Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. Artigo de Revisão Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas Roberto Silva1, Vinícius Fraga1, Juliana Neves1, Simone F. Pedra1, Sérgio L. N. Braga1, Sérgio C. Pontes Jr. 1, César A. Esteves1, Ana Luisa Guerra1, M. Virgínia T. Santana1, Valmir F. Fontes1, Carlos A. C. Pedra1 RESUMO SUMMARY A comunicação interventricular perimembranosa isolada é uma das má formações congênitas cardíacas mais comuns. Embora o tratamento cirúrgico venha sendo realizado com baixo risco, fatores como fluxo residual, bloqueio atrioventricular, síndrome pós-pericardiotomia e arritmias podem complicar o procedimento. Além disto, uma internação mais prolongada e a ocorrência de cicatriz cirúrgica são inevitáveis. Em tese, o tratamento percutâneo deste tipo de defeito poderia minimizar estas complicações. Recentemente, um dispositivo especificamente desenhado para o fechamento percutâneo das comunicações interventriculares perimembranosas derivado da linhagem Amplatzer (AGA Medical Corporation, MN, EUA) foi desenvolvido. A experiência inicial com esta prótese-dispositivo foi animadora, com alta taxa de fechamento do defeito e com incidência limitada de complicações no seguimento de médio prazo. Neste artigo, os autores fazem uma revisão do uso atual deste dispositivo. Percutaneous Closure of Perimembranous Ventricular Defects The isolated perimembranous ventricular septal defect (PM VSD) is one of the most common congenital cardiac malformations. Although surgery has been performed at low risk, factors as morbidity such as residual leaks, atrioventricular block, post-pericardiotomy syndrome and arrhythmias may act as complications for the procedure. Additionally, longer hospitalization and the occurrence of surgical scar are inevitable. Theoretically, the percutaneous treatment of this type of defect could minimize such complications. Most recently, a device designed specifically for PM VSD closure, the Amplatzer Membranous VSD Occluder, has been developed. Initial clinical experience with this device has been very encouraging with high rates of complete closure and low rates of complications at mid-term followup. In this article, we review our and others’ experience with this device. DESCRITORES: Defeitos do septo interventricular, terapia. Próteses e implantes. Radiografia intervencionista. DESCRIPTORS: Heart septal defects, ventricular, therapy. Prostheses and implants. Radiography, interventional. A saída ou muscular1-4. Sua característica é uma continuidade fibrosa entre as valvas aórtica e tricúspide1. A CIV PM pode estar total ou parcialmente ocluída por tecido redundante da valva tricúspide, especialmente em forma de bolsas provenientes do folheto septal1-3. Estas bolsas são conhecidas como aneurismas do septo ventricular, apesar de não serem aneurismas verdadeiros1-3. comunicação interventricular (CIV) é uma das má formações congênitas cardíacas mais comuns, totalizando aproximadamente 20% de todos os defeitos congênitos1-4. Em 80% dos casos, estes defeitos se localizam na porção perimembranosa do septo interventricular1-4, acometendo a via de saída do ventrículo esquerdo (VE) imediatamente abaixo da valva aórtica e entre a via de entrada e saída do ventrículo direito (VD)3. Eles são denominados CIVs perimembranosas (PM) e têm uma extensão variável para o tecido muscular adjacente do septo da via de entrada, de 1 Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP. Correspondência: Dr Carlos A. C. Pedra. Chefe da Seção de Intervenções em Cardiopatias Congênitas. Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP - CEP 04012-180 E-mail: [email protected] Recebido em: 01/02/2006 • Aceito em: 24/02/2006 CIVS RESTRITIVAS A CIV PM pode ser classificada de acordo com sua repercussão hemodinâmica2. A magnitude do fluxo através da CIV é determinada pelo tamanho da comunicação e pela diferença de resistências vasculares entre as circulações sistêmica e pulmonar2. Como a maioria das CIVs é oval em sua forma, a mensuração correta da CIV pode gerar discussões. Geralmente, emprega-se a maior medida do defeito4, que é utilizada para comparação com o tamanho da raiz da aorta 219 Carlos Pedra 2.p65 219 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. (geralmente leva-se em conta o anel da valva aórtica). Assim, estima-se a sobrecarga hemodinâmica imposta ao ventrículo esquerdo e o risco associado de hipertensão pulmonar1-4. A comunicação, geralmente, é considerada pequena quando a área do orifício é menor que 0,8 cm2/m2 de superfície corporal1, ou quando seu diâmetro é menor que um terço do tamanho da raiz da aorta4. Contudo, há pouca evidência científica para essa classificação1. Nos casos de pequenas comunicações, geralmente, há um gradiente sistólico significativo entre as pressões de ambos ventrículos. Estes defeitos também são chamados de restritivos devido ao fato da magnitude do fluxo pulmonar ser determinada somente pelo tamanho do defeito, não dependendo da resistência vascular pulmonar, que é normal. Nestes casos, as dimensões sistólicas e diastólicas do VE indexadas à superfície corporal estarão dentro dos limites da normalidade ou discretamente aumentadas. Classicamente, as crianças com estas comunicações são assintomáticas e têm um excelente prognóstico em longo prazo5. Nenhuma medida terapêutica, tanto medicamentosa ou cirúrgica, é normalmente indicada1-6. Os pacientes devem receber antibioticoterapia profilática quando forem submetidos a procedimentos que possam levar a bacteremia1-7. O fechamento espontâneo destas comunicações foi descrito em até 80% dos casos, normalmente nos primeiros 5 anos de vida1-3. Porém, sugere-se que mesmo pequenas comunicações, inicialmente classificadas como não significantes, podem não ter uma evolução benigna em longo prazo8. CIVS NÃO RESTRITIVAS No outro extremo, CIVs não restritivas ocorrem quando o tamanho do defeito é maior que 50% do tamanho da raiz da aorta4. Na prática, a definição da CIV não restritiva é melhor realizada em termos hemodinâmicos1. Em outras palavras, quando o fluxo sangüíneo pulmonar é determinado somente pela resistência vascular pulmonar2. As pressões sistólicas em ambos ventrículos são, por mecanismo de capilaridade, necessariamente iguais. Como a circulação pulmonar é sujeita a aumento excessivo do fluxo sangüíneo, aliado a aumento da pressão em níveis sistêmicos, as crianças com estes defeitos correm o risco de desenvolverem alterações vasculares pulmonares irreversíveis nos primeiros anos de vida. Assim, o tratamento cirúrgico não deve ser postergado nestes pacientes3. CIVS MODERADAMENTE RESTRITIVAS As CIVs moderadamente restritivas são defeitos que têm diâmetro aproximado entre 30-50% do tamanho da raiz da aorta4, com um gradiente de pressão entre os ventrículos variável. A pressão sistólica do VD é aumentada, normalmente ficando abaixo de 50% da sistêmica. A resistência vascular pulmonar também se encontra aumentada em níveis variáveis1-3. O fluxo pulmonar é geralmente moderado a grave na infância, estabelecendo-se após a queda fisiológica da hiperresistência pulmonar do período neonatal1-3. Estes defeitos são acompanhados de dilatação do átrio e do ventrículo esquerdo devido à sobrecarga de volume. O fluxo sangüíneo pulmonar é determinado pelo tamanho da comunicação e pela resistência vascular pulmonar2. Se a criança desenvolve insuficiência cardíaca sintomática com manifestações de hiperfluxo pulmonar, está indicada a terapêutica clínica1,9. O manejo medicamentoso pode melhorar os sintomas temporariamente, permitindo que ocorra fechamento espontâneo da CIV. Contudo, em crianças com insuficiência cardíaca de difícil controle clínico, a despeito de terapêutica medicamentosa máxima, geralmente associada a déficit de desenvolvimento e infecções pulmonares recorrentes, o tratamento não deve ser postergado, estando indicado para prevenir alterações vasculares pulmonares. FECHAMENTO CIRÚRGICO DAS CIVS PM O fechamento cirúrgico das CIVs PM tem sido realizado com baixa taxa de mortalidade, embora com algumas complicações, tais como fluxos residuais em até 10% dos casos, bloqueios atrioventriculares, síndrome pós-pericardiotomia e arritmias3. Além disto, um período de hospitalização mais prolongado (3-10 dias) e a presença de cicatriz cirúrgica definitiva são conseqüências inevitáveis deste tipo de abordagem. Como alternativa à cirurgia, tentou-se o fechamento da CIV PM por via percutânea, usando-se uma variedade de dispositivos como a “umbrella” de Rashkind e molas10-15. Contudo, estes dispositivos possuíam limitações importantes, tais como sistemas de implante calibrosos, impossibilidade de recaptura e reposicionamento, embolização da prótese, interferência com a valva aórtica levando a insuficiência e uma alta taxa de fluxo residual10-15. Como não tinham sido desenhados especificamente para a oclusão da CIV PM, os resultados não foram adequados, sendo abandonados na prática clínica. Após o uso com sucesso para a oclusão de CIVs musculares com a prótese Amplatzer (AGA Medical Corporation, MN, EUA) 9,16-22 , desenvolveu-se uma prótese especificamente para a oclusão das CIVs PM23. A experiência inicial com este dispositivo tem sido encorajadora24-27. Nesta revisão, os autores discutirão sobre os aspectos de segurança e eficácia do fechamento percutâneo da CIV PM com esta nova prótese, relatando também sua própria experiência e resultados. PRÓTESE E SISTEMA DE IMPLANTE A prótese A prótese Amplatzer para CIV PM consiste de dois discos de baixo perfil, feitos de uma malha de nitinol auto-expansível, conectados por uma cintura cilíndrica curta (1,5 mm)24-27. A cintura tem um diâmetro de 4 a 18 mm, com incrementos de 2 mm. Embora os 220 Carlos Pedra 2.p65 220 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. discos sejam paralelos, eles estão desalinhados. O disco do lado esquerdo é 0,5 mm maior que a cintura em sua porção superior e 5,5 mm maior na porção inferior (Figura 1). Já o disco de lado direito é centrado, sendo 2 mm maior que a cintura em toda a sua volta (Figura 1). Isto evita o contato direto entre a prótese e a valva aórtica. Um marcador de platina está fixado a laser na porção inferior do disco do VE, para orientação espacial (Figuras 1 e 2), apontando para o ápice do VE durante o implante. Camadas reforçadas de poliéster são adicionadas internamente à malha de nitinol, para aumentar o poder de oclusão. A prótese é conectada ao sistema de implante por um microparafuso, localizado na porção central do disco do VD. Este parafuso é um pouco mais longo que os encontrados nas outras próteses Amplatzer e tem uma porção plana em seu lado superior. Desta maneira, a porção plana do parafuso no lado direito e o marcador de platina no lado esquerdo encontram-se em localizações opostas, em um eixo superior-inferior (Figura 2). Figura 1 - A prótese Amplatzer para CIV perimembranosa. No lado esquerdo, a prótese é vista de perfil. O disco do lado esquerdo é excêntrico e conectado ao disco do lado direito por uma curta cintura. O cabo de implante é parafusado no microparafuso no disco direito. No lado direito, a prótese é vista de frente. Retalhos de poliéster são presos na malha de nitinol. O sistema de implante É caracterizado por sistema coaxial, consistindo de um cabo de implante, um cabo empurrador oco, um rotor de plástico, um carregador de plástico com válvula hemostática e braço lateral e uma bainha longa com dilatador24-27. O cabo de implante é pouco mais fino que os cabos usados para implante da prótese Amplatzer para canal arterial e comunicações interatriais. O cabo empurrador possui uma cápsula metálica em sua ponta distal, desenhada para adaptar-se ao microparafuso da prótese, com uma parte plana em sua porção superior (Figura 2). Além disto, o cabo empurrador tem uma leve curvatura que corresponde à curvatura da bainha longa. A bainha (TorqVue, AGA) é trançada internamente com fios metálicos de maneira a evitar dobras durante a sua manipulação e possui uma curva de 180° no seu segmento distal, para permitir um melhor posicionamento no ápice do VE. As bainhas estão disponíveis em 6 Fr (para próteses de 4 mm), 7 Fr (para próteses de 6 a 8 mm), 8 Fr (para próteses de 8 a 12 mm) e 9 Fr (para próteses de 14 a 18 mm)24-27. Para se carregar a prótese, o cabo de implante é passado por dentro do cabo empurrador e ambos são passados pelo carregador com a válvula hemostática conectada. A prótese é parafusada na rosca localizada distalmente no cabo de implante com uma rotação no sentido horário. O cabo de implante é então recuado, permitindo que a porção plana do microparafuso da prótese se alinhe com a porção plana da cápsula metálica do empurrador (Figura 2). Isso permite que a prótese permaneça corretamente posicionada com a borda superior do disco do VE direcionada para a valva aórtica durante o implante9. Este alinhamento pode necessitar de algum ajuste manual até que um “click” seja ouvido ou sentido. Para se evitar a desconexão entre o parafuso da prótese e o empurrador, uma leve tração é aplicada ao cabo de implante, que então é fixado na posição com o rotor plástico ou com uma pinça cirúrgica9 próxima à ponta proximal do cabo empurrador27. Deste modo, o cabo de implante e o empurrador trabalham como um só, quando o cabo empurrador é empurrado ou puxado. A prótese é, então, tracionada para dentro do carregador de plástico, submerso em solução salina, por meio de uma leve tração do empurrador. Para se retirar o ar do sistema, injeta-se solução salina no carregador pelo braço lateral da válvula hemostática. ESTUDOS EM ANIMAIS Figura 2 - Ajustando o cabo empurrador na prótese. O cabo empurrador tem uma cápsula metálica na sua ponta e está desenhado para se ajustar ao microparafuso da prótese. A porção plana da cápsula metálica do cabo empurrador deve ser alinhada com a porção plana do microparafuso da prótese. Isto permite que a prótese seja corretamente posicionada durante o implante, com a porção plana superior do disco VE orientada para valva aórtica. Como ocorreu com outras próteses Amplatzer 22, a prótese para oclusão das CIVs PM foi submetida a abrangentes estudos em animais com resultados muito bons23. Após estes estudos terem sido publicados, a prótese foi ainda submetida a melhorias em seu desenho e em seu sistema de liberação, antes do seu primeiro uso em seres humanos. 221 Carlos Pedra 2.p65 221 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. SELEÇÃO DOS PACIENTES O tratamento das CIVs PM tem sido classicamente indicado na presença de fluxo significativo da esquerda para direita, levando a sobrecarga de volume do VE, geralmente observada pelo ecocardiograma transtorácico9. Como as crianças com CIVs PM grandes, usualmente, apresentam sintomas de insuficiência cardíaca e déficit de desenvolvimento, o tratamento cirúrgico geralmente é realizado dentro do primeiro ano de vida9. Pacientes com CIV de tamanho moderado, algo restritivas, que podem ser submetidos a manejo clínico, são candidatos à oclusão com a prótese assim que atinjam o peso de 8 a 10 kg9. Tem sido amplamente aceito que pequenas CIVs PM não levam à sobrecarga volumétrica do VE e não estão associadas a complicações vasculares pulmonares2. Portanto, a oclusão destes defeitos não é normalmente recomendada e profilaxia para endocardite é a única recomendação2. Contudo, evidências recentes sugerem que pequenas CIVs não sejam benignas a longo prazo8. Aumento na morbidade e mortalidade pode ser observado devido a arritmias, insuficiência cardíaca e endocardite8. Assim, um seguimento próximo é mandatário nestes pacientes. Os autores acreditam que, em certos casos, o fechamento de defeitos restritivos pode ser considerado individualizando-se o caso: • Déficit no desenvolvimento pondero-estatural não associado a outras doenças; • Quadros pulmonares recorrentes, levando a consultas de emergência e a hospitalizações; • Aumento progressivo do volume diastólico final do VE; • Desenvolvimento de arritmias ventriculares. Além disso, em países em desenvolvimento, especialmente em áreas rurais, onde o acesso ao serviço médico pode ser inadequado dificultando o acompanhamento clínico, a oclusão destes defeitos deve ser considerada. Como o tratamento cirúrgico não remove o risco de endocardite, e pode mesmo provocá-la7, não se é possível evitar esta complicação com o tratamento cirúrgico1. Ainda não é conhecido se a oclusão de CIV utilizando-se a prótese elimina este risco. No outro extremo, um episódio prévio de endocardite geralmente é considerado como indicação para o fechamento, independente do tamanho da CIV3. A ECOCARDIOGRAFIA A ecocardiografia bidimensional transtorácica (ETT) com Doppler tem um papel importante na seleção de pacientes para oclusão com prótese. Projeções usuais são usadas para delinear o tamanho e localização das CIVs PM, tamanho das câmaras e função ventricular, anormalidades associadas e função de valvas atrioven- triculares e aórtica9. A distância entre a valva aórtica é observada e, neste aspecto, a presença de uma borda de tecido entre a valva e a CIV de 2 mm é considerada como pré-requisito para a oclusão por prótese9. Embora o ETT seja uma ferramenta importante para a seleção dos pacientes para a oclusão por prótese, o ecocardiograma transesofágico (ETE) é geralmente usado para guiar o implante do dispositivo durante o procedimento. Contudo, o ETT, o ETE ou mesmo o ecocardiograma intracardíaco (REF), podem ser usados para monitorar o implante adequado da prótese, desde que se obtenham boas imagens24. PROCEDIMENTO DE IMPLANTE O procedimento é preferencialmente realizado sob anestesia geral, guiado por ETE contínuo9. São obtidos acessos venoso e arterial femoral com introdutores 6 ou 7 Fr e 4 ou 5 Fr, respectivamente. Administra-se heparina (150 UI/kg, máximo de 10000 UI) e antibioticoterapia profilática. Cateterismo cardíaco padrão direita e esquerda é realizado, seguido de ventriculografia esquerda na projeção axial alongada. As angiografias da aorta em projeção oblíqua anterior esquerda e do VE, em hepatoclavicular, podem ser realizadas conforme a necessidade. Um cateter “Pig-tail” centimetrado é colocado na veia cava inferior (VCI) ou no peito para calibração27. O defeito é medido no fim da diástole, na projeção que permite a sua melhor visualização. O ETE é usado para serem obtidos os parâmetros anatômicos e funcionais. Os passos mais importantes do procedimento estão demonstrados nas Figuras 3 a 5 e são descritos a seguir9. Cruzando a CIV pelo VE A CIV é cruzada de maneira retrógrada, usando um cateter de Judkins de artéria coronária direita 4 ou 5 Fr, com a ajuda de um guia hidrofílico. Após cruzar o defeito, o cateter é deixado no ápice do VD e o guia hidrofílico é trocado por um guia maleável e flexível de 0,035 polegada de diâmetro e 300 cm de comprimento (Rope wire, AGA), o qual é manobrado para ficar na artéria pulmonar esquerda27. Laçando o guia O guia é laçado na artéria pulmonar esquerda com um cateter-laço e exteriorizado pela veia femoral direita, para se estabelecer uma alça artério-venosa estável. O cateter que cruzou retrogradamente a CIV é avançado sobre o guia, sendo deixado na junção da VCI e o átrio direito (AD). Para assegurar a passagem livre do guia, cateter e bainha pela valva tricúspide, um cateter tipo Berman Wedge com furo terminal é inicialmente usado para subir na artéria pulmonar esquerda, sendo posteriormente substituído por um cateter Judkins de artéria coronária direita terapêutico para a manobra de laçar o guia27. 222 Carlos Pedra 2.p65 222 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. A B C D E F Figura 3 - Ventriculografias esquerdas em projeção axial alongada. A: Grande CIV PM medindo 9 mm. B: Após o defeito ter sido cruzado retrogradamente, o guia Rope é avançado para artéria pulmonar esquerda. C: O guia é laçado e exteriorizado pela veia femoral. D: A bainha de implante com o dilatador são avançados pela veia femoral até que toque o cateter retrógrado que foi deixado na VCI (Kissing). E: Após a bainha ser posicionada na aorta ascendente, o dilatador é recuado para dentro da bainha e o guia Rope é empurrado para o VE com a ajuda do cateter retrógrado. F: O dilatador é avançado sobre a alça do guia no VE atingindo o ápice, sendo seguido pela bainha. Escolha da prótese A prótese é selecionada para ser 1 a 2 mm maior que o tamanho da CIV24-27, estimada pelo ETE e pela angiografia, usando seu maior diâmetro no lado do VE, em diástole27. Em pacientes com formação de aneurismas, especialmente naqueles que tenham múltiplos orifícios de saída, a seleção da prótese não é tão simples27. Nestes casos, alguns autores (incluindo os do nosso grupo) preconizam a escolha de uma prótese 1-2 mm maior que o orifício de saída. Nesta situação, o disco do lado esquerdo fica efetivamente dentro da formação aneurismática e distante da crista do septo interventricular. Outros preferem selecionar um dispositivo 1-2 mm maior que o orifício do lado do VE. Nesta situação, a prótese cavalga a crista do septo interventricular e o disco do lado direito é que fica preenchendo a formação aneurismática. Não existem estudos para comprovar a superioridade de uma ou outra estratégia. Nos casos de CIV PM associada a aneurisma multifenestrado, geralmente o guia passa pelo orifício mais inferior. Nestas situações, alguns autores preconizam que a prótese para CIV PM fique orientada em posição reversa, ou seja, com a porção inferior do disco do lado esquerdo voltada para cima, de forma a cobrir o orifício de saída mais superior. Outros autores propõem o uso da prótese para CIV muscular, para preencher todo o saco aneurismático nestas situações. Progressão da bainha de implante A bainha de calibre apropriado é avançada com o dilatador pela veia femoral até que sua ponta toque a ponta do cateter que cruzou retrogradamente a CIV e foi deixado na junção da VCI e AD (técnica de Kissing)27. A alça artério-venosa é esticada por uma tração no guia, em ambos os lados do sistema e fixada com pinças cirúrgicas nas extremidades da bainha 223 Carlos Pedra 2.p65 223 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. A B C D E F Figura 4 - Ventriculografias esquerdas. A: Após a retirada do guia, uma prótese de 10 mm é avançada pela bainha. B: O disco do lado esquerdo é aberto no VE e todo o sistema é puxado em direção ao septo. O marcador radiopaco aponta para baixo. C: A cintura é aberta na CIV e o disco do lado direito, no VD. D: Angiografia para confirmar a posição adequada da prótese. E: Pequeno fluxo residual após a liberação da prótese. A dilatação do VE é notável na imagem em diástole. F: Aortografia em projeção oblíqua anterior esquerda, verificando-se a distância entre a prótese e a valva. Não há insuficiência aórtica. venosa e do cateter arterial. A bainha longa é avançada da veia femoral para a aorta ascendente através da CIV, empurrando-se gentilmente a bainha e puxandose o cateter arterial. Uma vez que a bainha esteja na aorta ascendente, as pinças cirúrgicas são retiradas, a alça é afrouxada e o dilatador é recuado poucos centímetros para dentro da bainha. Esta é, então, tracionada lentamente até que sua ponta esteja logo acima da valva aórtica. O guia é empurrado pelo lado arterial para se formar uma curva, para, então, cruzar a valva aórtica e entrar no VE. O cateter arterial é também avançado para dar mais suporte ao guia para cruzar a valva e atingir a cavidade do VE. Esta manobra empurra a bainha na direção do VE, logo abaixo da valva aórtica. O dilatador é avançado sobre o guia, alcançando-se o ápice do VE, sendo seguido pela bainha. O dilatador é removido e uma nova angiografia é realizada pelo braço lateral da bainha para uma avaliação mais detalhada da CIV. O guia longo é retirado pelo lado venoso ou arterial27. Implante da prótese Após a prótese ser carregada, ela é avançada até que atinja a ponta da bainha. O disco do VE é liberado na porção média da cavidade ventricular, após a bainha ser distanciada do ápice24-27. Devido ao alinhamento da porção plana do microparafuso da prótese e da cápsula metálica do cabo empurrador, a prótese invariavelmente sai da bainha na orientação correta (com o marcador de platina na maior borda do disco esquerdo apontando para o ápice)24-27. Neste ponto, o ETE é fundamental para verificar se o disco da prótese não está preso nas cordoalhas da valva mitral9. Após liberação do disco esquerdo, a bainha e o empurrador são tracionados em unidade, até que o disco esquerdo toque o septo ventricular. A cintura da prótese e 224 Carlos Pedra 2.p65 224 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. A C E G B D F H Figura 5 - Ecocardiograma transesofágico durante o procedimento. A e B: A CIV PM é mostrada usando-se projeções padrões e mapeamento de fluxo a cores. Há fluxo significante da esquerda para direita, levando à dilatação do VE. C: O guia Rope, usado para se estabelecer a alça artério-venosa, é visualizado na raiz da aorta e átrio direito, passando pela CIV e valva tricúspide. D: Ponta da bainha localizada próxima ao ápice do VE. E: O disco do lado esquerdo é aberto no VE, longe do aparato da valva mitral. F: O sistema inteiro é puxado em direção ao septo. G: A cintura e o disco do lado direito são abertos na CIV e no VD, respectivamente, recolhendo-se a bainha e avançando-se o cabo de implante. A prótese ainda está presa ao cabo de liberação. H: Após liberação, a prótese está em boa posição no septo. Há refluxo tricúspide mínimo. o disco direito são liberados com a técnica de duplo movimento, ou seja, se avança o cabo empurrador enquanto se puxa ligeiramente a bainha de liberação. A prótese fica mais curta com sua expansão. Quando o disco direito é liberado, recuando-se a bainha e mantendo-se uma ligeira tração no cabo, o dispositivo pode escorregar pela CIV ou o disco direito ficar preso na valva tricúspide. O posicionamento e a orientação adequados são confirmados pelo ETE e angiografias repetidas. O ETE é novamente fundamental para assegurar que o aparato da valva tricúspide não está envolvido pelo disco do VD9. Em pacientes pequenos ou que tenham defeitos restritivos por tecido tricuspídeo excessivo, incluindo aqueles com formação de aneurismas, pode ser difícil posicionar a ponta da bainha próximo ao ápice do VE. Nestes casos, sugere-se que se posicione a ponta da bainha na aorta descendente e que se empurre a prótese até sua extremidade distal. Nesta posição, a curvatura do arco aórtico mimetiza a curva em direção ao ápice, forçando a correta orientação da prótese. Outra opção é liberar parcialmente o disco do lado esquerdo na aorta ascendente, que assim assume um aspecto globulado. O sistema inteiro é puxado gentilmente para a via de saída do VE através da valva aórtica, tomando-se cuidado para o dispositivo não escorregar pela CIV. No trato de saída do VE, o restante do disco esquerdo é liberado. Se com esta manobra, a prótese não sair da bainha na orientação correta, deve-se liberar todo o dispositivo no VE e rodar a bainha e o cabo de liberação no sentido horário até o marcador apontar para o ápice. Atingida a orientação adequada, puxa-se o disco direito para dentro da bainha, completando-se o implante de forma descrita acima. A liberação final da prótese pode ser realizada de duas formas: desparafusando-se primeiramente o cabo de liberação, enquanto a prótese ainda está fixada na cápsula do cabo empurrador ou puxando-se o cabo empurrador sobre o cabo de liberação para depois desparafusá-lo. Uma vez que a prótese esteja liberada, o cabo e o empurrador são puxados para dentro da bainha para se evitar qualquer dano pela ponta do cabo9. São repetidos o ETE e a angiografia para se avaliar a posição final da prótese, fluxos residuais e função das valvas aórtica, mitral e tricúspide. Cefazolina (20 mg/kg) é usada para profilaxia durante o procedimento e a cada 8 horas (total de 3 doses). A hemostasia é obtida por compressão manual. Os pacientes acordam no laboratório de hemodinâmica e são transferidos para o setor de recuperação para observação clínica. Geralmente têm alta no dia seguinte e são orientados para o uso de aspirina (2-5 mg/kg, máximo de 100 mg) por 6 meses; evitar esportes de impacto por cerca de 2-3 meses e manter recomendações para profilaxia de endocardite por 6 meses ou até que o fechamento completo seja documentado. São realizados na alta, com 1, 3, 6, 12 meses e anualmente os seguintes exames: radiografia de tórax, eletrocardiograma e ETT. 225 Carlos Pedra 2.p65 225 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. EXPERIÊNCIA DOS AUTORES De dezembro de 2002 a dezembro de 2005, o fechamento percutâneo de CIV PM com a prótese Amplatzer foi tentado em 35 pacientes. Os resultados nos 10 primeiros pacientes foi apresentado em um congresso28 e estão incluídos em um artigo prévio27. A mediana de idade e de peso foi 7 anos (limites: 3-51) e 22 kg (13-80), respectivamente. Como condições associadas encontrou-se em 1 paciente cada: pósoperatório cirúrgico de coarctação da aorta; pós-implante de stent em coarctação da aorta; pós-operatório de CIV PM com fluxo residual significativo; isomerismo esquerdo com bloqueio atrioventricular total; hipertensão arterial pulmonar grave e miocárdio não-compactado. Prolapso do folheto coronariano direito estava presente em 3 pacientes. A relação média de fluxo pulmonar (Qp) sobre sistêmico (Qs) foi 2,3±1,3 (1,5-5,5). O diâmetro da CIV variou de 3,5 a 10 mm (média 7,5±1,5) pelo ETT, de 3 a 17 mm (7,7±4,2) pela angiografia e 2,5 a 15 mm (7,9±3,9) pelo ETE. O diâmetro médio da prótese foi 10,5±4,1 mm (variando de 6-18, mediana 10). Os tempos de fluoroscopia e procedimento foram 38±16 minutos (16-58) e 120±45 minutos (63-210), respectivamente. Um paciente tinha sido submetido a reparo cirúrgico de coarctação da aorta no período neonatal e também tinha valva aórtica bicúspide, valva mitral em pára-quedas e descontinuidade entre a valva mitral e aórtica. Aspectos morfológicos foi interrompido e um marca-passo de demanda foi deixado no paciente. Houve restabelecimento do ritmo sinusal, após 4 horas de observação clínica e administração de corticoesteróides. Um ano após esta tentativa infrutífera, este mesmo paciente foi submetido a novo procedimento com sucesso. Portanto, foram realizados 36 procedimentos em 35 pacientes. Figura 6 - Ventriculografias esquerdas. A: Angiografia pela bainha longa, demonstrando que a CIV está associada à formação aneurismática, com aspecto de "couve-flor" e dois orifícios de saída no VD. B: Representação esquemática deste padrão morfológico. C: Angiografia demonstrando CIV parcialmente recoberta por tecido da valva tricúspide redundante. D: Representação esquemática deste padrão morfológico. Os autores classificaram as CIVs PM em quatro padrões morfológicos básicos. Em 15 pacientes, a CIV estava associada com formação aneurismática do septo membranoso com um aspecto de “couve-flor” à angiografia (Figura 6). Múltiplos orifícios de saída no lado direito do aneurisma foram observados em 4 pacientes. Em dois, este padrão só pôde ser demonstrado após a repetição da angiografia pela bainha antes do implante. Orifícios encobertos por tecido tricuspídeo redundante, mas sem aneurisma, foram observados em 10 pacientes (Figura 6). Outros 8 pacientes possuíam defeitos com pouco ou nenhum tecido tricuspídeo adjacente. Três pacientes apresentavam CIVs associadas a prolapso do folheto coronariano direito da valva aórtica (Figura 7). Em um destes, o prolapso parcialmente ocluía a CIV e havia insuficiência aórtica discreta. Nos outros 2, havia formação aneurismática adjacente e não havia insuficiência valvar. Sucesso técnico Em um paciente houve insucesso técnico inicial no implante devido à ocorrência de bloqueio atrioventricular durante tentativas de passagem da bainha longa pela CIV para a aorta ascendente. O procedimento Figura 7 - Ventriculografias esquerdas. A: Angiografia demonstrando pequena CIV, com pequeno envolvimento da valva tricúspide. B: Representação esquemática deste padrão morfológico. C: Angiografia demonstrando CIV associada a prolapso do folheto direito da valva aórtica, que oclui parcialmente o defeito. D: Representação esquemática deste padrão morfológico. 226 Carlos Pedra 2.p65 226 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. Complicações imediatas Além do paciente referido acima, outro apresentou bloqueio atrioventricular fugaz após a bainha cruzar a CIV. Neste paciente, houve restabelecimento imediato do ritmo sinusal após administração de atropina, sendo decidido dar continuidade ao procedimento que foi completado com sucesso. Em dois pacientes, houve aparecimento de ritmo juncional com boa freqüência ventricular durante o implante, melhorando após a liberação da prótese e recuperação anestésica. Em um dos menores pacientes desta série (14 kg), o disco do lado direito ficou preso no aparato da valva tricúspide, resultando em estenose tricúspide significativa (11 mmHg de gradiente médio) e fluxo da direita para esquerda pelo forame oval com dessaturação sistêmica. Não houve melhora do quadro após a liberação da prótese do cabo. O aparato da valva foi liberado da prótese usando-se um laço, resultando em imediata normalização da função da valva tricúspide e da saturação. Um paciente teve paralisia braquial temporária devido ao posicionamento do braço durante o procedimento. Em dois pacientes, houve aparecimento de gradientes sistólicos leves (10-20 mmHg) na via de saída do VE, detectados pela ecocardiografia. Estes gradientes desapareceram após 1 mês de seguimento. No dia seguinte ao procedimento, 2 pacientes apresentaram morfologia de bloqueio de ramo direito (BRD) e um, de ramo esquerdo (BRE), à eletrocardiografia. Eficácia Fechamento completo do defeito foi visto em 28/35 (80%) dos pacientes, dentro das primeiras 24 horas após a oclusão e em 33/35 (95%), durante o seguimento. Dos 3 pacientes que apresentavam múltiplos orifícios de saída dentro do aneurisma, em 2 houve oclusão completa de todos os orifícios. O outro apresenta menos de 6 meses de acompanhamento. local foi implantada uma prótese 18 mm, com o marcador radiopaco voltado para cima (em posição de 9 horas), cobrindo o orifício superior. Todo o disco do lado esquerdo permaneceu dentro do aneurisma, havendo pinçamento do dispositivo em sua porção central pela CIV, o que levou à formação de aspecto em cogumelo da prótese. No dia seguinte ao implante, apresentava morfologia de BRE. Vinha clinicamente bem, em ritmo sinusal, sem medicação e com oclusão total do defeito. O óbito ocorreu em uma discoteca, tendo sido suspeitado do abuso de drogas e encaminhado para autópsia. Ao exame da peça anatômica, o dispositivo estava bem posicionado, completamente endotelizado e não havia lesões nas estruturas cardíacas adjacentes. Ainda aguardase o laudo técnico sobre o possível uso de drogas. No paciente que tinha prolapso discreto do folheto coronariano direito da valva aórtica e insuficiência aórtica discreta, houve aumento progressivo da insuficiência para grau moderado, permanecendo com função ventricular preservada. Não houve casos de insuficiência tricúspide ou aórtica significativas nos outros pacientes no acompanhamento. Um paciente apresentou trauma fechado de tórax, 5 meses após o procedimento, evoluindo bem inicialmente, apresentando, porém, acinesia septal detectada 2 anos após o implante. Todos os pacientes estavam clinicamente bem, com função ventricular normal, assintomáticos e sem uso de medicação no acompanhamento. Não houve nenhum episódio de embolização da prótese, tanto imediata quanto tardiamente, e nenhum caso de endocardite. A ecocardiografia mostrou o baixo perfil da prótese durante o seguimento (Figura 8). DISCUSSÃO Nossa experiência mostrou que o fechamento percutâneo da CIV PM com a nova prótese Amplatzer foi Seguimento Todos os pacientes, exceto três, tiveram alta no dia seguinte ao procedimento. O seguimento clínico médio foi de 18±8 meses. Um paciente apresentou morfologia de BRD e outro de BRE, entre 1 e 6 meses após o implante. Outro apresentou BAVT, entre 3 a 5 meses após o procedimento. Este paciente possuía uma CIV PM de 10 mm, com extensão para a via de entrada, sendo implantada uma prótese 12 mm com sucesso, sem intercorrências. Nos retornos de 1 e 3 meses, encontrava-se em ritmo sinusal e bem clinicamente. Progressivamente, começou a apresentar fadiga aos exercícios, acompanhada algumas vezes de tonturas. Quando procurou nosso serviço após 5 meses do implante, encontrava-se com BAVT, necessitando de implante de marca-passo definitivo. Outro paciente apresentou morte súbita, 2 anos e meio após o procedimento. Este paciente apresentava CIV PM associada à formação aneurismática com 2 orifícios de saída, com o maior e mais inferior medindo 10 mm. Neste Figura 8 - Ecocardiografia tridimensional mostrando o baixo perfil da prótese durante o seguimento. O corte ecocardiográfico é o paraesternal no eixo longo. 227 Carlos Pedra 2.p65 227 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. exeqüível, geralmente segura e eficaz. A experiência internacional também mostra resultados iniciais animadores24-30. Como observado com o uso de outras próteses Amplatzer, este novo dispositivo possui uma série de vantagens: • O sistema de implante é simples e “amigável” ao intervencionista; • Permite a recaptura e reposicionamento se necessário; • A cintura curta da prótese reduz a protrusão para ambos ventrículos e minimiza o contato com a valva tricúspide; • Devido à configuração não cêntrica do disco do VE, este permanece distante da valva aórtica sem interferir com sua função; • Leva a uma alta taxa de oclusão total. Do ponto de vista técnico, os autores têm a impressão que angiografias adicionais realizadas pela bainha de implante ou pelo cateter retrógrado durante o implante da prótese são úteis para melhor delineamento das CIVs associadas à formação aneurismática, principalmente nos casos onde há a suspeita de mais de um orifício de saída no VD27. Este diagnóstico é muito importante, visto que pode ter implicações na escolha da prótese e modificar a técnica de implante. A seleção do tamanho da prótese pode não ser simples em pacientes com formação aneurismática, como comentado acima. O superdimensionamento da prótese pode levar ao aspecto de cogumelo, com alongamento do dispositivo e possíveis protrusões. Isto se deve ao pinçamento da cintura pelo orifício de saída no aneurisma. O alongamento da prótese pode, teoricamente, ser evitado se deixarmos a cintura do dispositivo cavalgando a crista do septo e o disco do lado direito dentro do aneurisma, evitando puxá-lo pelo aneurisma até o VD. Questionamos se esta técnica pode aumentar o risco de embolização. Nos casos com orifício único de saída dentro do aneurisma, a escolha de uma prótese 1-2 mm maior que o defeito evita seu alongamento e funciona adequadamente. Mais dados são necessários para servirem de guia para ótima escolha da prótese neste padrão de morfologia. Além disso, o implante da prótese pode ser dificultado nestes casos e a orientação adequada da prótese pode não ser conseguida em aneurismas multifenestrados, especialmente quando a bainha está cruzando o orifício inferior, como nos casos descritos pelos autores. Embora recruzar o defeito pelo orifício superior possa ser necessário em alguns casos, a liberação da prótese com a orientação reversa não resultou em disfunção da valva aórtica em um caso em nossa série. Neste paciente, todo o disco esquerdo ficou localizado dentro do aneurisma e distante da valva. Não acreditamos que a morte súbita neste caso tenha ocorrido pela orientação reversa da prótese, já que a estrutura cardíaca encontrava-se preservada no espécime anatômico. A possibilidade de morte elétrica há que ser considerada, apesar de sua ocorrência muito tardia. O laudo final do exame toxicológico ajudará a esclarecer a causa da morte. Para pacientes sem formação aneurismática, especialmente quando há pouco ou nenhum tecido da valva tricúspide ao redor do defeito, a determinação das dimensões da CIV e a seleção da prótese é mais simples. Gradientes discretos transitórios na via saída do VE foram detectados em dois pacientes nesta série, com desaparecimento durante o acompanhamento provavelmente devido à redução progressiva no perfil da prótese, como acontece com a prótese Amplatzer para comunicação interatrial, associada à endotelização progressiva. Devido à proximidade da CIV PM da valva tricúspide, a prótese nesta região pode levar à interferência na função valvar, como visto em um dos casos. A abertura da cintura e do disco do lado direito com a técnica do duplo movimento, como descrito acima, ajuda a evitar esta complicação. Além disto, após a passagem retrógrada da CIV e captura do guia na artéria pulmonar esquerda com o laço, é fundamental averiguar pela ecocardiografia se todas as estruturas do VD encontram-se livres, sem tensão, quando se traciona o guia pela veia femoral. Além destas considerações técnicas para minimizar a disfunção e possíveis lesões da valva tricúspide30, a insuficiência desta valva pela mera presença da prótese não foi observada durante o seguimento na nossa experiência e de outros24-30. A decisão dos autores de ocluir CIV PM em pacientes com prolapso do folheto aórtico foi arbitrária e precipitada em um dos casos. Na experiência americana, na fase I de investigação, estes pacientes foram excluídos30. No caso com prolapso aórtico que parcialmente ocluía a CIV, a presença da prótese aparentemente interferiu com a função valvar, levando a aumento progressivo do grau de insuficiência. Por outro lado, nos outros dois pacientes com prolapso leve, sem insuficiência valvar e com aneurisma adjacente, o disco do lado esquerdo ficou localizado dentro do aneurisma e distante da valva, sem interferir em seu funcionamento. É discutido se a oclusão do fluxo abaixo da valva aórtica irá eliminar o efeito Venturi que é, provavelmente, a causa do processo de prolapso. A ocorrência de BAVT tardia em um caso em nossa série foi uma complicação que traz preocupação. Especulamos que a endotelização progressiva do dispositivo, aliada a processo inflamatório local, possa ter contribuído para a instalação do bloqueio. Em um levantamento recente, o Dr. John Bass, da Universidade de Minnesota, investigou a ocorrência de BAVT em diversos centros mundiais. Estes dados, ainda não publicados, foram mostrados no Ninth Pediatric Interventional Cardiac Symposium, em setembro de 2005, na Argentina. Esta complicação, que não levou à mortalidade, incide em 1,2 a 1,5% dos casos, com a maioria (70%) ocorrendo entre 3 e 14 dias de evolução. Apesar de 228 Carlos Pedra 2.p65 228 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. não terem sido identificados fatores de risco associados a esta ocorrência (pela baixa incidência descrita), é discutido se a extensão para via de entrada seria um fator predisponente, assim como o superdimensionamento do dispositivo. A incidência de BAVT após a correção cirúrgica da CIV PM é provavelmente semelhante, entretanto, o bloqueio quase sempre ocorre enquanto o paciente ainda está internado, podendo ser facilmente reconhecido e prontamente tratado. Como a maioria dos pacientes já estava em seu domicílio quando ocorreu o BAVT após o implante percutâneo, esta complicação possui um potencial de gravidade maior, já que pode passar despercebida. Por isto, em serviços que dispõem de tal tecnologia, discute-se a utilização da telemetria caseira rotineira durante o primeiro mês após o implante da prótese. Com o acúmulo de casuística, os fatores de risco desta complicação serão reconhecidos e neutralizados em experiências futuras. A taxa de oclusão total durante o seguimento em nossa experiência foi semelhante à encontrada na literatura, em torno de 95%24-30, denotando a alta eficácia do dispositivo, que é comparável à taxa obtida pelo tratamento cirúrgico3. A endotelização da prótese deve ser responsável pelo declínio da taxa de fluxo residual com o tempo. Novos desenvolvimentos Objetivando otimizar o posicionamento da prótese, algumas modificações na prótese e no sistema de implante têm sido feitas e testadas em modelos experimentais, com resultados preliminares animadores31. Uma rosca foi colocada no centro do disco do VE, em posição oposta ao parafuso do disco do VD. O guia Rope foi modificado com a colocação de um parafuso em sua ponta. Antes da prótese ser avançada pela bainha, o disco esquerdo é parafusado no guia Rope e o disco direito, no cabo de implante, como já é feito. Ao invés de remover-se o guia Rope, ele é usado para criar uma tração no lado arterial. Em modelos animais, isto possibilitou ao operador posicionar a prótese mais facilmente, sendo tracionada para o VE com o guia, se a posição não era adequada. O reposicionamento também é mais fácil devido à continuidade cabo-próteseguia, que pode ser manipulado no lado arterial e venoso. A prótese é liberada da maneira usual e, após a confirmação de sua posição ótima, o guia Rope é desparafusado antes de desparafusar o cabo de implante para a liberação da prótese. Estas modificações podem resolver alguns problemas, como dobras na bainha, tração acidental da prótese para o VD e lesões inadvertidas no VE; levando a um menor tempo de fluoroscopia e procedimento. Esta técnica pode ser particularmente útil em crianças pequenas (<15 kg). O primeiro implante com sucesso em humanos utilizando-se este sistema foi apresentado como caso ao vivo no Seventh Pediatric Interventional Cardiac Symposium, em setembro de 2003, em Orlando, EUA. Outra modificação recentemente realizada no sistema foi a redução do perfil da bainha de implante. Próteses até 16 mm podem ser implantadas por bainhas 7 Fr. Além disto, estas novas bainhas apresentam uma transição mais suave entre o dilatador e a bainha e apresentam maior resistência a acotovelamentos. O uso pioneiro desta nova bainha foi apresentado como caso ao vivo pelo nosso grupo durante o Ninth Pediatric Interventional Cardiac Symposium, em setembro de 2005, na Argentina. A fim de minimizar a ocorrência de superdimensionamento do dispositivo, a AGA tem discutido com os investigadores clínicos a possível fabricação de próteses de tamanhos com incrementos de 1 mm, dando maiores opções ao intervencionista. Além disto, a fim de minimizar a ocorrência de BAVT, a AGA também tem considerado a fabricação de próteses com malha de nitinol mais fina e flexível em sua porção central. Estas modificações devem ser testadas em larga escala em um futuro próximo. Perspectivas O próximo desafio para o fechamento percutâneo de CIV PM é a melhoria da prótese e do sistema de implante, objetivando o tratamento de pequenos lactentes (< 8-10 kg). Modificações na técnica de implante também devem ocorrer. Neste sentido, a abordagem híbrida realizada para o fechamento perventricular de CIVs musculares na sala de cirurgia, sem uso da circulação extracorpórea, tem sido realizada em pequenos lactentes com ótimos resultados32-34. Estudos experimentais já demonstraram que a oclusão perventricular de CIVs PM também é factível, segura e eficaz35. A aplicação desta técnica em seres humanos sob protocolos rígidos de investigação deverá ser iniciada em um futuro breve. Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer a alguns investigadores que contribuíram para o acúmulo da experiência em nosso serviço: Drs. Jozef Masura, Lee Benson, Joaquim Miro e Zahid Amin. Nossos agradecimentos também para os Drs. Luís Alberto Christiani, Luís Eduardo Santiago, Wladimir dos Santos, José Augusto Marcondes, José Airton Arruda, Carlo B. Pilla, Hernando E. Nazetta e Jorge Haddad, por deixarem incluir seus pacientes em nossa série. Além disto, gostaríamos de reconhecer também o suporte fornecido pelos Srs. Franck Gougeon e Mark Cibuzar, da AGA Medical Corporation e do Sr. Vitor Hugo Mombach, da Bioassist do Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Tynan M, Anderson RH. Ventricular septal defect. In: Anderson RH, Baker EJ, Macartney FJ, Rigby ML, Shinebourne EA, Tynan M, eds. Paediatric cardiology. London:Churchill Livingstone; 2002. p.983-1014. 2. Rudolph AM. Ventricular septal defect. In: Congenital diseases 229 Carlos Pedra 2.p65 229 9/6/2006, 09:39 Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 219-230. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. of the heart: clinical-physiological considerations. Armonk, NY:Futura Publishing;2001. p.197-244. Kouchoukos NT, Blackstone EH, Doty DB, Hanley FL, Karp RB. Ventricular septal defect. In: Kouchoukos NT, Blackstone EH, Doty DB, Hanley FL, Karp RB, eds. Kirklin/Barrat-Boyes: Cardiac surgery. Philadelphia:Churchill Livingstone;2003. p.850-910. 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