A53
ID: 60813056
03-09-2015
Tiragem: 34268
Pág: 10
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 25,70 x 30,97 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 2
Sorteio premeia enfermeiros com uma
semana de trabalho no Reino Unido
Empresa de recrutamento está a sortear duas vagas. Estratégia preocupa Ordem dos Enfermeiros.
Só no ano passado perto de 3000 profissionais podem ter emigrado
NUNO FERREIRA SANTOS
Emigração
Romana Borja-Santos
O processo parece semelhante a
um qualquer concurso online que
sorteie uma viagem para Londres.
Mas neste caso o prémio destina-se
a enfermeiros e traz mais do que os
bilhetes de avião e o hotel, proporcionando uma semana com tudo incluído num dos hospitais do Serviço
Nacional de Saúde inglês (NHS).
O interesse do Reino Unido nos
enfermeiros portugueses é há muito conhecido e são cada vez mais
os que emigram para aquele país.
Nos últimos anos multiplicaram-se
as agências de recrutamento que
têm como objectivo a colocação
destes profissionais no estrangeiro.
No entanto, surge agora uma nova
modalidade: o sorteio. Para os que
têm dúvidas sobre como será a mudança, uma destas empresas criou
uma nova forma de aliciar os possíveis interessados. Uma “estratégia
agressiva” que preocupa a Ordem
dos Enfermeiros.
“É enfermeiro e quer ir para o UK?
Experimente antes!”, lê-se no site
que utiliza um formulário do Google para os interessados se poderem
inscrever no sorteio e receberem,
dessa forma, mais informações. “O
S24 Group em parceria com o NHS
irá proporcionar-lhe 1 semana com
TUDO incluído num dos seus hospitais!”, explica-se. O anúncio foi
também divulgado pela empresa
em grupos no Facebook destinados
à partilha de informações entre os
enfermeiros que ainda estão em Portugal, mas ponderam sair e os que
já estão no estrangeiro.
“A ideia surgiu juntamente com
o parceiro no sentido de inovar e
promover in loco novas oportunidade para enfermeiros. Muitos têm
medo de ir para fora e desta forma
achámos que o relato na primeira
pessoa era a melhor publicidade”,
sintetizou ao PÚBLICO Sofia Fernandes, do S24 Group. De acordo com
a responsável, o sorteio conta com
duas vagas e tem “várias dezenas”
de candidatos que vão saber em breve os resultados. Quanto a requisitos para concorrer, basta fazer um
“gosto” na página de Facebook da
empresa, preencher o formulário e
partilhá-lo. O S24 Group não especifica quantos enfermeiros já colocou
Sindicato dos Enfermeiros Portugueses afirma que faltam 25 mil profissionais em Portugal
no estrangeiro, mas garante que é
um “número significativo”.
Contudo, a Ordem dos Enfermeiros (OE) condena a estratégia. “A Ordem dos Enfermeiros encara com
preocupação o aparecimento deste
tipo de estratégias mais agressivas
por parte das empresas de recursos humanos”, afirma ao PÚBLICO
o vice-presidente do conselho directivo da OE, Bruno Noronha Gomes.
O representante atribui as saídas dos
enfermeiros do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) a uma “política de recursos humanos errada e errática
por parte do Ministério da Saúde,
que é acompanhada, genericamente, pelos operadores privados e do
sector social, e que vem agravar ainda mais os desequilíbrios do sistema
de Saúde”.
Bruno Noronha Gomes alerta
também para o custo que Portugal
tem a formar enfermeiros que de-
pois “exporta”. “Recrutam-nos em
países estrangeiros como Portugal e
passam a dispor de um capital humano diferenciado que entretanto
fica cada vez mais deficitário nos países exportadores, já de si a braços
com problemas complexos na capacidade de resposta assistencial”,
sublinha. A formação superior de
quatro anos de cada enfermeiro custa, em média, 25 mil euros.
De acordo com a OE, nos últimos
seis anos e meio quase 13 mil enfermeiros pediram a este organismo a
chamada “declaração das directivas
comunitárias”, um documento necessário para trabalhar no estrangeiro. Na maior parte dos casos os pedidos foram feitos pela região norte,
que totaliza perto de 6500 das solicitações. No ano passado, 2873 enfermeiros solicitaram a declaração das
directivas comunitárias, mas o pico
aconteceu mesmo em 2013, ano em
que quase se chegou aos 3000 pedidos. No primeiro semestre de 2015
houve cerca de 900 enfermeiros a
ter a mesma iniciativa.
A Ordem desconhece ao certo o
número de profissionais que emigraram nos últimos anos, embora
acredite que grande parte daquele
número o tenha feito, até porque
continuam a sair todos os anos das
universidades públicas e privadas
mais de 3000 licenciados em Enfermagem com muita dificuldade em
encontrar colocação em Portugal
ou ofertas não precárias. Mesmo
assim, o Ministério da Saúde tem
alegado que nunca contratou tantos
enfermeiros para o Serviço Nacional de Saúde.
Segundo um balanço da Administração Central do Sistema de Saúde,
feito há um mês, até ao final de Julho
o Estado tinha contratado mais de
1300 enfermeiros, na maior parte
dos casos para instituições de Lisboa
e Vale do Tejo, sobretudo hospitais
do sector empresarial do Estado.
Havia ainda 770 vagas abertas para
os cuidados primários e 126 lugares
para os hospitais do sector público
administrativo. Valores que também
o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) tem criticado, por considerar ser um ritmo insuficiente,
quando faltam 25 mil enfermeiros
em todo o país.
Em relação aos que emigram, os
dados da OE indicam que o continente escolhido pela esmagadora
maioria dos enfermeiros continua
a ser a Europa. A Inglaterra surge à
cabeça como o país mais escolhido,
seguido da França, Bélgica e Alemanha. Com a presença de mais colegas no estrangeiro, consolida-se a
boa imagem da enfermagem portuguesa e quem quer partir consegue
também mais informação de quem
já lá está, pelo que a expectativa
é a de que as saídas continuem a
acontecer.
Página 53
Download

Sorteio premeia enfermeiros com uma semana de trabalho no