem na mesma direção: a liberdade de decorar a
casa. O encontro, que teve patrocínio da LG e apoio da Brascola, foi realizado no hotel Grand Hyatt, em São Paulo, com
a presença do designer de interiores norte-americano Thom
Filicia, apresentador do programa Minha casa, meu estilo, do
canal Discovery Home & Health.
Sob os olhares da plateia, composta por arquitetos,
designers, formadores de opinião e leitores da revista, Thom
O norte-americano Thom Filicia, 40
anos, apresenta o reality show Minha
casa, meu estilo no canal pago Discovery
Home and Health, que vai ao ar no Brasil
às quintas, às 21h. No programa, ele
transforma um ambiente com base no
estilo e nas roupas preferidas do proprietário. Seu sucesso, no entanto, veio bem
antes da televisão. Tudo começou em
1998, quando o designer abriu uma empresa com seu nome no bairro do Soho,
em Nova York, que logo caiu no gosto da
alta sociedade. Considerado um dos cem
melhores designers, segundo a revista
House Beautiful, o decorador tem entre
seus clientes famosos a atriz Jennifer
Lopez. Descoberto por acaso, em 2002,
por uma caça-talentos do canal de TV
Bravo, estreou o programa Queer eye
for the straight guy, sucesso absoluto
de público e crítica. Thom integrava um
quinteto de homens gays que tinham a
missão de transformar um “hetero” deselegante em um gentleman, dos modos
e roupas à casa. A série rendeu cinco
temporadas e o prêmio Emmy de melhor
reality show em 2004. Recentemente, o
designer lançou o livro Thom Filicia style
Thom se diverte com a estatueta de dragão chinês do Estúdio Jaca-
(ainda sem tradução para o português),
randá. As ilustrações botânicas do painel, ao fundo, foram retiradas do
no qual aplica sua experiência em forma
livro Flores da Floresta Amazônica (Ed. Escrituras), de Margaret Mee
de dicas para personalizar ambientes.
subiu ao palco ao lado dos paisagistas Marcelo Faisal e Gilberto
MARCELO FAISAL
Elkis, da filósofa Viviane Mosé, do arquiteto Ricardo Caminada e
Com mais de 20 anos de profissão, o arquiteto, agrônomo e
dos integrantes do estúdio Superlimão, Sérgio Cabral e Antonio
paisagista Marcelo Faisal, 47, é conhecido por projetos que aliam
Carlos Figueira de Mello, para debater ideias nos dois painéis
a simplicidade sofisticada ao melhor uso dos recursos. Seu
propostos, A casa em transformação e Decorar com liberdade.
estilo já cativou clientes como Adriane Galisteu, Fausto Silva e
O debate, que envolveu os espectadores, foi facilitado pela
130
THOM FILICIA
Texto Rosana Ferreira Fotos Lufe Gomes
O palco em
Os convidados
O EVENTO
Luciano Huck, além de grandes construtoras e outros arquitetos
disposição do palco, em estilo arena, na ambientação concebida
e decoradores que se identificam com seu trabalho. Eclético, ele
pela cenógrafa Chris Ayrosa, que recorreu a referências da
já circulou das passarelas de moda à do samba, do pop à mágica
própria Casa e Jardim para compor a decoração com jeito de
para transformar espaços, entre eles o Carlton Dance Festival, os
casa. Em vez de fileiras de cadeiras, a designer criou lounges dis-
camarins das estrelas Madonna, Stevie Wonder e David Copper-
postos nas extremidades da sala, cada um com cores diferentes,
field, o MTV Awards, o Morumbi Fashion e o Camarote Brahma,
mas coordenadas, nos tecidos, sofás, almofadas, pufes e poltro-
no carnaval carioca. Participante da Casa Cor, Faisal venceu o
nas. “A base do projeto foi o uso de estampas, cores, texturas
prêmio de melhor projeto de paisagismo na edição 2009. Atual-
Com cores e estampas da moda e iluminação acolhedora, a decoração do auditório,
e plantas, além da configuração pouco tradicional. Isso trouxe o
mente, apresenta o boletim Soluções verdes, na Rádio Eldorado
criada por Chris Ayrosa, foi inspirada em Casa e Jardim. Tecidos da JRJ
aconchego que tem a cara da revista”, disse Chris Ayrosa.
FM, onde dá dicas de sustentabilidade na área de construção.
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
Como se estivesse em um quadro, Faisal ergue a lanterna da L’Oeil
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
131
PERFIl
SUPERLIMÃO
Caminada carrega
a mesinha de acrí-
Antonio Carlos Figueira de Mello, 27 anos, e Sérgio
lico da Benedixt
Cabral, 32, fazem parte do Superlimão Studio,
que possui ainda mais dois sócios, Lula Gouveia,
31, e Thiago Rodrigues, 30 anos. Com formação
multidisciplinar, o coletivo tem como premissa o
uso alternativo de diversos materiais industriais
e convencionais em suas obras. Sua produção de
RICARDO
CAMINADA
peças inclui mobiliário e utilitários elaborados com
papelão prensado, bobinas de papel, plásticos e
O arquiteto Ricardo
até materiais de uso cotidiano, como copos
Caminada, 44 anos,
plásticos. O estúdio, que funciona desde 2002, faz
atua na área de design
ainda projetos de arquitetura, como residências –
Viviane se cobre com a manta étnica bordada da L’Oeil
entre elas, a de Humberto Campana, dos Irmãos
VIVIANE MOSÉ
Campana –, e comerciais, a exemplo do novo
restaurante Dui, da chef Bel Coelho. A cadeira
Laranja é uma peça ícone do grupo, pois leva o
mínimo de materiais (papelão e PVC expandido)
e é composta apenas por duas curvas.
Elkis brinca de ser criança e interage com a toy art da Benedixt
GILBERTO ELKIS
de interiores há duas
décadas. Durante sua
carreira, percebeu
Capixaba, radicada no Rio de Janeiro desde 1992, é psicóloga
a necessidade de
e psicanalista, especialista em políticas públicas pela UFES,
graduar-se em psico-
mestra e doutora em filosofia pela UFRJ (Universidade Fede-
logia para entender
ral do Rio de Janeiro). Viviane, 45 anos, ficou conhecida na-
melhor os clientes e
cionalmente quando escreveu e apresentou o quadro Ser ou
não ser, do Fantástico, na TV Globo, que tratava de temas de
acabou se especializando em psicologia ambiental com o objetivo de estudar a relação entre
filosofia com uma linguagem cotidiana. É autora do livro Stela
o homem e o espaço. Para elucidar, ele exemplifica com o caso do elevador.
Nascido em São Paulo, Gilberto Elkis, 50 anos, passou a infância no litoral
do Patrocínio – reino dos bichos e dos animais é o meu nome,
Estudos demonstram que a instalação do espelho nesse espaço diminui a
paulista na década de 1960, onde conviveu com a natureza e a arquitetura, o
publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti
sensação de claustrofobia, como também evita vandalismo, já que a pessoa
que certamente interferiu na escolha de seu trabalho ligado à paisagem. Fez
de 2002, na categoria Psicologia e Educação. Organizou
tem a sensação de ser observada por ela mesma. Isso confirmaria a relação
estágios nos melhores produtores de plantas e paisagismo da Califórnia. Ape-
com Chaim Katz e Daniel Kupermam o livro Beleza, feiura e
direta entre ambiente e comportamento. Nas casas, o gosto do morador é o
sar disso, Gilberto sempre se considerou autoditada. O talento nato, portanto,
psicanálise (Contracapa, 2004). Em 2005, publicou sua tese
indicador para as escolhas, como texturas e cores que o fazem se sentir bem.
está presente nos projetos que cria para clientes, mostras e premiações, como
de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem,
Participante de mostras como Casa Cor, Caminada acredita que há 20 anos a
Casa Cor, Artefacto e Fiaflora, além de trabalhos no exterior. Pesquisas feitas
pela editora Civilização Brasileira. Como poeta, participou de
decoração era feita para ser mostrada aos outros; hoje, é pensada para o bem
em viagens mundo afora são inspirações para seus projetos, que resultam em
coletâneas e publicou livros individuais.
viver do morador, inclusive para dividi-la com a família e os amigos.
integração entre arquitetura e paisagem. O contrário também acontece: Gilberto leva para fora do Brasil os elementos brasileiros, como nos trabalhos que
desenvolveu na Suíça, nos Estados Unidos e na Angola. Atualmente, ele assina
Canto de interação
projetos paisagísticos para residências, condomínios, edifícios, estabelecimen-
A tarde era destinada a debater o assunto
tos comerciais, áreas públicas e rurais.
casa. Portanto, nada mais adequado do que
sentir-se nela para falar das transformações
pelas quais está passando e as maneiras
“Casas com pequenos ‘segredos’ parecem
nos encantar. Experimentos psicológicos
sugerem que os humanos têm forte atração
por mistérios. Halls de entrada, sólidas
portas, caminhos de acesso à entrada da
casa com curvas, esquinas, cantos; cortinas
que velam conteúdos, tudo isso atrai.”
Imagem refletida no vaso espelhado:
Angelita Corrêa Scárdua, psicóloga
da esq. para a dir., Thiago, Sérgio e Antonio Carlos,
de ser decorada com calor e personalidade.
Para isso, a cenógrafa Chris Ayrosa criou,
em um espaço contíguo ao auditório, um
estúdio fotográfico com a maior pinta
de... casa. Nesse espaço, os debatedores
três dos quatro “meninos” do Superlimão
132
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
Foto: Cleiby Trevisan
tinham à mão móveis e objetos com os quais
podiam interagir. A escolha era de cada um
e o resultado você confere nestas páginas.
Sofá do Depósito São Martinho, luminária da
Bertolucci e futons da Futon Company
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
133
DEBATE
A casa como paraíso pessoal
“Na decoração, as peças precisam ter um sentido e
serem usadas com o coração, senão o resultado pode
ser uma casa-modelo – e isso qualquer um faz. Por
essa razão, decorar com liberdade é não decorar. A casa
não precisa ser perfeita, assim como quem mora nela.”
Se a casa deve refletir a alma do dono, descobrir as maneiras de transpor um estilo
próprio para a decoração é quase uma urgência. Que dirá a conquista do bem-estar!
Confira as discussões mais importantes do seminário A felicidade mora aqui
Superlimão
Texto Rosana Ferreira Fotos Cleiby Trevisan
“Moda e decoração
estão ligadas. Uma
veste a pessoa; a
outra, a casa. Mas
hoje é possível usar
qualquer roupa,
o que importa é
ter personalidade.
Para isso, você
pode fazer uma
fusão de estilos.
Mas essa mistura
é difícil, e isso faz
parte do nosso trabalho, arquitetos e
decoradores.”
“Adoro fazer espaços de design que falam
sobre as pessoas. Mas, como profissionais,
temos a obrigação de mostrar ao cliente
sempre outra opção – e melhor em relação
ao que ele deseja. Às vezes, é a sua primeira
vez, não está acostumado a lidar com essa
situação. Com nosso conhecimento, nos
tornamos um recurso incrível.”
Thom Filicia
“O século 21 traz casas cuja harmonia está na presença do corpo,
do gosto, do aroma. Acredito
que a casa precisa ser espaçosa
e mais próxima ao trabalho, sem
padrões de moda, para ser um
refúgio em meio ao trânsito,
à agitação e à violência urbana.”
Viviane Mosé
10 mandamentos de Thom Filicia
Gilberto Elkis
Para o designer de interiores, “sua casa deve ser a extensão do que você
“Adoro misturar moderno e antigo, brilhante e opaco... Isso torna o
é”. Isso significa que, ao entrar na residência de um desconhecido, é
espaço mais confortável e vivo.”
possível defini-la pelo estilo da decoração. Mas nem sempre as pessoas
5. Esqueça as combinações e os conjuntos. É como se vestir: não é
conseguem se expressar por meio do design ou transmitir seus desejos
preciso combinar as peças – por exemplo, o cinto com o sapato –, mas
ao profissional. Por isso, Thom dá dez dicas para ajudar nessas horas.
elas precisam “falar a mesma língua”.
6. Diminuir o espaço, aumentar o risco. O grande desafio é ter
“Tendência, hoje, é ser autêntico, é ser você.
Dizer que isto ou aquilo está na moda está
completamente fora de moda. A casa
precisa ter alma, ser fiel a quem nela vive,
contar a história de seus moradores.”
1. Tenha sempre um plano. Antes de iniciar um projeto, avalie os es-
criatividade para equilibrar estética e funcionalidade quando se driblam
paços e como as pessoas vivem, a fim de encontrar um sentido maior,
metragens pequenas.
além de funcionalidade e viabilidade.
7. Contraste é poder. Essa é uma maneira de dar vida à casa. “Misturar
2. Ilumine sua vida. Em residências, é indicado ter três camadas de
e testar é fundamental até no mais calculado design.”
luz: uma geral (regulável) e mais duas com pontos focados (nas partes
8. Cada ambiente precisa de uma surpresa. Um elemento curioso ou
superior e inferior).
inesperado é sempre bem-vindo, seja em um lobby de hotel ou no seu
3. Dê cor ao seu mundo. Como muita gente tem medo de arriscar nes-
quarto. “Isso mantém as pessoas pensando.”
se quesito, Thom acredita que se deve começar com os tons terrosos
9. Não deixe que a sua casa mande em você. O espaço deve ser
como base e adicionar cores fortes e alegres em pontos estratégicos,
funcional: não adianta ter cozinha equipada e sala de jantar poderosa se
de forma surpreendente. “Assim, fica fácil mudar a decoração.”
a pessoa não gosta de cozinhar.
4. Existe autenticidade nas texturas. E repare que elas não estão
10. A ordem é editar. Remova os detalhes que não têm razão de ser e
somente nos tecidos, mas também nas formas, como explica Thom.
os excessos. Afinal, o luxo está na simplicidade.
Simone Quintas
134
| novembro 2009 |
Veja mais sobre o evento em www.casaejardim.com.br
CASA E JARDIM
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
135
DEBATE
A CASA DE CADA UM
“A decoração deixa
de ter fórmula e ganha várias fórmulas,
porque cada um é
feliz de um jeito. Por
isso, estou preso ao
que o cliente deseja.
Não posso fazer
na casa dele o que
seria legal para mim,
como usar sofás
antigos que pertenceram à família.”
Ricardo Caminada
“Os espaços
devem transmitir
sensações”
O que inspira
felicidade em você?
O projeto deve levar em conta o design e qual estado de
espírito ele evoca no ambiente. Com essa ideia, Thom
para conquistar o bem-estar para dentro de casa.
Essa pergunta foi feita aos convidados do seminário de Casa e Jardim. Eles abriram
suas casas e escritórios para mostrar que um ambiente, um objeto, um móvel ou
uma coleção têm o poder de transmitir bem-estar. Depende da história de cada um
1. Orgânico. É marcado pelo uso de elementos que
Texto Rosana Ferreira Repórter de imagem Gabriel Valdivieso Fotos Marcelo Magnani
Filicia acredita ser possível deixar a casa mais próxima
do estilo do proprietário. Confira dez estados de espírito
vêm de fora para dentro, como o couro, a madeira ou
Oásis em
meio à rotina
fotografias que remetem ao natural.
2. Refinado. Detalhes preciosos – uma obra de arte,
O escritório de Viviane Mosé,
uma porcelana antiga ou uma lembrança importante
no Rio de Janeiro, parece
– tornam o ambiente sofisticado, até mesmo de uma
mais uma casa. Essa foi a
casa de campo.
ideia da psicanalista ao deco-
3. Sexy. Para começar, existe sensualidade no bom
rar um canto com elementos
design. Essa atmosfera pode ser obtida com um belo
bem pessoais. Como gosta
par de chaises, tecidos brilhantes, abertura de espaços,
de ter “coisas de outros tem-
aromas e claridade.
pos”, ela selecionou vitrola,
4. Puro. A pureza é algo que adoramos ver em tudo,
rádio e sofá dos anos 1950.
do design ao amigo. A casa santuário é bem zen: tem
Os quadros pintados por
cores claras, móveis de linhas essenciais e poucos
Viviane e pelo filho, além de
acessórios decorativos.
fotos, são objetos singulares
5. Caloroso. Cores, texturas, cheiros e sabores contri-
e remetem à família, assim
buem para se sentir à vontade e confortável.
como as peças presente-
6. Equilibrado. Harmonia não significa exclusivamente
adas lembram pessoas e
ter tudo em perfeita simetria, e sim saber usar a assi-
momentos. E estão todos
metria de forma agradável.
nesse canto – um pedacinho
7. Divertido. A alegria e o bom humor podem estar em
de sua casa e de sua vida em
detalhes, peças e estampas. Thom adora usar pássaros
meio à rotina diária. “A casa
nos seus projetos porque, para ele, são engraçados.
é o reflexo da pessoa, e ela
8. Convidativo. “Abraçar” as pessoas com a casa faz
se vê nos objetos.”
com que se sintam bem-vindas. Isso significa apostar
no aconchego e na simplicidade. Ter tudo à mão é uma
dádiva. Até quem não vive ali vai saber onde pegar um
drinque, por exemplo.
9. Exótico. O Japão une-se à Índia, que se junta à África
Marcelo Faisal
136
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
e ao Marrocos. Culturas são justapostas para que se
criem ambientes com cores vibrantes, madeiras trabalhadas, tecidos de toque sedoso e objetos feitos à mão.
10. Autêntico. Provocativo, glamouroso, excêntrico,
nostálgico, cultural... Seja qual for o estilo do proprietário, a casa tem ambientes que revelam sua personalidade em cada escolha, em cada canto.
Foto: Raquel Venâncio
“Tanto você pode mudar a casa como a casa pode
mudar você. Por exemplo, ao pintar uma parede, muda-se a ambientação. Mas a cor escolhida pode também
transformar o seu estado de espírito. Penso numa casa
mutante, que esteja ligada aos nossos momentos.”
“O homem não
apenas constrói a
casa, mas também a habitação
constrói o mundo
do homem.”
David Philips, sociólogo norte-americano
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
137
A CASA DE CADA UM
Humor em
preto e branco
O paisagista Gilberto Elkis ama
pinguins. Por isso, as pequenas
– e sempre bem-humoradas –
aves transformaram-se numa
grande coleção. Expostas na
cozinha, elas expressam, segundo o profissional, a felicidade em
seu apartamento, em São Paulo.
“Sempre que olho para os bichinhos sinto alegria. Afinal, que
outro animal usa black-tie?”,
brinca. Elkis não conta o número
de pinguins da sua coleção, mas
calcula que já passa de cem.
“Trago de viagens, compro
em lojas e ganho de presente,
pois todos os meus amigos sabem que gosto de pinguins.”
Jardim de
simbologias
O jardim zen é um dos
cantos que definem a
felicidade na casa do paisagista Marcelo Faisal.
Além da característica de
relaxamento proporcionado pela natureza, o
espaço abriga elementos
cheios de simbologia. Por
exemplo: a cor laranja
Espaço reconfortante
santos me lembram a felicidade que é ter fé e força para sempre seguir adiante”,
“Cada ambiente precisa de uma
surpresa. Usar as coisas de forma
diferente e resgatar objetos que
saem do comum é interessante.
Surpreender faz as pessoas felizes.”
define. Por fim, ele usa os sofás que faziam parte da casa de seus pais e ficavam na
Thom Filicia, designer de interiores
O arquiteto Ricardo Caminada diz que todos os espaços espelham o contentamento em sua casa, em São Paulo, pois são carregados de referências a bons
momentos. Mas destaca um em especial: a sala de estar. A poltrona Egg, além de
ser confortável, foi revestida com tecido divertido, colorido e floral, que se contrapõe
com o ar clássico da palha de seda da parede e a natureza-morta dos quadros. “Os
sala de lareira, onde ele brincava quando criança. “Sinto-me reconfortado aqui.”
138
em alguns detalhes
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
vibra positivamente, uma
referência de alegria, e
a lanterna e o castiçal
remetem à luz. “Os elementos da casa em que
moramos devem conter
simbologias pessoais
para a construção do
enredo de cada um.”
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
139
A CASA DE CADA UM
“Uma boa dose de humor é indispensável para decorar. Ter noções de
estilos, moda e tradição é útil. Mais
importante ainda é brincar com todas
as regras, seguindo a imaginação.”
Vera Fraga Leslie, no livro Lugar-comum:
auto-ajuda de decoração e estilo
A alma dos objetos
Uma decoração com peças escolhidas segundo o gosto do dono,
que sejam realmente usadas e tenham algo a dizer, traz
magnetismo, transmite boa impressão e convida a ser desfrutada
Texto Carol Scolforo
O
resultado final da decoração não é o
Nada de móveis assinados por ícones do design ou obras de arte
que realmente faça sentido em um determi-
caríssimas. Os pavões de prata que a mãe do designer de interiores
nado ambiente ou cantinho, pode encher a
norte-americano Thom Filicia deixou para ele são definidos como
casa de afeto e de vida, e assim transmitir
os objetos de maior estima em sua casa. As peças ficam expostas
um clima bom a quem entra ali, convidando
em seu quarto e têm puro valor sentimental, que transcende as
a um interesse mais profundo. É uma relação
barreiras de estilo, status ou preço. Os pavões pertenceram à avó
inconsciente, que deixa claro que objetos têm
de Thom e foram herdados por sua mãe, vítima de câncer de mama.
alma, são dotados de emoções.
Parece um papo estranho, mas essa
realidade é nítida no filme francês Horas de
verão (L´heure d´été, 2008), do diretor Olivier
Assayas, cujo elenco traz Juliette Binoche e
Jérémie Renier. A história de uma família é
contada, com suavidade, a partir do espólio
que três irmãos receberão após a morte da
Jeannick Gravelines/Divulgação
objetos. Pinçar uma peça de personalidade,
“Com esses objetos, sinto-me conectado à minha família.”
Cena do filme
Horas de verão, de
Olivier Assayas
mesmo sem uma escolha benfeita de
Valor sentimental
mãe. Quando um deles se desapega de alguns raros vasos de cristal e doa
portuguesa Susana Paixão Barradas, que pesquisa
um deles a um museu, percebe que, para muitos visitantes da instituição,
o tema na Espanha. Outra preocupação moderna do
aquela peça não faz sentido algum. Já enquanto pertencia à família, o vaso
design é melhorar relações sociais e interligar pessoas
fez parte de capítulos importantes de sua vida.
a ambientes. “O desenho de um objeto pode conectar
Há uma explicação interessante por trás desse valor afetivo. “Criamos
nosso cosmos. Damos significado às coisas e elas ganham simbologia.
Por isso, é natural adotarmos objetos que nos façam sentido”, observa o
Temperos da vida
Emotional design – why we love (or hate) everyday things.
Por essas e outras, um design inovador pode, sim, cus-
filósofo Mário Sérgio Cortella. E você estava achando que o criado-mudo
tar caro. No entanto, como uma pesquisa da Universidade de
não dizia nada na decoração...
Chicago já comprovou, os objetos mais preciosos que as pes-
A questão vai muito além de simples apego. Objetos são uma extensão
soas guardam não têm custo alto. Pelo contrário. Fotografias
A estação de trabalho no escritório do coletivo Superlimão
das ações humanas. Além de funcionais, eles também nos lembram quem
ou objetos feitos à mão, se expostos, dão valor extra à decoração.
reúne vários elementos usados no dia a dia que fazem a
somos. “As pessoas gostam de se ver no que expõem”, observa Cortella. É
Com criatividade, você pode tirar partido desses elementos e
jornada mais feliz, de livros e bebidas a toy art. “São os
assim que se cria um espaço autêntico, irresistível – como deve ser a casa.
encher a casa de magnetismo.
temperos da nossa vida”, define Antonio Carlos Figueira
“Somos uma subjetividade que precisa se objetivar”, completa. Ao mesmo
de Mello, sócio do estúdio, ao lado de Sérgio Cabral, Lula
tempo, acumular objetos sem real importância pode trazer desequilíbrio
Gouveia e Thiago Rodrigues. É claro que não faltam criações
para a moradia. “Memórias são úteis. No entanto, desapegar-se do inútil, do
do grupo, como a cadeira Raio X, nem imagens de limões,
que não faz mais sentido, é preciso.”
É claro que a casa precisa ter espaço para o novo. Ultimamente, do
seja na capa de um livro ou até em um brinde de empresa
outro lado da vitrine há um design mais preocupado com essa química de
contração para criar, sem regras ou fórmulas prontas. “Tes-
sensações inéditas. “A emoção responde a um estímulo externo por meio
ao design, e o nosso espaço de trabalho reflete isso.”
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
Divulgação
com a forma da fruta. O quarteto gosta mesmo é de destamos muitas coisas que podem ou não dizer respeito
140
pessoas, aproximá-las”, diz Donald Norman, no livro
de cor, forma, aroma, textura. Assim, podemos desenvolver produtos
que intencionalmente provoquem um estado de ânimo”, diz a designer
“A casa é um lugar de
abrigo, não meramente
físico, mas, ainda mais
importante, psicológico.”
Alain de Botton, no livro
A arquitetura da felicidade
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
141
G E nte
Passaram
por lá
Gente de arquitetura, decoração,
paisagismo e publicidade foi conferir
o que Thom Filicia e os demais
participantes do seminário tinham
a dizer. Saiba quem compareceu ao
evento – e realçou-o
Fotos Cleiby Trevisan e Marcelo Magnani
Cynthia de Almeida, da Editora Globo
O arquiteto Gustavo Calazans
Da esq. para a dir., Mauricio Emanuelli e Raquel Ezequiel, da Publicidade da Editora Globo,
com Thaís Abambres e Priscila Soares, da Brascola
O arquiteto e produtor Gabriel Valdivieso
Alexandre Betti (esq.) e Eduardo Leite, da Editora Globo, com Daniela Corbett Lichewitz, da LG
Thom com seu livro Thom Filicia style
Karina Afonso, arquiteta, e Marcelo
Barbieri, da Editora Globo
Simone Quintas, diretora de redação de Casa e Jardim
Maria Fernanda Piti, designer de interiores
Odilon Claro, paisagista
142
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
Chris Ayrosa, cenógrafa que assinou a decoração do evento
Marilena Dêgelo, de Casa e Jardim,
com a apresentadora Laura Wie
Os irmãos Marcos Sancovsky, da Arterix,
e Mona Dorf, apresentadora do evento
Da esq. para a dir., Nuria Uliana, Thaís Lauton, Cláudia
Alcione Pereira e Artur de Andrade, de Casa e Jardim
CASA E JARDIM
| novembro 2009 |
143
G E nte
A designer de interiores Neza Cesar (esq.) e a proprietária da Tergoprint, Gina Elimelek
Wania Pace, de Casa e Jardim
Ricardo Pessuto, paisagista
Gabriela Pestana (esq.) e Juliana Fanchini, de Casa e Jardim
144
| novembro 2009 |
CASA E JARDIM
Roberta Martins, arquiteta
Marc Szafran, presidente
da Thom Filicia Inc.
A designer de interiores Lidia Damy Sita (esq.) e a paisagista Caterina Poli
Thiago Rodrigues, do estúdio Superlimão
A arquiteta Silvana Parmigiani
Download

Tudo o que aconteceu no seminário