do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo CARTA A UM AMIGO Uma semana em Aparecida. Pela profissão e pelo papa Arquivo Pessoal Meu caro Antônio Carlos Como você sabe, venho de uma família católica Não há que se dizer carola, embora alguns de meus antepassados tenham beirado isso. Mas, católicos, isso sempre fomos. De ter capela em casa, fazer primeira comunhão e comparecer às missas dominicais. O crucifixo sobre a entrada principal é marca de todas as casas da família, assim como a capela de São José Operário, no Mogilar, tem hoje o altar que lhe foi entregue em testamento por um tia devota. Alguns casamentos da farnília foram celebrados em Aparecida e, nas viagens de carro ao Rio, ainda hoje é parada obrigatória uma passagem pela Basílica. Nenhum dos familiares, entretanto, jamais havia pensado em passar uma semana inteira e completa - de segunda a domingo - nessa Cidade. Muito menos eu. Até que... Foi em junho de 1980. João Paulo U confirmara, no início do João Paulo liem Aparecida, por ocasião da primeira viagem de um papa ao Brasil ano, que visitaria o Brasil entre 30 de junho e 11 de julho. Na redação do Estado montou-se uma editoria especial, responsável pela produção de um caderno diário cobrindo a visita papal. Perguntaram-me o que o gostaria de fazer nessa equipe. Eu disse que preferia cuidar do resto do jornal, que ficaria desfalcado de pessoal. No princípio o editor-chefe Miguel Jorge concordou. Mas, lá pelo dia 25 de junho, com tudo montado, convocou-me para chefiar a cobertura da visita do papa a Aparecida. João Paulo II ficaria na Cidade apenas dois dias sexta e sábado - mas eu precisava ir para lá já na segunda-feira, a tempo de contratar hotel para toda a equipe, arranjar transporte para as fotos (de motocicleta até São José dos Campos e daí de helicóptero ou avião para São Paulo) e coordenar os trabalhos de comunicação. Cheguei a Aparecida na segunda-feira e ali fiquei, em um hotel do centro da Cidade, os seis dias seguintes. Eu cuidava da cobertura do Estado e um outro mogiano, Júlio Moreno, da cobertura do Jornal da Tarde. Domingos M e i relles, jornalista que hoje faz sucesso na Rede Globo e com o livro "As noites das grandes fogueiras", sobre a epopéia da Coluna Prestes, era um dos repórteres da equipe. Reencontramo-nos - eu, Júlio e Domingos - algum tempo depois e tivemos bom papo relem-brando essa semana. Você não imagina o que é passar sete dias em Aparecida. Não tente. Mas, se algum tempo, por qualquer motivo, o fizer, não perca a oportunidade de mandar cartões postais para toda a família. Principalmente para a tia religiosa, que lhe ficará grata pelo resto de sua vida. Abraços do Flagrantes do Século XX Em 1904, dignatários de Mogi das Cruzes, tendo à frente o prefeito, coronel Souza Franco (braço dobrado), fazem pose para eternizar o início das obras de instalação da primeira rede de esgotos da Cidade. Arquivo Pessoal Chico Diagnóstico de uma crise-VI O Livro Branco da Santa Casa DOMINGO PASSADO - Em 1984, 11 anos depois de se estabelecer a relação próxima entre a Santa Casa e a Universidade de Mogi das Cruzes, o fundador da UMC, Manoel Bezerra de Melo, deixa de comparecer às reuniões da diretoria da Santa Casa. O ano de 1986 é tumultuado: há disputas decorrentes de reivindicações de médicos e a Polícia Federal abre inquérito para apurar as contas do hospital com o INPS. \ E m 1987, manifesto pubücado na imprensa local, anuncia que os médicos da Santa Casa ameaçam paralisar suas atividades no dia 14 de setembro. O provedor Epaphras Gonçalves Enes se explica, dizendo que, há 6 anos, quando assumiu o cargo, a Santa Casa sofria de 10 a 15 ações de protesto e não pagava seus médicos e que estes, hoje, recebem 42% da renda hospitalar. André Cano Garcia sugere então que a Santa Casa peça uma vistoria pela Secretaria da Saúde. Descontente, Epaphras diz que pedirá demissão depois de saldar os compromissos assumidos e por ele endossados. A disputa não termina aí: numa tentativa de assumir o controle da instituição, os médicos apresentam 618 novos sócios para a Santa Casa. Nesse ano (valores atuais) a instituição gastou R$ 850 mil com folha de pagamento e R$ 562 mil com fornecedores. Teve uma receita de R$ 3,2 milhões e um superávit de R$ 35 mil. Frente à ameaça dos médicos de assumirem o controle com os novos sócios apresentados, providencia-se mais uma alteração nos estatutos, limitando-se àqueles 0 MELHOR DE MOG A iluminação que o Tênis Clube, aquela academia de esportes que há no pé da Serra do Itâpeti, junto ao Vila Santista, colocou em sua área! A decoração parece ter se transformado em boas-vindas para quem chega a Mogi durante a noite. que tenham mais de 6 meses de associação o direito de votar e ser votado. O provedor terá de ter mais de 2 anos de associação. Em junho de 1988, homenagem a dois médicos ligados à U M C . Por sugestão do provedor, a unidade obstétrica terá o nome de dr. Antônio Guariento e a unidade particular o nome de dr. Marco Antônio Duartes Henriques. Por sua vez, o administrador Amilton Moreira Salgado detalha a situação da entidade e o provedor diz que tem trabalhado muito e em conjunto com o administrador Amilton Moreira Salgado. E que o Inamps tem pagado em dia. Em seguida, convoca assembléia para ingresso de mais 172 sócios, cuja admissão é aprovada no mesmo mês. Pelo registrado nas atas, tudo teria melhorado. Muito: as contas, em outubro de 1988, estavam em dia e ainda havia o crédito de 3 contas a recebes do INPS. Em dezembro de 1988, Manoel Bezerra de Melo deixa de integrar a diretoria da Santa Casa, que elege seus novos membros, em assembléia com a presença de 118 sócios: Epaphras Gonçalves Enes (provedor); José Cardoso Azevedo Marques (vice-provedor); Ademir Pinto de Faria (I . secretário); Eugênio Manoel da Cruz Gomes Martins (2 . secretário); Reginaldo Abrão (I . tesoureiro); Ari Francisco da Silva (2 . tesoureiro); Carlos Garcia (I . procurador); Adolfo Martini (2 . procurador); Joaquim Bernardo da Silva (I . mordomo); Maria dos Anjos Cury (2 . mordomo). Conselho Fiscal: Pedro Kenno, Wilson Nogueira e Gonçala Melo Bezerra Pereira. O balanço desse ano (1988) apontaria um superávit (valores atuo o o o o o o o ais) de R$ 503 mil. E os diretores são jantar ocorre no Buffet Pinhal. nuiu de 120 para a presença de 60 aluinformados de que terras de proprieEm 1989, em meio a uma crise no nos no hospital. Pede-se crédito dade da instituição, na Vila Pomar, fo- Pronto-Socorro e reivindicações sala- rotativo no Banco do Brasil de R$ 207 ram invadidas. A folha de pagamento riais, o 2 procurador Adolfo Martini mil (valores atuais) e se informa que mensal dos 400 funcionários da insti- denuncia desvio de medicamentos e títulos foram endossados pelo provetuição é de R$ 118 mil. materiais. Mas, isso parecia não se dor e pelo tesoureiro. Os débitos da Em maio, a escolha, pelos médicos, refletir no balanço, que termina o ano Santa Casa são de R$ 385 mil. No ano do novo diretor clínico, reúne 57 votan- com superávit contábil (estoque e seguinte (1992), seria aprovado contes do corpo clínico de 143.0 resultado: patrimônio) de R$ 322 mil. As denún- trato de cessão em comodato entre a Jorge Hiran Dumingues Chacon, 45 vo- cias de Martini resultariam em um Santa Casa e a Mitra Diocesana, para tos; Paulo Villas Boas de Carvalho, 27 sindicância 8 meses depois. O I pro- uso de atividades pastorais da Paróvotos; Luiz Carlos Bacci, 21 votos; Luiz curador, Carlos Garcia, informa a esse quia São João Batista, no bairro do Antônio Vilela de Lima, 01 voto. Fran- tempo que havia visitado a UTI e en- Caputera., com área de 1.520 m . cisco Bezerra, por indicação do prove- contrado situações irregulares e Adolfo Comodato gratuito por 10 anos. dor, passa a ser assessor técnico. Adolfo Martini pergunta ao provedor se ele No final de 1992, duas chapas se Martini queixa-se que o administrador internaria, ali, um filho ou um neto seu. inscrevem para dirigir a Santa Casa: Amilton não atende os diretores. Em 6 Grave mesmo foi o que aconteceu uma liderada por Carlos Garcia, oude junho, Santa Casa comemoraria 116 em novembro de 1990: roubaram ta- tra por Epaphras Gonçalves Enes. anos, que seriam celebrados em sessão lões de cheque da instituição e saca- Carlos Garcia diz que o prefeito de solene, com a presença de toda a dire- ram, de sua conta no Banco do Brasil, então, Francisco Ribeiro Nogueira, toria entre os anos de 1981 e 1988. A R$ 81 mil. Segundo a direção da épo- pensou em se candidatar a provedor. Santa Casa teve, até então, 34 provedo- ca, o Banco do Brasil teria assumido E acabou concordando em ser o vice res: dom Antônio Cândido de Alvarenga, o prejuízo e restituído o valor. na chapa de Garcia. Informam, em José Inácio de Figueiredo, Padre FranE março de 1991, os médicos seguida, que após entendimentos encisco de Paula Souza Martins, João Olavo Ribeiro Nogueira e João José tre Chico Nogueira e Padre Melo, Baptista Moreira da Glória, Luiz Nahum expõem as dificuldades que a decidem fundir as duas chapas em Medeiros, Raphael Marques Coutinho, Santa Casa enfrentará com a inaugu- uma só, encabeçada por Epaphras, Guilherme da Silva Perdigão, Benedito ração do PS do Hospital Luzia de Pi- tendo Garcia como vice. A nova diJosé de Almeida, Isidoro Boucault, Fran- nho Melo e o conseqüente cancela- retoria ficaria assim, após eleição na cisco de Souza Mello, Francisco Affonso mento no repasse de verba específi- qual analfabetos firmam a ata com de Melo, Adelino Borges Vieira, Deo- ca. Amilton Salgado diz que o Suds impressão digital: Epaphras Gonçaldato Wertheimer, Benedito Borges está tirando tudo que dá lucro e dei- ves Enes (provedor); Carlos Garcia Vieira, Francisco Rodrigues Filho, Fran- xando só o que dá prejuízo. O prove- (vice-provedor); Jacir Marcelo de cisco Alves dos Anjos, Leôncio Arouche dor Epaphras admite que a situação é Pádua (I . secretário); Hildete Gonde Toledo, Rubens do Amaral Brito, grave e que a Santa Casa contrai çalves Costa (2 . secretário); Rodolpho Jungers, Anésio Urbano, Raul empréstimos para pagar a folha de sa- Reginaldo Abrão (I . tesoureiro); Luiz Marinho Briquet, Nuno Alvares Simões lários. Também diz que é preciso ce- Beraldo de Miranda (2 . tesoureiro); de Abreu, Inocêncio da Cunha Rudge, lebrar novos convênios "para ameni- Pedro Konno (I . procurador); EuDirceu do Valle, José Benedito Batalha, zar a situação aflitiva da Santa Casa". gênio Manoel da Cruz G. Matias (2 . Eduardo Monteiro, Ângelo Almeida Cu- O Pronto-Socorro dá prejuízo e aven- procurador); Joaquim Bernardo da nha, Célio Diniz Carneiro, Francisco ta-se a necessidade de a Santa Casa Silva (I . mordomo); Maria dos A n Machado Pires, Jessé Marinho Guima- ser reconhecida como Hospital Auxi- jos Cury (2 . mordomo). Conselho rães, Edison Karan Nassri, Oswaldo liar de Ensino, o que lhe daria vanta- Fiscal: Henrique Borenstein, Wilson Vieira Filho e Luiz Gonzaga Cardoso. O gens. A Faculdade de Medicina dimi- Nogueira e Armando Albuquerque. o o 2 o o o o o o o o diga não ao LIXÃO MOGI de todos nós Tão abnegados em investigar o que corre fora de seus limites, bem que os vereadores de Mogi poderiam instituir uma Comissão Especial de Investigação também para deixar claro os motivos pelos quais alguns deles apoiam, com tanta dedicação, o lixão do Taboão.